terça-feira, 29 de novembro de 2022

Carlos Slim Helú, o homem em que tudo que toca torna-se ouro

A mitologia grega é fascinante. Até os dias de hoje suas histórias e personagens nos rendem entretenimento e sábios ensinamentos. Os mitos, que em geral são vistos como um apanhado de histórias com pouco (ou nenhum) sentido, são fundamentais para aprendermos alguns ensinamentos colocados ao longo da vida. Um deles é o mito do rei Midas, que de tão próspero e prestativo ao deus Dionísio recebeu do próprio Deus o poder de tudo que tocasse se transformasse em ouro.

Esse poderoso talento, porém, revelou-se uma maldição. Midas não conseguia comer sozinho, muito menos tocar nas pessoas que sempre amou. Isolado, acabou seus dias na montanha de ouro que fez com seus poderes. A lição aqui, como podemos perceber, é bastante clara: nenhum preço do mundo pode comprar o afeto. A ganância, portanto, é um mal irremediável que nos leva a afastar-se daquilo que verdadeiramente importa.

Conto-lhe brevemente esse mito para podermos entender melhor a história de Carlos Slim Helú, um mexicano com pais imigrantes do Líbano que superou a limitação financeira de sua família e tornou-se um dos homens mais ricos do mundo. Não por acaso seu apelido no mundo financeiro é justamente “Midas”, por ser capaz de transformar qualquer negócio em um lucrativo empreendimento. Diferentemente do rei grego, porém, Carlos Slim não é uma pessoa solitária, entregue ao desejo de crescer seus recursos de maneira desenfreada, mas sim um homem que adora estar em família e aproveitar os bons momentos junto com as pessoas que ama.

Os primeiros passos de Carlos Slim

Antes de entrarmos nestes detalhes devemos conhecer um pouco da origem deste grande empreendedor. Carlos Slim nasceu em 1940, na Cidade do México, e desde cedo precisou lidar com o mundo do trabalho. Seu pai, Julian Slim, era proprietário de uma loja de artigos orientais e aos oito anos Carlos passou a ajudá-lo. Descendente de libaneses, um povo que em sua cultura valoriza o comércio e a mentalidade empreendedora, Carlos Slim foi doutrinado por seu pai ao longo de toda sua vida. Com seu pai Carlos aprendeu a guardar dinheiro para utilizá-lo na hora certa, a investir a longo prazo e tantos outros ensinamentos que lhe foi útil na sua vida adulta.

Aos 15 anos, imerso no mundo do comércio, Carlos já operava cadernos de contabilidade e tinha o seu primeiro negócio informal: vendia doces para seus primos e amigos. Apesar de parecer uma prática “inocente”, o que começou como uma brincadeira nada mais foi do que um exercício para aprender a gerenciar seus empreendimentos. Logo em seguida, ainda na fase da adolescência, com a ajuda de seu pai, ele conseguiu comprar e monitorar ações de banco, o que lhe deu grande experiência no mercado internacional da bolsa de valores.

A primeira empresa “séria” de Carlos foi uma imobiliária. Aprendendo os segredos da especulação, o empreendedor viveu da compra e venda de terrenos, casas e apartamentos entre os anos 1965 a 1969. Com apenas 27 anos Slim já acumulava não somente a expertise do seu ramo, mas era um veterano nas relações de trabalho. É claro que ele ainda teria muito a aprender, mas os seus primeiros sucessos demonstram a razão pela qual seu “apelido” no mundo dos negócios foi Midas.

Carlos Slim, tocando em negócios e transformando-os em ouro

Com o sucesso de seus investimentos, em uma década Carlos construiu seu patrimônio tendo uma série de empresas dos mais variados negócios. Além da imobiliária, por exemplo, Carlos possuía uma empresa de cigarros, uma fábrica e uma rede de restaurantes espalhada pelo México. Assim, sua fama de ser um excelente administrador foi crescendo, pois se já não é simples lidar com um segmento, imaginemos o quão mais difícil é entender as nuances de diferentes ramos de negócio, cada um com suas especificidades e necessidades.

É evidente, porém, que diversificar apresenta pontos positivos. Com a fluidez do mercado, sempre sujeito a variações internas e externas, diversificar seus investimentos pode ser uma excelente estratégia para manter-se crescendo apesar das circunstâncias. Enquanto um ou mais segmentos, por exemplo, mostram-se em baixa, outros ramos são favorecidos pela mesma situação, fazendo seu lucro compensar as perdas ocorridas em outros empreendimentos.

Nesse sentido, a estratégia de Carlos Slim foi altamente eficaz. Porém, seu principal investimento, o que o tornaria verdadeiramente famoso (e rico) só foi adquirido nos anos 1990, quando Slim aproximava-se dos 40 anos. Ao comprar a BMmex, um sistema de telefonia usado no México, Carlos não só aproveitou o momento de recessão econômica do país e investiu fortemente em sua nova empresa. 

Ao longo dos anos 1990 e 2000, como sabemos, o acesso a telefones ficou cada vez mais amplo, o que tornava a demanda da BMmex gigantesca. Em seu auge, por exemplo, dizem os especialistas, que a fortuna de Carlos Slim chegou a ser metade do PIB do México. Para termos um pouco de noção do que isso significa, imaginemos que algumas empresas, nas mãos de um único homem, poderia levar (ou retirar) o país de uma crise econômica.

A Telmex, como ficou conhecida sua empresa de telefonia, alcançou 90% dos mexicanos, um número tão impressionante que praticamente não existia concorrentes à altura dos negócios de Carlos Slim. O empreendedor, com seu espírito de inovação e busca de novos mercados, passou a investir e comprar empresas de telefonia de toda a América Central, ampliando seu mercado. Assim começava um verdadeiro monopólio pela telefonia nas mais distintas regiões, desde a Guatemala até Porto Rico e a Argentina. 

Slim, como podemos imaginar, saiu vitorioso dessas experiências, não por se tornar grande em cada um destes países, mas por ter ganhado uma vivência internacional em seus negócios, lhe dando uma expertise que ainda faltava-lhe.

Com essa projeção, Slim foi expandindo os negócios e chegou a ser dono de empresas brasileiras como a Claro e a Embratel, ambas com excelente público no Brasil. Tais feitos, em meio a tantas outras conquistas econômicas, rendeu aos admiradores do empreendedor o fato dele nunca ter tomado decisões equivocadas em seus negócios.

Parece-nos, à primeira vista, que tudo foi “fácil” de conquistar, mas certamente essa é apenas a ponta do iceberg e nossa visão, limitada e distante da realidade, não consegue imaginar o esforço feito por Carlos Slim para deixar suas empresas no patamar atual. Certamente erros foram cometidos, afinal, muitas vezes aprendemos através deles, porém, o diferencial de Slim é o fato de nenhum destes equívocos serem grandes o suficientes para colocar em jogo suas operações.

Sendo assim, ainda hoje, com quase 82 anos, Carlos Slim não é somente um dos homens mais ricos do mundo, mas também apresenta um forte valor humano em si. Não preocupa-se, por exemplo, em “ostentar” com bens materiais, veste-se de maneira comum e sem chamar atenção. Também não busca os holofotes da mídia a todo momento, muito menos preocupa-se em aparecer em capas de revista. Esse modo de vida humilde foi forjado por seus pais no começo de sua criação e o empreendedor carrega consigo até hoje. Assim, Slim segue a educação que lhe foi fornecida, sendo um ótimo exemplo de como os valores devem ser carregados conosco ao longo da nossa existência.

Por não deixar corromper-se pela ganância e ser bem sucedido nos seus empreendimentos é que considero Carlos Slim um dos grandes empreendedores da história e por ser o primeiro empreendedor em vida que escrevo este ensaio.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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