terça-feira, 25 de outubro de 2022

Liderar com respeito a todos: que tipo de gestor você deseja ser?


Para introduzir esse assunto, quero que você imagine o seguinte cenário: em uma empresa, uma equipe trabalha até tarde em um projeto importante, crucial para o futuro do negócio. Todos se esforçam buscando um bom resultado. O chefe não está presente nesse momento.

No dia seguinte, dia da apresentação para o cliente, ele chega atrasado sem cumprimentar ninguém, dá ordens, desvaloriza e desqualifica o trabalho realizado e culpa a equipe quando o resultado da apresentação não sai como o esperado. O ambiente de trabalho fica tenso, há sempre o medo de levar uma bronca e de não corresponder às expectativas da chefia.

Essa história é fictícia, mas aposto que você se identificou com a situação descrita acima. Modelos de liderança tradicionais (podemos até dizer, antigos) colocavam o líder em um patamar em que não existia abertura e nem espaço para troca, as decisões tomadas eram sempre baseadas no modelo gerencial chamado top-down, ou seja, o que foi decidido pelo alto escalão deveria ser cumprido sem questionamento pelos subordinados, e nem sempre o respeito a todos era algo priorizado ou até considerado. Uma forma de liderar baseada somente  no comando e no controle.

No entanto, observamos hoje um impacto muito positivo ao incentivarmos uma cultura de respeito nas empresas. E isso deve partir da liderança. Um líder que não tem uma postura de respeito com todos (e demonstra isso em suas atitudes), independentemente de cargos e hierarquias, dificilmente é respeitado e admirado.

É por tudo isso que faço agora o questionamento: como gestor e líder de uma equipe, como você quer que o seu estilo de liderança seja marcado? Acompanhe esta leitura e entenda a importância de uma liderança que preza o respeito a todos, valoriza e reconhece o esforço, inspira confiança e tem o respeito como valor fundamental. Confira!

Por que uma liderança que preza o respeito a todos é importante?


Primeiramente, é importante deixarmos claro o que entendemos por respeito, principalmente quando nos referimos a respeito no âmbito profissional. No conceito de respeito, está incluso o respeito às diferentes ideias, visões de mundo, opiniões, gênero, raça, classe social, nível cultural, orientação sexual, experiência profissional.

Nesse sentido, o respeito é importante, pois a falta dele só afasta as pessoas e gera desmotivação. Um líder que não respeita seus liderados e não lidera pelo exemplo, dificilmente é respeitado, além de não inspirar e demonstrar confiança. Nesse sentido, líderes coerentes com esse valor lidam com desafios sempre de forma respeitosa e jamais usam a crueldade para demonstrar poder, apoiados na hierarquia de um cargo.

Dessa maneira, quando liderar pelo respeito é o objetivo principal, os resultados positivos gerados não demoram a aparecer:
  • há mais engajamento, empenho e envolvimento da equipe;
  • existe menos conflito e, consequentemente, melhor é o clima organizacional;
  • a liderança inspira outras pessoas.

Como liderar com respeito: passos práticos para emplacar essa postura


1. Lidere pelo exemplo

Essa é uma das regras mais importantes. Em uma posição de liderança, as pessoas estão sempre lhe observando. De nada adianta pregar e clamar por respeito se essa postura não é traduzida em suas atitudes diárias. Para inspirar e convencer os outros, é necessário liderar pelo exemplo, sempre com sinceridade em seus atos. 

2. Respeite compromissos e o tempo dos seus colaboradores


Não é só porque você ocupa um cargo importante que todos devem estar à sua disposição. Respeitar os horários, compromissos agendados e o tempo das pessoas é primordial em uma liderança que preza pelo respeito acima de tudo.

3. Mostre-se presente


Líder é aquele que está presente, acompanha os processos, entende o trabalho real, observa as dificuldades in loco. Não toma decisões baseando-se apenas em relatórios e percepções. Isso é respeitar o trabalho da sua equipe.

4. Desafie o seu time


Desafie seus colaboradores. Essa é uma maneira de incentivar e motivar. Faça perguntas, instigue-os a encontrar novas soluções, a fazer diferente, a solucionar problemas, em vez de somente dar respostas prontas. Essa atitude, além de contribuir para que trabalhem com mais eficiência, também ajuda na evolução dos seus colaboradores, encorajando-os a buscar o crescimento profissional.

5. Preocupe-se em ouvir


Um bom líder sabe ouvir antes de tudo. Uma das formas de demonstrar respeito a seus liderados é saber fazer uma escuta ativa, mostrando interesse, sem fazer interrupções ou ficar tirando conclusões precipitadas. É saber ouvir o outro lado da história e reconhecer pontos de vista, com empatia, por mais que não se concorde com os argumentos expostos. Isso estimula o estabelecimento de uma relação de confiança.

6. Ensine e apoie


O líder também tem responsabilidade na formação da sua equipe e deve contribuir com o processo de aprendizado dentro da empresa. Faz parte do trabalho de um gestor ensinar seus liderados a trabalharem melhor, mesmo que alguns ignorem essa função. Nesse sentido, além de prover orientação, é importante também apoiar ideias e fornecer incentivo, mesmo quando algo não dá certo. Esse tipo de atitude também transmite respeito.

7. Reconheça o esforço e dê feedbacks


Nesse contexto de acompanhar o desenvolvimento da equipe, é importante reconhecer o esforço despendido em um trabalho, além de dar feedbacks construtivos, fator importante para o desenvolvimento de um profissional.

Lideranças que não se importam com esses fatores, ou os julgam desnecessários, certamente terão que lidar com consequências irremediáveis no futuro: falta de engajamento e funcionários desmotivados, o que consequentemente afeta os resultados.

8. Incentive o trabalho em equipe


O estilo de liderança tradicional tende a ver a solução de problemas como um processo individual. A questão é que é justamente o contrário, estamos todos no mesmo barco, e liderar com respeito consiste também em deixar isso claro, incentivando o trabalho em conjunto, mostrando que todos fazem parte da busca pela solução, todos são importantes.

9. Busque aprendizado


Uma liderança com respeito a todos também adota uma postura de humildade, buscando melhoria contínua, descartando a arrogância daquele líder que sabe tudo e está sempre certo. Nesse sentido, diante de algo que você não tem a resposta, mostre a seus liderados que vocês podem aprender juntos e achar a solução. Desprenda-se da vaidade e não tenha receio de demonstrar vulnerabilidade. Isso não é fraqueza e, certamente, essa postura irá gerar uma conexão junto à sua equipe.


Para finalizar, diante de tudo isso, deixo a seguinte mensagem: seja qual o for o seu estilo de liderança, procure liderar com integridade, tenha a mente aberta, respeito pelas pessoas, preze pela boa comunicação e pelo estabelecimento de uma relação de confiança. Molde as suas atitudes e lembre-se de que é sua responsabilidade dar condições para que a sua equipe se engaje e se sinta motivada a trabalhar em um ambiente que a estimule a ser produtiva. E, acima de tudo, lidere pelo exemplo.

Bom trabalho e grande abraço.

Autor: Prof. Adm. Rafael José Pôncio
Publicado em: 09 de julho de 2022 Especial: artigos no Jornal Tribuna
Link fonte: https://jornaltribuna.com.br/2022/07/liderar-com-respeito-a-todos-que-tipo-de-gestor-voce-deseja-ser/



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terça-feira, 18 de outubro de 2022

Henry Gantt e o gerenciamento de projetos


Bem vindos a mais um texto da série “os pais da administração”. Hoje conheceremos mais um dos grandes teóricos que ajudaram não apenas a desenvolver um modelo científico para a gestão de empresas, processos e pessoas, mas que foi um dos principais assistentes de Frederick Taylor. Estamos falando de Henry Gantt, o homem que demonstrou a eficácia do gerenciamento de projetos.

Introdução: Henry Laurence Gantt da fazenda em Maryland à engenharia


A história de Gantt começa nos Estados Unidos da segunda metade do século XIX. Nascido no ano de 1861, sua família era proprietária de uma lucrativa fazenda em Maryland. No mesmo ano em que Henry nasceu eclodiu a Guerra de Secessão (1861 - 1865), evento este que afetou drasticamente o destino de sua família, uma vez que a mão de obra escrava era largamente utilizada pela família Gantt. Com o fim da guerra civil americana e a libertação dos escravos, os pais de Henry precisaram reinventar-se em seu modo de ganhar dinheiro e, notadamente, adaptar-se ao novo modelo social que começava a tentar estabelecer-se nos Estados Unidos.

É difícil (e muitas vezes arriscado) estipular o que poderia ter sido da vida de Henry Gantt caso não houvesse ocorrido a guerra. Não podemos garantir que ele seguiria a carreira do seu pai como fazendeiro, muito menos que manteria o sistema escravocrata aceito por lei ao longo de dois séculos nos EUA. Apesar de não podermos afirmar tais questões, o fato é que desde sua infância Gantt foi levado para outra área em sua formação escolar. Ao invés de ser um homem da terra, debruçou-se sobre as máquinas que cada vez mais faziam sucesso nas cidades em todo o mundo. Desse modo, sua carreira foi voltada para a indústria, tornando-se engenheiro mecânico.

O fiel escudeiro de Frederick Taylor


Em 1884, com 23 anos, formou-se engenheiro mecânico e a partir daí descobriria um universo a ser explorado. Como um homem racional, versado nas leis da física e na exatidão da matemática, Gantt rapidamente caiu nas graças de um outro engenheiro mecânico, que conheceu em 1887 em Midvale Steel: Frederick Taylor.

Taylor, o pai da administração científica no qual já falamos em nossa série, trabalhava na Midvale Steel, uma companhia siderúrgica especializada em aço, desde 1878 e já aplicava sua forma de administração racional no setor de engenharia.

Assim, o encontro entre os dois foi inevitável e, ao mesmo tempo, fundamental para a ciência da administração. Gantt chegou a tornar-se o auxiliar direto de Taylor, sendo seu braço direito na gestão do setor de engenharia da Midvale Steel. Com o pai da administração científica Gantt aprendeu não só os princípios racionais para uma boa gestão, mas também deu valiosas contribuições para o modelo que hoje chamamos de Taylorismo.

A ligação de Henry Gantt com Frederick Taylor era tamanha que mesmo após a saída de Taylor da Midvale Steel, Gantt o acompanhou nas outras empresas que trabalhou. Os dois mostravam-se apaixonados pela forma de trabalho em que se dispunham e juntos, não por acaso, dividem seis patentes. Por pensarem de forma similar, habitualmente falamos que Gantt é um fiel seguidor do Taylorismo, não apenas por implementar suas técnicas, mas principalmente por ajudar ativamente no seu desenvolvimento e disseminação. Porém, apenas seguir as ideias do pai da administração científica não faria de Gantt um dos pais da administração. Por isso precisamos conhecer suas contribuições para esse campo do conhecimento.

As contribuições de Henry L. Gantt para a administração


Henry Gantt, como um homem que buscava resultados na ciência, desenvolveu métodos eficazes para planejamento e execução de tarefas. Sua busca pela eficiência na produção o tornou um excelente consultor de gestão, tarefa que fazia com esmero. Uma das suas técnicas mais conhecidas para conseguir melhorar o controle da produção é o diagrama de Gantt. Desenvolvido entre os anos 1910 a 1915, esse diagrama define uma relação entre as tarefas (ou etapas) a serem executadas em um projeto e o tempo que elas levam até sua finalização. parece algo simplório, porém lembremos que há cem anos não existia ainda na administração de empresas uma mentalidade voltada para mensurar e projetar com precisão tais elementos.

Desse modo, Gantt conseguia entender o quanto de recurso deveria ser investido em cada etapa de um projeto e acompanhava o seu progresso. Quando o cronograma não atendia ao esperado dever-se-ia localizar onde o erro estava. O diagrama de Gantt, portanto, se tornou uma maneira didática dos gestores conseguirem localizar os problemas em suas produções e poderem atuar frente a eles. Em geral, a grande parte dos atrasos ocorria, como constatou Henry, pela ineficiência dos trabalhadores que, na grande maioria das vezes, não sentiam-se valorizados pelo seu labor. 

Assim, Henry Gantt achou um modelo de motivação para o trabalhador que até hoje ainda se utiliza: a lógica do bônus. O modelo aplicado por Gantt para a classe operária era, em síntese, bem simples: se o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de um salário, então se existir uma oferta a mais, ele irá se esforçar não somente para bater suas metas, mas ultrapassar seus limites e produzir acima do esperado.

A teoria, ao ser testada, mostrou-se verdadeira. Os gráficos de Gantt comprovaram que a recompensa estimula os trabalhadores a serem mais eficazes, garantindo que os projetos e suas etapas não apenas fossem concluídos no prazo estipulado, mas muitas vezes terminando de forma adiantada. Gantt percebeu, naturalmente, que o sistema capitalista, ao qual todos buscam obter dinheiro, seja por meio do lucro ou por meio da sua força de trabalho, era a moeda de troca perfeita para garantir a boa execução da produção. Essa ideia, porém, nem sempre foi bem aceita no meio empresarial, mas o tempo provou estar ao lado do discípulo de Taylor. 

O principal motivo ao qual os empresários contrários ao método de recompensa alegavam era o de aumentar as despesas com os trabalhadores. Entretanto, na prática, o excedente da produção garantia ainda mais lucro aos empresários, afinal, o bônus oferecido não se comparava ao lucro dado pelo sobre esforço feito. Como o próprio Gantt disse certa vez:

“Entre todos os problemas da administração, o elemento humano é o mais importante”.

Essa visão humanista, no sentido de considerar o aspecto humano no trabalho e não apenas a sua força de produção, o diferenciou dos demais adeptos do Taylorismo, que buscavam a eficiência a qualquer preço. Assim, não se permitia aplicar a justa medida nos seus comandados, mesmo prezando pela eficiência do sistema produtivo. Tal qual um relógio de engrenagens, ao qual todas as peças deveriam executar seu movimento perfeitamente para que a máquina funcionasse, também em qualquer cadeia produtiva era essencial cada trabalhador executar aquilo que seu trabalho designava. Quando isso deixava de ocorrer, por ociosidade, falta de logística ou qualquer outra falha, era preciso que ocorressem os devidos ajustes.

Desse modo, Gantt seguiu trabalhando até o último dos seus dias. Ele ainda ajudou os Estados Unidos na I Grande Guerra Mundial (1914 - 1918) dando consultoria na fabricação de armamento, gerenciando cadeias de produção da maneira mais eficiente possível. Assim, um ano após o fim do conflito, Gantt deixaria a vida aos 58 anos e entraria para a história através do seu legado no mundo da administração.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio
 



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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Willem Usselincx, o holandês que navegou pelos mares do livre comércio

Muitos de nós entendemos que empreender envolve, em grande parte, arriscar-se. Nunca se sabe, mesmo com todos os cálculos e previsões, se os negócios irão ser bem sucedidos, visto que no jogo da economia há uma série de variáveis que não estão sob o nosso controle. Mesmo assim, as incertezas jamais foram capazes de parar os homens e mulheres com espírito empreendedor, uma vez que correr riscos faz parte de qualquer investimento.

Frente a isso, se considerarmos apenas esse elemento para procurarmos por grandes empreendedores ao longo da história, certamente nossos olhos se voltariam aos séculos XVI e XVII. Isso porque o momento histórico em que viveram estava imerso em um universo de transformações políticas, sociais, religiosas e econômicas. O nascente capitalismo mercantil, por exemplo, passava a ditar as regras dos recém formados reinos europeus, com nítida vantagem para Portugal e Espanha, que já lançavam-se ao “Novo Mundo” para conquistar os tesouros da América. Por outro lado, a reforma protestante fazia com que novos cristãos, advindos de uma perspectiva distinta da Igreja Católica, fossem obrigados a se aventurarem em uma nova terra, uma vez que fugiam da fogueira da Santa Inquisição.

Esse contexto histórico turbulento foi um campo fértil para a criação de novos empreendimentos. O espírito empreendedor, que por quase mil anos ficou adormecido nos feudos medievais, agora era obrigado a surgir como uma ferramenta de sobrevivência para estes refugiados. Era preciso, de fato, reinventar-se e inovar, tanto em sua própria vida como também nos negócios. É a partir dessa necessidade que surgem os investimentos privados, movidos por pessoas que não pretendiam ficar reféns das ordens e desmandos dos governantes.

Dentre os diversos casos que poderíamos acompanhar, certamente o que nos mais chama atenção do ponto de vista empresarial é a trajetória de Willem Usselincx, um holandês que viveu boa parte da sua vida como refugiado e construiu uma das maiores empresas privadas dos últimos quinhentos anos. Estamos falando do mercado externo comandado pela Companhia das índias Ocidentais, um dos maiores investimentos privados da História.

Biografia de Usselincx

Antes de mergulharmos nos investimentos de Willem Usselincx, porém, é necessário entender um pouco de sua vida. Assim, sua trajetória começa na cidade de Antuérpia, uma das mais ricas urbes do século XVI. O ano do seu nascimento data de 1567, apenas um ano antes da Guerra dos oitenta anos (1568 - 1648). Esse conflito ocorreu entre Holanda e Espanha, que brigavam pela influência no Novo Mundo, o vasto território das Américas que era uma mina de ouro para os exploradores. A Espanha, por sua vez, dominou por grande parte as regiões hoje denominadas “países baixos”, até que a revolta da população fez com que os espanhóis fossem expulsos. Porém, pouco tempo depois a Espanha voltou a conquistar todas as cidades da região, obrigando a população de outra fé (no caso, a protestante) a fugir.

Essa diáspora, ocorrida ao longo dos séculos em diversos países, obrigou desde cedo Willem Usselincx a lidar com adversidades, mesmo que com muito esforço. Foi nesse contexto, portanto, que nasceu o empreendedor. Willem Usselincx foi descendente de uma família de comerciantes que desde sua infância colocou-se à disposição do infante para ensinar tudo que precisava saber sobre as especiarias na Índia. Willem, porém, foi mais habilidoso com suas ações do que as palavras. O fato é que o empreendedor era capaz com seu carisma o que muitos não conseguem pela força. Desse modo, apesar de estar focado em estabelecer rotas comerciais para a nova Índia (atual América Central), Willem Usselincx foi o primeiro a lançar de maneira individual algo que pudesse concorrer com as empresas do Estado.

Assim, depois de 60 anos de existência, a base de Willem mostrou-se bastante resistente. Sua iniciativa privada mostrava que os lucros não precisavam estar concentrados apenas nas mãos do Estado, que não raramente gastava mais do que podia e fazia com que os recursos escorressem pelas mãos. A tarefa de Willem Usselincx, porém, não seria nada fácil, uma vez que seus concorrentes diretos eram a Espanha e Portugal, que concentravam todo domínio do Novo Mundo. Mesmo com essa adversidade, a empresa de Willem Usselincx, que funcionava em um formato similar à "Companhia holandesa das Índias Orientais”,a empresa holandesa que fazia o comércio com a Ásia, conseguiu estabelecer-se em 1621.

O lucrativo comércio das Índias Ocidentais

O empreendimento de Willem jogava luz ao monopólio de décadas da Espanha e Portugal nas regiões da América. Não por acaso, é nesse período que a Holanda domina o Nordeste do nosso país, estabelecendo-se por 20 anos em nosso território. A “nova Holanda”, como foi chamada a região conquistada, era parte de um projeto que visava o estabelecimento de colônias holandesas e a abertura de um novo mercado para o país de Willem. Assim, ao iniciar seu empreendimento e cruzar o Oceano Atlântico, Willem Usselincx conseguiu acesso ao transporte de recursos entre a América e a Europa. Um detalhe importante acerca da criação da Companhia das Índias Ocidentais é o fato de Willem, em acordo com seus sócios, não aceitarem transportar em seus navios homens e mulheres escravizados. Como bem sabemos, o comércio de escravos advindos da África até a América era um lucrativo negócio e, por mais terrível que fosse esse fato, ainda assim centenas de navios negreiros eram destinados para o Novo Mundo.

Porém, para alguém que várias vezes precisou reiventar-se por causa de guerras, discriminação religiosa e preconceitos, não seria fácil aceitar contribuir com um sistema que considerava desumano. Assim, Willem não perseguiu o lucro a qualquer preço, pois não podia abrir mão de sua ética. Mesmo com essa “desvantagem” frente aos seus concorrentes, a Companhia das Índias Ocidentais foi a empresa mais rentável de toda a América. Além disso, a Companhia das Índias Ocidentais foi responsável por trazer uma importante mão de obra para os locais em que a Holanda se estabelecia. Nomes como Maurício de Nassau, por exemplo, foram fundamentais para o desenvolvimento da região em que administrava, mostrando que o papel da empresa não estava somente no lucro, mas também em uma boa governança na região.

A Companhia das Índias Ocidentais funcionou de maneira privada até 1792 até ser tomada pelo Estado Holandês e dissolvida pouco tempo depois. Ainda assim, em seus 171 anos de existência, ela foi um dos principais meios de chegar até o Novo Mundo, sendo um elo importante no comércio internacional. Willem, que morreria 26 anos após a criação da empresa, conseguiu ver os frutos do seu empreendimento. Graças a ele foi possível, por exemplo, levar a experiência para outros países como a Suécia, na qual também fundou outras empresas com objetivo de colonizar novos territórios e desenvolver uma nova rota comercial.

Considerando toda sua trajetória, é inegável que Willem Usselincx foi um empreendedor de sucesso. Não apenas pelos seus lucros, mas principalmente por consegui-lo sem abrir mão do que é mais valioso para um Ser Humano: seus princípios.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 4 de outubro de 2022

MVP: descubra o que é e como fazer

MVP

Você pode até pensar que a sua ideia é a melhor do mundo, contudo você só vai saber se isso é verdade quando testá-la. Para isso existe o MVP.

Entenda como esta metodologia para desenvolvimento de produtos e serviços pode te ajudar a testar suas ideias.

O que é MVP?

MVP é a sigla em inglês para minimum viable product, ou mínimo produto viável em português, uma estratégia para colocar em prática uma ideia de produto ou serviço.

O MVP é aplicado principalmente por empresas inovadoras ou startups e funciona conforme este exemplo:

Uma casa de sucos, por exemplo, tem a ideia de criar sucos com misturas e produtos exóticos como: banana com gengibre e melancia com canela.

Contudo, como sabemos, lançar um novo produto não é uma coisa barata, já que há o investimento com a nova matéria-prima, publicidade, treinamentos da equipe... E ninguém quer sofrer prejuízos.

Então antes de colocar de fato as novas opções no mercado, o gestor da casa de sucos decidiu fazer um MVP, que nada mais é que uma versão teste de um novo produto.

Nesta versão é possível coletar feedbacks e identificar pontos que podem ser aprimorados antes do lançamento efetivo.

Por que criar (ou não) um?

Veja as vantagens e desvantagens de aplicar um MVP:

Validar uma hipótese

Mesmo que você já tenha um grande conhecimento do seu mercado, você só vai saber de fato se o público gosta ou não da sua ideia ela chegar até eles.  O MVP permite que você faça isso sem arriscar tanto.

Melhora a percepção dos clientes

Mesmo que o teste seja um completo fracasso ele ainda será proveitoso, pois trará informações importantes sobre comportamento dos clientes.

Aumenta as chances de sucesso

Com um produto testado, corrigido e aprovado, a probabilidade de ele ser um grande êxito aumenta significativamente.

 O custo para aplicação do teste

Mesmo que os benefícios do MVP sejam claros, ele tem um custo. Então é importante analisar se ele é realmente necessário para aquele produto ou serviço.

Atrasos no lançamento

Falando mais em startups, os negócios que mais utilizam MVP, fazer o lançamento no timing certo é crucial. Pois, se a solução demorar muito o seu concorrente pode sair na frente. 

9 Etapas para fazer um MVP

Veja agora o que a casa de sucos precisa fazer para criar um MVP eficiente:

1.   Monte uma equipe

O primeiro passo para ter um produto de sucesso é ter uma equipe capacitada para criá-lo certo?

Com o MVP não seria diferente, então escolher com cuidado os profissionais que irão desenvolver o produto e avaliar sua execução é fundamental.

As pessoas essenciais são:

  • Alguém para analisar a viabilidade financeira.

  • Alguém para pensar na usabilidade do item.

  • Alguém que saiba como produzir o produto ou oferecer o serviço.

2.   Escolha o público e o problema

Embora a empresa já tenha um público alvo definido, saber se a ideia condiz com ele é muito importante.

Também entender a dor dos clientes e descobrir como o produto irá aliviar este sofrimento. Para isso, algumas perguntas como:

  • Qual problema este produto/serviço irá resolver?

  • Como ele vai utilizá-lo?

  • Por que o cliente irá escolher o meu produto e não o do concorrente?

Devem ser respondidas nesta etapa.

 3.   Defina o produto

Agora que a equipe já fez os estudos necessários é o momento de desenvolver o produto em si.

A ideia é começar com uma solução simples que resolva a dor dos clientes de maneira rápida e com o tempo pensar nas melhorias.

Também é hora de definir as funcionalidades do produto de forma clara, determinando o que ele faz e o que não faz.

4.   Escolha o tipo de MVP

Como a ideia de produto ou serviço já está estruturada é hora de decidir como o teste será realizado.

Existem 5 modelos principais de MVP, são eles:

MVP Fumaça

Serve para avaliar o interesse dos clientes no novo produto, para isso é feita a divulgação, por uma landing page (página online para a captação de leads) ou um vídeo informativo.

Mensurando o interesse pela quantidade de pessoas que se cadastrarem para receber novidades, por exemplo.

MVP Concierge

 A proposta é fazer um experimento específico, com poucos clientes.

Por exemplo: uma desenvolvedora de aplicativos pode apresentar aos usuários um modelo simplificado, e utilizar os feedbacks para definir o layout e ferramentas de forma personalizada.

MVP Mágico de Oz

Embora o produto já esteja pronto, ele ainda não está 100% em funcionamento, pois precisa de alguns ajustes.

Neste caso, esperasse que os próprios clientes forneçam os insights para finalizar o projeto.

MVP Protótipo

É criado um protótipo teste para os clientes testarem e avaliarem.  Os feedbacks colhidos auxiliam no aprimoramento da ideia e construção do projeto final.

MVP Duplo

Quando são feitas duas versões de um produto ou serviço diferentes para os clientes avaliarem. Este sem dúvida trará mais resultados, porém o custo é maior.

5.   Estabeleça o tempo de teste

É fundamental analisar com cuidado o período de teste, pois se for pouco tempo pode não gerar feedbacks suficientes e se demorar muito pode comprometer o lançamento do produto final.

6.   Coloque em prática

É hora da validação! 

Para isso, você e sua equipe podem desenvolver, os testes em duas fases:

  • Fase Alpha: um público menor e controlado.

  • Fase Beta: um público mais amplo que corresponda melhor ao público alvo.

7.   Analise as respostas recebidas

Com o MVP já aplicado é o momento de sentar novamente com a equipe e avaliar as opiniões recebidas.

Nesta etapa é importante considerar apenas o que faz sentido e é viável para o negócio.

8.   Aplique as alterações e lance o produto/serviço

Agora é fazer os ajustes necessários e lançar o produto finalizado no mercado.

Se houver muitas alterações entre o MVP e o projeto final, é recomendável aplicar um novo teste.

9.   Melhore o seu produto

Mesmo que o produto seja bem aceito pelo público e traga bons resultados financeiros, é importante pensar em estratégias para melhorá-lo sempre que possível, e se for o caso, fazer um novo MVP.

Cuidados ao colocar a sua ideia em prática

Conheça os pontos que precisam de atenção:

O MVP é o seu produto/serviço finalizado

A ideia de fazer o teste é avaliar algo que já soluciona as dores dos clientes em uma versão menor e mais simples.

Por isso, não “jogue no mercado” algo que não é funcional, pois além de não trazer os resultados esperados, pode prejudicar a imagem do negócio.

Não demore demais nos testes

Temendo não errar no produto ou serviço, você pode acabar fazendo o oposto e gastando tempo e recursos em excesso na fase teste, prejudicando o lançamento do produto.

Este é o momento para avaliar os feedbacks e fazer as alterações necessárias.

Então você já tem uma ideia inovadora para aplicar o MVP? Diga nos comentários. 

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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Matriz GUT: uma estratégia para tomar decisões


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