terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Paul R. Lawrence, o gigante do comportamento organizacional

Paul R. Lawrence foi um professor amado por seus alunos, colegas de trabalho e contribuiu para lançar as bases sobre os estudos acerca do aspecto humano das organizações. Seus estudos mudaram a forma como se encara o comportamento organizacional e jogou luz sobre o tema em uma época em que as relações de trabalho mudavam rapidamente, assim como acontece hoje.

Além de um grande teórico, estudioso e professor, Lawrence foi também amigo, companheiro e mentor dos seus alunos, um caso raro de sucesso na vida privada e profissional. Lawrence se tornou uma inspiração enquanto ser humano para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele.

A sua trajetória profissional foi marcada especialmente por sua presença nas universidades, em especial em Harvard, onde fez um MBA e ganhou o grau de PhD. Contudo, Lawrence não se contentou em ficar apenas na academia - o que já seria muito - e também atuou na direção de grandes empresas, como diretor da Millipore Corporation, de 1975 a 1993 , e de 1991 a 1995 diretor da Hollingsworth & Vose Paper. Dessa maneira mostrou como unir suas pesquisas e estudos sobre comportamento organizacional com a prática.

Sua principal teoria diz respeito à ideia de que não existe receita única ou fórmula mágica quando se trata de cultura organizacional eficiente. Partindo desse pressuposto, cada estrutura vai encontrar sua melhor forma, apesar de que alguns processos possam ser comuns a muitas organizações.

Para entender melhor sobre Lawrence e suas principais ideias, vamos à sua vida e obra que valem a pena ser conhecidas. 

Quem foi Paul R. Lawrence? 

Paul R. Lawrence nasceu em 26 de abril de 1922, em New Rochelle, Illinois, Estados Unidos, porém muito novo migrou para Grand Rapids, onde passou parte da infância juventude. Desde muito cedo Lawrence se destacou nos estudos e passou a desenvolver suas potencialidades dentro do meio acadêmico.

Lawrence contou com o exemplo do seu pai, um empenhado funcionário público que cujo trabalho contribuiu para reequilibrar as contas dos bancos de Michigan durante a Grande Depressão. Dentro de casa, seus pais lhe passaram valores humanos como generosidade, altruísmo e humildade que Lawrence levou por toda sua vida.

Conta-se que durante a juventude presenciou uma série de conflitos entre os trabalhadores e a indústria automobilística, esse contexto o levou a questionar como poderia contribuir para a solução desses conflitos que que não se restringiam às fábricas de automóveis. A busca por uma resposta para os confrontos que presenciou nortearam seus estudos durante toda a vida. Assim, a tentativa de encontrar uma solução para este dilema o levou a ser um dos pioneiros no desenvolvimento das teorias sobre as relações de trabalho e construção de culturas organizacionais fortes e sadias que são estudadas até hoje.

Já na Universidade, sua formação acadêmica começou na Albion College, quando se formou bacharel em 1943. Poucos anos depois Lawrence dava início a sua longeva e bem sucedida carreira de estudos e pesquisas na Universidade de Harvard, inicialmente com o MBA em 1947, o doutorado em ciência comercial foi obtido em 1950, também pela Harvard Business School.

A carreira de Lawrence em Harvard como professor andou rápido e logo após concluir o MBA em 1947 ingressou nos quadros da universidade como professor, ao mesmo tempo em que estudava como doutorando. Em 1950 foi promovido a professor assistente e no ano de 1956 a professor associado. Lawrence foi por fim promovido a professor titular em 1960. Lawrence se destacou por suas teorias e sua extensa produção acadêmica, ao longo dos anos escreveu 26 livros e dezenas de artigos. Alguns de seus livros e artigos ganharam prêmios e seus estudos compõem a grade curricular de cursos de gestão, administração e pós-graduações.

Em que pese seu perfil eminentemente acadêmico, Lawrence não negligenciou a importância da prática para um aprendizado mais completo, assim, ele sabia que tinha diante de si uma excelente oportunidade de campo, quando conseguiu um emprego na Chevrolet Gear and Axle, na linha de montagem.

Na visão de Lawrence essa era a oportunidade perfeita para o desenvolvimento dos seus estudos sobre o comportamento das organizações, pois estava inserido dentro de um contexto “chão de fábrica”. 

Principais teorias de Paul Lawrence 

Em 1967 Lawrence lançou em conjunto o livro Organization and Environment, que até hoje é considerado por muitos uma pérola da gestão administrativa uma vez que fundamentou as bases das teorias sobre o comportamento das organizações.

Nesse estudo, Paul Lawrence e Jay Lorsch desenvolveram a teoria de que não existe receita pronta quando se trata de dar vida ao funcionamento de uma organização. Para Lawrence, as organizações mais bem sucedidas se organizam levando em consideração o mercado, a tecnologia a disposição e a natureza da sua atividade.

Aqui temos um importante ensinamento: cada organização deve buscar conhecer-se para encontrar as formas que funcionam melhor para elas. Apesar de parecer óbvio, muitos líderes buscam fórmulas mágicas para o sucesso de suas organizações, espelhando modelos que em nada tem a ver com as estruturas que administram.

Ao longo dos anos, Lawrence desenvolveu estudos e pesquisas nas mais diversas áreas. Seus estudos abordaram temas complexos como a questão racial e de governança urbana, assistência médica e gestão de pesquisa. Com seu colega Stanley Davis desenvolveu o trabalho sobre organizações matriciais e, juntamente com Arthur Turner, abriu espaço para as pesquisas sobre design de cargos e equipes de trabalho.

Na década de 80, os esforços de Lawrence o direcionaram a entender outras formas de organização comportamental fora dos Estados Unidos, assim, escreveu em 1983 Renewing American Industry, quando fez pesquisas para entender a metodologia de trabalho japonesa que estava deixando a indústria americana para trás.

Em 1987, foi a vez de focar na indústria soviética por ocasião da Glasnost que proporcionou uma visão interna de suas práticas. Lawrence e Charalambos Vlachoutsicos realizaram um estudo comparado das práticas americanas e soviéticas, como o consequência, o estudo possibilitou que gerentes americanos e russos pudessem compreender melhor um ao outro, bem como lançou as bases para que fosse possível desenvolver empreendimentos comerciais entre os dois lados.

Um ponto marcante durante a trajetória de Lawrence dentro da academia diz respeito à forma como realizava suas pesquisas. Para Lawrence toda pesquisa deveria ter como fundamento responder a um problema relevante e importante dentro da área de estudo. Esse aspecto nos revela uma mentalidade bastante prática e conectada às demais cotidianas.

Quando já passava dos 80 anos, Lawrence desenvolveu a sua última teoria, a respeito da unificação do comportamento humano, para o trabalho que resultou no livro Driven: How Human Nature Shapes Our Choices, escrito em parceria com Nitin Nohria, Lawrence resgatou ensinamentos e teses das obras de Charles Darwin.

Paul R. Lawrence foi um intelectual, professor produtivo e bondoso para todos que procuraram seus conselhos e melhor entendimento sobre suas teorias. A seguir veremos um pouco mais do legado deixado por Lawrence. 

O legado de Lawrence 

Para nós, a característica mais marcante de Paul Lawrence foi ter sido uma pessoa que buscava a excelência em todos os aspectos da sua vida. Lawrence não apenas foi um professor e teórico entre os melhores que já passaram pela Harvard Business School, como também foi alguém notavelmente humilde e generoso com amigos e alunos.

Por toda sua trajetória de vida profissional e pessoal é de se esperar que Lawrence tenha ganho prêmios e reconhecimentos ao longo da sua vida, alguns deles merecem destaque: 

  • 18 anos seguidos lecionando no MBA da HBS; 

  • Lawrence foi presidente do programa de MBA do programa de Gestão Avançada e chefe da Unidade de Comportamento Organizacional; 

  • Autor e coautor de mais de 50 estudos de casos;

  • Foi nomeado como Distinguished Contributor pela North American Case Research Association;

  • Foi membro da Academy of Management;  - Foi nomeado professor Wallace Brett Donham Professor of Organizational Behavior. 

Em um mundo cada vez mais mutante e após a pandemia do COVID-19, que chacoalhou a forma como as empresas produzem e as modalidades de trabalho, os estudos de Lawrence sobre as formas como as empresas se organizam para executar suas funções se tornou ainda mais relevante. Visto isso, é inegável que Paul R. Lawrence será para muitas gerações de alunos lembrado como um professor genial e humilde, sempre disposto a contribuir com a formação das pessoas. As futuras gerações poderão voltar ao seu legado para seguir construindo organizações que reflitam o espírito do homem moderno. Bom trabalho e grande abraço. Prof. Adm. Rafael José Pôncio


terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Princípio de Pareto: como a regra 80/20 pode ser aplicada nos negócios

O Princípio de Pareto afirma que 80% dos resultados são gerados por apenas 20% das causas. Descubra como utilizar essa ferramenta na sua empresa.

O Princípio de Pareto ou Regra 80/20 é uma ferramenta criada a partir da tendência que 80% dos resultados são gerados por apenas 20% das causas.

Essa regra pode ser aplicada nos negócios para melhorar diversos fatores como a gestão, a produtividade, a qualidade e até as ações de marketing e vendas.

Continue a leitura e descubra como o Princípio de Pareto pode melhorar o dia a dia da sua empresa.

A História do Princípio de Pareto

Embora seja bastante aplicado na administração e gestão de negócios, o Princípio de Pareto ou Regra 80/20 surgiu a partir de um estudo feito pelo sociólogo, teórico político e economista italiano Vilfredo Pareto.

Em seu estudo, Vilfredo Pareto identificou que a distribuição de renda e riqueza seguia um padrão onde a maioria dos bens (80%) se concentrava em uma pequena parte da população (20%).

Com o aprofundamento da pesquisa, Pareto percebeu que essa relação estava presente também em outros campos como nas plantações de ervilha, notando que apenas 20% das vagens produziam cerca de 80% das ervilhas.

Tendo como base os estudos feitos por Vilfredo Pareto, o consultor de negócios, Joseph M. Juran estabeleceu o Princípio de Pareto ou Regra 80/20, afirmando que "80% das consequências advém de 20% das causas”. Para facilitar a compreensão seguem alguns exemplos:

  •  80% do faturamento é resultado de 20% dos produtos;

  •  80% dos resultados são gerados por 20% do investimento;

  • 80% das reclamações são feitas por 20% dos clientes.

É claro que nem sempre a proporcionalidade é exatamente a mesma, no entanto, o mais importante a se considerar é que uma pequena parte das ações é responsável pela maioria dos resultados, então se você concentrar os esforços nas tarefas principais você acabará obtendo mais ganhos.

Aplicações do Princípio de Pareto

A Regra 80/20 pode ser utilizada em vários aspectos da vida profissional e pessoal, contribuindo para a identificação das prioridades e benefícios.

A forma mais simples de colocar em prática o Princípio de Pareto é seguindo essas etapas:

  • Estabeleça um objetivo: para conseguir priorizar as atividades é fundamental ter claro qual é o propósito do seu negócio.

  • Faça uma lista: agora você faz elenca todas as atividades que você precisa fazer.

  • Organize a lista em ordem decrescente: ou seja, coloque no topo o que é mais relevante e no final o que é menos relevante.

Uma forma bem simples de trabalhar com o Princípio de Pareto é reservar os primeiros minutos do dia para estabelecer as atividades mais importantes do dia.

Desta maneira além de ser mais produtivo, você não ficará com a sensação de que “trabalhou demais” sem chegar a lugar algum. Seguem outros exemplos de utilidades para a Regra 80/20 no seu negócio:

Aumento da produtividade

Uma das maiores utilizações do Princípio de Pareto é para aumentar a produtividade, concentrando-se mais nas atividades essenciais e deixando menos tempo, ou delegando para outras pessoas as atividades secundárias.

Por exemplo: você acabou de iniciar um negócio e percebe que gasta bastante tempo fazendo relatórios, enviando e-mails, arquivando documentos. Estas tarefas contribuem muito pouco para os lucros da empresa.

Ao notar isso, você pode contratar outra pessoa para cuidar dessas tarefas ou até descartar algumas atividades. 

Também é importante ter em mente que embora apenas 20% das tarefas tragam 80% dos resultados, o restante das atividades não deve ser ignorado, afinal eles também contribuem para o desenvolvimento da empresa.

Auxílio na tomada de decisão

Tomar as melhores decisões é um grande desafio para a maioria dos gestores, afinal uma escolha equivocada pode prejudicar a empresa ou piorar ainda mais um problema.

O Princípio de Pareto pode ajudar a encontrar o problema principal e a melhor solução para ele, uma forma de chegar a essa conclusão e fazendo as seguintes etapas:

  1.  Faça um levantamento dos problemas que o negócio está enfrentando;

  2. Identifique as principais causas desses problemas;

  3.  Agrupe os problemas em categorias semelhantes;

  4.  Defina o impacto que cada uma das dificuldades apontadas tem na empresa;

  5.  Desenvolva uma solução focada nos 20% problemas principais.

Por exemplo: você está começando um negócio e percebe que mesmo trabalhando muitas horas por dia você e sua equipe não conseguem dar conta das demandas.

Aplicando o Princípio de Pareto você nota que o atendimento ao cliente está consumindo muito tempo dos colaboradores sem impactar nos lucros do negócio. São muitos e-mails e ligações para tirar dúvidas iniciais das pessoas que entram em contato.

Com esse resultado você decide contratar uma ferramenta de automação para responder essas primeiras dúvidas e otimizar o atendimento ao cliente.

Melhorar os resultados das ações de marketing

Outro campo que você pode utilizar essa metodologia é o setor de marketing, principalmente no meio digital, onde é possível mensurar diversos resultados.

Adotando a Regra 80/20 para a coleta e análise dos dados é possível planejar novas ações e desenvolver campanhas mais assertivas.

Por exemplo: partindo da ideia de que 80% do tráfego gerado no seu site é causado por 20% dos conteúdos, há uma grande oportunidade de melhorar os resultados das suas ações.

Uma das maneiras é mapeando quais os canais (blogs, redes sociais, e-mails marketing) e identificar quais estão gerando os melhores resultados e quais são os conteúdos que tiveram números mais positivos.

Também com base na premissa que 80% do faturamento é resultante de 20% dos clientes, você pode criar ações exclusivas para esse público, aumentando as suas chances de sucesso.

Qualidade com o Diagrama de Pareto

Diagrama de Pareto é uma das 7 ferramentas da qualidade, sendo muito utilizado na qualidade como uma ferramenta visual para indicar quais são as prioridades.

O diagrama é composto por barras e uma linha que o percorre. Nas barras são colocadas as causas, atividades ou itens responsáveis pelos resultados organizados de maneira decrescente. Já a linha representa a porcentagem acumuladas das causas, conforme exemplo abaixo:

 

O Diagrama de Pareto é mais utilizado quando se está trabalhando em diversas causas, pois facilita a visualização dos elementos. Também é utilizado para quantificar as categorias, mas para isso é necessário ter todos os dados para uma análise mais precisa.

A forma de construir esse gráfico é:

  1. Estabelecer quais serão os elementos comparados no gráfico;

  2. Coletar as informações necessárias;

  3. Determinar a medida de comparação (frequência, tempo, custo);

  4. Categorizar os dados;

  5. Listar os elementos dos mais frequentes para os menos frequentes e desenhar as barras em ordem decrescente;

  6. Traçar a linha que representa o percentual acumulado;

  7. Analisar o diagrama identificando quais são as prioridades.

Desta maneira você terá ainda mais resultados com a ajuda do Princípio de Pareto.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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