terça-feira, 27 de setembro de 2022

Sam Walton, o homem que dominou o varejo

Benjamin Franklin, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, disse certa vez que o trabalho dignifica o homem. De fato, apesar de alguns verem o labor como algo negativo, cansativo e, em grande parte, entediante, dedicar-se a um ofício é uma excelente forma de construção de virtudes. No trabalho, se estivermos atentos, poderemos desenvolver sobre disciplina, ordem, cortesia, eficiência e uma série de outros atributos que nos serão úteis para toda a vida, não somente em nossos expedientes.

Nesse sentido, o verdadeiro trabalhador não é apenas uma pessoa tecnicamente qualificada para realizar determinada tarefa, mas sim aquele que coloca suas habilidades à serviço de toda sociedade. Partindo destas ideias poderemos entender mais profundamente o que o pai fundador da América quis transmitir em sua sentença, pois podemos compreender o trabalho como uma ferramenta que está disponível para nossa própria evolução. 

Dito isso, não basta apenas encarar o labor, mas aprender com sua prática e tirar lições valiosas do seu cotidiano. Levando essa mesma perspectiva para o campo empresarial, podemos perceber que um empreendedor de sucesso será, naturalmente, aquele que consegue desfrutar do trabalho no sentido em que o colocamos. O grande erro ao se começar um negócio, por exemplo, é pensar que outras pessoas trabalharão por você e que, em contrapartida, você receberá os louros do sucesso e administrará, sem muito esforço, toda a gerência do seu negócio.

Como podemos notar, a realidade é bem diferente desta perspectiva. O empreendedor não só dedica-se quase exclusivamente ao seu ramo, como também precisa estar motivado a aprender, reinventar-se e entender profundamente sobre o seu negócio. Antes de tudo, saiba que:

O empreendedor é alguém que não tem medo do trabalho, mas o procura constantemente. 

Partindo dessas ideias gerais, poucas vezes na história do empreendedorismo conhecemos pessoas tão inspiradoras quanto Samuel Moore Walton, ou simplesmente Sam Walton. O criador da Wal-Mart, a maior rede de varejo do planeta, não se tornou um homem de sucesso à toa, ao ponto de sua família ser a mais rica do mundo atualmente. Mas estamos nos adiantando nessa história, portanto, vejamos ela do princípio para compreendermos o valor de homens como Sam Walton.

Crescendo na Grande Depressão dos EUA

Nascido em 1918, Samuel Moore Walton viveu seus primeiros anos em Oklahoma, em uma pequena propriedade rural da sua família. Apesar de possuir terras, a pequena produção da fazenda não era suficiente para o sustento familiar, o que muitas vezes tornou a infância de Sam Walton bem difícil. Devido ao problema financeiro, logo cedo Sam conheceu o trabalho, realizando tarefas simples como entregar o leite produzido na fazenda e, já na adolescência, trabalhava como entregador de jornais.

Com apenas 11 anos Sam Walton presenciou a queda da bolsa de valores, um evento traumático na história econômica mundial. Por mais que o jovem Sam não compreendesse naquele momento o que significa o crash de 1929, ele pôde sentir seus efeitos na pele. Durante a década de 1930, com todo o país mergulhado em uma séria crise, a produção e venda na fazenda da família Walton ficou ainda mais prejudicada. Devido a isso, toda a família mudou-se para várias cidades, sempre procurando empregos e sobrevivendo da melhor maneira que podia.

Porém, por mais difícil que fosse a situação dos Walton's, Sam jamais deixou de frequentar a escola. Isso porque seus pais, e o próprio Sam, sabiam que a educação seria uma das poucas formas de reverter o quadro pelo qual passavam. Junto a isso, ainda na adolescência Sam conseguiu apoio em uma importante instituição de formação de caráter: os escoteiros. Ele chegou a alcançar a condecoração máxima dentro da organização, sendo um exemplo tanto para os mais jovens como para os mais velhos.

Nota-se, portanto, que mesmo passando por momentos difíceis em sua jornada, Sam não deixou-se perder os valores cultivados em sua casa. Agarrado aos seus princípios, ao terminar a educação básica o nosso empreendedor resolveu ir à faculdade, a partir de uma parceria entre as Universidades dos Estados Unidos e as forças armadas do país. Assim, ao mesmo tempo em que ingressava na faculdade de economia, Sam Walton também tornou-se um soldado. Essa dupla função, que notadamente exigia muito tempo e esforço, foi recompensada com experiência e autonomia perante as dificuldades da vida. Sam ainda chegou a servir durante a II guerra mundial, sendo supervisor dos prisioneiros de guerra.

Abrindo caminho para os negócios no modelo San Walton

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Sam Walton passou a dedicar-se à experiência de empreender. Com o soldo adquirido da guerra, o fundador da Walmart abriu uma franquia de uma loja de utensílios. Com apenas 26 anos e aplicando seu conhecimento como economista, a estratégia de Walton se baseava em sempre oferecer os melhores preços. Para isso, o empreendedor buscava ao máximo enxugar seus gastos e diminuir sua margem de lucro, pois sabia que oferecendo melhores preços e um bom serviço a fidelidade da sua clientela estava garantida.

Como demonstrou em sua vida, Sam Walton mostrou que um plano de negócios a longo prazo tende, em diversos cenários, a ser a melhor opção. O jovem empreendedor sabia que a prosperidade não viria do dia para a noite e por isso não estava preocupado em ganhar toneladas de dinheiro rapidamente. Ao contrário, como aprendeu desde sua infância, sabia que o trabalho duro iria dar frutos ao seu tempo. Assim, em poucos anos, como previsto, seu lucro aumentou gradativamente, mostrando que sua estratégia funcionava.

Chegou a vez de abrir o Walmart

Com o tempo e adquirindo mais experiências com outras lojas, Sam Walton decidiu fundar sua própria loja, a qual tornaria seu nome marcado na história: o Walmart. O ano era 1962 quando a primeira loja foi criada. A estratégia de Walton seguia firme com a política de descontos, porém, seu grande diferencial foi principalmente na logística dos seus supermercados e na aplicação da psicologia organizacional.

Sobre a logística, Walton partiu de um princípio básico: ao entrar em um segmento tão competitivo quanto o varejo, não seria prudente investir seus esforços nas grandes cidades, já tomadas por um mercado consolidado e grandes empresas. Assim, Walton construiu suas lojas em pequenas cidades, no qual sua concorrência era extremamente limitada, o que lhe permitia dominar mais rapidamente o segmento naquela localidade. Assim, o império da Walmart foi sendo construído a partir de pequenos passos, mas sem perder nunca de vista o seu objetivo.

A estratégia dos preços mais baratos e descontos também foi amplamente utilizada, associada a uma política de entrega ágil. Junto a isso, a administração da Walmart com seus colaboradores foi um grande diferencial. Partindo do princípio que funcionários motivados são mais eficazes em suas funções, Walton atribuiu uma uma série de normas que fidelizava e mantinha seus colaboradores em grande estima. Uma delas era a política de participação dos lucros, fazendo com que a cada ano todos os funcionários recebem uma parcela do que era ganho. 

Uma outra política importante era a chamada “portas abertas”, ao qual mantinha-se um canal acessível de reclamações e queixas dos funcionários com seus chefes. Assim, os conflitos poderiam ser resolvidos de forma mais eficiente, além de estimular um ambiente mais cordial, afinal, ninguém gosta de receber reclamações.

Uma de suas frases mais emblemáticas expressa, em síntese, o seu modelo de negócio:

“Compre barato, venda barato, mantenha as prateleiras bem sortidas, trate os clientes com respeito, valorize seus colaboradores e preste muita atenção aos acertos da concorrência.”

O império do varejo: a Walmart nos dias atuais

Em números oficiais, é assombroso os rendimentos da Walmart: Existindo em mais de 50 países, ela gera um lucro líquido de 22 bilhões de dólares por ano (dados de 2011), além de possuir mais de 2,3 milhões de empregados e gerar ainda mais empregos de forma direta e indireta. Olhando para esses números é inimaginável pensar que a pequena loja dos anos 1960 tornou-se uma multinacional que dominou o mercado dos Estados Unidos e de muitos outros países. Esse feito heroico, digno de um livro, não poderia ser pensado por qualquer pessoa, mas certamente Sam Walton vislumbrou o tamanho do seu sucesso. 

Desse modo, Sam Walton não apenas provou que um bom empreendimento se mantém através de uma gestão eficiente como também comprovou que o trabalho bem canalizado sempre irá dar recompensas.

Frente a isso, o jovem Sam que enfrentou a Grande Depressão americana, que precisou trabalhar desde os sete anos de idade e que ingressou na Universidade graças a uma jornada dupla como estudante e soldado, finalmente colheu o que plantou. Em 5 de abril de 1992, após 74 anos de existência, Sam Walton deu seu último suspiro. Esse ano, portanto, completa-se 30 anos de sua partida, porém, não resta dúvidas que o seu legado é eterno. Não apenas para a sua família, que saiu da pobreza e hoje é tida como a mais rica do mundo, mas para todos os colaboradores da Walmart, que impactam diretamente na vida de milhões de pessoas ao redor do planeta. Por isso tudo é que Samuel Moore Walton está nessa lista dos empreendedores que mudaram a história.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 20 de setembro de 2022

Hugo Münsterberg, o pai da psicologia industrial


A nossa mente é, em última instância, nossa maior diferença entre os demais seres do planeta. Ela nos torna capazes de realizar grandes construções, desenvolver tecnologia, arte e uma série de outras atividades que, ao longo dos séculos, facilitaram a nossa vida. Junto com os sentimentos e emoções, o nosso lado racional constitui o que chamamos de “psique” e que é estudada constantemente por psicólogos e psiquiatras.

Nos dias atuais é inegável o valor de conhecer a nós mesmos nas mais distintas dimensões. Seja fisicamente ou psicologicamente, sabermos nossas potencialidades e debilidades nos deixam um passo à frente em qualquer competição e no mundo da administração isso não seria diferente. Porém, isso nem sempre foi uma realidade e hoje conheceremos o homem que deu os primeiros passos para desenvolver para uma série de conhecimentos que utilizamos todos os dias. Estamos falando do médico alemão Hugo Munsterberg, o homem que descobriu a psicologia industrial.

Hugo Munsterberg: um homem e seu tempo


Para entendermos a contribuição massiva de Munsterberg para a ciência devemos conhecer um pouco de sua história e do cenário em que encontrava-se o mundo. Nascido em Danzig (atual Gdansk) no Reino da Prússia, em 1863, Hugo Munsterberg cresceu em uma geração que vivia o cientificismo intensamente. O mundo encontrava-se admirado pelo sucesso da primeira e segunda revolução industrial, tendo a produtividade cada vez mais quebrando recordes. No campo social, a Europa estava vibrante com o avanço econômico e cada nação buscava expandir seus territórios para além do velho continente Europeu, assim ocorria a partilha da África e da Ásia e seus recursos naturais.

No meio de todos os “avanços” políticos, sociais e econômicos estava a ciência. O método científico tornou-se o principal meio de investigação da natureza e disciplinas como a biologia, química e física tiveram grandes avanços no período. A necessidade de desenvolver o cientificismo chegou ao ponto de alguns pensadores utilizarem conceitos próprios da biologia, como a evolução das espécies, em disciplinas como a história, filosofia e sociologia, que são bem distantes do estudo das ciências naturais.

Tendo tal contexto, não poder-se-ia esperar que o jovem Munsterberg, criado na elite prussiana, fosse tomar um destino diferente deste. Na verdade, isso quase aconteceu. Em seus primeiros doze anos seus pais o influenciaram a praticar música e escrever poesia, tendo na arte um grande ponto a ser estimulado. Assim, a busca pelas verdades científicas não seria, provavelmente, a escolha de carreira de Munsterberg. 

Infelizmente, um trágico infortúnio fez com que ainda jovem, por volta da adolescência, seus pais chegaram a falecer. Pouco sabemos sobre esse episódio na biografia de Hugo Munsterberg, mas os especialistas afirmam que sua guinada para a ciência e entrega a esse sacerdócio pela verdade inicia-se pouco depois da partida de sua família.

Levando esse fato em consideração não nos resta dúvida que esse tenha sido um evento traumático na vida do jovem Munsterberg e quem sabe, devido a esse forte impacto, ele tenha se voltado para a ciência, afinal, ela é um dos meios de descobrirmos os mistérios do mundo.

Seja como for, o fato continua e mesmo muito jovem ele conseguiu ingressar na faculdade de medicina, pois desde então preocupava-se em aprender uma das mais novas áreas na arte da cura: a psicologia. Porém, lembremos que este era o século XIX e a investigação acerca de problemas mentais era extremamente restrita. Os métodos “tradicionais” para os tratamentos de histeria, ansiedade e depressão, por exemplo, consistia em castigos físicos, até que o comportamento do paciente fosse o adequado. Percebendo esse vácuo no conhecimento, Hugo Munsterberg dedicou grande parte da sua vida a tornar essa uma ciência prática, levando-a a todas as esferas da sua vida.

Hugo Munsterberg, chegando nos Estados Unidos da América do Norte


O idealismo e a competência de Munsterberg o levou a trabalhar em diversas universidades, principalmente Harvard e Freiburg. Seus artigos científicos popularizaram-se nos EUA e isso o levou, em 1892, a assumir turmas para Harvard.

Além disso, é nesse momento em que ele depara-se com Frederick Taylor e passa a aprender sobre a administração científica. O tema rapidamente o capturou, uma vez que a proposta do Taylorismo é racionalizar uma prática que para a época era feita de forma “intuitiva”.

Mostrando (e provando) os resultados da teoria de Taylor em ação, Munsterberg passou a dedicar boa parte dos seus estudos a entender não somente a administração proposta por Taylor, mas também de otimizar a escolha dos candidatos e suas vagas.

Assim, Hugo Munsterberg foi o primeiro a aplicar o que hoje chamamos de “teste vocacional”, para encontrarmos nossos pontos fortes e fracos e decidir qual carreira seguir. Assim ele podia orientar profissionalmente os seus pacientes, ato esse que foi implementado em diversas áreas para ajudar não apenas empresas a acharem bons profissionais, mas também que bons trabalhadores possam saber em que função podem ser mais úteis.

Para além disso, ele desenvolveu a ideia de que uma empresa lucrativa é aquela que consegue harmonizar a psique dos seus funcionários em prol da produção. Desse modo, a teoria de Munsterberg anda de mãos dadas com o Taylorismo, uma vez que este também tem como interesse uma maior produtividade a partir de uma gestão racional. 

Para além da produtividade, Munsterberg foi o primeiro gestor a levar em consideração os impactos que os trabalhadores sofrem nas fábricas, algo raro e que, para a época, era completamente inovador, uma vez que a maioria dos donos de empresas não estavam preocupados com a saúde mental dos seus funcionários.

Hugo, portanto, percebeu algo interessante em sua estadia nos Estados Unidos: um gestor não prospera somente utilizando a força e coerção em sua equipe, mas principalmente quando consegue colocar seus trabalhadores de modo ordenado nas funções que lhe dão uma maior motivação ao trabalho. Dessa maneira, cada um estaria no seu lugar mais adequado. Essa ideia, que para nós é básica, iluminou não apenas a área da psicologia, até então sinônimo de “loucura”, mas o próprio entendimento dos chefes sobre como motivar corretamente seus funcionários.

Indo além da administração


Hugo Munsterberg também destacou-se em muitas outras áreas da psicologia, sendo um nome digno de lembrança às primeiras gerações de psicólogos que precisaram romper com a estrutura medieval com a qual lidavam com a saúde mental das pessoas. Além da psicologia, Munsterberg também desenvolveu uma série de teorias acerca do cinema, voltando-se à antiga paixão pela arte, que até sua maturidade estava adormecida.

Infelizmente o grande e atemporal legado de Munsterberg foi limitado devido sua morte súbita, em 1916. No mesmo ano Henri Fayol lançaria o seu famoso livro “Teoria clássica da administração”, que ampliaria o debate com Taylor acerca da melhor maneira de gerir uma empresa. Para o pai da psicologia industrial, ficou apenas o seu legado como um dos pioneiros acerca do estudo vocacional e a visão de que o melhor funcionário será aquele que estiver no lugar certo.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

O Dia do Administrador - 09 de setembro: Homenagem a todos os administradores pelo DIA DO ADMINISTRADOR


Como ser um bom Administrador?


No dia 09 de setembro comemora-se o dia do administrador no Brasil. A data em questão refere-se ao dia em que a profissão do administrador foi regulamentada em nosso país, no dia 09 de setembro de 1965. Apesar de ser vista como uma profissão relativamente nova, fruto principalmente do final do século XIX e início do XX, o administrador é uma peça fundamental para qualquer negócio. Desde o mais simples dos empreendimentos até uma grande multinacional faz-se necessário gerir bem os recursos humanos, econômicos e lidar com diferentes áreas do conhecimento, a tudo isso cabe o administrador e sua equipe.

Mas como tornar-se um bom administrador? Para responder-lhe a essa pergunta é preciso saber as competências e o que espera-se que esta função execute no dia a dia de uma empresa. Por definição, o administrador é o responsável por sistematizar os processos que ocorrem dentro de uma empresa para que esta funcione de maneira eficaz. Partindo desta perspectiva é fundamental que um bom administrador domine não somente a teoria referente à administração, mas que também possua qualidades tal qual organização, gestão de conflitos e flexibilidade para adaptar-se a diferentes cenários que surgem ao longo da sua trajetória.

Para entendermos melhor como estas habilidades funcionam, pensemos em alguns aspectos que o administrador precisa lidar dentro de seu ofício. Inicialmente o administrador está, em geral, em uma posição de coordenação, uma vez que precisa gerir um ou mais setores dentro de uma empresa. Para isso é fundamental que este profissional seja capaz de lidar com pessoas dos mais diferentes tipos, afinal, grande parte do seu trabalho é desenvolvido junto com outros indivíduos. Por isso é imprescindível a qualquer administrador desenvolver não somente habilidades técnicas, mas principalmente habilidades sociais e humanas.

Saber comunicar-se de forma assertiva e respeitosa com superiores e funcionários, aprender a gerenciar conflitos e interesses dentro da própria instituição, desenvolver aspectos de liderança e tornar o ambiente de trabalho mais produtivo e harmonioso são algumas capacidades que um bom administrador precisa ter. Como podemos notar, para além dos recursos técnicos que são inerentes à sua profissão, o administrador tem por base uma série de habilidades sociais que precisam ser consideradas quando colocadas na vida prática deste profissional.

É por isso que ainda hoje é bastante comum existir uma divergência quanto à área do conhecimento ao qual encaixa-se a administração. Para alguns a administração estaria ligada à ciências humanas por desenvolver todos os aspectos que já citamos aqui. Por outro lado, é inegável que há na administração uma grande base das ciências exatas. Desde o uso de métodos de matemática financeira e contabilidade até mesmo a busca incessante de otimização dos processos para tornar uma empresa cada vez mais eficiente. Nesse sentido é nítida a influência de um pensamento puramente racional e que tende a eliminar variáveis.

Essa “divisão” da administração entre aspectos da área de Humanas e Exatas é tão viva que ao remontarmos ao início desta ciência notamos que alguns dos grandes pais da administração foram engenheiros, assim como outros importantes teóricos da administração eram psicólogos. Logo, podemos pensar que um bom administrador não é somente aquele que sabe lidar com números, planilhas e processos e muito menos aqueles que sabem perfeitamente gerenciar os desejos e expectativas dos seus funcionários e chefes.

Deixemos, por um instante, essa divisão entre “humanas” e “exatas” e passemos a pensar em um profissional completo, afinal, o bom administrador será justamente aquele que equilibra a balança de maneira a obter os resultados que necessita. Assim, por mais que busquemos encaixar essa profissão em uma ou outra área do conhecimento humano, devemos entender que somente podemos pensar na administração como uma área multidisciplinar, capaz de reunir diferentes saberes em torno de uma finalidade: a eficácia.

Todo administrador sonha em tornar sua empresa ou qualquer empreendimento que administre mais eficaz. Logo, todo conhecimento que adquire, seja na área que for, tem como finalidade sempre tornar-se melhor e mais competente em suas obrigações. Nesse aspecto, o administrador emula uma antiga frase dita por Sócrates, um dos maiores filósofos da humanidade, que nos ensina o seguinte: “só é útil o conhecimento que nos torna melhores”. Visto isso, talvez não seja por acaso que a formação em administração seja tão vasta ao ponto de existirem diversas pós-graduações nas mais diferentes ênfases da ciência da gestão. Nesse sentido, para um bom administrador é essencial nunca perder de vista a necessidade de aprimorar seus conhecimentos e nunca parar de buscá-lo.

Por fim, devemos entender que um administrador é muito mais do que um gestor de processos. Não se trata somente de tornar uma empresa eficaz, mas sim de formar pessoas para construção dessa eficácia. Por isso que o administrador nunca está só, pois ao seu redor orbitam tantas profissões e pessoas que seu trabalho, em grande parte do tempo, deixa de ser apenas burocrático e revela o valor humano dentro das relações de trabalho. No fundo o bom administrador será não somente aquele que tem todas essas competências e qualidades que citamos aqui, mas principalmente aquele que coloca-se enquanto Ser Humano em suas relações, buscando sempre tornar-se melhor, mais útil e necessário, tanto para sua empresa como para todas as pessoas ao seu redor. 

Sejamos, portanto, grandes gestores de nossa própria história! Feliz dia do administrador!

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Cálculo do Ebitda: um dado essencial para conseguir investimentos

Ebitda

O cálculo do Ebitda é um indicador utilizado na gestão financeira de um negócio, contribuindo nas decisões gerenciais. Além disso, ele é usado por investidores no mercado financeiro.

Saiba tudo o que você precisa para chegar ao Ebitda neste texto.

O que significa Ebitda?

Ebitda é a sigla para “earning before interest, taxes, depreciation and amortization” ou em português, Lajida “lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização”.

Este indicador surgiu nos anos 60/70 nos Estados Unidos. Nesta época os agentes do mercado financeiro buscavam uma maneira rápida e confiável de avaliar os negócios.

Neste cenário, a primeira métrica que surgiu foi o Ebit (earnings before interest and taxes) ou Lajir (lucro antes dos juros e impostos).

O Ebit calcula somente o lucro operacional da atividade fim de uma empresa, desconsiderando outras despesas como impostos ou receitas financeiras como juros sobre o capital próprio (JCP).

Por outro lado, o cálculo do Ebitda considera depreciação e amortização (vou explicar no próximo tópico) o que o torna mais preciso.

Assim o Ebitda é um indicador popular no mercado financeiro, sendo o primeiro dado analisado pelos investidores antes de decidir aplicar seu dinheiro em um negócio ou não.

Como fazer o cálculo do Ebitda?

O cálculo do Ebitda segue as normas estabelecidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2012.

As companhias podem fazer ajustes na contagem adequando a realidade do negócio, porém devem informar ambos os cálculos e como chegaram a este valor. 

A fórmula do Ebitda é:

EBITDA = lucro operacional líquido + depreciações + amortizações

Se você não sabe o que estes termos significam, fique tranquilo. Segue uma explicação sobre cada um deles:

Lucro operacional líquido

Como o nome já diz, o lucro operacional é o rendimento obtido através da operação de um negócio, ou como já citei, o Ebit.

Ele difere do lucro bruto porque este não considera despesas diretamente relacionadas às vendas e compras da empresa. A fórmula para descobrir o lucro bruto é:

Lucro bruto = receitas totais – custos

Já o custo operacional envolve outras variáveis como:

  • Despesas administrativas: salário dos funcionários; aluguel; compra de produtos.

  • Despesas comerciais: marketing e publicidade; manutenção dos pontos de venda.

  • Despesas diversas: que não se encaixam em nenhuma outra categoria.

Estas despesas são contabilizadas como despesas operacionais.

Outra variante que utilizada para chegar ao lucro operacional líquido são as receitas operacionais.

Para saber este valor basta somar todo o faturamento da empresa e subtrair os impostos, descontos e devoluções.

Assim é possível conseguir o resultado de um dos componentes do cálculo Ebitda:

Lucro operacional líquido = lucro bruto – despesas operacionais – receitas operacionais.

Depreciação

Tanto a depreciação quanto a amortização estão relacionados à desvalorização. Porém, o primeiro se refere a itens tangíveis e o segundo, intangíveis.

Na depreciação é avaliado o dano causado pelo tempo ou fim da vida útil.

Por exemplo: uma empresa compra 10 computadores por 10 mil reais, o tempo de vida destes equipamentos segundo o fabricante é de até 5 anos.

Devido à vida útil dos computadores, a Receita Federal não permite que o valor dos itens seja descontado totalmente no mesmo ano de aquisição, mas sim durante o período que estiver sendo utilizado, o que seria 2 mil reais por ano.

Vale destacar que a depreciação só cessa quando o ativo não apresenta condições de ser utilizado, isto é, se mesmo passado o tempo de vida o equipamento continua sendo usado, ele também continua depreciado.

Amortização

Como já dito a amortização também se refere à desvalorização de bens, mas que são imateriais.

Pode parecer meio confuso, mas é só lembrar que enquanto a depreciação está mais relacionada a perda pelo desgaste natural ou pelo uso,  a amortização tem a ver com a perda pela diminuição do tempo de um contrato ou concessão.

Por exemplo: uma empresa compra a licença para o uso de um software por 10 anos, no valor de 100 mil reais.

Assim como na depreciação este valor é diluído durante os 10 anos, logo durante cada ano serão considerados 10 mil reais de amortização pelo software.

Entendo estes conceitos o cálculo do Ebitda se tornará mais simples, afinal é basta contabilizar as variantes individualmente e depois aplicá-las na fórmula.

Segue exemplo:

Uma empresa chegou aos seguintes números:

  • Lucro bruto: R$4.000,00

  • Despesas operacionais: R$1.500,00

  • Receitas operacionais: R$1.000,00

  • Lucro operacional líquido = R$1.500,00

  • Depreciações: R$50,00

  • Amortizações: R$100,00

Aplicando no cálculo do Ebitda (lucro operacional líquido + depreciações + amortizações) seria:

R$1.500,00 + R$50,00 + R$100,00

Ebitda: R$1.650,00

 Imaginando que a receita operacional fosse R$10.000, 00 o Lajida representaria 16,5%.

Por que utilizar o Ebitda na minha empresa?

O principal objetivo do cálculo do Ebitda é medir o potencial de crescimento de um negócio. Por isso ele é calculado sem considerar impostos e financiamentos, fatores que pesam significativamente no orçamento.

Então, é uma forma simples de o empreendedor avaliar se mesmo com os encargos o seu negócio tem chances de crescer, pois, quando o Ebitda aumenta é um sinal que a empresa é produtiva e eficiente.

Mas mesmo quando os números não vão bem, o Ebitda é útil já que você pode compará-lo com outros dados da empresa e encontrar os gargalos.

Por exemplo: o seu Ebitda está alto, entretanto, o seu lucro real está abaixo do esperado.

Isso pode significar que alguns investimentos não trouxeram retorno ou uma mudança na legislação aumentou os tributos naquele ano.

Outra vantagem do Ebitda é que diferentes empresas o divulgam todos os anos, logo é possível comparar os seus resultados com os concorrentes, ou até negócios de outros países.

Também o cálculo do Ebitda dá uma ideia de como será o fluxo de caixa da empresa, permitindo que decisões estratégicas sejam tomadas com mais segurança e agilidade. 

Ainda você pode utilizar essa métrica para atrair novos investidores, já que é muito usada no mercado financeiro.

Cuidados ao utilizar o cálculo do Ebitda

Embora o Ebitda seja um dado confiável é fundamental entender as suas imperfeições.

A primeira delas é reconhecer que o cálculo Ebitda não representa o lucro real do negócio.

Por exemplo: uma farmácia faz um empréstimo para abrir mais uma filial. Com essa medida é natural que a receita aumente. 

No entanto, não podemos esquecer que o financiamento, mesmo não entrando no Ebitda, deve ser pago.

Também, ao comparar esta métrica com os dados de outras empresas, elementos como tempo de vida  e porte devem ser analisados, para não causar uma falsa impressão de que o negócio vai muito bem ou muito mal. 

Por essa razão, o cálculo Ebitda não pode ser usado como única medida para avaliar a sustentabilidade da sua empresa e sim, aliado a outros indicadores tão importantes quanto.

Mas mesmo que a sua empresa não esteja procurando novos acionistas, fazer o cálculo do Ebitda empresa é essencial para a saúde do negócio.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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