terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Christian Dior, O homem que vestiu a Europa Pós-Guerra

Todos nós temos habilidades e talentos, não é mesmo? Por vezes, o que separa um profissional bem sucedido de outro é justamente a sua capacidade de reconhecer e desenvolver aquilo que naturalmente ele já possui. Seguindo esse pensamento, talvez a vida e suas suas mais diferentes situações se tornassem mais fáceis se seguíssemos nossas inclinações naturais. Entretanto, muitas vezes sucumbimos à pressão externa, seja de parentes, amigos ou mesmo o senso comum e acabamos desistindo de nossos sonhos. Passamos a trilhar um caminho sem entusiasmo e, por fim, não nos sentimos realizados.

Esse sentimento comum à maioria das pessoas pode ter como causa de diferentes motivos, mas o fato de não seguirmos nossa vocação é um deles. Estamos falando sobre isso porque o empreendedor que conheceremos hoje foi de encontro com os padrões de sua época e precisou enfrentar não somente a opinião pública, mas sua própria família para alcançar seus sonhos. Estamos falando de Christian Dior, o homem que vestiu a Europa após o fim da II Guerra Mundial.

Dior, entre a obediência e o sonho

A história de Christian Dior começa na pacata Granville, uma pequena região no norte da França em 1905. Pouco sabemos sobre os seus primeiros anos de vida, mas Dior era filho de um comerciante que sonhava, entre outras coisas, em ver o filho como diplomata. Todavia, esse jamais foi um sonho do jovem Christian, que sempre apresentou um talento nato para as artes plásticas, principalmente a pintura e o desenho. Na sua época, porém, não existia tanta liberdade para dialogar com os mais velhos sobre o futuro, apenas obedecia-se aos desejos dos pais.

Sendo assim, Christian chegou a cursar por alguns anos a faculdade de relações internacionais, mesmo a contra gosto e não demonstrando nenhuma vocação para tal profissão. Nessa época Dior mudou-se para Paris e lá acabou conhecendo o maior centro cultural do mundo. 

O jovem de Granville deparava-se com a vida artística mais inflamada da Europa, o que o levou a desejar mais ainda seguir aquilo que sempre foi sua verdadeira paixão. Ao longo dos anos, em meio a dúvida entre a obediência ao pai ou tomar as rédeas do próprio destino, Dior tomou uma decisão. Em 1927, com então 22 anos, largou a faculdade de relações internacionais e iniciou seu primeiro empreendimento: uma galeria de arte. 

Essa tomada de decisão desestruturou significativamente seus laços familiares, porém, estes iriam ser restabelecidos poucos anos mais tarde, quando toda a família precisou unir forças (e recursos) para superar um revés econômico sofrido por seu pai. Ainda assim, a galeria de arte de Dior não foi um empreendimento lucrativo, sendo fechado poucos anos após o seu lançamento. Mesmo não conseguindo o sucesso que almejava, é inegável que foi uma importante experiência para o jovem que mais tarde seria um dos principais estilistas da Europa dos anos 1940 e 1950.

Christian Dior crescendo na profissão

Durante os anos 1930, Dior aprimorou suas habilidades como artista plástico e começou a vender seus desenhos para ajudar a saúde financeira da família. Seu primeiro trabalho mais relevante foi o de desenhar croquis para uma revista, passando a ganhar assim uma pequena visibilidade com o seu trabalho. Graças a constância de publicações na “Figaro Illustre", seu nome começou a circular entre os apreciadores e profissionais da moda em Paris. Esse seria o segundo passo de Dior em direção ao seu sonho.

Ainda em 1938, Christian Dior fez diversos trabalhos com Robert Piquet, um estilista suíço responsável por diversas lojas na capital francesa. Dior ganhou experiência não apenas sobre a criação de suas peças, mas também em como gerenciar pessoas e atender às mais distintas demandas. 

Até então, porém, Dior mostrava-se um excelente trabalhador, mas ainda não tinha se tornado um verdadeiro empreendedor. Esse momento ainda demoraria alguns anos até chegar, pois os seis anos seguintes, de 1939 à 1945, o mundo mergulhou na II Guerra Mundial.

O conflito entre diversas nações arrastou a Europa para o centro da guerra. Dior acabou sendo convocado para o exército francês, servindo por dois anos. Mesmo não sendo um homem das armas, o esforço de guerra fez com que todas as pessoas, direta ou indiretamente, estivessem envolvidas no combate. Porém, das cinzas da guerra começou a surgir o pequeno império da moda e o principal comandante deste novo momento seria o nosso grande empreendedor.

Fundando a Maison Dior

A reviravolta na vida profissional de Christian Dior começou em 1946. Após anos aprendendo sobre sua profissão, Dior recebeu uma ajuda financeira para lançar seu maior empreendimento: a Maison Dior. O termo “Maison” advém do francês e traduz-se como “lar” ou “casa”. Porém, no mundo da moda uma Maison é um empreendimento que trabalha com a alta costura, que nada mais é do que roupas sofisticadas e exclusivas, geralmente voltada ao público feminino. 

A alta costura, como podemos imaginar, está sempre na vanguarda da moda, pois busca lançar tendências. Nesse sentido, Dior projetou sua arte até o alto escalão social, buscando reinventar a maneira como as mulheres vestiam-se.

Após anos de experiência como funcionário, tanto na construção de novos modelos como no gerenciamento da empresa, Christian Dior inaugurou sua primeira coleção em 1947. A Dior tornou-se pioneira no que ficou conhecido como “New look”, uma moda que buscava reinventar o padrão de vestuário europeu, que naquele momento buscava reerguer-se dos danos causados pela guerra.

O “New Look” tinha como característica a extravagância, com várias camadas de tecido para construção de uma peça de roupa, o que para os produtores mostrava-se um “desperdício”, mas não para Dior. Seu interesse era revolucionar o modo como as mulheres vestiam-se e assim o fez de maneira maestral. 

O New Look rapidamente caiu nas graças das classes altas e espalhou-se rapidamente pela Europa. Ao mesmo tempo, Dior percebeu que o “New Look” era mais do que apenas uma roupa, mas sim um estilo de vida. Sendo assim, ampliou o raio de ação da sua Maison e passou a produzir diversos produtos como perfumes, jóias e diversas peças de roupa que iriam compor o vestuário de homens e mulheres por todo o velho mundo.

A Dior (a marca) tornou-se uma das mais famosas e respeitadas empresas de moda ao redor da terra. Sua fama alastrou-se de tal maneira que seu criador passou a ser confundido pela sua criação. Ela foi lar de grandes estilistas ao longo do tempo, o mais notável, além do próprio Dior, foi Yves Saint - Laurent, que acabaria se tornando o sucessor da Dior após a morte de Christian, em 1957. Vítima de um ataque cardíaco, Dior estava de férias quando sentiu-se mal e acabou deixando a vida muito cedo, aos 52 anos. Ainda hoje, porém, é impossível entendermos a grandeza da Dior sem enxergar a biografia do seu fundador e notar as qualidades deste dentro da sua empresa.

Por sua coragem em desafiar a opinião pública e a autoridade familiar, por sua inovação frente a necessidade de quebra de padrões após a II Guerra e sua rápida capacidade de expansão, coloco Christian Dior como um dos empreendedores que conseguiram marcar a história, mostrando o que podemos fazer quando canalizamos bem nossas habilidades e talentos naturais.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent, O rei da moda


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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Luther Halsey Gulick, o homem que tentou unir a política com a Administração


Há muito tempo existe um mito de que os interesses públicos e privados são, essencialmente, contrários. De igual modo, principalmente em nosso país, passamos a entender pelo senso comum que tudo que é “público” tem por natureza a ineficiência, enquanto que o “privado” é tido como uma gestão mais eficaz. Essa mentalidade não está totalmente errada, uma vez que se baseia em diversos exemplos reais quando se trata do Brasil e muitos outros países, porém, mesmo aceitando a validade deste argumento, será mesmo que essa é uma divisão real e inconciliável? 

Hoje conheceremos um pouco sobre um dos principais teóricos clássicos da administração e sua batalha para provar que política e administração deveriam andar de mãos dadas. Estamos falando de Luther Halsey Gulick, o homem que tentou unir estes dois mundos.

Gulick, do Japão aos gabinetes americanos

A vida de Luther Halsey Gulick, que durou exatamente um século, foi marcada por uma intensa atividade intelectual. Filho de um missionário Cristão, o fiel seguidor do Taylorismo nasceu em Osaka, no Japão, no ano de 1892. Seu pai, Lewis Gulick, mudou-se para o continente asiático para propagar a fé em Cristo no Oriente, algo que para a família do nosso administrador em destaque mostrava-se como um padrão. Se retomarmos a árvore genealógica de Gulick, perceberemos que por três gerações seguidas formaram-se missionários, sendo esta “tradição” familiar quebrada justamente por Luther.

Ainda assim, pouco sabemos sobre sua infância no Japão. Os dados biográficos de Gulick ficam mais evidentes a partir da sua formação pela Oberlin College, universidade da região de Ohio no qual Gulick formou-se em administração. A ida para os Estados Unidos, porém, não se mostrou fácil. Apesar de conseguir seu diploma em 1914, aos 22 anos, sua cidadania americana só foi reconhecida quatro anos depois, em 1918. Mesmo sendo um filho legítimo de pais estadunidenses, o fato de ter nascido em outro país mostrou-se uma barreira para Gulick, visto até então mais como um estrangeiro do que propriamente um homem americano.

Ainda assim, sua formação em administração o levou a diversas funções acadêmicas. Seus artigos científicos criaram uma divisão entre a opinião sobre o papel da administração no âmbito público. Desse modo, ao longo da sua jornada acadêmica Gulick cultivou diversos rivais e pensadores que não concordavam com suas ideias. Diferentemente dos primeiros teóricos da administração clássica, que aprenderam sobre gestão durante suas vidas profissionais em fábricas, Gulick foi um intelectual e conjecturava suas teorias sentado em seu gabinete.

Público versus Privado

Adepto às ideias de Frederick Taylor, uma das principais ideias de Gulick versava sobre a necessidade de aplicar uma administração científica no âmbito governamental. Essa ideia, que hoje nos parece tão natural, foi pouco aceita entre os administradores, que viam o campo da administração completamente distante do papel do Estado. Para estes, a administração deveria resumir-se ao campo econômico, notadamente aos interesses privados e não caberia a estes pensar os problemas de ordem pública.

Mesmo com pouco crédito entre seus pares, Gulick mostrou-se um trabalhador fiel aos seus ideais. Após concluir seu doutorado em 1920, passou a lecionar na Universidade de Columbia por onze anos (1931 - 1942), além de ser membro de diversos conselhos de administração pública. Em verdade, Luther Gulick chegou até ao cargo de administrador da cidade de Nova York, além de se tornar um dos principais administradores públicos durante o governo de Franklin D. Roosevelt, o presidente dos Estados Unidos durante grande parte da II Guerra Mundial.

Desse modo, por mais que Gulick nunca tenha administrado diretamente um empreendimento, em seu sentido restrito, podemos afirmar que sua empresa era, enfim, o próprio Estado. Sua função, em última análise, era tornar a burocracia estatal em uma máquina eficiente. Para isso, ele insistiu em um modelo de governo descentralizado, em que as decisões não ficassem presas na burocracia hierárquica, o que geralmente torna a gestão lenta e ineficaz. Isso não significa dizer, evidentemente, que na administração pública não haveria uma cadeia de comando, mas sim que nem todas as decisões precisariam chegar até o mais alto escalão para serem tomadas.

Sua busca pela eficiência o levou a presidir o Instituto de Administração Pública dos Estados Unidos por 20 anos (1962 - 1982), instituição esta que frequentou por mais de meio século. Durante todo esse tempo Gulick publicou livros, artigos científicos e participou de inúmeras reuniões acadêmicas para provar que a administração pública não poderia ser tratada como uma área menor da ciência da administração. 

A inserção de Glulick na política era tamanha que o administrador chegou a participar de reuniões internacionais do Pós-Guerra, em 1945 e 1946, para traçar um plano econômico de restauração das economias europeias. Visto isso, é inegável o valor da sua visão acerca da administração científica e como ela é eficaz quando colocada à serviço do governo.

Conclusão

Gulick defendia uma gestão técnica, que não fosse tocada pelas manobras políticas que tanto conhecemos. Desse modo acreditava piamente que nenhuma forma de administração poderia estar ausente da política, pois a divisão que falamos de “público” e “privado” é apenas artificial. Colocando em exemplos, podemos imaginar que qualquer empreendimento, seja aqui ou em qualquer outro país, estará sujeito, em maior ou menor grau, de decisões políticas. Uma nova lei pode surgir e alavancar (ou atrapalhar) seus negócios, uma crise financeira pode dificultar suas transações comerciais, aumento de impostos e outra série de medidas que fazem com que o campo do público e o privado se misturem.

Luther Halsey Gulick chegou aos 100 anos de idade, falecendo em 1993, em Vermont. Um dos seus legados são seus filhos e netos, que perpetuam a gens Gulick com o passar do tempo. Porém, seu principal legado está em sua contribuição acadêmica, uma vez que esta mantém-se imortal. Podemos afirmar que sua dedicação ao desenvolvimento da administração e a difusão desta ciência ao longo das décadas acrescentou um viés acadêmico para a teoria clássica da administração.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Método Canvas: o que é como aplicar

método canvas

O Business Model Canvas ou simplesmente método Canvas é mapa visual das principais áreas de um negócio (a tradução para canvas seria quadro ou tela).

Ele foi criado pelo empreendedor suíço Alexander Osterwalder para descomplicar os desafios que os gestores enfrentam atualmente, retirando a burocracia e focando na estratégia.

A aplicação é bem simples, é basicamente um quadro com 9 blocos distribuídos em 4 partes: o que, quem, como e quanto.

Durante o processo de criação do Modelo de Negócio é muito comum o uso de notas autoadesivas e canetas coloridas para inserir as informações. Pois, além de auxiliar na visualização, permite acrescentar ou alterar as ideias facilmente.

Por que fazer um Canvas?

Quando um empreendedor tem a ideia para um negócio, muitas vezes ele é aconselhado a criar um Plano de Negócios, que, embora seja um documento primordial para a abertura de uma empresa, é extenso e complexo.

O método Canvas propõe simplificar esta estratégia começando primeiro com um Modelo de Negócios que apresenta o funcionamento da empresa de forma clara e direta, resumindo o que seria de fato o plano.

Apesar de ser muito utilizado por startups e empresas que estão iniciando, negócios já consolidados também podem se beneficiar do Canvas, para ajudar na visualização do negócio.

Outros motivos para utilizar a metodologia é no planejamento de um novo produto, analisar novos mercados ou até para repensar o posicionamento da empresa.

Não é à toa que grandes empresas como 3M, Ericsson, Deloitte, Globo e Votorantim utilizam deste método.

Ganhos e perdas com o método Canvas

Assim como qualquer ferramenta o Canvas tem as suas vantagens e desvantagens, veja quais são:

Formato visual

O ser humano é naturalmente visual. Afinal, ver não é uma coisa que aprendemos, mas sim, um sentido que temos desde o nascimento.

Por isso, assimilamos conteúdos em formato de imagem, de maneira mais rápida. 

E é isso que o quadro do método Canvas faz, pois, ele traz mais clareza, permite compreender rapidamente como o negócio funciona e analisar se a ideia é viável ou não.

 Visão sistêmica

Diferente de um Plano de Negócios, que é um documento extenso, no modelo Canvas as principais informações e ideias ficam concentradas em uma tela.

Este formato facilita a visualização do todo e como cada parte interage com a outra, permitindo uma análise global.     

Trabalho colaborativo

Um dos propósitos do método Canvas é que ele seja desenvolvido de forma participativa, onde funcionários de diferentes cargos possam dar sugestões, enriquecendo o modelo.

Superficialidade

Por mais que seja uma tela grande, ela não permite muitos detalhes, o que dependendo da proposta e da empresa pode ser uma desvantagem.

Além disso, o Modelo de Negócio não necessariamente utiliza estudos e pesquisas, o que pode gerar dados ilusórios. 

Então, decidiu que vale a pena investir no Canvas?

Aprenda agora como colocá-lo em prática.

Como aplicar o método Canvas?

Inspirado nos materiais disponibilizados pelo SEBRAE, aprenda como criar o seu Modelo de Negócios Canvas.

Como já dissemos o quadro baseia-se em 4 partes divididas em 9 tópicos:

O que?

Neste espaço você deve refletir o que será o novo negócio ou produto e quais benefícios ele trará para os clientes. Por esta razão é o local que entra a Proposta de Valor.

Ela é o motivo que fará os consumidores comprarem de você e não do seu concorrente.

Para fazer uma excelente proposta de valor é preciso estar atento a estes pontos:

  • Clareza: ela deve estar nítida para você e para o seu cliente.

  • Linguagem: passar o valor para o consumidor de forma que ele entenda.

  • Transparência: ela precisa ser sincera e possível, assim o público irá confiar no negócio.

  • Direcionamento: deve orientar o cliente sobre o que ele vai conseguir fechando negócio com a empresa, por isso, deve mostrar os diferenciais.

Por exemplo: a proposta de valor de um restaurante delivery é fazer a entrega mais rápida da cidade.

Para quem?

Agora é o momento de pensar quais pessoas se beneficiaram do seu produto e como elas irão ter acesso a eles.

Desta maneira, este bloco do método Canvas é dividido em três pontos: Relacionamento com os Clientes; Segmentos de Clientes e Canais.

Para que um negócio tenha sucesso, manter clientes fiéis é essencial, afinal são eles que irão garantir as receitas todos os meses.

As estratégias para conseguir isso são pensadas no Relacionamento com os Clientes.

Uma tática que muitas empresas fazem é enviar e-mails para os clientes com promoções, novidades e códigos de descontos.

Já no Segmentos de Clientes você define quem será o seu público-alvo, para isso você deve responder:

  • Quem são estas pessoas?

  • Quais são as suas dores?

  • O que elas gostam de fazer?

  • Existe mais de um grupo que você pretende atender?

 Por exemplo, para um salão de beleza o segmento de cliente seriam:

Mulheres entre 25 a 50 anos, com filhos que trabalham em período integral e devido à rotina exaustiva, não conseguem cuidar da beleza como gostariam, o que diminui a sua autoestima e as deixam infelizes.

Por último, os Canais são os meios que os clientes terão acesso aos produtos e serviços da empresa. Também por quais formas acontecerá a comunicação entre o negócio e os consumidores.

Exemplo: uma editora de livros usa como canais de distribuição livrarias físicas, onlines e se relaciona com os clientes através do site, e-mail e redes sociais.

Como?

Para que o negócio aconteça é preciso que haja uma estrutura que viabilize a Proposta de Valor, então, nesta parte do método Canvas você deve analisar as atividades, recursos e parcerias que farão a empresa funcionar.

Os Recursos Principais são tudo que a empresa precisa para operar: imóveis, maquinário, insumos, material de escritório, computadores, colaboradores, investidores, capital de giro, etc.

As Atividades Principais são ações necessárias para que o negócio possa entregar os produtos e serviços para os clientes.

Por exemplo: um hotel tem como principal atividade hospedar os clientes. Logo ele irá precisar de um serviço de atendimento, a arrumação e limpeza dos quartos, controle das reservas...

Já as Parcerias Principais são os fornecedores e parceiros fundamentais para a empresa. Por exemplo: um escritório de contabilidade terceiriza o serviço de limpeza.

Quanto?

É o momento de pensar nos números e avaliar o que é financeiramente saudável para a empresa.

Na Estrutura de Custos será levantado o que sai, ou seja, o que é necessário para cumprir a empresa se manter e atender as expectativas dos clientes. Neste tópico entram os custos fixos e variáveis.

Por outro lado, na Fonte de Receitas é o que entra, isto é, quanto e como os clientes pagaram pelos produtos e serviços. Exemplo: venda direta.

Com isso temos os 9 tópicos:

  1. Proposta de Valor

  2. Relacionamento com os Clientes

  3. Segmentos de Clientes

  4. Canais

  5. Recursos Principais

  6. Atividades Principais

  7. Parcerias Principais

  8. Estrutura de Custos

  9. Fontes de Receitas

Para exemplificar segue uma ilustração feita pelo SEBRAE:

modelo canvas - SEBRAE

Então o que achou do método Canvas? Já aplicou na sua empresa? Diga nos comentários.

Bom trabalho e grande abraço.


Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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 A importância de repensar o negócio — saiba o momento e de que forma recalcular a rota



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terça-feira, 29 de novembro de 2022

Carlos Slim Helú, o homem em que tudo que toca torna-se ouro

A mitologia grega é fascinante. Até os dias de hoje suas histórias e personagens nos rendem entretenimento e sábios ensinamentos. Os mitos, que em geral são vistos como um apanhado de histórias com pouco (ou nenhum) sentido, são fundamentais para aprendermos alguns ensinamentos colocados ao longo da vida. Um deles é o mito do rei Midas, que de tão próspero e prestativo ao deus Dionísio recebeu do próprio Deus o poder de tudo que tocasse se transformasse em ouro.

Esse poderoso talento, porém, revelou-se uma maldição. Midas não conseguia comer sozinho, muito menos tocar nas pessoas que sempre amou. Isolado, acabou seus dias na montanha de ouro que fez com seus poderes. A lição aqui, como podemos perceber, é bastante clara: nenhum preço do mundo pode comprar o afeto. A ganância, portanto, é um mal irremediável que nos leva a afastar-se daquilo que verdadeiramente importa.

Conto-lhe brevemente esse mito para podermos entender melhor a história de Carlos Slim Helú, um mexicano com pais imigrantes do Líbano que superou a limitação financeira de sua família e tornou-se um dos homens mais ricos do mundo. Não por acaso seu apelido no mundo financeiro é justamente “Midas”, por ser capaz de transformar qualquer negócio em um lucrativo empreendimento. Diferentemente do rei grego, porém, Carlos Slim não é uma pessoa solitária, entregue ao desejo de crescer seus recursos de maneira desenfreada, mas sim um homem que adora estar em família e aproveitar os bons momentos junto com as pessoas que ama.

Os primeiros passos de Carlos Slim

Antes de entrarmos nestes detalhes devemos conhecer um pouco da origem deste grande empreendedor. Carlos Slim nasceu em 1940, na Cidade do México, e desde cedo precisou lidar com o mundo do trabalho. Seu pai, Julian Slim, era proprietário de uma loja de artigos orientais e aos oito anos Carlos passou a ajudá-lo. Descendente de libaneses, um povo que em sua cultura valoriza o comércio e a mentalidade empreendedora, Carlos Slim foi doutrinado por seu pai ao longo de toda sua vida. Com seu pai Carlos aprendeu a guardar dinheiro para utilizá-lo na hora certa, a investir a longo prazo e tantos outros ensinamentos que lhe foi útil na sua vida adulta.

Aos 15 anos, imerso no mundo do comércio, Carlos já operava cadernos de contabilidade e tinha o seu primeiro negócio informal: vendia doces para seus primos e amigos. Apesar de parecer uma prática “inocente”, o que começou como uma brincadeira nada mais foi do que um exercício para aprender a gerenciar seus empreendimentos. Logo em seguida, ainda na fase da adolescência, com a ajuda de seu pai, ele conseguiu comprar e monitorar ações de banco, o que lhe deu grande experiência no mercado internacional da bolsa de valores.

A primeira empresa “séria” de Carlos foi uma imobiliária. Aprendendo os segredos da especulação, o empreendedor viveu da compra e venda de terrenos, casas e apartamentos entre os anos 1965 a 1969. Com apenas 27 anos Slim já acumulava não somente a expertise do seu ramo, mas era um veterano nas relações de trabalho. É claro que ele ainda teria muito a aprender, mas os seus primeiros sucessos demonstram a razão pela qual seu “apelido” no mundo dos negócios foi Midas.

Carlos Slim, tocando em negócios e transformando-os em ouro

Com o sucesso de seus investimentos, em uma década Carlos construiu seu patrimônio tendo uma série de empresas dos mais variados negócios. Além da imobiliária, por exemplo, Carlos possuía uma empresa de cigarros, uma fábrica e uma rede de restaurantes espalhada pelo México. Assim, sua fama de ser um excelente administrador foi crescendo, pois se já não é simples lidar com um segmento, imaginemos o quão mais difícil é entender as nuances de diferentes ramos de negócio, cada um com suas especificidades e necessidades.

É evidente, porém, que diversificar apresenta pontos positivos. Com a fluidez do mercado, sempre sujeito a variações internas e externas, diversificar seus investimentos pode ser uma excelente estratégia para manter-se crescendo apesar das circunstâncias. Enquanto um ou mais segmentos, por exemplo, mostram-se em baixa, outros ramos são favorecidos pela mesma situação, fazendo seu lucro compensar as perdas ocorridas em outros empreendimentos.

Nesse sentido, a estratégia de Carlos Slim foi altamente eficaz. Porém, seu principal investimento, o que o tornaria verdadeiramente famoso (e rico) só foi adquirido nos anos 1990, quando Slim aproximava-se dos 40 anos. Ao comprar a BMmex, um sistema de telefonia usado no México, Carlos não só aproveitou o momento de recessão econômica do país e investiu fortemente em sua nova empresa. 

Ao longo dos anos 1990 e 2000, como sabemos, o acesso a telefones ficou cada vez mais amplo, o que tornava a demanda da BMmex gigantesca. Em seu auge, por exemplo, dizem os especialistas, que a fortuna de Carlos Slim chegou a ser metade do PIB do México. Para termos um pouco de noção do que isso significa, imaginemos que algumas empresas, nas mãos de um único homem, poderia levar (ou retirar) o país de uma crise econômica.

A Telmex, como ficou conhecida sua empresa de telefonia, alcançou 90% dos mexicanos, um número tão impressionante que praticamente não existia concorrentes à altura dos negócios de Carlos Slim. O empreendedor, com seu espírito de inovação e busca de novos mercados, passou a investir e comprar empresas de telefonia de toda a América Central, ampliando seu mercado. Assim começava um verdadeiro monopólio pela telefonia nas mais distintas regiões, desde a Guatemala até Porto Rico e a Argentina. 

Slim, como podemos imaginar, saiu vitorioso dessas experiências, não por se tornar grande em cada um destes países, mas por ter ganhado uma vivência internacional em seus negócios, lhe dando uma expertise que ainda faltava-lhe.

Com essa projeção, Slim foi expandindo os negócios e chegou a ser dono de empresas brasileiras como a Claro e a Embratel, ambas com excelente público no Brasil. Tais feitos, em meio a tantas outras conquistas econômicas, rendeu aos admiradores do empreendedor o fato dele nunca ter tomado decisões equivocadas em seus negócios.

Parece-nos, à primeira vista, que tudo foi “fácil” de conquistar, mas certamente essa é apenas a ponta do iceberg e nossa visão, limitada e distante da realidade, não consegue imaginar o esforço feito por Carlos Slim para deixar suas empresas no patamar atual. Certamente erros foram cometidos, afinal, muitas vezes aprendemos através deles, porém, o diferencial de Slim é o fato de nenhum destes equívocos serem grandes o suficientes para colocar em jogo suas operações.

Sendo assim, ainda hoje, com quase 82 anos, Carlos Slim não é somente um dos homens mais ricos do mundo, mas também apresenta um forte valor humano em si. Não preocupa-se, por exemplo, em “ostentar” com bens materiais, veste-se de maneira comum e sem chamar atenção. Também não busca os holofotes da mídia a todo momento, muito menos preocupa-se em aparecer em capas de revista. Esse modo de vida humilde foi forjado por seus pais no começo de sua criação e o empreendedor carrega consigo até hoje. Assim, Slim segue a educação que lhe foi fornecida, sendo um ótimo exemplo de como os valores devem ser carregados conosco ao longo da nossa existência.

Por não deixar corromper-se pela ganância e ser bem sucedido nos seus empreendimentos é que considero Carlos Slim um dos grandes empreendedores da história e por ser o primeiro empreendedor em vida que escrevo este ensaio.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



Conheça também:



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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Frank e Lilian Gilbreth, o casal que reinventou a eficiência na indústria


O que é produtividade para você? Em geral acreditamos que ser produtivo é, em síntese, fazer muitas tarefas, não é? Porém, essa percepção pode estar um pouco equivocada. De fato, a produtividade pode estar relacionada à realização de uma série de atividades. 

Quando nossa agenda está cheia de compromissos, por exemplo, dizemos que teremos um dia produtivo uma vez que precisaremos realizar um grande esforço para conseguir completar todas as tarefas do dia. Assim, fazemos uma relação direta da produtividade com o esforço, porém, esquecemos, às vezes, de um outro conceito fundamental para melhorar a nossa capacidade de produção: a eficiência.

Quando produzimos com eficiência estamos utilizando o menor gasto de energia (que nada mais é do que o esforço que empregamos) para obtenção do melhor resultado. Para os dias atuais esse nos parece um princípio básico e que é utilizado nas mais distintas áreas do conhecimento, porém, na administração ele foi desenvolvido largamente por Frank e Lilian Gilbreth, um casal de engenheiros que perceberam como melhorar o rendimento das fábricas sem precisar levar o trabalhador até seu ponto máximo de exaustão.

Frank Gilbreth e sua visão sobre a eficiência


Para sabermos sobre isso, porém, precisamos recuar no tempo e conhecer o passado de Frank e Lilian. De antemão já deixamos claro que nesse texto daremos enfoque na biografia de Frank, deixando claro que falaremos mais profundamente de Lilian e suas demais contribuições em um texto à parte.

Dito isso, voltemos para a segunda metade do século XIX, na cidade de Fairfield no estado de Maine, EUA, para conhecermos a família Gilbreth. Frank nasceu em 1868 em uma família de classe média. Seu pai era dono de uma loja de construção, ramo ao qual o próprio Frank conheceria bem na sua fase adulta. Sua mãe era professora, mas também precisou empreender para conseguir sustentar a família após a morte prematura do seu esposo, em 1871. Assim, Frank Gilbreth cresceu sem uma referência direta de pai, apesar que sua mãe notadamente nunca deixou-lhe faltar nada em sua casa.

Sabe-se que após a morte do Pai, Frank e sua família mudaram-se para o estado de Massachusetts em busca de melhores condições de vida. Tendo uma infância conturbada, ainda assim conseguiu finalizar o colegial, conhecendo o mundo do trabalho apenas aos 17 anos.

Seu primeiro emprego foi como auxiliar de pedreiro, conhecendo de perto a realidade do trabalhador braçal. Foi graças a essa experiência, vivida em diferentes níveis e por alguns anos, que Frank chegou a desenvolver sua ideia da redução de movimentos desnecessários em um trabalho repetitivo. Sua curiosidade quanto a esse assunto começou ainda cedo, pois notava que muitos trabalhadores, colocados à horas exaustivas de produção, acabavam perdendo o ritmo e desgastando-se desnecessariamente com movimentos repetitivos. 

Além disso, o jovem construtor também percebeu que adaptando algumas situações, como aproximar as ferramentas do trabalhador, evitando um deslocamento repetitivo e pouco eficaz, tornava não apenas mais produtivo o trabalho como também economizava o desgaste físico dos operários.

Frank Gilbreth, portanto, lançaria as bases para o que hoje chamamos de ergometria. Se essa, nos dias atuais, é uma questão de saúde, sendo um dos principais itens, por exemplo, em um mapa de risco, pouco ou quase nada desse assunto era falado no início do século XX. 

Frank era um admirador do Taylorismo, mas tinha uma posição contrária quanto ao modo de tornar o trabalho mais eficaz. Enquanto Taylor alinhava a eficiência diretamente ligada ao esforço do trabalhador, colocando-o em uma linha de produção e explorando sua força de trabalho ao máximo, Frank Gilbreth desenvolveu a teoria de que a eficiência constava não somente no esforço, mas de fazê-lo de modo inteligente, evitando os chamados “movimentos desnecessários”.

Assim, Frank concebia uma gestão racionalizada, porém, acreditava que a linha de produção deveria seguir um processo inteligente, fazendo com que se produzisse mais com o menor esforço possível. Esse menor esforço traria benefícios ao trabalhador, garantindo-lhe assim uma saúde prolongada no trabalho. Como sabemos, uma das maiores críticas feitas ao modelo de Taylor é o fato de não preocupar-se com o fator humano, ou seja, não levar em consideração a condição física e psicológica de quem realiza as operações na empresa.

Frente a essas observações, Frank Gilbreth teve uma escalada de sucesso na empresa de construção na qual trabalhava. Em dez anos, o auxiliar de pedreiro tornou-se superintendente chefe, o braço direito do dono da empresa que ajudou a crescer. Porém, à medida que observava suas habilidades na gestão de pessoas e processos, Frank desejava ter sua própria empresa. Foi esse desejo que o levou a sair do seu cargo bem remunerado e lançar-se no empreendedorismo, no mesmo segmento em que trabalhou durante toda sua vida. 

Conhecendo suas habilidades de gestão, em pouco mais de cinco anos Frank não apenas obteve sucesso no ramo. Seu diferencial estava no modo eficiente em que seus operários trabalhavam, pois aparentemente faziam “menos”, mas conseguiam terminar mais rapidamente os prazos e cumprir com suas demandas.

Trabalhando de maneira inteligente


A necessidade de tornar mais eficiente os processos de produção fez com que Frank apresentasse outras habilidades. Um inventor nato, ele foi responsável por criar e patentear o andaime vertical, que é amplamente utilizado ainda hoje. Desse modo, o trabalhador não precisava subir e descer escadas a todo momento, além de conseguir criar uma superfície mais segura e estável para realizar o seu trabalho, diminuindo o risco de acidentes.

Em 1904 ele casou-se com Lilian Gilbreth, que também era engenheira. Juntos, o casal formou não somente uma família, mas uma parceria atemporal dentro da história da administração. Frank estava com 26 anos quando casou-se com Lilian e compartilhou com sua companheira o processo de abertura de sua empresa, além de, anos mais tarde, fundaram, juntos, outro empreendimento. 

A experiência de ambos fez com que levassem a sua fórmula de eficiência para outros ramos, mostrando que existiam diferentes maneiras de aumentar a produção sem levar os trabalhadores até o ponto máximo de suas forças. Nesse sentido, considera-se que o trabalho do casal Gilbreth deu um sentido humano para o trabalho fabril, que até então, como nos prova a história, estava à margem dos processos de produção.

Em 1924, já consolidado no mundo dos negócios e sendo autor de diversos trabalhos acadêmicos sobre administração, Frank Gilbreth encontraria o final da sua existência através de um ataque cardíaco. Lilian ficaria sozinha no mundo sem seu fiel companheiro por mais quase meio século, tempo este que usou para continuar a desenvolver suas teorias. 

Mesmo com a morte precoce de Frank, o jovem que cresceu sem pai e tornou-se um homem de negócios marcou para sempre o mundo da administração, pois provou que a eficiência não é filha somente do esforço, mas principalmente da inteligência.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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