Todo ser humano possui atributos que o permitem destacar-se no mundo. Comumente chamamos esses atributos de “talento”, “dom” ou mesmo “vocação” para determinadas atividades. Frases como “você nasceu para isso” e “você fazendo esse trabalho até parece ser fácil” são recorrentes quando encontramos um profissional que realiza bem o seu serviço e, naturalmente, o dizemos que ele tem “talento” para aquela função.
De fato, quando paramos para refletir sobre essa ideia percebemos que cada pessoa tem uma aparente facilidade em alguma ou algumas áreas do conhecimento. Não por acaso, quando não sabemos em que desejamos trabalhar, geralmente recorremos aos famosos “testes vocacionais” para encontrar a profissão ideal a partir do que sabemos fazer e das áreas do nosso interesse pessoal.
Pensando nisso, não seria de se espantar que um empreendedor também deveria ter certos atributos, qualidades quase “inatas” que o despertaria a viver o mundo do empreendedorismo. No texto de hoje falarei um pouco sobre as virtudes que um empreendedor deve ter para conseguir realizar-se em seus negócios.
O que são virtudes?
Antes de mais nada, precisamos definir o que estamos chamando de virtudes. Essa é uma palavra que, de maneira geral, utilizamos em diversos contextos e nem sempre a empregamos com o sentido correto. A confundimos com qualidades, técnica e uma série de ideias que reforçam algo de bom que sabemos fazer.
Começando por sua etimologia, a palavra “virtude” vem de “Virtus”, que se traduz por força moral ou valor. Assim, podemos dizer que a virtude são princípios (valores humanos) que uma pessoa pratica em sua vida cotidiana. Generosidade, disciplina, cortesia e paciência são exemplos de virtudes que, quando bem empregadas, nos apresentam novos caminhos diante da vida. Uma outra definição de virtude que podemos aplicar vem do filósofo Aristóteles, que viveu no século IV a.C. Segundo ele, a virtude é “uma ação da alma direcionada pela razão”. Sintetizando essa ideia, Aristóteles nos diz que só exercemos a virtude quando nossa melhor parte (a razão) conduz a ação a partir da nossa verdadeira motivação (a alma, no caso).
Essas duas ideias são importantes para diferenciarmos as virtudes. Elas não são talentos, ou seja, uma habilidade que dominamos com facilidade e maestria. Muito menos trata-se de técnica. A virtude está além desses aspectos, pois trata-se de um princípio de vida, o que norteará nossas atitudes frente a vida. Pensando no campo do empreendedorismo, certamente existem técnicas e habilidades necessárias para que um empreendedor tenha sucesso em seu plano de negócios. Porém, acima disso, é fundamental que seus valores humanos sejam claros e bem definidos, além de buscar sempre um sentido de perfeição, ou seja, tornar cada vez mais similar aquilo que acredita ser um valor com suas ações no dia a dia.
Praticando virtudes como empreendedor
É fundamental, antes de mais nada, reconhecer quais são as virtudes que norteiam nossa vida. Assim como um bom empreendedor sabe quais são suas qualidades e suas debilidades, saber quais virtudes possui e quais almeja desenvolver é um dos pilares principais na vida de qualquer pessoa, ainda mais para alguém que gerencia uma empresa. Sendo assim, uma vez que elegemos valores para nossa vida - e naturalmente para as nossas empresas - devemos vivenciá-las na prática.
Tratando de modo objetivo, é preciso não apenas teorizar sobre esses valores, mas transformá-los em ações concretas. Se, por exemplo, decidirmos que a cortesia é um princípio a ser vivenciado em nossa vida, é fundamental que tratemos todas as pessoas de maneira cortês, do gerente ao estagiário, no trabalho, na rua ou em casa. Como diz uma antiga frase - a vida é uma só, portanto, nossos valores precisam estar presente a todo momento em nossa conduta. Assim conquistamos a força moral que as virtudes exigem.
Nesse sentido, um empreendedor de sucesso não é aquele que “separa” a sua vida em várias facetas e sabe gerenciá-las bem, mas sim aquele que faz a própria vida parecer unida, mesmo tendo aparentes diferenças. Como bem sabemos, cumprimos outros papéis sociais - somos pais, mães, filhos, professores, chefes, estudantes, etc - e por mais que achemos que devemos ser de um “jeito” em cada um desses papéis, tal qual em um teatro com vários personagens, o fato é que deveríamos buscar sermos sempre os mesmos, pois o que muda são as circunstâncias, não nós.
Traduzindo essa ideia, quero dizer que não basta ser cortês e disciplinado somente no trabalho, ou quando os funcionários ou o chefe estiverem presentes, deve-se, para de fato ser virtuoso, exercer essas virtudes a todo instante.
Visto isso, os benefícios de uma vida pautada por virtudes está em ter uma clara direção a seguir. A partir dessa direção desenvolvemos os meios para alcançá-la o mais rápido possível. Vale ressaltar que os princípios que podem nos nortear são diversos e, por vezes, aparentam ser conflitantes. Assim, é importante conhecer-se o suficientemente bem para definir suas virtudes e também desafiar-se a desenvolver novos valores com o tempo.
Além disso, é bem dito que o bom empreendedor é aquele que sabe, antes de tudo, aonde quer chegar e tem uma visão clara e objetiva de suas metas, de modo que para alcançá-las não seja preciso ferir algum princípio moral. Esse é um passo igualmente importante para um empreendedor que busca respeitar suas virtudes e obter sucesso em seus negócios. Em um mundo que busca o lucro a qualquer preço, devemos estar atentos se a recompensa que almejamos não está cobrando um preço muito alto: o de trair nossos princípios.
Por fim, não nos resta dúvidas de que ser empreendedor está para além de desenvolver técnicas e inovações. Assim como em outras áreas da vida, realizar-se em nossos empreendimentos será uma consequência natural se tornamos a vida alinhada com o que acreditamos. Para isso, é fundamental compreendermos quais virtudes queremos ver no mundo e sermos, a todo momento, uma expressão viva dela.
Bom trabalho e grande abraço!
Rafael José Pôncio
Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário