Todos nós temos habilidades e talentos, não é mesmo? Por vezes, o que separa um profissional bem sucedido de outro é justamente a sua capacidade de reconhecer e desenvolver aquilo que naturalmente ele já possui. Seguindo esse pensamento, talvez a vida e suas suas mais diferentes situações se tornassem mais fáceis se seguíssemos nossas inclinações naturais. Entretanto, muitas vezes sucumbimos à pressão externa, seja de parentes, amigos ou mesmo o senso comum e acabamos desistindo de nossos sonhos. Passamos a trilhar um caminho sem entusiasmo e, por fim, não nos sentimos realizados.
Esse sentimento comum à maioria das pessoas pode ter como causa de diferentes motivos, mas o fato de não seguirmos nossa vocação é um deles. Estamos falando sobre isso porque o empreendedor que conheceremos hoje foi de encontro com os padrões de sua época e precisou enfrentar não somente a opinião pública, mas sua própria família para alcançar seus sonhos. Estamos falando de Christian Dior, o homem que vestiu a Europa após o fim da II Guerra Mundial.
Dior, entre a obediência e o sonho
A história de Christian Dior começa na pacata Granville, uma pequena região no norte da França em 1905. Pouco sabemos sobre os seus primeiros anos de vida, mas Dior era filho de um comerciante que sonhava, entre outras coisas, em ver o filho como diplomata. Todavia, esse jamais foi um sonho do jovem Christian, que sempre apresentou um talento nato para as artes plásticas, principalmente a pintura e o desenho. Na sua época, porém, não existia tanta liberdade para dialogar com os mais velhos sobre o futuro, apenas obedecia-se aos desejos dos pais.
Sendo assim, Christian chegou a cursar por alguns anos a faculdade de relações internacionais, mesmo a contra gosto e não demonstrando nenhuma vocação para tal profissão. Nessa época Dior mudou-se para Paris e lá acabou conhecendo o maior centro cultural do mundo.
O jovem de Granville deparava-se com a vida artística mais inflamada da Europa, o que o levou a desejar mais ainda seguir aquilo que sempre foi sua verdadeira paixão. Ao longo dos anos, em meio a dúvida entre a obediência ao pai ou tomar as rédeas do próprio destino, Dior tomou uma decisão. Em 1927, com então 22 anos, largou a faculdade de relações internacionais e iniciou seu primeiro empreendimento: uma galeria de arte.
Essa tomada de decisão desestruturou significativamente seus laços familiares, porém, estes iriam ser restabelecidos poucos anos mais tarde, quando toda a família precisou unir forças (e recursos) para superar um revés econômico sofrido por seu pai. Ainda assim, a galeria de arte de Dior não foi um empreendimento lucrativo, sendo fechado poucos anos após o seu lançamento. Mesmo não conseguindo o sucesso que almejava, é inegável que foi uma importante experiência para o jovem que mais tarde seria um dos principais estilistas da Europa dos anos 1940 e 1950.
Christian Dior crescendo na profissão
Durante os anos 1930, Dior aprimorou suas habilidades como artista plástico e começou a vender seus desenhos para ajudar a saúde financeira da família. Seu primeiro trabalho mais relevante foi o de desenhar croquis para uma revista, passando a ganhar assim uma pequena visibilidade com o seu trabalho. Graças a constância de publicações na “Figaro Illustre", seu nome começou a circular entre os apreciadores e profissionais da moda em Paris. Esse seria o segundo passo de Dior em direção ao seu sonho.
Ainda em 1938, Christian Dior fez diversos trabalhos com Robert Piquet, um estilista suíço responsável por diversas lojas na capital francesa. Dior ganhou experiência não apenas sobre a criação de suas peças, mas também em como gerenciar pessoas e atender às mais distintas demandas.
Até então, porém, Dior mostrava-se um excelente trabalhador, mas ainda não tinha se tornado um verdadeiro empreendedor. Esse momento ainda demoraria alguns anos até chegar, pois os seis anos seguintes, de 1939 à 1945, o mundo mergulhou na II Guerra Mundial.
O conflito entre diversas nações arrastou a Europa para o centro da guerra. Dior acabou sendo convocado para o exército francês, servindo por dois anos. Mesmo não sendo um homem das armas, o esforço de guerra fez com que todas as pessoas, direta ou indiretamente, estivessem envolvidas no combate. Porém, das cinzas da guerra começou a surgir o pequeno império da moda e o principal comandante deste novo momento seria o nosso grande empreendedor.
Fundando a Maison Dior
A reviravolta na vida profissional de Christian Dior começou em 1946. Após anos aprendendo sobre sua profissão, Dior recebeu uma ajuda financeira para lançar seu maior empreendimento: a Maison Dior. O termo “Maison” advém do francês e traduz-se como “lar” ou “casa”. Porém, no mundo da moda uma Maison é um empreendimento que trabalha com a alta costura, que nada mais é do que roupas sofisticadas e exclusivas, geralmente voltada ao público feminino.
A alta costura, como podemos imaginar, está sempre na vanguarda da moda, pois busca lançar tendências. Nesse sentido, Dior projetou sua arte até o alto escalão social, buscando reinventar a maneira como as mulheres vestiam-se.
Após anos de experiência como funcionário, tanto na construção de novos modelos como no gerenciamento da empresa, Christian Dior inaugurou sua primeira coleção em 1947. A Dior tornou-se pioneira no que ficou conhecido como “New look”, uma moda que buscava reinventar o padrão de vestuário europeu, que naquele momento buscava reerguer-se dos danos causados pela guerra.
O “New Look” tinha como característica a extravagância, com várias camadas de tecido para construção de uma peça de roupa, o que para os produtores mostrava-se um “desperdício”, mas não para Dior. Seu interesse era revolucionar o modo como as mulheres vestiam-se e assim o fez de maneira maestral.
O New Look rapidamente caiu nas graças das classes altas e espalhou-se rapidamente pela Europa. Ao mesmo tempo, Dior percebeu que o “New Look” era mais do que apenas uma roupa, mas sim um estilo de vida. Sendo assim, ampliou o raio de ação da sua Maison e passou a produzir diversos produtos como perfumes, jóias e diversas peças de roupa que iriam compor o vestuário de homens e mulheres por todo o velho mundo.
A Dior (a marca) tornou-se uma das mais famosas e respeitadas empresas de moda ao redor da terra. Sua fama alastrou-se de tal maneira que seu criador passou a ser confundido pela sua criação. Ela foi lar de grandes estilistas ao longo do tempo, o mais notável, além do próprio Dior, foi Yves Saint - Laurent, que acabaria se tornando o sucessor da Dior após a morte de Christian, em 1957. Vítima de um ataque cardíaco, Dior estava de férias quando sentiu-se mal e acabou deixando a vida muito cedo, aos 52 anos. Ainda hoje, porém, é impossível entendermos a grandeza da Dior sem enxergar a biografia do seu fundador e notar as qualidades deste dentro da sua empresa.
Por sua coragem em desafiar a opinião pública e a autoridade familiar, por sua inovação frente a necessidade de quebra de padrões após a II Guerra e sua rápida capacidade de expansão, coloco Christian Dior como um dos empreendedores que conseguiram marcar a história, mostrando o que podemos fazer quando canalizamos bem nossas habilidades e talentos naturais.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio
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