terça-feira, 15 de novembro de 2022

Frank e Lilian Gilbreth, o casal que reinventou a eficiência na indústria


O que é produtividade para você? Em geral acreditamos que ser produtivo é, em síntese, fazer muitas tarefas, não é? Porém, essa percepção pode estar um pouco equivocada. De fato, a produtividade pode estar relacionada à realização de uma série de atividades. 

Quando nossa agenda está cheia de compromissos, por exemplo, dizemos que teremos um dia produtivo uma vez que precisaremos realizar um grande esforço para conseguir completar todas as tarefas do dia. Assim, fazemos uma relação direta da produtividade com o esforço, porém, esquecemos, às vezes, de um outro conceito fundamental para melhorar a nossa capacidade de produção: a eficiência.

Quando produzimos com eficiência estamos utilizando o menor gasto de energia (que nada mais é do que o esforço que empregamos) para obtenção do melhor resultado. Para os dias atuais esse nos parece um princípio básico e que é utilizado nas mais distintas áreas do conhecimento, porém, na administração ele foi desenvolvido largamente por Frank e Lilian Gilbreth, um casal de engenheiros que perceberam como melhorar o rendimento das fábricas sem precisar levar o trabalhador até seu ponto máximo de exaustão.

Frank Gilbreth e sua visão sobre a eficiência


Para sabermos sobre isso, porém, precisamos recuar no tempo e conhecer o passado de Frank e Lilian. De antemão já deixamos claro que nesse texto daremos enfoque na biografia de Frank, deixando claro que falaremos mais profundamente de Lilian e suas demais contribuições em um texto à parte.

Dito isso, voltemos para a segunda metade do século XIX, na cidade de Fairfield no estado de Maine, EUA, para conhecermos a família Gilbreth. Frank nasceu em 1868 em uma família de classe média. Seu pai era dono de uma loja de construção, ramo ao qual o próprio Frank conheceria bem na sua fase adulta. Sua mãe era professora, mas também precisou empreender para conseguir sustentar a família após a morte prematura do seu esposo, em 1871. Assim, Frank Gilbreth cresceu sem uma referência direta de pai, apesar que sua mãe notadamente nunca deixou-lhe faltar nada em sua casa.

Sabe-se que após a morte do Pai, Frank e sua família mudaram-se para o estado de Massachusetts em busca de melhores condições de vida. Tendo uma infância conturbada, ainda assim conseguiu finalizar o colegial, conhecendo o mundo do trabalho apenas aos 17 anos.

Seu primeiro emprego foi como auxiliar de pedreiro, conhecendo de perto a realidade do trabalhador braçal. Foi graças a essa experiência, vivida em diferentes níveis e por alguns anos, que Frank chegou a desenvolver sua ideia da redução de movimentos desnecessários em um trabalho repetitivo. Sua curiosidade quanto a esse assunto começou ainda cedo, pois notava que muitos trabalhadores, colocados à horas exaustivas de produção, acabavam perdendo o ritmo e desgastando-se desnecessariamente com movimentos repetitivos. 

Além disso, o jovem construtor também percebeu que adaptando algumas situações, como aproximar as ferramentas do trabalhador, evitando um deslocamento repetitivo e pouco eficaz, tornava não apenas mais produtivo o trabalho como também economizava o desgaste físico dos operários.

Frank Gilbreth, portanto, lançaria as bases para o que hoje chamamos de ergometria. Se essa, nos dias atuais, é uma questão de saúde, sendo um dos principais itens, por exemplo, em um mapa de risco, pouco ou quase nada desse assunto era falado no início do século XX. 

Frank era um admirador do Taylorismo, mas tinha uma posição contrária quanto ao modo de tornar o trabalho mais eficaz. Enquanto Taylor alinhava a eficiência diretamente ligada ao esforço do trabalhador, colocando-o em uma linha de produção e explorando sua força de trabalho ao máximo, Frank Gilbreth desenvolveu a teoria de que a eficiência constava não somente no esforço, mas de fazê-lo de modo inteligente, evitando os chamados “movimentos desnecessários”.

Assim, Frank concebia uma gestão racionalizada, porém, acreditava que a linha de produção deveria seguir um processo inteligente, fazendo com que se produzisse mais com o menor esforço possível. Esse menor esforço traria benefícios ao trabalhador, garantindo-lhe assim uma saúde prolongada no trabalho. Como sabemos, uma das maiores críticas feitas ao modelo de Taylor é o fato de não preocupar-se com o fator humano, ou seja, não levar em consideração a condição física e psicológica de quem realiza as operações na empresa.

Frente a essas observações, Frank Gilbreth teve uma escalada de sucesso na empresa de construção na qual trabalhava. Em dez anos, o auxiliar de pedreiro tornou-se superintendente chefe, o braço direito do dono da empresa que ajudou a crescer. Porém, à medida que observava suas habilidades na gestão de pessoas e processos, Frank desejava ter sua própria empresa. Foi esse desejo que o levou a sair do seu cargo bem remunerado e lançar-se no empreendedorismo, no mesmo segmento em que trabalhou durante toda sua vida. 

Conhecendo suas habilidades de gestão, em pouco mais de cinco anos Frank não apenas obteve sucesso no ramo. Seu diferencial estava no modo eficiente em que seus operários trabalhavam, pois aparentemente faziam “menos”, mas conseguiam terminar mais rapidamente os prazos e cumprir com suas demandas.

Trabalhando de maneira inteligente


A necessidade de tornar mais eficiente os processos de produção fez com que Frank apresentasse outras habilidades. Um inventor nato, ele foi responsável por criar e patentear o andaime vertical, que é amplamente utilizado ainda hoje. Desse modo, o trabalhador não precisava subir e descer escadas a todo momento, além de conseguir criar uma superfície mais segura e estável para realizar o seu trabalho, diminuindo o risco de acidentes.

Em 1904 ele casou-se com Lilian Gilbreth, que também era engenheira. Juntos, o casal formou não somente uma família, mas uma parceria atemporal dentro da história da administração. Frank estava com 26 anos quando casou-se com Lilian e compartilhou com sua companheira o processo de abertura de sua empresa, além de, anos mais tarde, fundaram, juntos, outro empreendimento. 

A experiência de ambos fez com que levassem a sua fórmula de eficiência para outros ramos, mostrando que existiam diferentes maneiras de aumentar a produção sem levar os trabalhadores até o ponto máximo de suas forças. Nesse sentido, considera-se que o trabalho do casal Gilbreth deu um sentido humano para o trabalho fabril, que até então, como nos prova a história, estava à margem dos processos de produção.

Em 1924, já consolidado no mundo dos negócios e sendo autor de diversos trabalhos acadêmicos sobre administração, Frank Gilbreth encontraria o final da sua existência através de um ataque cardíaco. Lilian ficaria sozinha no mundo sem seu fiel companheiro por mais quase meio século, tempo este que usou para continuar a desenvolver suas teorias. 

Mesmo com a morte precoce de Frank, o jovem que cresceu sem pai e tornou-se um homem de negócios marcou para sempre o mundo da administração, pois provou que a eficiência não é filha somente do esforço, mas principalmente da inteligência.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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