sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Ernest Dale, o pai da teoria empírica da administração

Muitas mãos escreveram - e ainda escrevem - a história da administração, disso todos nós sabemos. Cada geração contribui para essa ciência a partir de suas experiências, teorias e principalmente com o desejo de ampliar os horizontes da gestão empresarial. Frente a isso, poucos têm contribuído de maneira tão essencial quanto Ernest Dale, o pai da estrutura organizacional.

Dale foi autor de diversos livros sobre o assunto, além de ter marcado a história da administração com novas abordagens que aproximavam gestores e funcionários, dando uma maior dinamicidade e harmonia dentro dos processos de produção. Além disso, sua função como consultor de diversas empresas multinacionais proporcionou uma experiência completa dentro da administração, passando não somente pela teoria, mas vivenciando a prática em empreendimentos locais, nacionais e internacionais. Nesse aspecto, as teorias de Dale não somente comprovaram sua eficácia, mas o eternizaram nesta área do conhecimento. Por isso, hoje vamos conhecer um pouco mais sobre sua vida e obra.

O início da jornada de Ernest Dale

A caminhada de Ernest Dale começou em 4 de fevereiro de 1917, em Hamburgo, na Alemanha. O período é marcado pela Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) e durante sua infância temos poucas informações sobre como era a vida de Dale. Porém, não é difícil imaginarmos que, assim como todo o povo alemão no período, houve momentos de forte pressão econômica. A República de Weimar, iniciada logo após o fim do conflito bélico, sofreu durante a década de 1920 para superar as condições impostas pelo Tratado de Versalhes e poder reestruturar sua economia.

Em um cenário de uma grave instabilidade política e econômica, não podemos encarar com surpresa o fato de Dale, aos 17 anos, decidir migrar para os Estados Unidos para finalizar seus estudos. A mudança para a América foi motivada principalmente por ingressar na universidade de Yale, no qual formou-se e seguiu uma brilhante carreira acadêmica como professor no curso de administração em Columbia. Porém estamos nos adiantando.

Uma perspectiva global para a economia e a administração

Desde cedo seu principal foco quando voltava-se para a economia e administração estava na relação das empresas com a economia global. Talvez por crescer em um país que sofreu fortemente com a intervenção de outras nações ou por ter vivido a crise de 1929 e vendo sua repercussão na maior economia global - Os Estados Unidos - o fato é que Dale passou a investigar como essas flutuações econômicas poderiam ser previstas e amenizadas no âmbito empresarial.

Após se formar em Yale, Dale passou a trabalhar como consultor para algumas empresas. Como consultor podemos destacar trabalhos importantes de Dale para a IBM e a Du Pont, duas gigantes no mercado de tecnologia.

Somente nos anos 1950, após quase três décadas de serviço para a administração, a carreira de Dale ganhou projeção mundial com seus livros. Até então suas teorias eram utilizadas apenas em seu ambiente de trabalho, mas pelo excelente trabalho sua fama já corria o mundo mesmo sem nenhum livro publicado. Talvez isso explique o grande sucesso quase imediato de seus livros, que rapidamente ganharam lugar nos cursos de administração.

Sobre suas obras, devemos destacar seus dois maiores sucessos, nos quais suas principais teorias são apresentadas: Planejamento e desenvolvimento da estrutura organizacional de uma empresa e Administração: teoria e prática. As duas obras são do final dos anos 1950 e início dos anos 1960 e demarcam uma transição entre o modelo científico construído pelo Taylorismo e a escola humanista de Mayo. Nas duas obras de Dale podemos encontrar uma estrutura administrativa diferente desses modelos, fugindo do aspecto teórico e sendo comprovada a partir de estudos de casos, realizando assim uma abordagem mais prática e próxima da realidade das empresas.

Uma administração prática

Um dos grandes diferenciais da abordagem de Ernest Dale está na praticidade e foco em casos reais para solução de problemas nas empresas. Por sua vasta experiência como consultor, Dale desenvolveu métodos que buscam achar soluções que estão dentro das possibilidades e contexto de cada empreendimento, utilizando experiências feitas em outras organizações como meio de encontrar uma resposta para os problemas de uma gestão. Nesse sentido, trata-se de sair da teoria especulativa e investir diretamente no empirismo. Por essa abordagem Dale ficou conhecido como “o pai da teoria empírica da administração.” 

Nos dias atuais a escola empírica está na vanguarda da administração tendo como principal representante Peter Drucker. Junto a Drucker, Dale lançou as bases para essa nova forma de pensar a administração, diferindo fortemente da administração científica de Fayol e Taylor. O empirismo defendido por Dale não somente busca soluções plausíveis, mas leva em conta o fator humano que é fundamental em toda organização, afinal, em toda empresa há trabalhadores humanos e suas necessidades são demasiadamente humanas. 

Dito isso, aspectos como liderança e incentivo a boas práticas na política de gestão foram um dos focos de Ernest Dale. Para ele esses dois fatores ajudavam não apenas no crescimento individual do colaborador, dando-lhe motivação e criando um vínculo positivo com a empresa, mas esse efeito causado em cada indivíduo tinha uma repercussão direta na produção e resultados da empresa.

Outra abordagem comum na teoria empírica de Dale era a de dividir a empresa em diversos setores. A descentralização aparente dentro da estrutura organizacional tem diversos benefícios como uma maior especialização do trabalho, assim como é possível mapear os problemas da empresa por setor e tentar resolvê-lo de forma mais eficaz. Aliado a isso, Dale apontou que não bastava apenas dividir a empresa em diferentes partes, mas que cada gestor dessas pequenas organizações deveria trabalhar junto com suas equipes. Além de aproximar gestores e colaboradores, essa iniciativa permitia aos gestores observar mais de perto e reconhecer os pontos positivos e negativos de cada funcionário. Trazendo uma avaliação individual para cada pessoa era possível corrigir e melhorar a produção da equipe e, consequentemente, da empresa.

Os anos finais de Dale

Pode-se dizer que Ernest Dale trabalhou até os últimos dias de vida. Mesmo com uma idade avançada sua produção acadêmica não estava encerrada, dando ainda valiosas contribuições para a administração. Entretanto, um aneurisma cerebral o levou à morte. Dale faleceu em 16 de agosto de 1996, em Nova York, aos 79 anos.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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terça-feira, 10 de outubro de 2023

Frederic Tudor e uma nova Era do Gelo


Frederic Tudor foi um norte-americano que nasceu para mudar a história do gelo. Isso mesmo, gelo. Nascido em 1783 em Massachusetts, tornou-se dono de uma companhia internacional de comércio de gelo, fazendo rotas para o Caribe, Europa, Índia e até mesmo Hong Kong. Não só isso, mas inventou um mercado que até então era inexistente, mas que hoje não conseguiríamos imaginar a rede de alimentos e bebidas sem ele. Tudor com sua inovação e visão de negócio, faz jus ao nome de empreendedor.

O que aparentemente começou como uma brincadeira com seu irmão, ainda crianças, num lago congelado, se tornou uma ideia de negócio. Com apenas 23 anos, o jovem dá início à sua primeira tentativa de comercializar, mandando gelo para Martinica, região caribenha nas Antilhas. Logo começaram suas primeiras adversidades quando 50% da carga derreteu e o levou a um prejuízo, na época, em torno de U$5.000. Algumas fontes inclusive relatam que Frederic chegou a ser preso por não conseguir pagar sua dívida.

Mas como sempre vemos na história dos grandes empreendedores, os desafios os fortalecem. Alguns anos depois, Tudor deu a volta por cima, ao melhor, deu a volta ao mundo, e conseguiu levar seu comércio para Cuba e Índia, ganhando assim o nome de “Rei do Gelo”.

Tudor faleceu aos 80 anos, em 1864, deixando uma fortuna para sua família e seu nome para a história do empreendedorismo. Se hoje você vai a um restaurante e pede água, suco ou refrigerante num copo com gelo, você deve um agradecimento a este jovem sonhador norte-americano do século XVIII.

Como tudo começou para Frederic Tudor

Tudor nasceu no dia 4 de setembro de 1783, sendo o terceiro filho do casal William e Delia Tudor. Um fato curioso sobre sua vida é que o jovem possuía todas as condições para uma educação completa, mas abriu mão, se dedicando a trabalhar desde os 13 anos. Algumas versões relatam que a família estava num piquenique, outras que Tudor e seu irmão brincavam, quando seu irmão falou que queria vender gelo para as Índias e enriquecer com isto. Tudor levou a brincadeira a sério e decidiu montar o negócio.


Outras versões afirmam que Tudor teve a ideia a partir de uma viagem para o Caribe. De uma forma ou de outra, sabemos que ele fez sua primeira tentativa em 1806, removendo gelo de um lago congelado da propriedade da família em Nova Inglaterra em direção à ilha francesa Martinica. O empreendimento começou como um fracasso total.


Há também divergências nas fontes com relação a este ‘fracasso’. Parte afirma que metade do gelo derreteu no percurso, e outra parte afirma que ao chegar no local, não houve interesse de compra, deixando-o num débito que levou alguns anos para se recompor. Não estaríamos falando de empreendedorismo se não falássemos também sobre desafios, erros e acertos. Quanto mais genialidade, maior o problema a ser resolvido. E neste caso não foi diferente, Frederic estava iniciando um produto que até então não existia, nem o seu consumo nem sua comercialização. E hoje, apenas 2 séculos depois, é até difícil considerar uma época em que o gelo não era servido nas bebidas ou usado para resfriar produtos.


Quando o cenário mudou para Tudor


Apesar do início com várias adversidades, Frederic Tudor apresentava uma das grandes virtudes de um empreendedor: a criatividade. Imagine que você tem a ideia de vender um produto que o custo de sua produção é ZERO. Isso mesmo… ele simplesmente coletava blocos de gelo produzidos no inverno norte-americano. Há o custo da mão de obra para cortar o gelo, mas assim vemos uma grande margem para lucro não é mesmo?


Tudor seguiu com suas tentativas e erros no processo de envio até 1815, ainda com algumas dívidas e sem margem de lucro. Mas isso não foi motivo para desistência, afinal um verdadeiro empreendedor e líder sempre demonstra perseverança em seus investimentos e criações. Ele decide criar ‘casas’ para receber o gelo, icehouses, na tentativa de melhorar o fluxo da mercadoria, com a primeira delas em Cuba. Até mesmo faz o serviço de levar frutas de Cuba para Nova York, porém também mal sucedidas.


Seu sucesso ocorreu em torno de 1825 e em 1833 o Rei do gelo fazia negócios com a Índia. Nos 20 anos que vieram depois, Calcutá tornou-se o destino mais lucrativo para Tudor, que construiu suas casas de gelo também em Madras e Bombai. Em 1840, o gelo era enviado para diversas áreas do mundo e em 1845 uma casa de gelo foi aberta em Hong Kong.


Novas possibilidades para Tudor


Foi através de suas experiências que Frederic abriu os caminhos para uma série de máquinas de refrigeração que usufruímos tanto nos dias de hoje. A criação da máquina de gelo, ar-condicionado e geladeira foram todas influenciadas pelo Rei do gelo. 


Um bom empreendedor não deve ser medido apenas pelo seu lucro ou preço de mercado, mas também pelas possibilidades que gera a partir de seu trabalho, e claro, pelas pegadas que deixa na sociedade. É por este motivo que podemos considerar Frederic Tudor como um empreendedor que mudou a história. 


Tudor fez uma fortuna a partir do comércio de gelo antes de existir qualquer tipo de sistema de refrigeração no mundo. Ele contratou inventores para produzir polias e guinchos mais eficazes para a coleta do gelo e fez negócio com o mundo tropical. O jovem audacioso e sonhador casou-se com Euphemia Fenno, teve dois filhos e faleceu aos 80 anos em sua casa, em fevereiro de 1864. 


Devemos aprender através de sua trajetória a não desanimar diante das adversidades. Ser um verdadeiro empreendedor envolve confiança na sua visão, persistência e vontade de aperfeiçoar. Tudor não descansou enquanto não tornou o processo de obtenção e comercialização do gelo mais eficaz, não desistiu durante os diversos prejuízos e sempre se esforçou. Aprendemos aqui mais um caso de que a boa vontade e trabalho árduo são duas ferramentas que potencializam o ser humano a alcançar seus sonhos. 


Bom trabalho e grande abraço.


Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Jack Welch ou ‘Jack Neutron’: o gestor incansável de sucesso

Se na atualidade, a busca por resultados é a bússola das empresas de sucesso, as estratégias de gestão de pessoas com a fixação de metas arrojadas e cobrança por resultados elevados, ganhou forte impulso com Jack Welch. O “pai da administração” de hoje ficou conhecido por demitir cerca de 100 mil funcionários. Nos 20 anos em que comandou a General Electric Company, Welch ganhou o apelido de ‘Jack Neutron’.
Os métodos de Welch geraram controvérsia no departamento de RH das empresas, porém, é inegável que a sua forma de liderar foi bem sucedida. Welch era obcecado por resultados rápidos e na busca pela qualidade da sua equipe. Como CEO ele desenvolveu seu trabalho em duas direções.
Em uma delas, o foco era no aprimoramento contínuo dos colaboradores, algo que está bastante em alta nos dias de hoje. Para Welch era fundamental que as pessoas não apenas desempenhassem suas atividades rotineiras, ele sabia que era preciso crescer profissionalmente e continuar progredindo.
Em Croton-on Hudson, subúrbio de Nova Iorque, foi desenvolvido o robusto Centro de Treinamento da GE. Por ele passaram milhares de colaboradores, e também o próprio Welch, que costumava participar de cursos de aprimoramento e servir de exemplo para os demais na empresa.
Welch também foi responsável por instituir o que ficou conhecido como “Workout”. A prática se caracterizava pela realização de reuniões periódicas dos colaboradores com seus líderes, para que pudessem discutir livremente todo assunto que fosse do interesse da empresa. O objetivo era chegar a ideias inovadoras e melhorias de processos ao dar liberdade para que todos pudessem se expressar sem reservas.
Por ser bastante inovadora para a época, a prática do workout não foi bem recebida por todos os gerentes, que terminaram por ser demitidos.
Chegou a hora de conhecer um pouco mais sobre Jack Welch, e como sua estratégia de gestão de pessoas levou a GE para o top das empresas globais.

A infância e formação acadêmica de Welch

John Frances Welch Jr, mais conhecido como Jack Welch, nasceu em 19 de novembro de 1935, na cidade de Salem, Massachusetts, Estados Unidos. A carreira de Welch começou quando ainda era criança. Aos 8 anos já trabalhava em campos de golfe, auxiliando os jogadores com os seus equipamentos ao carregar os tacos. Ele seguiu nesse trabalho por 10 anos mais, quando ingressou na faculdade.
Welch se formou em Direito e Engenharia Química pela Universidade de Massachusetts, sendo que no ramo da engenharia, chegou ao título de doutor pela Universidade de Illinois. Ele nunca foi exatamente um teórico, apesar de ter escritos livros importantes que destacam suas habilidades em gestão dentro de grandes indústrias.
Jack Welch ganhou destaque e reconhecimento internacional pela brilhante carreira que construiu na General Electric Company, empresa que ele revolucionou com a sua forma de administrar e gerir os negócios e na qual atuou por 20 anos, vindo a se tornar CEO. Trajetória inspiradora que merece ser conhecida por todos que buscam se destacar na administração de empresas.

A trajetória de bilhões na General Electric

O fato mais marcante da trajetória profissional de Welch se deu na General Electric, empresa que ele ajudou a colocar no seleto rol das maiores do mundo. Ele começou a sua carreira em 1960, aos 25 anos, na época, contratado como engenheiro químico. Em pouco tempo, as suas habilidades de gestão de pessoas, planejamento estratégico e trabalho duro o fizeram conquistar promoções e cargos de gerência.
No ano de 1972, Welch se tornou Vice-Presidente a empresa, promovido por seus bons resultados e desempenho que marcaram a sua carreira. 5 anos depois, em 1977, deu mais um passo e se tornou Vice-Presidente Sênior e, em 1979, chegou a Vice-Presidente do conselho de administração da companhia.
Foi no ano de 1981 que Welch conquistou o cargo mais alto da GE, ao ser nomeado CEO com apenas 46 anos. Na época, ele foi o mais jovem até então a assumir a presidência e oitavo Chairman do grupo. A sua gestão foi marcada por grandes conquistas que o levaram a ser reconhecido mundialmente como um gestor de sucesso.
Apenas para ilustrar o feito de Jack Welch, destaca-se que as ações da GE subiram 4.000% enquanto ele atuou como presidente. O valor de mercado da companhia saltou de US$ 14 bilhões para impressionantes mais de US$ 400 bilhões, colocando a empresa no Top5 mundial.

Ensinamentos de Jack Welch

Welch não era um executivo comum. Pessoas comuns fazem coisas comuns e Welch fez da GE a segunda companhia mais valiosa do mundo. Dentre os seus métodos é destaque a sua estratégia agressiva de Marketing, a forma como gerenciava a equipe sempre na busca por melhorar desempenho e resultados e foi adepto da ‘destruição criadora’, método popularizado pelo renomado Joseph Schumpeter.
Em que pese a GE já ser uma empresa bilionária e mundialmente reconhecida em todo mundo quando Welch se tornou seu presidente, ele a sentia como uma máquina pesada e burocrática. Na visão dele, as coisas podiam ganhar em celeridade e os resultados deveriam chegar mais rapidamente. Para que isso pudesse acontecer, Welch criou uma metodologia própria de gestão que consistia em olhar para o negócio como se fosse um pequeno empreendimento.
Era comum para Welch comparar a GE a uma pequena marcenaria. O método que podia causar estranheza para muitos, o ajudava a enxergar questões complexas de forma mais simplificada e acelerava a tomada de decisões, desburocratizando a máquina que gerenciava.
Para Welch, a GE deveria manter apenas as atividades em que fosse a número 1 no mercado e, dependendo do setor, a número 2. A ideia por trás é que não basta ser o líder no setor, é preciso seguir crescendo e aumentar a rentabilidade acima dos concorrentes. Para Welch, crescer a rentabilidade é o que garante a sobrevivência de uma empresa.
Como resultado dessa política, a GE fechou ou passou adiante 117 unidades de negócios, avaliadas juntas em US$ 21 bilhões, o que equivalia a 20% do total de ativos. Ao passo em que enxugava unidades menos competitivas, a empresa adentrava em novas áreas, com foco em produtos de maior valor. Apenas sob a liderança de Welch, foram cerca de 600 aquisições, uma balança bastante favorável.
Em relação a forma como geria o pessoal, Welch se mostrou um líder firme que estava sempre pronto a conquistar metas mais altas. Em mais uma inovação, ele instituiu o que chamou de ‘curva ABC’ de valor dos funcionários. Os funcionários A eram os de melhor desempenho, os do tipo B, essenciais para o negócio e neles a empresa deveria investir e custear treinamentos. Já os funcionários C, eram os de desempenho insatisfatório, esses deveriam ser desligados o mais rápido possível.
Para Welch a inovação deveria caminhar ao lado da agilidade. De nada valia uma trazer uma grande novidade se essa chegasse atrasada. Sob a sua presidência, a GE incorporou a importância da construção de uma cultura organizacional forte, adaptável e que evitasse criar processos desnecessários.

O legado de Welch ecoa no tempo

Welch foi um desses gestores incansáveis, cujo trabalho duro fazia parte do seu DNA e rotina. Após 41 anos na GE, 20 deles na posição de presidente executivo, foram úteis para que ele usasse a sua expertise para, juntamente com sua esposa, Suzy, prestar consultoria para CEOs da revista Fortune. Alguns fatores determinantes para a carreira de sucesso de Welch como gestor:
  • Crescimento acelerado;
  • Adaptabilidade e inovação; 
  • Visão a longo prazo;
  • Liderança colaborativa; 
  • Trabalho duro e constante. 
Ele também escreveu livros de sucesso, como Jack: definitivo e Paixão por Vencer, na tradução para o português. No ano 2000, foi nomeado Gerente do Século para revista Fortune e em 2005 eleito o CEO mais admirado dos últimos 20 anos pelos leitores da revista Chief Executive. Welch faleceu no dia 1º de março de 2020, aos 84 anos, em decorrência de insuficiência renal.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio


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terça-feira, 3 de outubro de 2023

Frederick Herzberg, é o pai da Teoria dos Dois Fatores

O “Pai da Administração” de hoje é o americano Frederick Herzberg, um dos mais reconhecidos psicólogos que desenvolveu as teorias organizacionais no século passado. Os seus estudos sobre as condições que motivam os colaboradores no ambiente de trabalho, bem como a criação da Teoria dos Dois Fatores, lhe renderam fama entre os estudiosos da administração. 

Seus estudos influenciaram determinantemente a forma como as empresas passaram a enxergar e gerenciar seus colaboradores. A partir deles, muitas organizações se tornaram mais produtivas e eficazes, aumentando a produção, sem necessariamente contratar mais pessoas. 

Neste artigo, abordaremos aspectos da vida de Herzberg, sua formação universitária, as principais ideias desenvolvidas pelo autor, inclusive a Teoria dos Dois Fatores e como as empresas podem se beneficiar dela. 

Infância e juventude de Herzberg 

Nascido Frederick Irving Herzberg, na cidade de Lynn, estado de Massachusetts, Estados Unidos, em 18 de abril de 1923. Herzberg cresceu sob a orientação de uma família judia tradicional que enfatizava a importância da educação e da comunidade. 

O seu pai era dono de uma loja de roupas masculinas, já a sua mãe era professora de educação infantil. A origem da sua família é da Lituânia, e a formação que recebeu em casa foi determinante não apenas para a condução da sua vida, como também refletiu em seus estudos e na sua atuação profissional. 

Durante sua infância, Herzberg se interessou pela música, o que o levou a aprender a tocar violino e piano. Outra característica marcante da sua personalidade, era porque se destacava por ser um leitor voraz. Os temas de maior interesse eram filosofia e psicologia. Quando adolescente, envolveu-se em organizações juvenis judaicas e se tornou um líder bastante ativo entre os jovens. 

Formação acadêmica 

Desde muito novo, Herzberg havia demonstrado forte inclinação para a via acadêmica. Ele fez a sua graduação em psicologia pela Universidade de Nova Iorque e concluiu o curso em 1946.

O mestrado e doutorado foram pela Universidade de Pittsburgh. A sua tese de doutorado foi escrita a partir das observações e estudos dentro de uma fábrica de fertilizantes, foi intitulada "Atitudes de maquinistas em relação ao trabalho". 

Após a conclusão de seus estudos, Herzberg se tornou professor de psicologia na Case Western Reserve University em Cleveland, Ohio. Foi a partir de então que ele deu os primeiros passos para desenvolver as suas teorias sobre a motivação dos colaboradores no ambiente de trabalho, e foram esses estudos que o tornou conhecido mundialmente no meio empresarial. 

Principais ideias de Herzberg 

A teoria de Herzberg sobre a motivação no trabalho é conhecida como "Teoria dos dois fatores". Ele identificou dois tipos diferentes de fatores que influenciam a motivação no trabalho: fatores higiênicos e fatores motivacionais. 

Fatores higiênicos são aqueles que são necessários para garantir um ambiente de trabalho saudável e seguro, mas não aumentam a motivação dos funcionários. Isso inclui salário, benefícios, condições de trabalho e relacionamentos com colegas e supervisores. 

Por outro lado, os fatores motivacionais são aqueles que aumentam a motivação dos funcionários e os levam a alcançar seus objetivos. Isso inclui o trabalho em si, a possibilidade de crescimento profissional, reconhecimento e responsabilidade. 

Segundo Herzberg, os fatores higiênicos são necessários para evitar a insatisfação no trabalho, mas não são suficientes para aumentar a motivação dos funcionários. Para isso, é necessário oferecer fatores motivacionais, que são os que realmente levam à satisfação no trabalho. 

As conclusões de Herzberg foram vanguardistas na sua época, a partir delas, as organizações passaram a entender que é preciso ir além da remuneração para manter seus colaboradores motivados e felizes. Nos dias de hoje é bastante comum falar sobre o “salário emocional”, e Herzberg foi um dos propulsores dessa ideia. 

A Teoria dos Dois Fatores 

A teoria formulada por Herzberg é uma das teorias mais influentes na área de gestão de pessoas e tem sido aplicada por empresas em todo o mundo. Nela, ele oferece uma perspectiva única sobre a motivação no ambiente de trabalho e fornece aos gerentes um conjunto de ferramentas que podem ser usadas para aumentar a satisfação e a motivação dos funcionários. 

Trouxemos aqui alguns dos principais benefícios da teoria dos Dois Fatores aplicada às empresas. 

Aumento da produtividade

Quando os funcionários estão motivados e satisfeitos com seu trabalho, eles tendem a ser mais produtivos e a trabalhar com mais eficiência. A teoria de Herzberg ajuda as empresas a identificar os fatores que levam os funcionários a se sentirem mais motivados e felizes. 

Retenção de talentos 

Funcionários felizes e satisfeitos tendem a continuar em seus empregos. Empresas que conseguem reter talentos e diminuir a rotatividade dos colaboradores ganham celeridade na produção e reduz custos com novas contratações. 

Melhoria na cultura organizacional 

A teoria de Herzberg incentiva as empresas a criar uma cultura organizacional que promova a satisfação e a motivação dos funcionários. Isso pode levar a um ambiente de trabalho mais positivo e colaborativo, onde os funcionários se sentem valorizados e respeitados. 

Aumento da criatividade e inovação 

Outro aspecto positivo de manter funcionários e equipes satisfeitas se dá porque pessoas motivadas tendem a ser mais criativos, inovadores e trazer melhores soluções para dentro das empresas. 

A inovação é um dos pontos altos do momento atual em que a tecnologia se destaca como um dos principais motores do desenvolvimento das empresas. Aprender a motivar funcionários para que possam trazer inovação pode ser um diferencial competitivo para novos negócios, produtos e serviços. 

Conclusão 

O trabalho de Herzberg foi amplamente reconhecido ao longo de sua carreira, tendo sido reconhecido com prêmios e honrarias de destaque. Confira os principais prêmios que Frederick Herzberg recebeu durante sua vida: 

● Em 1968, Herzberg recebeu um Doutorado Honoris Causa em Administração pela Universidade de Montreal; 

● Em 1972, Herzberg recebeu o Prêmio Internacional de Administração da American Management Association, por sua contribuição à teoria e prática da gestão.

● Em 1984, Herzberg recebeu o Prêmio Douglas McGregor de Liderança, concedido pela Faculdade de Administração de Harvard, em reconhecimento à sua liderança e contribuição significativa para a teoria e prática da gestão.

Além desses prêmios, Herzberg também recebeu várias outras honrarias, incluindo a medalha de ouro da Academia Americana de Realização de Vida, a medalha Wilbur M. McFeely da Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos. 

Frederick Herzberg faleceu em 19 de janeiro de 2000, aos 76 anos, em sua casa em Salt Lake City, Utah, nos Estados Unidos. Sua morte foi resultado de uma insuficiência cardíaca congestiva.O seu legado como um teórico influente na área da administração de empresas permanece vivo até hoje, e suas ideias continuam a ser estudadas e aplicadas em organizações em todo o mundo. 

Bom trabalho e grande abraço! 

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




Conheça também:

Jack Welch ou ‘Jack Neutron’: o gestor incansável de sucesso



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domingo, 1 de outubro de 2023

Saiba tudo sobre a Espiral do Conhecimento de Nonaka e Takeuchi

A Espiral do Conhecimento ou SECI pode otimizar a transferência do conhecimento entre os colaboradores e assim impulsionar a inovação e o crescimento do seu negócio.

A razão para isso é que, através deste modelo de gestão do conhecimento, é possível transmitir os aprendizados adquiridos através das experiências dos funcionários mais antigos para os mais novos de uma forma sistematizada.

Continue a leitura de saiba os motivos para estudar a Espiral do Conhecimento, quais são as suas etapas e como proporcionar uma cultura de aprendizagem no seu negócio.

Por que aprender sobre a Espiral do Conhecimento?

A chegada de um novo colaborador dentro da empresa é sempre um desafio, é natural que ele leve um tempo para se familiarizar com a equipe, com os processos e com as novas funções, mas se você utilizar a Espiral do Conhecimento é possível facilitar esse momento.

Isto acontece porque esse modelo detalha todo o processo de criação do conhecimento nas organizações de uma maneira cíclica,  para que seja mais fácil disseminá-los para os outros funcionários.

Além disso, com esse modelo fica mais fácil que os colaboradores mais experientes passem os aprendizados práticos. Desta forma a empresa retém os conhecimentos dos colaboradores mais talentosos e pode promover melhorias contínuas através deles.

Classificações do conhecimento segundo Nonaka e Takeuchi

Os professores da universidade japonesa Hitotsubashi, Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi desenvolveram diversos estudos relacionados ao conhecimento organizacional e a criação do conhecimento.

Um dos seus trabalhos mais conhecidos é o livro “ The Knowledge Creating Company” (A Empresa Criadora de Conhecimento), no qual eles apresentam a Espiral do Conhecimento.

Para esses dois estudiosos,  há duas formas principais de conhecimento, o tácito e o explícito, agora vamos conhecer melhor cada um deles.

Conhecimento Tácito

A palavra tácito vem do latim e significa silencioso, ou seja, é o conhecimento que surge a partir das experiências que temos ao longo da vida, muitas vezes até passando quase despercebido.

Por essa razão, é uma das formas de conhecimento mais difíceis de serem transferidas de maneira formal, através de aulas, por exemplo, já que o próprio indivíduo muitas vezes não sabe explicar como adquiriu esse aprendizado.

Nas organizações é fácil de saber quem possui este conhecimento. Um exemplo é são os vendedores mais experientes, que só de olhar para os futuros clientes já sabem quais são as melhores táticas para apresentar os produtos e persuadi-los a comprar.

Conhecimento Explícito

Outra forma de conhecimento apresentada por Nonaka e Takeuchi e que foram utilizadas para embasar a Espiral do Conhecimento é o conhecimento explícito, também com origem no latim, esta palavra significa declarado, dito.

Ao contrário do conhecimento tácito, esses aprendizados acontecem por meio de leitura e estudos em documentos formais como vídeos, livros, normas, etc. O maior exemplo são os livros acadêmicos, mas não se resume a isso, se você reproduz a receita de um livro de culinária, por exemplo, está fazendo uso do conhecimento explícito.

Dentro das organizações você encontra esta forma de aprendizado através dos manuais que detalham as atividades de um determinado setor ou função e os bancos de dados com informações sobre os clientes.

A partir da percepção dessas duas formas de criar conhecimento,  Nonaka e Takeuchi pensaram em uma maneira de uni-los, e assim surgiu a Espiral do Conhecimento.

Etapas da Espiral do Conhecimento

Como já mencionei, um dos grandes desafios para a gestão do conhecimento nas empresas é passar as experiências e informações adquiridas pelos colaboradores para os outros, e assim melhorar o desempenho do negócio como um todo.

Para isso, Nonaka e Takeuchi criaram um modelo de conversão do conhecimento do tácito em conhecimento explícito que funciona em 4 etapas de forma cíclica, como uma espiral: socialização, combinação, externalização e internalização, conforme imagem feita pelo SEBRAE.

Socialização

A primeira etapa da Espiral do Conhecimento é a socialização, nela acontece a transmissão de um conhecimento tácito de um colaborador para outro. Esta troca ocorre através de uma mentoria, trabalho em equipe ou brainstorming.

Mas além disso, a socialização também surge da observação, quando um novo funcionário assiste o outro atendendo aos clientes, por exemplo.

Por isso, é importante criar um ambiente no qual a interação entre os membros seja estimulada, permitindo que as trocas aconteçam e assim o conhecimento seja transmitido.

Externalização

Passada a etapa de socialização vamos para a externalização, quando o conhecimento tácito e passado para o explícito.

Essa fase bastante delicada do processo, pois como já comentei o conhecimento tácito é mais difícil de ser comunicado, então o que se busca nesta fase é facilitar o processo.

Para chegar neste objetivo são criadas ferramentas que facilitem o acesso do conhecimento para outros membros da empresa. Alguns exemplos são: elaboração de um manual técnico a partir de um brainstorming com os colaboradores e a criação de um diagrama para solucionar problemas.

Combinação

Nessa etapa da Espiral do Conhecimento, um conhecimento explícito é transformado em outro conhecimento explícito, combinando eles para ampliar a sua capacidade de aprendizagem.

Durante esse processo surgem muitas ideias inovadores que produzem um novo conhecimento. Uma maneira de aplicar isso nas empresas é fazer reuniões entre os setores para que juntos encontrem a solução para determinado problema.

Internalização

A internalização é o encerramento do ciclo, quando o conhecimento explícito já foi tão bem incorporado que ele passa a ser tácito, isto é, quando o colaborador já compreende tão bem que já está no “modo automático”.

Gostou de aprender mais sobre a Espiral do Conhecimento de Nonaka e Takeuchi e como colocá-la em prática? Por meio desta estratégia é possível criar novas ideias, melhorar a tomada de decisão e incentivar a participação dos colaboradores levando ao crescimento do seu negócio.

Cultura da aprendizagem nas organizações

Para que a Espiral do Conhecimento de Nonaka e Takeuchi faça parte do dia a dia da empresa é muito importante criar uma cultura que estimule aprendizagem. Para facilitar este processo fiz uma lista com iniciativas para incluir na rotina da sua empresa.

Forneça e incentive os feedbacks

Por mais que essa seja uma dica bastante óbvia, vale a pena sempre reforçar que é importante criar um ambiente seguro para os colaboradores exporem a sua opinião.

Uma forma de fazer isso é incluir esses momentos no cronograma da empresa, como um one a one (conversas rápidas entre gestores com membros da equipe) mensal.

Invista em treinamento e desenvolvimento

Promover capacitações é uma ótima maneira de estimular uma cultura de aprendizagem. Mas além das atividades relacionadas a função é importante trazer temas que complementam a vida profissional dos colaboradores.

Lembrando que muitas vezes não são necessários grandes investimentos nestas atividades, a própria gestão pode contribuir compartilhando os seus conhecimentos e experiências.

Estabeleça uma relação entre o que é aprendido e o ambiente de trabalho

Para manter o interesse dos funcionários na busca pelo conhecimento é fundamental conectar os conhecimentos adquiridos através dos treinamentos, manuais e reuniões com o dia a dia da empresa.

Realizar tarefas e testes, buscar soluções para situações vivenciadas no negócio, fazer estudos de caso são algumas maneiras de unir o conhecimento teórico (explícito) à prática.

Seguindo essas dicas já será possível começar a desenvolver uma cultura de aprendizagem dentro do seu negócio.

Bom trabalho e grande abraço.

Autor: Prof. Adm. Rafael José Pôncio
Publicado em: 24 de junho de 2023
Especial: artigos no Jornal da Tribuna
Link fonte: 
https://jornaltribuna.com.br/2023/06/saiba-tudo-sobre-espiral-do-conhecimento-de-nonaka-e-takeuchi/



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