Segundo Andrade, Alyrio e Macedo (2010), a
palavra conflito provém do latim conflictus, do verbo confligo do
radical grego flag que tem o significado de chocar ou
chocar-se. Mas não vejamos este chocar de maneira negativa. Em um ambiente
organizacional é normal (e até mesmo recomendável) que ocorram situações em que
as pessoas entrem em divergência diante das atividades realizadas. Cada
indivíduo é dotado de características muito pessoais, que podem contestar os
aspectos e/ou características do seu trabalho. Daí surge o conflito.
Assim, o
conflito pode ser percebido como uma divergência de opiniões, pontos de vistas
que ocasionam uma disputa por espaços, sejam esses espaços territoriais,
organizacionais ou pessoais. Essas divergências podem ser intra-pessoais, que
seria um tipo de conflito interno; podem ser inter-pessoais, quando duas ou
mais pessoas conflitam entre si; ou podem ser inter-grupais, quando grupos de
trabalho e/ou departamentos entram em conflito.
O mais importante aqui é que os gestores dos
ambientes organizacionais consigam mapear estes conflitos e tratá-los de
maneira adequada junto aos envolvidos.
Outro tipo de conflito, embora muito comum, e
que não deveria acontecer, é o conflito entre os gerentes de departamentos das
empresas. Em muitos momentos, os recursos compartilhados, o planejamento mal
elaborado ou até mesmo a disputa pelo poder (que neste caso, muitas vezes é
inexistente), causam uma situação muito desconfortável entre as gerências.
Esta situação se torna ainda mais
problemática porque acaba afetando as equipes de trabalho destas gerências
gerando disputas por “territórios” dentro da organização e situações de embate
muitas vezes sem motivos aparentes. Percebemos que a situação de embate
provocada pelo conflito influencia e modifica a realidade vivenciada, já que as
pessoas acabam exteriorizando os seus sentimentos por meio de palavras e ações.
Mas como lidar diante de um contexto de
conflito? Mais uma vez, não podemos designar esta tarefa somente ao órgão de
RH. É necessário que todos os gestores das organizações estejam aptos a lidar
com os conflitos existentes nestes ambientes, já que é esta condução que
determinará a forma como a situação será administrada e, principalmente, a sua
influência nos indivíduos, na organização e nos resultados de suas atividades.
O gerenciamento de conflitos está na maioria
das vezes nas “mãos” dos encarregados, supervisores, coordenadores, gerentes,
executivos, gestores, presidentes, ou seja, os que estão em cargos de chefia e
liderança.
Existem organizações, geralmente de médio e
grande porte que têm em sua estrutura o papel de gestor de conflitos, aquele
profissional que se volta somente a tratar situações conflitantes na empresa
seja no ambiente interno ou externo. Mas este é um caso específico. O mais
importante é que se perceba a importância de se saber tratar um conflito em um
ambiente organizacional.
Alguns pontos importantes no tratamento dos
conflitos nas organizações:
-Nunca ignorá-lo por mais “inocente” que
pareça o conflito ele acaba repercutindo de alguma maneira no ambiente
organizacional.
-Conhecer as percepções dos envolvidos.
-Não tomar partido de imediato, é necessário
averiguar os fatos.
-Separar os envolvidos para que não haja maiores
embates.
-“Jogar às claras” com a equipe, evitando-se
assim, fofocas e informações distorcidas.
-Quando necessário, optar pelo “desligamento”
de um ou mais envolvidos.
-Buscar o máximo de detalhes sobre a situação
apresentada para não tomar decisões inconsistentes.
-Não deixar o emocional agir sobre o
racional.
Note que estes elementos não são fáceis de serem desenvolvidos/executados, mas é necessário que sempre sejam avaliados na gestão de conflitos justamente para que o ambiente organizacional seja preservado, e os envolvidos não sejam tratados de maneira incoerente e/ou injusta. O conflito e a forma que estes são conduzidos acabam por refletir nos relacionamentos estabelecidos nos ambientes organizacionais.
Como tratado anteriormente, é recomendável
uma dose de conflito entre os grupos e as pessoas que fazem parte destes para
que surjam novas ideias, metodologias, práticas e concepções. Mas para que isso
aconteça é necessário que os gestores organizacionais tratem os conflitos
sempre baseando-se nos princípios de gestão de pessoas, e tenham como foco os
relacionamentos.
Imagine você, como uma situação de conflito
mal administrada em que os envolvidos permaneçam no mesmo ambiente
organizacional, pode influenciar os seus relacionamentos. Inclusive com outras
pessoas.
Para que isso não ocorra é importante que os
gestores tenham sempre em mente que os conflitos não podem de forma alguma
atrapalhar as atividades da organização, mas sim, contribuir para o sucesso
organizacional.
Para tanto é necessário saber lidar com as
diferenças sejam elas de comportamento ou de habilidades. É necessária muita
parcimônia ao conduzir os grupos de trabalho, e principalmente, conseguir
estabelecer relacionamentos sadios, mesmo com as pessoas sendo tão diferentes.
A heterogeneidade é elemento marcante dos
ambientes organizacionais nos dias de hoje, cabe então aos gestores destes
ambientes desenvolverem habilidades e utilizá-las para conduzir adequadamente
as pessoas que dali fazem parte.
Os dirigentes das organizações precisam
promover uma mudança de comportamento dos indivíduos e dos grupos de trabalho.
Esta mudança de comportamento será percebida nas atitudes das pessoas que
passarão a ter novas percepções e sentimentos em relação aos indivíduos e
outros elementos do contexto em que estiverem inseridas.
Para se criar um ambiente organizacional
centrado em bons relacionamentos, os líderes precisam estimular a cooperação,
incentivar o trabalho em equipe, ensinar a lidar com as diferenças, estabelecer
metas significantes e gerar estímulos adequados para alcançá-las. E
principalmente saber gerir os conflitos que vierem a surgir. Porque eles
surgirão.
Outro elemento bastante enfatizado do
ambiente organizacional, que de alguma forma também se relaciona com o conflito
e a forma como os relacionamentos são construídos, é o poder. O poder está
relacionado à intervenção que ocorre por meio da relação social entre duas ou
mais partes, onde uma delas consegue estabelecer uma relação de domínio sobre a
outra e assim, obter os resultados desejados ou apenas controle.
O poder pode ser compreendido ainda como a
capacidade de influenciar outrem, no intuito de levar a aceitação de ideias que
se mostram divergentes, levando a um comportamento desejado (MOTTA, 2002).
Nos ambientes organizacionais o poder
influencia comportamentos. Por exemplo, quando uma pessoa executa uma atividade
porque acha “que tem poder” para isso mesmo esta atividade não sendo
necessária. Ou então quando alguém deixa de fazer algo por medo de fazê-lo, já
que acaba por desagradar alguém que “tem poder” dentro da empresa e pode
prejudicá-lo.
Mas quais seriam as fontes de poder? Para
responder esta pergunta, apresenta-se a concepção de Oliveira, Prado e Silva
(2005), conforme segue:
-Autoridade formal;
-Controle sobre recursos escassos;
-Uso da estrutura organizacional, regras e
regulamentos;
-Controle do processo de tomada de decisão;
-Controle do conhecimento e da informação;
-Controle dos limites;
-Habilidade de lidar com a incerteza;
-Controle da tecnologia;
-Alianças interpessoais, redes e controle da
organização informal.
-Controle das “contra-organizações”;
-Simbolismo e administração do significado;
-Sexo e administração das relações entre os
sexos;
-Fatores estruturais que definem o estágio da
ação;
-Poder que já se tem.
Estes elementos apresentados levam à
concepção de que o ambiente organizacional é permeado de relações de poder, e
são essas relações que muitas vezes orientam/conduzem as formas de
desenvolvimento das atividades de trabalho. Os gestores de pessoas precisam
estar atentos e aptos a essas situações manifestadas, para que assim consigam
conduzir as situações adequadamente.
Bom trabalho e grande abraço.
Autor: Adm. Rafael José Pôncio
Autor: Adm. Rafael José Pôncio
Publicado em: 18 de maio de 2017
Especial: artigos no portal Administradores.com
Link fonte: https://administradores.com.br/artigos/a-gestao-de-conflitos-de-relacionamentos-e-de-poder
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