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terça-feira, 16 de abril de 2024

Coimbatore Krishnarao Prahalad e a nova era da inovação


Uma das características marcantes do nosso tempo é a inovação. Apesar de ser uma virtude utilizada desde sempre na história da humanidade, nunca se falou - e buscou - tanto a inovação como nos dias atuais. Não por acaso esse é um valor buscado por inúmeras empresas, uma vez que dentro de um mercado cada vez mais competitivo é fundamental estar sempre um passo à frente, liderando novas descobertas, técnicas e maneiras de apresentar seu produto, serviço ou negócio.

Quando pensamos sobre a palavra inovação precisamos considerar sua origem e assim entenderemos seu real significado. Advinda do latim, “inovação” deriva do verbo latino "innovare", que significa "renovar", "mudar", "introduzir algo novo" ou "fazer algo de maneira diferente". Em um mundo que a cada dia expande seus horizontes através da tecnologia é natural que inovar seja uma ideia-base dentro da formação dos indivíduos e empresas. Devido a velocidade das mudanças e a necessidade de se reposicionar no mercado, a inovação invadiu não apenas a prática empresarial, mas também o campo da administração e fez surgir novos modelos de gestão e construção de saberes.

Um dos pais dessa nova forma de enxergar a inovação foi Coimbatore Krishnarao Prahalad, ou simplesmente C.K Prahalad como ficou conhecido. Prahalad foi um importante teórico da administração que revolucionou essa ciência no final do século XX e hoje conheceremos um pouco mais de sua trajetória.

Os primeiros passos de Prahalad: da Índia aos Estados Unidos


A história de C.K. Prahalad começa em 1941, na Índia. Nascido na região de Tamil Nadu, o mundo que Prahalad conheceu em sua infância era distinto do atual. A Índia ainda estava sob controle britânico e as bombas caíam na Europa, mas isso pouco afetou sua vida. A bem da verdade, Prahalad nasceu em uma família de classe média na populosa Índia e destacou-se pela sua dedicação aos estudos.

Em 1947 a Índia conseguiu sua independência, assim, Prahalad foi a primeira geração a crescer em um país livre depois de um século de controle britânico. Ainda assim, a mistura de culturas era algo inegável e Prahalad aprendeu tanto seu idioma natal como o Inglês, que o ajudaria nos anos 1960 quando atravessou o mundo para seguir sua carreira profissional.

Esse destaque se faz necessário para entendermos a complexa dinâmica em que esse teórico estava inserido e como tais aspectos influenciaram sua trajetória. Como estudante, Prahalad dedicou-se inicialmente à carreira de engenheiro. Formou-se com honras em Engenharia Mecânica pela Universidade de Madras, uma das mais antigas e bem conceituadas de toda a Índia.

Após a conclusão de sua graduação, Prahalad decidiu redirecionar sua rota e fez um mestrado em administração de empresas, saindo um pouco da lógica da engenharia. Apesar da mudança, não devemos entender que a escolha pela administração foi por acaso, afinal, um engenheiro, em grande parte, é um gestor de projetos e de execução. Desse modo, podemos conjecturar que o interesse de Prahalad não estava necessariamente nos cálculos e na física aplicada da engenharia, mas sim na parte de criação e gestão, pontos em comum com a administração.

Sua trajetória acadêmica como estudante não estava finalizada. Nos anos 1960 Prahalad fez seu doutorado na universidade de Harvard, o que dispensa comentários. Seu doutorado também estava voltado para a administração de empresas e logo após sua conclusão estava nítido que sua vida a partir daquele momento estaria ligada ao solo americano. Em 1966, ele ingressou na Universidade de Michigan, onde passou a maior parte de sua vida profissional. Lá, Prahalad se destacou como professor e pesquisador, e suas ideias inovadoras influenciaram a administração de empresas em todo o mundo. Vamos conhecer algumas dessas teorias agora.

A inovação como motor de uma empresa competitiva


O pensamento de C.K. Prahalad está diretamente ligado com a inovação e na percepção das mudanças de mercado. Além disso, a inovação deve estar ligada a um outro conceito no qual Prahalad chamou de “competência essencial”. A grosso modo, competência essencial nada mais é do que um conjunto de habilidades ou tecnologias que permitem à empresa oferecer um serviço ou produto distinto para o seu cliente. À medida em que a tecnologia ou uma nova habilidade é construída/desenvolvida, essa competência essencial também se modifica, gerando uma nova possibilidade na relação da empresa com seus clientes.

Dentro dessa forma de pensamento, a inovação é essencial para manter-se sempre construindo novas competências essenciais, dando a uma empresa um grau de competitividade e deixando sua marca no mercado. Para Prahalad, um gestor de empresas jamais pode abrir mão desses dois conceitos, que caminham de mãos dadas. Porém, mais do que apenas a inovação e competência essencial, Prahalad aponta também qual deve ser o público alvo principal de uma empresa: a base da pirâmide.

Para entendermos a ideia de “base da pirâmide” é preciso conhecermos que a sociedade em que vivemos pode ser analisada através de uma estratificação social, ou seja, que há camadas (ou classes) sociais, no qual a “base da pirâmide” nada mais é do que a população mais carente, no qual possuem pouco capital. Aqui vem uma grande “virada” de chave feita por Prahalad, no qual fez com que alcançasse o patamar de um dos pais da administração.

Até a sua teoria, uma empresa, em geral, tinha como lógica a buscar oferecer produtos ou serviços, majoritariamente, para as camadas mais altas dessa pirâmide social, afinal, era nesse grupo que se concentrava o capital. Porém, o pensamento de Prahalad vai além dessa simples lógica e reflete sobre a necessidade de construir produtos e serviços para a base da pirâmide, que possam consumir e tornar mais popular sua empresa, gerando o capital a partir da grande demanda desse público.

Um exemplo clássico dessa lógica é a Uber, que aplicando a lógica de competência essencial (graças a tecnologia de aplicativos para celulares) e base da pirâmide se tornou um fenômeno de sucesso internacional. Ao colocar taxas populares, o lucro da empresa se deu pela sua popularização e sua inovação frente aos concorrentes. Esse é um exemplo prático de como a “previsão” de Prahalad sobre a administração de empresas a partir desses conceitos estava correta.

Outra grande “previsão” de C.K. Prahalad estava na sustentabilidade. Apesar de ser uma temática debatida em políticas internacionais desde os anos 1980, no mundo empresarial o tema se tornou relevante somente no século XXI. Hoje grande parte das empresas, principalmente as de porte internacional, praticam uma política séria de sustentabilidade, com práticas de redução de carbono e economia circular. Porém, ainda no final do século XX Prahalad já investigava sobre essa demanda e apontava que uma empresa só poderia continuar crescendo se a sustentabilidade estivesse em um dos seus pilares. Nesse aspecto, Prahalad anteviu o que décadas mais tarde se tornaria uma política quase obrigatória das empresas. Para o pai da administração, a causa sustentável era importante não somente pela política ambiental, mas porque a empresa do século XXI deveria ser pensada de forma estratégica, sem desperdícios e que pudesse, ao mesmo tempo, gerar o mínimo de resíduos ou danos.

Assim, dentro dessa perspectiva, tudo deveria (se possível) ser aproveitado dentro dos diferentes processos da empresa. Dentro dessa perspectiva a inovação, mais uma vez, ganhava o protagonismo dentro da gestão empresarial, sendo uma peça chave em todos os aspectos da empresa.

O legado de C.K Prahalad

Além dos conceitos que norteiam grande parte da administração de empresas atuais, C.K Prahalad deixou um legado ao formar milhares de administradores ao longo de quatro décadas. Como professor nunca abandonou o incentivo ao estudo e a pesquisa, conseguindo gerenciar muito bem a carreira de escritor, palestrante e instrutor.

Mesmo quem não pôde conhecê-lo em vida tem a oportunidade de beber do seu conhecimento através de artigos científicos, divulgações em revistas e seus livros. Sobre sua obra, C.K Prahalad participou de diferentes livros, mas a essência do seu pensamento pode ser encontrada em “A Competência Essencial da Corporação", “A nova era da inovação” e “A Fortuna na Base da Pirâmide: Erradicando a Pobreza por Meio dos Lucros”.

O reconhecimento da sua obra veio ainda em vida, tanto pelo lado acadêmico como também pela vida pública de Prahalad. O governo indiano, por exemplo, concedeu a esse grande teórico da administração a medalha “Padma Bhushan”, um reconhecimento cívico dado a quem dedicou sua vida a levar orgulho para a nação indiana. Sem dúvidas tornar-se um dos pilares da administração moderna é algo extremamente raro e importante de ser reconhecido.

Já no mundo acadêmico C.K Prahalad ganhou diversos prêmios. Entre eles cabe destacar o McKinsey Prize, dado apenas aos melhores artigos publicados pela Harvard Business Review. Essa premiação simboliza o reconhecimento das universidades frente às teorias de Prahalad e sua contribuição para uma gestão moderna, voltada para as necessidades e desafios do nosso tempo.

Outro prêmio que também revela a importância de C.K Prahalad em nosso tempo foi o Herbert Simon Award. Criado em 2004, Prahalad foi premiado em 2009 pela sua contribuição em resolver problemas práticos da gestão empresarial. Tais premiações vão além de um reconhecimento, mas mostram o valor das teorias desse pai da administração e seu legado forjado ao longo de décadas de estudos, previsões e vivência empresarial.

C.K Prahalad deixou essa existência em 2010, aos 68 anos de idade. Mesmo com sua partida suas ideias seguem vivas e nos influenciam até os dias atuais. Por tantas contribuições e inspirações dedicamos a esse grande pensador indiano o título de “pai da administração”.

Bom trabalho e grande abraço!
Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 19 de março de 2024

Linda Hill e a genialidade coletiva


Linda A. Hill, nascida em 1956 nos Estados Unidos, é uma professora de administração de negócios e escritora, nascida nos Estados Unidos. Conhecida por suas contribuições na área de liderança, inovação e empreendedorismo, obteve seu Ph.D. em Comportamento Organizacional pela Universidade de Yale. Hill é autora de vários livros e artigos acadêmicos influentes sobre liderança e gestão de negócios e presidente da Leadership Initiative.


Segundo a professora, não tem como falar sobre inovação sem falar sobre diversidade e conflitos. Se você busca inovação, deve colocar ideias contrárias na mesa para poder chegar a grandes soluções, a diversidade na forma de pensar e opinar é o que faz a diferença no resultado final.


O bom líder deve querer ampliar as diferenças em sua organização e não minimizá-las. O verdadeiro aprendizado surgirá da harmonia nas diferenças. Veja a natureza como exemplo: um oceano, uma floresta ou até mesmo o corpo humano. Esses ‘ambientes’ funcionam a partir de milhares de componentes diferentes que se inter relacionam em busca do equilíbrio e harmonia. Quantas células diferentes existem num corpo humano? Quantas espécies de plantas e animais numa floresta? A diferença pode sim se harmonizar em equilíbrio. Um ambiente empresarial deve se estruturar do mesmo jeito. Nenhum líder conseguirá resultados se fizer tudo só, a equipe a sua volta será o grande diferencial.


Vamos adentrar um pouco mais nas teorias da professora Linda Hall e entender de forma inovadora suas ideias sobre inovação, liderança e empreendedorismo.


Linda Hill e sua obra


Apesar de ter bastante visibilidade no mundo dos negócios, Linda é privada com relação a sua vida pessoal. Sua biografia de forma geral ainda não é amplamente divulgada. São raras as fontes que mencionam sua família, criação e trajetória de vida.


Uma característica pessoal que a autora destaca é a curiosidade. Afirma ser uma pessoa extremamente curiosa, não só sobre a vida, mas também as pessoas e os processos à sua volta. Graças a sua curiosidade, ela consegue aprender todos os dias. Sempre quando vemos pessoas que deixam suas marcas no mundo, nos perguntamos o que elas fizeram. No caso de Linda, ela diariamente se determina a aprender algo novo, sem esquemas, sem definições prévias do que quer ou não, sem preferências, apenas se compromete a terminar os dias com um aprendizado.


Imaginemos essa postura em nossas vidas, como seriam diferentes nossas ações se nos comprometemos diariamente a adquirir um novo aprendizado? Quantas respostas um empreendedor não teria para o seu negócio se conseguisse essa meta diária? Como diria Leonardo da Vinci: “Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.”


Dentro de suas aulas de MBA na Harvard Business School, a professora destaca-se por estudar líderes e suas equipes. Ela contata alunos ex-alunos e pede para visitá-los e acompanhá-los em seus trabalhos, pois não existe liderança solitária, não existe trabalho bem feito apenas por uma pessoa, sempre há um time por trás. Qualquer pessoa que acredite que pode executar algo sem o apoio significativo de outros executivos, o diretor de tecnologia, diretor de inovação, diretor de recursos humanos e etc, não consegue chegar muito longe, o resultado não é positivo.


Num dos seus vídeos mais famosos do Youtube, a professora falou num TEDx sobre inovação e criatividade através do exemplo coletado pelos estúdios PIXAR. Ela entrevistou os designers, animadores, diretores, toda a equipe, para entender o fluxo de trabalho da empresa. Também destaca muito a necessidade de realidade no aprendizado sobre liderança, pois nem tudo são flores.


Um exemplo citado por Linda é de seu aluno Michael Ku que fez um trabalho sobre a transformação digital. A professora pediu para acompanhá-lo durante sua proposta de transformação e descobriu que ele era o chefe da cadeia de abastecimento global da Pfizer. O resultado foi um acompanhamento de 6 anos que trouxe todos os pontos de melhoria para um trabalho rápido e urgente quando chegou a vacina para a covid-19. Como ela mesma cita: “O que eu realmente gosto quando acompanho alguém ao longo do tempo é que você não sabe realmente quais serão as reviravoltas da história que surgirão.”


Todo este drama reflete as complexidades do ser humano e das escolhas que fazemos e é isso o que ela mais ama trabalhar e desenvolver.


Linda Hill é autora de vários livros e artigos sobre liderança e gerenciamento, porém nenhum ainda foi traduzido para o português. Dois de seus livros são: "Gênio Coletivo: A Arte e a Prática de Liderar a Inovação, que examina como líderes podem cultivar a inovação em suas organizações, e "Tornando-se um Gerente: Como os Novos Gerentes Dominam os Desafios da Liderança”, que aborda as transições que os gerentes enfrentam ao assumirem novas funções de liderança. O seu livro Gênio Coletivo entrou na lista em 2022 dos clássicos livros para ler sobre gerenciamento e liderança.


Dentro da Harvard Business School há também uma revista de mesmo nome que publica artigos e casos sobre os mais diversos assuntos. Diversas vezes a professora Hill teve seus casos publicados nas revistas HBR , incluindo as edições com casos mais lidos.


Atualmente, a professora é co-fundadora da Paradox Strategies, um centro de pesquisa em liderança e consultoria estratégica e co-criadora da Innovation Quotient, uma ferramenta para liderança inovadora num mundo em transformação.


O poder da diferenciação


Linda Hill sempre reforça a ideia de que se você quer ver inovação, deve buscar a diversidade e diferenciação de ideias. Fundamentalmente, como líder, se você deseja inovação, deve amplificar as diferenças em sua organização e não minimizá-las. Quantos casos já vimos de empregadores que mantém apenas os funcionários que pensam da mesma forma que ele? Quantos conselhos e diretorias são formados por cópias do presidente? Em casos assim, devemos avaliar o alcance que essas empresas tiveram, o crescimento, lucro… na natureza nada é idêntico, uma rosa não nasce igual a outra, o mesmo ocorre com o pensamento humano.


Prêmios


O Thinkers50 é uma lista e plataforma que reconhece e classifica os principais pensadores e autores nas áreas de negócios e gestão. Lançado em 2001, realiza uma pesquisa abrangente a cada dois anos para identificar os principais pensadores e contribuidores para a teoria e prática de negócios em todo o mundo. Esta lista classifica os indivíduos com base em sua influência, originalidade, impacto global e contribuições para o campo da administração e gestão de empresas.


A professora Hill foi indicada diversas vezes para esta lista, colocando-se em 10ª posição no ano de 2021. Em 2015 também recebeu o prêmio de Inovação pelo seu trabalho no livro “Collective Genius”.


O legado de Linda Hill


Para além dos livros, MBAs e artigos publicados, podemos afirmar que o legado de Linda Hill se encontra no seu esforço em inovar a ideia de inovação. Por mais paradoxo que seja, há quanto tempo muitos falam sobre inovação? Há quanto tempo temos milhares de profissionais com suas teorias sobre liderança?


Seu grande diferencial foi pensar fora da caixa. Enquanto comumente se trabalha muito a questão das qualidades de um bom líder, pouco se fala na equipe em que o líder está inserido. A genialidade coletiva, como cita a professora Hill, é onde encontramos a chave do problema.


Num mundo em constante transformação, em que os problemas aparecem de formas mais inusitadas e inesperadas possíveis, num mundo com uma população cada vez maior e novas profissões surgindo a cada ano, a resposta dos problemas não estará na individualidade e sim na coletividade. Saber unir, agregar e harmonizar as diferenças.

 

Pensamentos diferentes existem em todos os locais hoje, mas saber uni-los e transformá-los em algo melhor do que antes, aí que está a arte do líder. Aí sim podemos afirmar que houve um gerenciamento de ideias que potencializa o grupo.


A dica que damos para os empreendedores e gestores, é de não focar somente em seus defeitos e qualidades que precisam ser aperfeiçoadas, mas sim em saber harmonizar as diferentes formas de pensar.


Bom Trabalho e Grande Abraço!


Prof. Adm. Rafael José Pôncio





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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Paul R. Lawrence, o gigante do comportamento organizacional

Paul R. Lawrence foi um professor amado por seus alunos, colegas de trabalho e contribuiu para lançar as bases sobre os estudos acerca do aspecto humano das organizações. Seus estudos mudaram a forma como se encara o comportamento organizacional e jogou luz sobre o tema em uma época em que as relações de trabalho mudavam rapidamente, assim como acontece hoje.

Além de um grande teórico, estudioso e professor, Lawrence foi também amigo, companheiro e mentor dos seus alunos, um caso raro de sucesso na vida privada e profissional. Lawrence se tornou uma inspiração enquanto ser humano para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele.

A sua trajetória profissional foi marcada especialmente por sua presença nas universidades, em especial em Harvard, onde fez um MBA e ganhou o grau de PhD. Contudo, Lawrence não se contentou em ficar apenas na academia - o que já seria muito - e também atuou na direção de grandes empresas, como diretor da Millipore Corporation, de 1975 a 1993 , e de 1991 a 1995 diretor da Hollingsworth & Vose Paper. Dessa maneira mostrou como unir suas pesquisas e estudos sobre comportamento organizacional com a prática.

Sua principal teoria diz respeito à ideia de que não existe receita única ou fórmula mágica quando se trata de cultura organizacional eficiente. Partindo desse pressuposto, cada estrutura vai encontrar sua melhor forma, apesar de que alguns processos possam ser comuns a muitas organizações.

Para entender melhor sobre Lawrence e suas principais ideias, vamos à sua vida e obra que valem a pena ser conhecidas. 

Quem foi Paul R. Lawrence? 

Paul R. Lawrence nasceu em 26 de abril de 1922, em New Rochelle, Illinois, Estados Unidos, porém muito novo migrou para Grand Rapids, onde passou parte da infância juventude. Desde muito cedo Lawrence se destacou nos estudos e passou a desenvolver suas potencialidades dentro do meio acadêmico.

Lawrence contou com o exemplo do seu pai, um empenhado funcionário público que cujo trabalho contribuiu para reequilibrar as contas dos bancos de Michigan durante a Grande Depressão. Dentro de casa, seus pais lhe passaram valores humanos como generosidade, altruísmo e humildade que Lawrence levou por toda sua vida.

Conta-se que durante a juventude presenciou uma série de conflitos entre os trabalhadores e a indústria automobilística, esse contexto o levou a questionar como poderia contribuir para a solução desses conflitos que que não se restringiam às fábricas de automóveis. A busca por uma resposta para os confrontos que presenciou nortearam seus estudos durante toda a vida. Assim, a tentativa de encontrar uma solução para este dilema o levou a ser um dos pioneiros no desenvolvimento das teorias sobre as relações de trabalho e construção de culturas organizacionais fortes e sadias que são estudadas até hoje.

Já na Universidade, sua formação acadêmica começou na Albion College, quando se formou bacharel em 1943. Poucos anos depois Lawrence dava início a sua longeva e bem sucedida carreira de estudos e pesquisas na Universidade de Harvard, inicialmente com o MBA em 1947, o doutorado em ciência comercial foi obtido em 1950, também pela Harvard Business School.

A carreira de Lawrence em Harvard como professor andou rápido e logo após concluir o MBA em 1947 ingressou nos quadros da universidade como professor, ao mesmo tempo em que estudava como doutorando. Em 1950 foi promovido a professor assistente e no ano de 1956 a professor associado. Lawrence foi por fim promovido a professor titular em 1960. Lawrence se destacou por suas teorias e sua extensa produção acadêmica, ao longo dos anos escreveu 26 livros e dezenas de artigos. Alguns de seus livros e artigos ganharam prêmios e seus estudos compõem a grade curricular de cursos de gestão, administração e pós-graduações.

Em que pese seu perfil eminentemente acadêmico, Lawrence não negligenciou a importância da prática para um aprendizado mais completo, assim, ele sabia que tinha diante de si uma excelente oportunidade de campo, quando conseguiu um emprego na Chevrolet Gear and Axle, na linha de montagem.

Na visão de Lawrence essa era a oportunidade perfeita para o desenvolvimento dos seus estudos sobre o comportamento das organizações, pois estava inserido dentro de um contexto “chão de fábrica”. 

Principais teorias de Paul Lawrence 

Em 1967 Lawrence lançou em conjunto o livro Organization and Environment, que até hoje é considerado por muitos uma pérola da gestão administrativa uma vez que fundamentou as bases das teorias sobre o comportamento das organizações.

Nesse estudo, Paul Lawrence e Jay Lorsch desenvolveram a teoria de que não existe receita pronta quando se trata de dar vida ao funcionamento de uma organização. Para Lawrence, as organizações mais bem sucedidas se organizam levando em consideração o mercado, a tecnologia a disposição e a natureza da sua atividade.

Aqui temos um importante ensinamento: cada organização deve buscar conhecer-se para encontrar as formas que funcionam melhor para elas. Apesar de parecer óbvio, muitos líderes buscam fórmulas mágicas para o sucesso de suas organizações, espelhando modelos que em nada tem a ver com as estruturas que administram.

Ao longo dos anos, Lawrence desenvolveu estudos e pesquisas nas mais diversas áreas. Seus estudos abordaram temas complexos como a questão racial e de governança urbana, assistência médica e gestão de pesquisa. Com seu colega Stanley Davis desenvolveu o trabalho sobre organizações matriciais e, juntamente com Arthur Turner, abriu espaço para as pesquisas sobre design de cargos e equipes de trabalho.

Na década de 80, os esforços de Lawrence o direcionaram a entender outras formas de organização comportamental fora dos Estados Unidos, assim, escreveu em 1983 Renewing American Industry, quando fez pesquisas para entender a metodologia de trabalho japonesa que estava deixando a indústria americana para trás.

Em 1987, foi a vez de focar na indústria soviética por ocasião da Glasnost que proporcionou uma visão interna de suas práticas. Lawrence e Charalambos Vlachoutsicos realizaram um estudo comparado das práticas americanas e soviéticas, como o consequência, o estudo possibilitou que gerentes americanos e russos pudessem compreender melhor um ao outro, bem como lançou as bases para que fosse possível desenvolver empreendimentos comerciais entre os dois lados.

Um ponto marcante durante a trajetória de Lawrence dentro da academia diz respeito à forma como realizava suas pesquisas. Para Lawrence toda pesquisa deveria ter como fundamento responder a um problema relevante e importante dentro da área de estudo. Esse aspecto nos revela uma mentalidade bastante prática e conectada às demais cotidianas.

Quando já passava dos 80 anos, Lawrence desenvolveu a sua última teoria, a respeito da unificação do comportamento humano, para o trabalho que resultou no livro Driven: How Human Nature Shapes Our Choices, escrito em parceria com Nitin Nohria, Lawrence resgatou ensinamentos e teses das obras de Charles Darwin.

Paul R. Lawrence foi um intelectual, professor produtivo e bondoso para todos que procuraram seus conselhos e melhor entendimento sobre suas teorias. A seguir veremos um pouco mais do legado deixado por Lawrence. 

O legado de Lawrence 

Para nós, a característica mais marcante de Paul Lawrence foi ter sido uma pessoa que buscava a excelência em todos os aspectos da sua vida. Lawrence não apenas foi um professor e teórico entre os melhores que já passaram pela Harvard Business School, como também foi alguém notavelmente humilde e generoso com amigos e alunos.

Por toda sua trajetória de vida profissional e pessoal é de se esperar que Lawrence tenha ganho prêmios e reconhecimentos ao longo da sua vida, alguns deles merecem destaque: 

  • 18 anos seguidos lecionando no MBA da HBS; 

  • Lawrence foi presidente do programa de MBA do programa de Gestão Avançada e chefe da Unidade de Comportamento Organizacional; 

  • Autor e coautor de mais de 50 estudos de casos;

  • Foi nomeado como Distinguished Contributor pela North American Case Research Association;

  • Foi membro da Academy of Management;  - Foi nomeado professor Wallace Brett Donham Professor of Organizational Behavior. 

Em um mundo cada vez mais mutante e após a pandemia do COVID-19, que chacoalhou a forma como as empresas produzem e as modalidades de trabalho, os estudos de Lawrence sobre as formas como as empresas se organizam para executar suas funções se tornou ainda mais relevante. Visto isso, é inegável que Paul R. Lawrence será para muitas gerações de alunos lembrado como um professor genial e humilde, sempre disposto a contribuir com a formação das pessoas. As futuras gerações poderão voltar ao seu legado para seguir construindo organizações que reflitam o espírito do homem moderno. Bom trabalho e grande abraço. Prof. Adm. Rafael José Pôncio


terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Max Weber e a sociologia moderna


Conhecido como o pai da sociologia moderna, Max Weber, personalidade que estudaremos hoje, foi além da sociologia. Seu campo de estudos abrangeu da economia à teologia, na busca por compreender as ações humanas, suas motivações e, por conseguinte, a formação da sociedade pós-industrial como conhecemos hoje.
A trajetória de vida de Max Weber foi bastante comum. Passou por altos e baixos na esfera pessoal e profissional, como acontece com todos nós. Sem nenhum ponto de maior destaque na vida pessoal, de Weber destaca-se sua produção acadêmica que segue viva 100 anos após o seu falecimento, em 1920, sendo objeto de estudo para milhares ao redor do mundo.
Weber foi um pesquisador e teórico acadêmico por excelência, dedicou boa parte da sua vida aos estudos e pesquisas acerca das motivações dos indivíduos, o que posteriormente chamou de Teoria dos Tipos Ideais. Sua metodologia se diferenciava das metodologias tradicionais das ciências exatas por considerar aspectos subjetivos, como consciência, vontade e as motivações dos indivíduos.
O contexto em que Weber estava inserido foi decisivo para os rumos dos seus estudos. Weber presenciou a unificação da Alemanha promovida por Otto Von Bismarck, além do processo de industrialização da Europa. Foi influenciado por grandes nomes como Immanuel Kant e Benjamin Franklin. A seguir, veremos como todos esses fatores contribuíram para tornar Max Weber um dos grandes nomes do século XX.

Quem foi Max Weber?

O personagem da vez é Max Weber ou Karl Emil Maximilian Weber, como ele foi registrado. Weber nasceu na cidade de Efurt, na Alemanha, no dia 21 de abril de 1864. Filho de um advogado de sucesso, Weber trilhou os caminhos do pai ao cursar Direito, porém os seus estudos o levaram à pesquisa acadêmica e não para a advocacia. 
Como mencionado, Weber nasceu no auge do desenvolvimento da Revolução Industrial e surgimento das grandes fábricas e urbanização da Europa. Além disso, o seu país, a Alemanha, estava sendo formada sob a influência do protestantismo, o que também foi objeto de estudo de Weber. 
A Alemanha, acompanhada dos Países Baixos, Inglaterra, França e partes da Itália, ditavam o ritmo da Revolução Industrial na Europa. Nesse contexto foram desenvolvidos diversos estudos acerca das relações de produção, empregado e empregador, encabeçados por Marx. Décadas antes, a corrente positivista capitaneada por Auguste Comte dava força ao empirismo metodológico, vertente oposta à desenvolvida por Weber em seus estudos, os quais consideravam elementos subjetivos, como a consciência e a vontade. 
Em relação à sua infância, Weber teve uma educação rígida com foco nos estudos, e com forte influência da religião protestante, da sua família. O incentivo na infância levou Weber a iniciar os estudos no curso de Direito da Universidade de Heidelberg, em 1882. Ressalta-se que em paralelo aos estudos jurídicos Weber estudou teologia, economia e sociologia, ramo que o consagrou.
Com apenas 25 anos Weber recebeu o título de PhD. em Direito pela Universidade de Berlin, e foi nomeado professor da Universidade de Freiburg, em 1893.
O começo da carreira de Weber lhe trouxe momentos de angústia, pois, na condição de estudante, dependia financeiramente do seu pai, o que lhe desagradava. Além disso, teve que adiar os planos de casamento com Marianne Schnitger, escritora e feminista, que só se realizou em 1894, quando Weber conseguiu um emprego estável. 
Curiosamente, essa situação se tornou potencialmente traumática para Weber, pois anos antes um dos seus amigos havia pedido Marianne em casamento, mesmo após Weber ter demonstrado intenções de se relacionar com ela. Weber e Marianne casaram e permaneceram juntos até o falecimento de Weber, em 1920.
Após o falecimento de Weber, Marianne com quem era casado, ficou responsável por preservar a sua obra. Foi ela que realizou as publicações póstumas das obras: "Economia e sociedade” em 1921, “A metodologia das ciências sociais”, no ano de 1922, e no ano seguinte, em 1923, a obra “História econômica geral”. Graças a Marianne o legado de Weber foi melhor preservado e algumas das suas ideias puderam vir a público após sua morte.
Ainda no aspecto pessoal, a trajetória de Weber conta com períodos de depressão após o falecimento do seu pai. Os relatos da época dão conta do grande incômodo de Weber em não conseguir produzir em função do seu estado emocional, tendo, inclusive, se afastado das suas funções enquanto professor.
Apesar das dificuldades em lidar com a perda do pai, Weber recebe apoio da Universidade de Heidelberg que o declara professor honorário, dando-lhe condições especiais de retorno ao trabalho de forma gradual, para que pudesse se restabelecer emocionalmente.
Os esforços da sua universidade dão certo e paulatinamente Weber retorna às atividades na universidade. Neste momento, Weber começa a escrever de forma vigorosa. A sua mais famosa obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo” foi publicada em 1905.
No âmbito da política, destaca-se o posicionamento de Weber em relação à Primeira Guerra Mundial. Weber era contrário ao plano expansionista alemão. Por seu posicionamento foi convidado ao fim da guerra para representar a Alemanha nas conferências que antecederam o Tratado de Versailles.
Após o fim da guerra, Weber foi convidado para atuar como membro da comissão que escreveu a Constituição de Weimar. O documento oficializou o começo do período republicado da Alemanha, chamado de República de Weimar.
Weber faleceria no mesmo ano em 1920, com 56 anos, vítima de uma pneumonia.

As teorias e estudos de Weber

Weber desenvolveu seus estudos na sociologia abarcando o capitalismo e o protestantismo. Para Weber existia uma forte relação entre o maior desenvolvimento industrial e econômico dos países que tinham como religião principal o protestantismo, por exemplo os Estados Unidos, a Inglaterra e a própria Alemanha.
Para Weber, o método capitalista teria sido aperfeiçoado pelo protestantismo. Assim, os seus estudos buscam entender como a prática da ética protestante impacta as relações na sociedade em que foram absorvidas, em especial na forma como essas sociedades produzem e geram riquezas.
Como já citado, Weber desenvolveu a teoria que chamou de “Teoria da Ação Social”. Para Weber as ações dos indivíduos deveriam ser consideradas na sua individualidade, portanto, aspectos subjetivos deveriam ser considerados.
Weber classifica as ações sociais em 4 categorias, são elas:
1. Ação social racional com relação a fins: É o tipo de ação pensada e voltado para se atingir a uma finalidade;
2. Ação social racional com relação a valores: Visa atingir algum tipo de valor moral, aquilo que a moral entende por correto;
3. Ação social tradicional: é o tipo de ação condicionada pelos costumes sociais. Não é necessariamente racional;
4. Ação social afetiva: não é racional. Segue os comandos da afetividade e das emoções e sentimentos.
Max Weber ainda desenvolveu estudos nas linhas da sociologia política, o que seria natural em função da sua formação jurídica. No ramo da política Weber fala da “Teoria da Dominação”, o que corresponde aos modos do poder existir. Ele cita a dominação legal, a dominação tradicional e a dominação carismática. 

O legado de Weber na história

Apesar de ser mais conhecido como o pai da sociologia moderna, Max Weber deixou um legado que extrapola os limites da sociologia, além de estudar as relações entre o capitalismo e o protestantismo, também desenvolveu aspectos da metodologia considerando o sujeito enquanto indivíduo.
Não poderíamos terminar sem citar as obras escritas por Weber, foram elas: 
- "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" (1905); 
- "Economia e sociedade” (1910);
- “A ciência como vocação” (1917); 
- “Economia e sociedade’, segundo volume, obra póstuma (1921); 
- “A metodologia das ciências sociais”, obra póstuma, (1922), e; 
- “História econômica geral”, obra póstuma, (1923).
O mais provável é que as futuras gerações sigam estudando Weber, na busca por aprender com suas teorias sociológicas e políticas que ajudaram a entender a formação da sociedade ocidental, industrial e protestante.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio


  Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.