sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Joseph Schumpeter, e a criação pela inovação

Falar sobre a importância do desenvolvimento da tecnologia para o progresso da sociedade parece banal na atualidade, quando o senso comum da população entende que os avanços na ciência e em todas as indústrias são diretamente impactados pelos avanços tecnológicos. 

Contudo, no começo do século XX a realidade era bem diferente de hoje, e apesar dos avanços advindos da revolução industrial da segunda metade do século XIX, a massa da população não concebiam a tecnologia e inovação como meios para o progresso. 

A maioria das pessoas, mas não Joseph Alois Schumpeter, o teórico e acadêmico que acreditava no poder transformador da sociedade pelo progresso tecnológico. Schumpeter desenvolveu importantes teorias econômicas e desempenhou funções diversas no decorrer da sua vida. Foi um destacado professor da Universidade de Harvard apesar de não ter se dedicado somente à academia. 

Convido-vos para seguir conosco na série os pais da administração, a fim de conhecer a vida itinerante e diferentes trabalhos que Schumpeter desenvolveu até se tornar professor em Harvard e um pouco da sua obra que marcou o começo do século passado e o colocou como um dos maiores economistas da história recente. 

Quem foi Joseph Schumpeter? 

Joseph Alois Schumpeter nasceu em 8 de fevereiro de 1883, na cidade de Triesch, atual República Tcheca, porém em virtude das condições sociopolíticas e culturais da região à época do seu nascimento é considerado um cidadão austríaco. Schumpeter é filho único de uma família católica. O seu pai faleceu quando ele era ainda muito jovem, vindo a sua mãe a casar novamente com um oficial de alta patente do exército austro-hungaro. 

Schumpeter deu início a sua trajetória acadêmica nas melhores instituições de ensino da época. No ano de 1901 começou a graduação de Direito na Universidade de Viena, durante o curso Schumpeter teve o privilégio de ter aulas ministradas por grandes professores como Friedrich Von Wieser e teve como colegas de seminários nomes como Ludwig Von Mises e Otto Bauer. 

Logo após a faculdade de direito, Schumpeter casou com Gladys Ricardo Seaves, e em seguida partiu para o Egito, onde atuou como advogado no Tribunal Misto Internacional do Egito e também foi conselheiro de finanças da nobreza egípcia.

De volta à Europa, começou a lecionar na Universidade de Czernovitz (atual Ucrânia), em 1909, onde permaneceu por 2 anos, já que em 1911 se mudaria para a Áustria para ministrar aulas na Universidade de Graz, até permaneceu até o fim da Primeira Guerra Mundial. 

A carreira profissional de Schumpeter foi marcada pelo ecletismo de atividades desempenhadas, uma vez que ele não ficou restrito aos bancos das universidades como acontece com muitos teóricos. Certamente, as diferentes funções desenvolvidas deixaram ensinamentos que contribuíram para a criação das suas famosas teorias como veremos a frente. 

Fora dos bancos da universidade, Schumpeter atuou durante alguns meses como Ministro das Finanças da Áustria, logo em seguida conseguiu o cargo de Presidente de um banco privado, o Bidermann Bank de Viena. A situação financeira da instituição se encontrava bastante crítica e apesar dos esforços de Schumpeter o banco veio a falência em 1924. 

Após essas experiências, Joseph Schumpeter decidiu voltar a ministrar aulas, assim, passou a lecionar na Universidade de Bonn, na Alemanha, entre os anos de 1925 a 1932. Assim como todos no continente europeu foram de alguma forma afetados pelo crescimento do nazismo e o início da Segunda Guerra Mundial, para Schumpeter não foi diferente. Ele deixou a Europa e foi até o Japão para em seguida ir aos Estados Unidos, onde se estabeleceu. 

Ainda no ano de 1932, começou a lecionar na prestigiada Universidade de Harvard onde permaneceu por quase 20 anos, até a sua morte em 1950. Como já citado, a carreira de Schumpeter não foi linear, alternando períodos de sala de aula com atividades próprias de executivos. O que sabe-se da época em que foi professor universitário é que Schumpeter foi bastante estimado e querido por seus alunos. 

Os principais ensinamentos de Schumpeter

Apesar de ter sido reconhecido como um grande economista, Schumpeter nunca foi um matemático e buscava integrar a economia com a sociologia para melhor entender e explicar suas teorias econômicas. 

Um dos seus estudos mais famosos é conhecido como a teoria dos ciclos econômicos que foi o ponto de partida para as ciências econômicas contemporâneas. Segundo Schumpeter, para que um mercado saia de um estado de equilíbrio e conquiste um ritmo de crescimento acelerado é preciso que aconteça o surgimento de alguma inovação, ou seja, que as condições prévias de equilíbrio sejam consideravelmente alteradas. 

Em seus estudos, Schumpeter cita alguns exemplos de inovações que alteram o cenário de equilíbrio econômico em um mercado: o surgimento de um novo método de produção ou comercialização dos produtos, a descoberta de novas fontes de matéria-prima, a quebra de monopólio e a introdução de novos bens e atores no mercado. 

No seu entendimento um ato empreendedor consiste na introdução de uma inovação no mercado vigente, visando a obtenção de lucro, rompendo o equilíbrio como foi explicado. Esse mecanismo seria então o motor de toda atividade empreendedora.

De acordo com Schumpeter, a inovação só pode se realizar quando 3 condições são cumpridas: 

● que exista novas e mais vantajosas possibilidades do ponto de vista econômico e privado em algum ramo da indústria; 

● que o acesso à essas possibilidades seja limitado, por razões de circunstâncias externas ou pela falta de qualificação profissional dos colaboradores; 

● que exista uma situação inicial de equilíbrio econômico. 

Seguindo na mesma linha de estudos, Schumpeter desenvolveu a teoria da Destruição Criativa, como sendo o motor para o desenvolvimento econômico, para ilustrar o que ele quis dizer, imaginemos que hoje os discman foram completamente substituídos por tocadores de mp3 player e em seguida pelos próprios smartphones. Essa seria a destruição de uma tecnologia por outra, fazendo o progresso social e econômico acontecer por meio de novas tecnologias, produtos e serviços. 

O economista também fez estudos proeminentes na área política, em duas das suas mais famosas obras intituladas Sobre as Formas Econômicas e Sociais do Capitalismo, Os Ciclos Econômicos (1939) e Capitalismo, Socialismo e Democracia (1934) ensinou sobre a transição que ocorreria a longo prazo para uma espécie de socialismo não dogmático, em virtude da monopolização dos mercados, o que acabaria por debilitar a capacidade criativa e de inovação das empresas. 

Neoschumpeterianos e o seu legado 

A partir da década de 70, muitos estudiosos e teóricos buscaram aprimorar as teorias de Joseph Schumpeter, eles ficaram conhecidos como neo-schumpeterianos. O grupo, também conhecido por evolucionistas, se inspiraram nas teorias de Schumpeter e trabalharam amplamente com a utilização de analogias biológicas para melhor explicar o caráter evolutivo do desenvolvimento capitalista e dos sistemas econômicos. 

Assim como Schumpeter, os estudiosos da segunda metade do século XX defendem a tese que as mudanças tecnológicas são o motor para o desenvolvimento do sistema capitalista. Para essa vertente, a concorrência é fundamental para a tomada de atitudes ou iniciativas inovadoras, dessa forma, a variável da inovação dentro das empresas ganhou ainda mais espaço se tornando uma estratégia que muitas vezes define o sucesso ou não das empresas. 

Ao longo de quase 30 anos de carreira como professor, sendo quase 20 deles apenas na Universidade de Harvard, Schumpeter lançou obras importantes nas quais explicou suas teorias e ajudou a formar economistas, sociólogos e inspiram empreendedores, as mais famosas são: 

- A natureza e a essência da economia política (1908);

- Teoria do desenvolvimento econômico (1911);

- Ciclos econômicos (1939);

- Capitalismo, socialismo e democracia (1942); 

- História da análise econômica, publicação póstuma (1954).

Acredito que as obras e ensinamentos de Joseph Schumpeter seguirão passando por ciclos de revisitação e estudos constantes, por trazer conceitos inovadores que se mostram ainda hoje bastante atuais. 


Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.       

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