Vivemos em um mundo de novidades. A todo momento algo está na moda, seja um tipo de comportamento, uma gíria, um esporte ou mesmo uma mentalidade. É essa eterna inovação que movimenta o mundo dos negócios, fazendo a roda da economia girar em nosso momento histórico atual.
Apesar das críticas que são feitas a esse estilo de vida, é inegável que o padrão que se estabeleceu dentro da nossa sociedade exige cada vez mais refinamento e criatividade dos nossos empreendedores. Quando nos remetemos a essas duas características certamente alguns nomes vêm a nossa mente, mas provavelmente nenhum deles esteve no patamar de Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent, ou simplesmente Yves Saint Laurent. O designer francês reinventou o mundo da moda com suas criações, mostrando que sofisticação e bom gosto podem se tornar um modelo de negócio acessível e lucrativo.
Os primeiros anos de Saint Laurent
A jornada de Saint-Laurent começa na Argélia, em um tempo em que este país ainda era uma colônia francesa. O ano era 1936 quando a família Saint-Laurent fez vir ao mundo Yves. A infância do nosso empreendedor foi relativamente tranquila, sendo uma típica família dos anos 1940. O pai de Yves Saint-Laurent era presidente de uma companhia de seguros, o que provavelmente foi uma de suas inspirações para empreender. Apesar disso, sua inclinação para a moda não foi incentivada pelo seu pai. Por outro lado, a falta de apoio da figura paterna era compensada graças à sua mãe, que o incentivou a dar os primeiros passos rumo ao seu sonho de se tornar estilista.
Logo após finalizar seus estudos, Yves procurou perseguir o seu sonho. Vivendo na Paris do pós-guerra, o jovem designer conseguiu trabalhar lado a lado com Christian Dior, um dos maiores estilistas franceses do século XX. Dior se tornou para Yves um mestre no qual o jovem argelino podia contar para evoluir sua percepção do Belo e aprender o seu ofício. Infelizmente a convivência entre os dois durou poucos anos, pois Dior faleceu precocemente em 1957. Yves, de acordo com relatos da época, ficou extremamente abalado com a partida do seu influenciador, mas o testamento de Dior fez com que a vida de Saint-Laurent desse um importante salto. Isso porque Dior deixou a empresa que possuía nas mãos do seu pupilo, considerando que ele seria capaz de salvá-la da falência.
Era esse o contexto em que encontrava-se Yves Saint-Laurent, até então com 21 anos. Quando analisa-se a história deste empreendedor uma pergunta comum que os biógrafos fazem é acerca da razão que Yves herdou uma empresa tão importante e, ao mesmo tempo, tão próxima da falência. As teorias são inúmeras, mas entendemos que Dior buscava alguém que continuasse o seu trabalho e enxergou em Yves um potencial de gestor em conflitos, tanto administrador como de empreendedor, que decidiu colocá-lo entre os seus beneficiados.
Para os seus contemporâneos, certamente a decisão de Dior foi vista como um acesso de loucura, ou mesmo um ato desesperado, porém, que chegou a um excelente resultado. Yves Saint-Laurent colocou as contas em ordem e a empresa de Dior pôde respirar com tranquilidade, mas os problemas enfrentados pelo estilista estavam apenas começando.
O trauma da Guerra
Apesar de ter nascido na Argélia, toda a vida de Yves se deu praticamente em solo francês. Por ter cidadania francesa, o designer foi convocado para lutar pelo exército da França durante a guerra de independência argelina. Como podemos imaginar, a obrigação de voltar à sua terra natal na condição de um soldado que tiraria a vida de seus compatriotas fez com que Yves Saint-Laurent tivesse uma carreira curta no exército. Somado a esse estresse psicológico, como foi diagnosticado, havia o fato de outros soldados de seu batalhão o perseguirem devido sua orientação sexual.
Atormentado pela guerra e pelo perigo do seu próprio batalhão, Yves passou somente 20 dias em preparação para o combate, sendo dispensado após um relatório médico afirmando que ele não teria condições de lutar.
De fato, é completamente compreensível o problema adquirido por Yves quando observamos o seu contexto. Ainda assim não podemos dizer que Yves Saint-Laurent era um homem acomodado ou mesmo que tivesse medo dos conflitos. O fato era, em verdade, que o campo de batalha de Saint-Laurent seria outro.
Após recuperar-se do trauma sofrido nas forças armadas, em 1962 Yves Saint-Laurent daria um dos passos mais importantes (talvez o mais importante) de sua vida. Em parceria com seu companheiro Pierre Bergé, ele fundou sua própria marca, sendo esta homônima.
A experiência adquirida gerindo a empresa de Dior fez com que Saint-Laurent percebesse que a alta costura não precisava, necessariamente, ser um sinônimo de algo caro. Assim, um dos primeiros feitos de Saint-Laurent foi conseguir tornar sua moda acessível, o que ajudou a difundi-la em grande escala.
Yves Saint-Laurent - tornando-se uma lenda
Além de conseguir trazer a sofisticação para o cotidiano das pessoas, Yves Saint-Laurent, ao longo de 20 anos, conseguiu projetar não apenas suas marca, mas a si próprio. Suas inovações na moda fizeram uma verdadeira revolução no modo das pessoas se vestirem. Colocando em exemplos, podemos falar do Smoking feminino, uma peça de roupa que usualmente era destinada apenas aos homens e que possibilitou uma elegância distinta às damas, fazendo com que o uso de calças cumpridas por parte das mulheres fosse ainda mais difundida.
Talvez isso pareça relativamente superficial para nós atualmente, porém devemos lembrar que os anos 1960 foi marcada pela revolução feminista no Ocidente. As mulheres ganharam cada vez mais espaço e direitos, tanto no mundo do trabalho como em outros setores da sociedade.
Visto isso, era necessário também uma adaptação da moda frente a esse novo paradigma social. Yves Saint-Laurent conseguiu captar essa mudança e foi pioneiro em suas roupas para atender essa nova demanda, afinal, uma nova sociedade começava a formar-se em meio aquela geração.
Combinando sua identidade à sua marca, estando na vanguarda do seu segmento em meio às transformações vividas pelo mundo e mantendo-se criativo, Yves Saint-Laurent teve a receita do sucesso em suas mãos e não a desperdiçou. O lucro de sua marca foi tão alto que após sua morte, há mais de uma década, o argelino é a pessoa que mais ganhou dinheiro mesmo estando morto em nosso mundo atual. Tudo graças ao seu esforço e visão de mundo, possibilitando assim abrir as portas do futuro.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio
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