Do alto dos seus 2,03 metros Clayton M. Christensen foi um gigante de presença marcante, em que pese sua altura, deixou sua marca em função das teorias e pesquisas desenvolvidas nas áreas de administração e inovação disruptiva, termo cunhado por ele, que revolucionaram a forma como gerenciam empresas e governos.
Em um contexto global extremamente competitivo em que empresas centenárias dominam os mercados, pode-se pensar no primeiro momento que não há o que ser feito. O que não corresponde à realidade, o que vemos são empresas mais jovens e com comportamento bastante agressivo ganharem espaço nos mercados. A partir desse tipo de observação e estudos Clayton Christensen criou a teoria da Inovação Disruptiva, o seu ensinamento mais famoso.
Segundo Clay, como costumava ser chamado, as grandes empresas, detentoras da maior fatia do mercado caem no comodismo de sempre fazer o mesmo, até o ponto em que perdem a visão de oportunidades e a observação do próprio mercado, é nesse momento em que empresas menores, as entrantes entram em jogo (termo utilizado por Clay para se referir à ameaça surgida por novos competidores).
As entrantes, em geral, mais enxutas e competitivas em preço capturam parte do mercado e em muitos casos, com o tempo, todo o mercado. O grande ensinamento de Clay é que não podemos nos cegar diante das atividades rotineiras que fazemos sempre, de modo a também direcionar energia para análise da concorrência e, em especial, abrir espaço para a inovação.
A sua trajetória de vida de Clayton Christensen é notável por todas as atividades que desempenhou com excelência, foi filho, pai, missionário, escoteiro, acadêmico, consultor de empresas e governantes. Dentro da Universidade de Harvard Clay ficou conhecido como o gigante gentil. Nós iremos agora conhecer um pouco mais da vida e obra de Clayton Christensen e seu legado.
Os primeiros passos de Clayton Christensen
Clayton M. Christensen nasceu na cidade de Salt Lake City em Utah, nos Estados Unidos, em 6 de abril de 1952. O Estado de Utah é conhecido por ter sido um líder renomado da Igreja Mórmons, estima-se que nos Estados Unidos o número de mórmons seja de 4 milhões. O Brasil é o terceiro maior país em número de seguidores, com mais de 1.2 milhões de fiéis (2012).
Nos anos de 1971 a 1973, Clay serviu como missionário na Coréia do Sul, onde aprendeu a falar coreano fluentemente. A conduta moral aprendida em sua religião se revelou por toda sua vida de trabalho, dedicação à família e sua comunidade.
A sua trajetória acadêmica começou com o bacharelado em economia pela Universidade de Brigham Young, em 1975, com a distinção de summa cum laude (com o maior elogio, em tradução livre do latim), já no ano de 1977 concluiu o mestrado em econometria na Universidade de Oxford, Inglaterra e em 1979 o MBA da Escola de Negócios em Harvard.
Logo após a conclusão do MBA, Clay começou a trabalhar como consultor na Boston Consulting Group e foi um dos fundadores da Ceramic Process Systems, empresa de materiais avançados em Massachusetts. Ao longo da sua carreira Clay contribuiu para criar muitas empresas e atuou como consultor em dezenas, incluindo órgãos governamentais.
No ano de 1982 Clay foi nomeado bolsista da Casa Branca e atuou como assistente dos secretários de transporte dos Estados Unidos.
A carreira acadêmica ganhou força em 1992 quando ingressou como professor na Universidade de Harvard, vindo a se tornar professor titular no ano de 1998. Clayton Christensen fez cinco doutorados honorários e recebeu premiações diversas por seus trabalhos.
Os estudos e pesquisas acadêmicas de Clay o levaram a escrever mais de uma centena de artigos e é autor de vários livros de sucesso. O seu best seller mais famoso, O Dilema da Inovação, publicado em 1997, recebeu o prêmio de Global Business Book Award, como o melhor livro de negócios daquele ano. O The Economist elegeu o livro como um dos 6 melhores livros de negócios já escritos.
A Inovação Disruptiva de Clayton Christensen
Para ele, haveria dois tipos de Inovações disruptivas:
a) Quando realizadas por empresas mais jovens, as entrantes no mercado, como já citamos. Essas empresas entram na base da pirâmide e a partir de uma conduta agressiva de redução de custos e inovação produtiva, que em muitos casos leva à criação de um novo produto. Dessa forma, esse novo produto passa a atender uma parcela do mercado que já era atendida pelas empresas tradicionais.
b) Ocorre quando um novo produto de qualidade inferior é colocado no mercado e oferecido ao público que não era, até então, consumidor. Por ser mais acessível consegue atingir parte do público, resultando em uma disrupção completa na sua operação.
Segundo Clay, são inúmeras as possibilidades de disrupção, citamos exemplos relativos ao preço, redução dos custos de operação e oferecimento de novos produtos (inovação disruptiva tecnológica). As oportunidades são muitas, é possível trazer inovação em termos de melhorias, extensões de uso dos produtos/serviços, novas linhas do mesmo produto, e etc.
Clayton Christensen também foi o responsável por popularizar o conceito de Job To Be Done (JBTD) que caiu nas graças dos empresários. A proposta é simples, fazer aquilo que o seu cliente espera que seja feito. Para melhor explicar o conceito, Clay trouxe o exemplo de uma famosa rede de fast food que fez pequenos ajustes e passou a vender muitas unidades a mais de milk shake.
No exemplo de Clay, a rede de fast food sabia que existia uma demanda maior pelo produto no começo da manhã quando as pessoas se dirigiam para o trabalho, pois gostam de tomar o milk shake que é denso, lentamente, no decorrer do trajeto, além disso, os clientes sentem-se mais saciados, sendo assim, um substituto do café da manhã.
Neste caso, o trabalho a ser feito pela rede de restaurantes foi trazer quiosques menores próximos aos locais de deslocamentos dos profissionais a caminho de seus trabalhos pela manhã. As lojas menores são uma vantagem frente às estruturas maiores que demandam mais tempo do consumidor, nesse caso, sempre apressado para chegar no trabalho sem atrasos.
Ainda em termos de inovação, Clay atribui à atitude inovadora os benéficos papéis de reduzir as desigualdades sociais e mesmo combater a corrupção. Ele explica que os governos deveriam pensar em estratégias de inovação radicais e de longo prazo que pudessem abrir novos mercados e possibilidades de ganhos reais para a população. Uma contraproposta às políticas de migração de renda que surtem efeito no primeiro momento, mas não atacam a raiz das questões, por exemplo os problemas de ineficiência na produção, custos e afins que geram desigualdade de competitividade e, consequentemente, sociais.
O legado de Christensen
Grandes executivos implementaram com sucesso suas teorias e o tiveram como mentor para suas estratégias de negócios. Para citar alguns, temos Andy Grove, ex-CEO da Intel, Reed Hasting, cofundador da Netflix e o mais famoso deles, Steve Job, fundador da Apple, que é um celeiro de inovações e ideias disruptivas que revolucionaram por completo o setor de telecomunicações com seus smartphones e demais produtos.
O que poucos sabem é que Clay também desenvolvia atividades como filantropo. Em 2007 ele fundou o Christensen Institute que nasceu com o objetivo de melhorar a vida das pessoas através do apoio aos novos negócios e produtos disruptivos, em especial nas áreas da educação, pesquisa e saúde. Ou seja, Clay entendia que o que ensinava, enquanto ideia, poderia ser compartilhado e aproveitado em todas as áreas do conhecimento e atuação, trazendo benefícios para aqueles que implementaram suas teorias.
No aspecto pessoal, Clay foi casado com Christine, com quem teve 5 filhos. Clayton Christensen faleceu em 23 de janeiro de 2020, aos 67 anos, deixando um enorme legado de devoção ao trabalho, à família e sua fé.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio
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