Por: Michael Munger
Em cinquenta anos, as pessoas vão olhar para trás e pensar sobre nós. Eles vão se perguntar por que nós fomos tão desperdiçadores, tão egoístas. Por que nós tínhamos armários, garagens e depósitos de aluguel, tudo sob o bloqueio de cadeados a chave para que pudéssemos evitar que outras pessoas usassem as coisas que nós não estávamos usando?
Não posso me gabar de que não sou parte do problema. Eu tenho um brilhante e preto BMW 330i com uma transmissão de seis velocidades. A BMW tem seu próprio santuário especial, com uma porta que magicamente - bem, eletronicamente - abre quando me aproximo. Meu carro ocupa bastante espaço. Na verdade, "vive" melhor, em uma garagem limpa e bem iluminada, do que pelo menos uma quarta parte da população humana mundial.
Às vezes eu dirijo-o para o trabalho, onde eu o estaciono em um pedaço muito caro de terra chamado estacionamento. Eu dou aula em Duke há muito tempo, então eu tenho o "ponto de estacionamento divino", perto dos prédios.
Dirijo o meu carro cerca de 45 minutos por dia, quatro dias por semana, e menos quando estou viajando, algo que é comum. Estou escrevendo esse artigo em Sydney, Austrália, e meu carro está parado, sem uso, em um estacionamento no aeroporto, atrás do arame farpado.
Quando eu estou na cidade, eu também uso meu carro para passeios - talvez eu use o carro com esse propósito mais cinco horas por semana. Isso resulta em 163 horas por semana que o carro não é usado, e enquanto não é usado, ele realmente ocupa dois lugares de estacionamento, no sentido de que tanto a minha garagem quanto o estacionamento da universidade estão reservados para mim.
Pagando por coisas que não usamos
Um dos meus conselheiros de graduação foi Douglass North, que ganhou um Prêmio Nobel em 1993 por argumentar que os custos de transação eram o conceito central na economia moderna. Não importa qual seja a pergunta; a resposta é o custo de transação.
Se você quiser fazer um comércio, você tem que gastar tempo e outros recursos para encontrar a pessoa certa para negociar e depois organizar e fazer valer a troca. Esse custo é o custo da transação.
Por que eu pago para armazenar meu carro em vez de deixar que outras pessoas o utilizem pagando um aluguel? Custos de transação. Por que mais pessoas não oferecem carona? Custos de transação. Por que, em termos mais gerais, possuímos coisas ao invés de alugá-las? A resposta, como Doug North disse, é o custo de transação.
Mas estamos vivendo no início de uma era fundamental que transformará nosso relacionamento com "coisas" (precisaremos menos disso) e com outras pessoas (nós compartilharemos mais). Para toda a história humana até cerca de 1995, o desejo de reduzir os custos de transação foi vinculado ao desejo de vender um produto específico. Agora, os empresários estão combinando três coisas - plataformas móveis, aplicativos de software e conexões de internet - para vender reduções nos custos de transação sem nenhum produto anexado. E essa combinação mudará tudo.
Você já conhece a Uber, é claro. Se eu tiver um carro e alguns minutos, e você precisa de um passeio, é improvável que possamos resolver o problema de custos de transação por nossa conta. Nós enfrentamos problemas de triangulação (encontrar um ao outro), transferência (providenciar a entrega do serviço e negociar o pagamento) e confiança (ter certeza de que não vou roubá-lo e você não vai me assaltar, embora a Uber não tenha atuado de forma impecável a esse respeito). Essas três categorias - triangulação, transferência e confiança - são as razões pelas quais possuímos muito e pagamos para armazenar tudo.
Mas há um enorme e amplamente não utilizado montante de excesso de capacidade no sistema agora, apenas esperando por uma redução nos custos de transação para disponibilizá-lo. Considere as caronas: quase ninguém nos Estados Unidos pega ou oferece caronas. Se você ficar em uma ponte sobre uma rodovia interestadual, você notará que a maioria dos carros e quase todos os caminhões têm um único passageiro. Por que não existem mais pessoas em todos esses veículos?
O novo Uber
A resposta é o custo de transação. Mas uma empresa chamada BlaBlaCar descobriu uma maneira de vender reduções nesses custos.
Ao contrário de muitas outras plataformas, o BlaBlaCar oferece compartilhamento puro. O software fornece informações importantes: (1) a localização do passageiro, (2) o destino do passageiro e (3) a hora que o passageiro quer sair. Alguém que tenha um assento extra em seu carro ou caminhão e que esteja viajando por essa rota em aproximadamente esse tempo é ligado ao passageiro. O passageiro paga parte do custo da viagem que o motorista vai pagar de qualquer maneira. O resultado é um ganho de eficiência pura com custo marginal próximo a zero, mas benefícios para ambos, ou todos, participantes.
O nome da plataforma do software vem de uma quarta informação: "papo" desejado. Se você preferir um viagem silenciosa, então você marca a opção "bla". Mas se você gosta de conversar toda a viagem, você pode selecionar "bla-bla-bla". O nome da empresa é a configuração do meio, "bla-bla", como a forma de representar o serviço em geral.
A partir desta escrita, BlaBlaCar tem mais de 25 milhões de "membros" em 22 países. Pelo menos 10 milhões de viagens são organizadas por trimestre e, claro, cada viagem requer pelo menos dois membros. Na verdade, a ocupação média de carros é de 2,8 em um passeio BlaBlaCar, em comparação com 1,6 a 1,8 (dependendo do país) para viagens de carro em geral. BlaBlaCar estima uma redução das emissões de CO2 na ordem de mais de 1 milhão de toneladas por ano, mas é claro que a estimativa pressupõe que todos os pilotos teriam feito suas próprias viagens solo, em vez de tomar um trem ou simplesmente não viajar, se o serviço não estivesse disponível.
O que os serviços de compartilhamento realmente vendem
Observe que a Bla-Bla Car não vende passeios, transporte ou qualquer coisa remotamente parecida com um serviço físico. O que a Bla-Bla Car vende é uma redução nos custos de transação. E esse é o tema unificador da nova economia compartilhada: pela primeira vez na história humana, os empresários podem ganhar dinheiro apenas vendendo reduções nos custos de transação. Temos muitas coisas; elas apenas estão no lugar errado. A única coisa que mantém coisas no lugar errado são os custos de transação.
As plataformas portáteis (principalmente smartphones) que utilizam software (geralmente aplicativos modulares e autônomos) e conexão pela internet significam que os custos de transação estão caindo. Uber não vende passeios de táxi; Airbnb não aluga quartos de hotel. Essas empresas e mais mil, "vendem" reduções nos custos de transação.
Precisaremos de muito menos coisas e muito menos espaços de estacionamento se pudermos aproveitar melhor o que já temos. E as cidades terão muito mais espaço uma vez que não estamos pagando os custos de armazenar carros em estacionamentos e montes de equipamentos e roupas em instalações de armazenamento.
Fonte: https://fee.org/articles/how-the-sharing-economy-can-help-you-go-minimalist/