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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Willem Usselincx, o holandês que navegou pelos mares do livre comércio

Muitos de nós entendemos que empreender envolve, em grande parte, arriscar-se. Nunca se sabe, mesmo com todos os cálculos e previsões, se os negócios irão ser bem sucedidos, visto que no jogo da economia há uma série de variáveis que não estão sob o nosso controle. Mesmo assim, as incertezas jamais foram capazes de parar os homens e mulheres com espírito empreendedor, uma vez que correr riscos faz parte de qualquer investimento.

Frente a isso, se considerarmos apenas esse elemento para procurarmos por grandes empreendedores ao longo da história, certamente nossos olhos se voltariam aos séculos XVI e XVII. Isso porque o momento histórico em que viveram estava imerso em um universo de transformações políticas, sociais, religiosas e econômicas. O nascente capitalismo mercantil, por exemplo, passava a ditar as regras dos recém formados reinos europeus, com nítida vantagem para Portugal e Espanha, que já lançavam-se ao “Novo Mundo” para conquistar os tesouros da América. Por outro lado, a reforma protestante fazia com que novos cristãos, advindos de uma perspectiva distinta da Igreja Católica, fossem obrigados a se aventurarem em uma nova terra, uma vez que fugiam da fogueira da Santa Inquisição.

Esse contexto histórico turbulento foi um campo fértil para a criação de novos empreendimentos. O espírito empreendedor, que por quase mil anos ficou adormecido nos feudos medievais, agora era obrigado a surgir como uma ferramenta de sobrevivência para estes refugiados. Era preciso, de fato, reinventar-se e inovar, tanto em sua própria vida como também nos negócios. É a partir dessa necessidade que surgem os investimentos privados, movidos por pessoas que não pretendiam ficar reféns das ordens e desmandos dos governantes.

Dentre os diversos casos que poderíamos acompanhar, certamente o que nos mais chama atenção do ponto de vista empresarial é a trajetória de Willem Usselincx, um holandês que viveu boa parte da sua vida como refugiado e construiu uma das maiores empresas privadas dos últimos quinhentos anos. Estamos falando do mercado externo comandado pela Companhia das índias Ocidentais, um dos maiores investimentos privados da História.

Biografia de Usselincx

Antes de mergulharmos nos investimentos de Willem Usselincx, porém, é necessário entender um pouco de sua vida. Assim, sua trajetória começa na cidade de Antuérpia, uma das mais ricas urbes do século XVI. O ano do seu nascimento data de 1567, apenas um ano antes da Guerra dos oitenta anos (1568 - 1648). Esse conflito ocorreu entre Holanda e Espanha, que brigavam pela influência no Novo Mundo, o vasto território das Américas que era uma mina de ouro para os exploradores. A Espanha, por sua vez, dominou por grande parte as regiões hoje denominadas “países baixos”, até que a revolta da população fez com que os espanhóis fossem expulsos. Porém, pouco tempo depois a Espanha voltou a conquistar todas as cidades da região, obrigando a população de outra fé (no caso, a protestante) a fugir.

Essa diáspora, ocorrida ao longo dos séculos em diversos países, obrigou desde cedo Willem Usselincx a lidar com adversidades, mesmo que com muito esforço. Foi nesse contexto, portanto, que nasceu o empreendedor. Willem Usselincx foi descendente de uma família de comerciantes que desde sua infância colocou-se à disposição do infante para ensinar tudo que precisava saber sobre as especiarias na Índia. Willem, porém, foi mais habilidoso com suas ações do que as palavras. O fato é que o empreendedor era capaz com seu carisma o que muitos não conseguem pela força. Desse modo, apesar de estar focado em estabelecer rotas comerciais para a nova Índia (atual América Central), Willem Usselincx foi o primeiro a lançar de maneira individual algo que pudesse concorrer com as empresas do Estado.

Assim, depois de 60 anos de existência, a base de Willem mostrou-se bastante resistente. Sua iniciativa privada mostrava que os lucros não precisavam estar concentrados apenas nas mãos do Estado, que não raramente gastava mais do que podia e fazia com que os recursos escorressem pelas mãos. A tarefa de Willem Usselincx, porém, não seria nada fácil, uma vez que seus concorrentes diretos eram a Espanha e Portugal, que concentravam todo domínio do Novo Mundo. Mesmo com essa adversidade, a empresa de Willem Usselincx, que funcionava em um formato similar à "Companhia holandesa das Índias Orientais”,a empresa holandesa que fazia o comércio com a Ásia, conseguiu estabelecer-se em 1621.

O lucrativo comércio das Índias Ocidentais

O empreendimento de Willem jogava luz ao monopólio de décadas da Espanha e Portugal nas regiões da América. Não por acaso, é nesse período que a Holanda domina o Nordeste do nosso país, estabelecendo-se por 20 anos em nosso território. A “nova Holanda”, como foi chamada a região conquistada, era parte de um projeto que visava o estabelecimento de colônias holandesas e a abertura de um novo mercado para o país de Willem. Assim, ao iniciar seu empreendimento e cruzar o Oceano Atlântico, Willem Usselincx conseguiu acesso ao transporte de recursos entre a América e a Europa. Um detalhe importante acerca da criação da Companhia das Índias Ocidentais é o fato de Willem, em acordo com seus sócios, não aceitarem transportar em seus navios homens e mulheres escravizados. Como bem sabemos, o comércio de escravos advindos da África até a América era um lucrativo negócio e, por mais terrível que fosse esse fato, ainda assim centenas de navios negreiros eram destinados para o Novo Mundo.

Porém, para alguém que várias vezes precisou reiventar-se por causa de guerras, discriminação religiosa e preconceitos, não seria fácil aceitar contribuir com um sistema que considerava desumano. Assim, Willem não perseguiu o lucro a qualquer preço, pois não podia abrir mão de sua ética. Mesmo com essa “desvantagem” frente aos seus concorrentes, a Companhia das Índias Ocidentais foi a empresa mais rentável de toda a América. Além disso, a Companhia das Índias Ocidentais foi responsável por trazer uma importante mão de obra para os locais em que a Holanda se estabelecia. Nomes como Maurício de Nassau, por exemplo, foram fundamentais para o desenvolvimento da região em que administrava, mostrando que o papel da empresa não estava somente no lucro, mas também em uma boa governança na região.

A Companhia das Índias Ocidentais funcionou de maneira privada até 1792 até ser tomada pelo Estado Holandês e dissolvida pouco tempo depois. Ainda assim, em seus 171 anos de existência, ela foi um dos principais meios de chegar até o Novo Mundo, sendo um elo importante no comércio internacional. Willem, que morreria 26 anos após a criação da empresa, conseguiu ver os frutos do seu empreendimento. Graças a ele foi possível, por exemplo, levar a experiência para outros países como a Suécia, na qual também fundou outras empresas com objetivo de colonizar novos territórios e desenvolver uma nova rota comercial.

Considerando toda sua trajetória, é inegável que Willem Usselincx foi um empreendedor de sucesso. Não apenas pelos seus lucros, mas principalmente por consegui-lo sem abrir mão do que é mais valioso para um Ser Humano: seus princípios.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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