Todos nós sabemos que o mundo dos negócios é voraz. A competição, por vezes, pode significar o sucesso ou destruição de um patrimônio, ainda mais em condições em que os recursos disponíveis são escassos. Frente a essa realidade, por vezes a postura de alguns empresários são a de viver em uma eterna arena, tal qual os antigos gladiadores romanos. Isso não significa dizer que a disputa no mundo dos negócios seja injusta, muito menos desleal, mas sim que há um nível de exigência cada vez maior.
O mundo corporativo moldou-se nessas regras, mas quem as ditou? Em grande medida, coloca-se a “culpa” deste modo de operar competitivo no próprio sistema capitalista, uma vez que a competição entre a melhor oferta tenderá a atender uma demanda limitada. Assim, as empresas buscam cada vez mais uma performance de excelência para ganhar seu mercado e garantir o lucro.
Em parte, pode-se dizer que a história do capitalismo e o avanço na maneira de gerir essa relação entre oferta e demanda tenha estimulado esse estilo de vida empresarial. Entretanto, ao olharmos para trás poderemos apresentar alguns empreendedores que foram verdadeiros mestres quando o assunto era competir. Dentre eles não podemos deixar de citar Cornelius Vanderbilt, o comodoro da marinha mercante americana que desafiou o monopólio dos navios a vapor.
Corneluis Vanderbilt, vivendo o “sonho americano”
Para entendermos sua história precisamos, porém, contá-la desde o seu início. Voltemos então ao final do século XVIII na cidade de Nova York. Lá encontraremos a humilde casa dos Vanderbilts, uma família de origem holandesa que até a geração de Cornelius sobreviveu com muito pouco recurso. O próprio Cornelius é fruto de uma vida difícil, afinal, precisou largar a escola com apenas 11 anos para dedicar-se ao trabalho. Seu primeiro emprego, porém, lhe direcionou para os negócios que fariam não apenas sua fortuna, mas o marcariam para toda a história.
Levado para as balsas de Nova York, o jovem Cornelius cresceu como um pequeno marujo a navegar entre um lado e outro das ilhas da Big Apple. Não é de se espantar, portanto, o modo rude com que rotineiramente descreve-se a personalidade do nosso empreendedor, pois essa dureza, tanto fisicamente quanto em sua personalidade, foram resultados de uma infância em que não havia espaço para sutilezas. lembremos que estamos falando do início do século XIX e as crianças, em sua grande maioria, eram vistas como “mini adultos”, sendo assim, desde cedo, introduzidas ao modo de vida e dilemas do mundo do trabalho e suas demandas.
Sendo fruto do seu tempo, Cornelius Vanderbilt dedicou-se com afinco à sua profissão. Tanto que apenas cinco anos após o início da vida como marujo nas balsas, o ainda “adolescente” Vanderbilt lançou-se no mundo dos negócios. Com a ajuda de sua mãe, comprou sua primeira embarcação e passou a operar cargas e passageiros em sua balsa.
Um evento pouco auspicioso para o país, porém, impulsionou o serviço ofertado por Vanderbilt: a guerra de 1812. Enfrentando o poderoso exército inglês no norte do país, o governo americano precisava de ajuda para sobrepujar seus inimigos não apenas no campo de batalha, mas continuar aquecendo a economia ao passo que desenrolava-se o conflito.
Assim, Vanderbilt foi recrutado a servir fornecendo suprimento para o exército, o que lhe garantiu não apenas uma maior rentabilidade em seu negócio, mas lhe permitiu, mesmo em um período de guerra, expandir suas embarcações e a influência no transporte de comércio na costa americana.
Os meses de guerra foram o trampolim para Vanderbilt. A partir daí suas pequenas balsas foram sendo substituídas por navios mais potentes, capazes de travessias mais longas e carregar mais produtos: os navios a vapor. Mais uma vez não podemos esquecer o período em que viveu o nosso ilustre empreendedor.
O século XIX é, em grande medida, fruto da revolução industrial ocorrida em 1760. Com as máquinas a vapor sendo construídas em toda a Europa, não demorou muito para que, nas primeiras décadas dos anos 1800, chegassem ao novo mundo os primeiros exemplares dessa indústria revolucionária.
Desse modo, os navios a vapor eram o mais avançado veículo a cruzar os mares do mundo. Porém, havia um empecilho para provar, de uma vez por todas, a capacidade de empreender de Cornelius Vanderbilt.
O governo americano, na mesma época em que expandia-se os negócios do comodoro, garantiu o monopólio de trânsito dos barcos a vapor a Robert Fulton, o homem que inventou o barco a vapor. Sua empresa, portanto, era a única no país a poder utilizar a potente embarcação, o que fazia com que Fulton controlasse completamente os preços do mercado.
Enfrentando o protecionismo do Estado
Desafiando as leis do seu tempo, Cornelius manteve seus barcos a vapor funcionando e, além disso, baixou todos os preços (tanto para cargas como para passageiros), tornando suas embarcações muito mais atrativas do que o seu concorrente. Um homem com aspirações ao livre mercado como Cornelius foi um ferrenho crítico ao protecionismo estatal, acreditando piamente que todos que dependiam do governo para manter seus negócios não estavam preparados para serem empreendedores.
Essa convicção tenaz do Comodoro o impulsionou, até o fim dos seus dias, a ser um homem duro quando tratava-se da competição. Isso, naturalmente, tornou-o uma figura caricata para os seus críticos, muitas vezes apontando-o como um verdadeiro homem sem escrúpulos.
Entretanto, o que percebe-se é que Conrnelius Vanderbilt era, antes de tudo, um homem que acreditava em seus ideais. A vida rígida ao qual fora submetido o tornou ainda mais forte, tanto em suas convicções como em seu temperamento, o que não agrava a quase ninguém.
Apesar do seu jeito particularmente pouco agradável, seu argumento de que o monopólio invalidava a competição foi aceito ainda em seu tempo. Assim, mesmo sendo processado e quase preso, Cornelius conseguiu quebrar o monopólio de Fulton sobre o comércio naval. Podendo competir livremente, ao longo dos anos Cornelius Vanderbilt expandiu seus negócios, chegando a ter uma frota acima de 100 navios cobrindo diversos portos americanos.
Além disso, aproveitando-se da sua extrema eficiência, seus estudos de rotas marítimas foram capazes de criar verdadeiros atalhos comerciais para agilizar não apenas o transporte, mas a logística envolvida em trazer mercadorias por vias marítimas.
Sua experiência o levou, naturalmente, a outro ramo bastante lucrativo durante a segunda metade do século XIX: a construção de ferrovias. Após dominar a marinha mercante, Cornelius voltou-se para esse novo ramo dos transportes, tão eficiente e lucrativo quanto seus navios a vapor. Essa fase, porém, marca a última etapa na carreira de sucesso desse grande empreendedor. Em seus últimos anos, Cornelius, já próximo dos 80 anos, foi afastando-se da vida empresarial.
Mesmo sendo um homem duro, pouco carinhoso com os filhos e severo em seu comportamento, é inegável que a força de vontade e visão para os negócios o tornou um empreendedor de sucesso. Para muitos ele é o próprio símbolo do mundo corporativo, com suas exigências e competitividade.
Porém, podemos destacar, certamente, sua capacidade de agir de acordo com seus ideais, mesmo que fosse necessário desafiar as “regras” do jogo. Por sua capacidade de superar adversidades e acreditar na livre competição, podemos colocá-lo nesse seleto grupo de grandes empreendedores da história.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio
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