terça-feira, 20 de setembro de 2022

Hugo Münsterberg, o pai da psicologia industrial


A nossa mente é, em última instância, nossa maior diferença entre os demais seres do planeta. Ela nos torna capazes de realizar grandes construções, desenvolver tecnologia, arte e uma série de outras atividades que, ao longo dos séculos, facilitaram a nossa vida. Junto com os sentimentos e emoções, o nosso lado racional constitui o que chamamos de “psique” e que é estudada constantemente por psicólogos e psiquiatras.

Nos dias atuais é inegável o valor de conhecer a nós mesmos nas mais distintas dimensões. Seja fisicamente ou psicologicamente, sabermos nossas potencialidades e debilidades nos deixam um passo à frente em qualquer competição e no mundo da administração isso não seria diferente. Porém, isso nem sempre foi uma realidade e hoje conheceremos o homem que deu os primeiros passos para desenvolver para uma série de conhecimentos que utilizamos todos os dias. Estamos falando do médico alemão Hugo Munsterberg, o homem que descobriu a psicologia industrial.

Hugo Munsterberg: um homem e seu tempo


Para entendermos a contribuição massiva de Munsterberg para a ciência devemos conhecer um pouco de sua história e do cenário em que encontrava-se o mundo. Nascido em Danzig (atual Gdansk) no Reino da Prússia, em 1863, Hugo Munsterberg cresceu em uma geração que vivia o cientificismo intensamente. O mundo encontrava-se admirado pelo sucesso da primeira e segunda revolução industrial, tendo a produtividade cada vez mais quebrando recordes. No campo social, a Europa estava vibrante com o avanço econômico e cada nação buscava expandir seus territórios para além do velho continente Europeu, assim ocorria a partilha da África e da Ásia e seus recursos naturais.

No meio de todos os “avanços” políticos, sociais e econômicos estava a ciência. O método científico tornou-se o principal meio de investigação da natureza e disciplinas como a biologia, química e física tiveram grandes avanços no período. A necessidade de desenvolver o cientificismo chegou ao ponto de alguns pensadores utilizarem conceitos próprios da biologia, como a evolução das espécies, em disciplinas como a história, filosofia e sociologia, que são bem distantes do estudo das ciências naturais.

Tendo tal contexto, não poder-se-ia esperar que o jovem Munsterberg, criado na elite prussiana, fosse tomar um destino diferente deste. Na verdade, isso quase aconteceu. Em seus primeiros doze anos seus pais o influenciaram a praticar música e escrever poesia, tendo na arte um grande ponto a ser estimulado. Assim, a busca pelas verdades científicas não seria, provavelmente, a escolha de carreira de Munsterberg. 

Infelizmente, um trágico infortúnio fez com que ainda jovem, por volta da adolescência, seus pais chegaram a falecer. Pouco sabemos sobre esse episódio na biografia de Hugo Munsterberg, mas os especialistas afirmam que sua guinada para a ciência e entrega a esse sacerdócio pela verdade inicia-se pouco depois da partida de sua família.

Levando esse fato em consideração não nos resta dúvida que esse tenha sido um evento traumático na vida do jovem Munsterberg e quem sabe, devido a esse forte impacto, ele tenha se voltado para a ciência, afinal, ela é um dos meios de descobrirmos os mistérios do mundo.

Seja como for, o fato continua e mesmo muito jovem ele conseguiu ingressar na faculdade de medicina, pois desde então preocupava-se em aprender uma das mais novas áreas na arte da cura: a psicologia. Porém, lembremos que este era o século XIX e a investigação acerca de problemas mentais era extremamente restrita. Os métodos “tradicionais” para os tratamentos de histeria, ansiedade e depressão, por exemplo, consistia em castigos físicos, até que o comportamento do paciente fosse o adequado. Percebendo esse vácuo no conhecimento, Hugo Munsterberg dedicou grande parte da sua vida a tornar essa uma ciência prática, levando-a a todas as esferas da sua vida.

Hugo Munsterberg, chegando nos Estados Unidos da América do Norte


O idealismo e a competência de Munsterberg o levou a trabalhar em diversas universidades, principalmente Harvard e Freiburg. Seus artigos científicos popularizaram-se nos EUA e isso o levou, em 1892, a assumir turmas para Harvard.

Além disso, é nesse momento em que ele depara-se com Frederick Taylor e passa a aprender sobre a administração científica. O tema rapidamente o capturou, uma vez que a proposta do Taylorismo é racionalizar uma prática que para a época era feita de forma “intuitiva”.

Mostrando (e provando) os resultados da teoria de Taylor em ação, Munsterberg passou a dedicar boa parte dos seus estudos a entender não somente a administração proposta por Taylor, mas também de otimizar a escolha dos candidatos e suas vagas.

Assim, Hugo Munsterberg foi o primeiro a aplicar o que hoje chamamos de “teste vocacional”, para encontrarmos nossos pontos fortes e fracos e decidir qual carreira seguir. Assim ele podia orientar profissionalmente os seus pacientes, ato esse que foi implementado em diversas áreas para ajudar não apenas empresas a acharem bons profissionais, mas também que bons trabalhadores possam saber em que função podem ser mais úteis.

Para além disso, ele desenvolveu a ideia de que uma empresa lucrativa é aquela que consegue harmonizar a psique dos seus funcionários em prol da produção. Desse modo, a teoria de Munsterberg anda de mãos dadas com o Taylorismo, uma vez que este também tem como interesse uma maior produtividade a partir de uma gestão racional. 

Para além da produtividade, Munsterberg foi o primeiro gestor a levar em consideração os impactos que os trabalhadores sofrem nas fábricas, algo raro e que, para a época, era completamente inovador, uma vez que a maioria dos donos de empresas não estavam preocupados com a saúde mental dos seus funcionários.

Hugo, portanto, percebeu algo interessante em sua estadia nos Estados Unidos: um gestor não prospera somente utilizando a força e coerção em sua equipe, mas principalmente quando consegue colocar seus trabalhadores de modo ordenado nas funções que lhe dão uma maior motivação ao trabalho. Dessa maneira, cada um estaria no seu lugar mais adequado. Essa ideia, que para nós é básica, iluminou não apenas a área da psicologia, até então sinônimo de “loucura”, mas o próprio entendimento dos chefes sobre como motivar corretamente seus funcionários.

Indo além da administração


Hugo Munsterberg também destacou-se em muitas outras áreas da psicologia, sendo um nome digno de lembrança às primeiras gerações de psicólogos que precisaram romper com a estrutura medieval com a qual lidavam com a saúde mental das pessoas. Além da psicologia, Munsterberg também desenvolveu uma série de teorias acerca do cinema, voltando-se à antiga paixão pela arte, que até sua maturidade estava adormecida.

Infelizmente o grande e atemporal legado de Munsterberg foi limitado devido sua morte súbita, em 1916. No mesmo ano Henri Fayol lançaria o seu famoso livro “Teoria clássica da administração”, que ampliaria o debate com Taylor acerca da melhor maneira de gerir uma empresa. Para o pai da psicologia industrial, ficou apenas o seu legado como um dos pioneiros acerca do estudo vocacional e a visão de que o melhor funcionário será aquele que estiver no lugar certo.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.       

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