terça-feira, 2 de maio de 2023

Como fazer a análise SWOT na sua empresa

análise SWOT

A análise SWOT ou FOFA é uma ferramenta já conhecida para a maioria dos empreendedores. Mas será que você está usando-a da melhor forma?

Continue a leitura e conheça mais sobre a SWOT e como ela pode contribuir para o seu negócio.

O que é uma análise SWOT?

Uma análise SWOT ou FOFA é uma ferramenta de planejamento estratégico que auxilia na tomada de decisões.

Acredita-se que ela surgiu no instituto de pesquisas da Universidade de Stanford entre as décadas de 60 e 70, pelas mãos do consultor Albert Humphrey.

Nesta época o planejamento empresarial não era tão difundido, por isso, os negócios precisavam de uma estratégia a longo prazo que fosse simples de criar e executar.

Este movimento deu tão certo que a análise SWOT é usada até hoje dos pequenos a grandes negócios.

 Ela é a sigla para:

  • Strengths - Forças

  • Weaknesses - Fraquezas

  • Opportunities - Oportunidades

  • Threats - Ameaças

Por isso, em português, é chamada de análise FOFA.

Agora, vou te explicar os componentes:

Forças e Fraquezas

Ambas fazem parte do ambiente externo, elementos que o empreendedor consegue controlar.

As forças são o que a empresa tem de melhor, tudo aquilo que torna o negócio superior aos seus concorrentes. Para encontrar as forças você precisa levantar as seguintes questões:

  • Qual é a minha maior vantagem competitiva?

  • O que os clientes sempre elogiam?

  • Quais são os produtos e serviços mais vendidos?

Já as fraquezas são tudo que pode prejudicar a empresa, são os “defeitos do negócio”. Para encontrá-los você precisa ser sincero com sigo mesmo e fazer as seguintes perguntas:

  • Os colaboradores são qualificados?

  • Os processos estão bem estruturados?

  • Os produtos e serviços atendem às expectativas dos clientes?

Assim você identifica as falhas da empresa e quais pontos podem ser melhorados.

Oportunidades e Ameaças

Estes dois tópicos fazem parte do ambiente externo, ou seja, tudo aquilo que afeta o negócio de alguma maneira, mas não pode ser controlado.

As oportunidades são situações favoráveis a empresa e que se você estiver atento pode se aproveitar delas. Alguns exemplos são:

  • Melhoria da infraestrutura urbana próximo ao seu empreendimento.

  • Uma nova política pública de abertura de crédito.

  • Um evento local que atraia mais clientes.

O oposto das oportunidades são as ameaças, o que pode prejudicar o empreendimento, mas também não pode ser controlado. Os exemplos são:

  • Crises econômicas

  • Catástrofes naturais

  • Aumento da concorrência

É importante mapear as ameaças para você estar preparado caso aconteçam.

Por que utilizar a análise FOFA?

A análise SWOT ou FOFA pode ser utilizada por empresas que estão começando ou quem já tem história no mercado, pois é uma ferramenta simples e versátil.

Além disso, possui outras vantagens, como:

  1. Auxilia na identificação do que a empresa pode melhorar.

  2. Te capacita para melhorar o posicionamento da empresa diante do mercado.

  3. Permite que a empresa se auto conheça, descobrindo seus pontos positivos e negativos e assim você tem mais embasamento para tomar decisões.

  4. Faz você descobrir as novas demandas no seu segmento.

  5. Possibilita que você enxergue o que pode causar danos ao seu negócio.

Dicas para fazer um ótimo diagnóstico

Mesmo que fazer uma análise SWOT seja bastante simples, seguem algumas dicas para auxiliar no processo. São elas:

Responda a perguntas com sinceridade

Como já mostrei, muitas vezes são utilizadas perguntas para descobrir quais são os pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças que atingem a empresa.

Neste momento, é importante ser realista e evitar inflar os pontos fortes e diminuir os pontos fracos. Lembre-se: a análise SWOT existe para te ajudar nas tomadas de decisão.

Por isso, se o diagnóstico ficar ruim, você não terá um bom embasamento para fazer as melhores escolhas.

Faça pesquisas para apoiar a análise

Principalmente se tratando das oportunidades e ameaças é essencial que você faça uma pesquisa prévia para saber o que de fato pode vir acontecer e prejudicar o seu negócio.

Por exemplo: você ouviu falar que futuramente a prefeitura irá instalar novas lâmpadas nas ruas, com isso, os moradores se sentirão mais seguros para andar à noite.

Antes de você colocar isto como uma oportunidade, é importante que você verifique com os órgãos competentes se de fato isso vai acontecer e quando.

Pense nos próximos passos

Como já reforcei em outros textos, é fundamental não ficar só no planejamento e partir para ação. Por isso, após a análise SWOT você deve guardar um tempo para pensar nas ações que serão realizadas a partir do diagnóstico.

Para isso, você pode utilizar um plano de ação, anotando quais tarefas serão executadas e quem serão os responsáveis.

Concentre-se nos fatores internos

Embora seja fundamental analisar o ambiente externo para identificar quais situações podem ser são positivas e quais podem ser negativas, você tem pouco ou nenhum poder sobre eles.

Logo, é mais estratégico focar nos aspectos que você pode controlar, o ambiente interno.

Tomando ações que valorizem os seus pontos fortes e minimizem os seus pontos fracos você estará mais preparado para as oportunidades e não sofrerá tanto com as ameaças.

Escolha as prioridades

Quando fazemos a análise SWOT é natural que apareçam várias informações em cada quadrante e muitas vezes somos tentados a solucionar todas de uma vez.

Entretanto, além de não ser viável na maioria das vezes, pode ser prejudicial para a empresa. Então, nos tópicos escolha quais são os fatores críticos e crie ações para ele.

Por exemplo: nos pontos fracos foram levantados os seguintes aspectos:

  • Falta de motivação dos funcionários.

  • Pouca matéria-prima em estoque.

  • Ações de marketing com pouco resultado.

Neste caso o fator principal seria: pouca matéria-prima em estoque. Afinal, sem insumos, a empresa não terá o que vender.

Como criar uma matriz SWOT

Para facilitar a análise SWOT ou FOFA é utilizado um esquema que simplifica a visualização e a comparação.

Segue exemplo de matriz disponibilizado pela EvoluHub:

Matriz SWOT

Para preencher a planilha, geralmente se começa com os fatores internos, as forças e fraquezas. Já no segundo momento, os fatores externos são levantados. Completando os quadrantes você terá completado a sua análise SWOT.

O ideal é que o desenvolvimento do diagnóstico não fique somente a cargo do gestor, mas que outros colaboradores também possam contribuir.

Para facilitar a compreensão segue este exemplo aplicado em uma sorveteria:

Pontos fortes:

  • Localizada em um ponto estratégico da cidade, próximo a um parque e uma escola.

  • Tem mais de 30 sabores de sorvete.

  • Faz sorvetes artesanais.

Pontos fracos:

  • Concorrência com outros serviços de alimentação como lanchonetes e restaurantes.

  • Alto custo para manter os refrigeradores funcionando.

  • Grande rotatividade de funcionários.

Oportunidades:

  • Verões mais quentes.

  • Reforma do parque próximo.

Ameaças:

  • Sazonalidade.

  • Aumento das aulas em modelo remoto.

Pronto! A análise FOFA está finalizada, para complementar o seu estudo, você pode fazer um relatório explicando como você e sua equipe chegaram a estes resultados.

Mas, é importante reforçar que a análise SWOT é apenas a primeira etapa de um plano estratégico, depois vem a ação.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 25 de abril de 2023

Descubra o que é o toyotismo e as suas características

Toyotismo é matéria em Administração

Em meio a cenários diversos é preciso inovar para alcançar os melhores resultados, e isso é o que o toyotismo nos ensina, pois este sistema de produção desenvolvido no Japão após a Segunda Guerra Mundial trouxe muitos benefícios para o mundo.

Neste texto apresento a origem do toyotismo, os seus princípios e fatores essenciais para aplicação deste sistema no dia a dia do seu negócio.

O que é o toyotismo?

O toyotismo é um sistema de produção industrial japonês pensado pelo fundador da empresa automobilística Toyota, Eiji Toyoda (o que originou o nome do modelo) e mais dois engenheiros mecânicos: Taiichi Ohno e Shingeo Shingo.

Após uma viagem aos Estados Unidos na década de 1950, em que visitou fábricas que utilizavam o modelo fordista, Eiji Toyoda percebeu que este método, embora já fosse utilizado por algumas empresas japonesas, não era o mais adequado para a realidade de seu país por dois motivos principais.

O primeiro é a condição geográfica do Japão, uma vez que ele é bem menor do que os Estados Unidos, por isso não tem a capacidade de armazenamento necessário para produzir os grandes lotes característicos do modelo de Ford.

O segundo é que após a Segunda Guerra Mundial o país passava por um momento difícil, com a infraestrutura e economia em dificuldades, sendo que até os itens básicos também estavam escassos.

Assim, nasceu o que é o toyotismo hoje, um sistema de produção por encomenda que adequa a aquisição de matéria-prima e fabricação conforme a necessidade do cliente, otimizando o trabalho e reduzindo os custos.

Princípios do Toyotismo

Para nos aprofundar ainda mais neste sistema de produção, seguem os preceitos que baseiam esta metodologia e a tornaram tão popular mesmo na atualidade.

Just in Time

Um dos principais conceitos que definem o que é o toyotismo é o just in time, que significa momento certo. O principal objetivo desta metodologia é produzir conforme a demanda de maneira rápida e na melhor hora.

A maior vantagem de escolher o just in time é que ele auxilia na otimização de processos e pode ser implementado em diferentes tipos de negócios. Além disso, outros benefícios são:

  • Redução do desperdício: pois só é comprada a matéria-prima e produtos necessários;

  • Processos mais eficientes: dentro do sistema just in time há muito pouco espaço para erros;

  • Mais controle e qualidade: como todos os processos precisam funcionar perfeitamente, é natural que a qualidade dos produtos também seja superior.

Um grande exemplo de empresa que aplica esta metodologia é a Tesla que consegue personalizar a sua produção de automóveis e valorizar os seus produtos sendo uma das menores fabricantes de automóveis, outra empresa que aplica esta metodologia é a Apple.

Jidoka

O termo de origem japonesa significa “automatização com um toque humano” ou “automação com a mente humana” e surgiu com a criação da máquina automática de tear inventada por Sakichi Toyoda, na Toyoda Automatic Loom Works.

Ao colocar a máquina para funcionar, ele percebeu que mesmo que houvesse algum problema como um fio solto, ela continuava produzindo, gerando peças defeituosas. Então, era necessário ter sempre um inspetor ao lado da máquina para verificar se tudo estava correto.

Para solucionar o problema, ele colocou um dispositivo na máquina que fazia ela parar quando acontecia algo anormal. Este conceito se ampliou para o propósito de prevenir a criação e aumento de defeitos na produção, tanto para máquinas quanto para operações manuais seguindo estes passos:

  1. Detectar o problema;

  2. Parar o processo;

  3. Restaurar o processo para funcionar corretamente;

  4. Investigar a raiz do problema;

  5. Realizar as ações para solucionar o problema.

O jidoka permite que o funcionário ou a máquina parem os processos caso seja identificada alguma irregularidade, o que é o toyotismo na sua essência, já que reduz o desperdício de materiais e tira a necessidade de ter um inspetor sempre vigiando os processos.

Kaizen

O método Kaizen é uma filosofia cujo objetivo é a melhoria contínua, acreditando na ideia que mesmo as pequenas transformações são essenciais para que os negócios estejam sempre crescendo.

Para isso é importante focar nas mudanças simples, que necessitam de pouco investimento e podem ser aplicadas facilmente, mas que com o passar do tempo levam a empresa para um enorme progresso.

Um dos grandes benefícios de aplicar este método é a redução de custos e o aumento da produtividade, já que os processos são aperfeiçoados constantemente.

Mas além disso, há uma grande valorização dos colaboradores, afinal eles são essenciais para o sucesso da empresa e mais satisfação dos clientes que recebem serviços e produtos de alta qualidade.

Poka yoke

Esta é uma técnica de gestão da qualidade com o propósito de prevenir falhas e defeitos através de ações simples e assim aumentar a qualidade e eficiência dos processos.

O poka yoke foi desenvolvido por Shigeo Shingo (que já vimos no tópico “O que é o toyotismo”), quando identificou falhas humanas nas linhas de produção da Toyota, esses erros resultavam em produtos defeituosos, gerando um retrabalho e insatisfação dos clientes.

Para que isso não acontecesse novamente, ele criou dentro dos processos dispositivos que fossem “a prova de erros” o que não permitia que algo de incorreto avançasse a partir daquela etapa.

Você consegue identificar exemplos do poka yoke no seu dia a dia, como os sensores de segurança que impedem que as portas dos elevadores de se fecharem quando detectam a presença de uma pessoa ou nos eletrodomésticos que param de funcionar quando a porta é aberta.

O que é necessário para aplicar o modelo de produção do toyotismo?

Além de compreender os princípios da metodologia desenvolvida na Toyota há outros fatores que precisam ser considerados para que você consiga aplicar o modelo dentro do seu negócio, eles são:

Trabalho em equipe e cooperação entre os colaboradores

Para o toyotismo funcionar corretamente é fundamental que as equipes tenham autonomia, possam organizar e controlar as tarefas e fazer ajustes quando necessário para alcançar os melhores resultados.

Uma cultura de aperfeiçoamento dos processos e melhoramento contínuo

Como apresentei no método kaizen, a busca pela melhoria contínua é uma das definições do que o toyotismo e deve estar presente no dia a dia do negócio, pois só desta maneira a empresa conseguirá crescer continuamente.

Flexibilização da produção segundo a demanda

Indo no caminho oposto ao do fordismo, neste modelo a acumulação flexível é uma regra básica, onde o estoque é gerenciado conforme a procura. Isso também se reflete no trabalho, pois o mesmo colaborador pode executar diferentes atividades dependendo das necessidades.

Controle de qualidade realizado durante todas as etapas da produção

É preciso bastante cuidado com a qualidade dos produtos para haver o mínimo de falhas durante todo o processo produtivo, afinal há poucas peças para reposição, então os erros e desperdícios devem ser evitados ao máximo.

Agora que você entende o que é o toyotismo, seus princípios e quais ações precisam ser tomadas para implementar este sistema na sua empresa, pode analisar se esse sistema de produção é o que o seu negócio precisa para crescer e se desenvolver.

Bom trabalho e grande abraço.

Autor: Prof. Adm. Rafael José Pôncio
Publicado em: 21 de março de 2023
Especial: artigos no Jornal da Tribuna
Link fonte: 
https://jornaltribuna.com.br/2023/03/descubra-o-que-e-o-toyotismo-e-as-suas-caracteristicas/


        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.   

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Joaquim José da Silva Xavier, O Inconfidente e Mártir Libertário


Tiradentes, o libertário que levantou-se contra a coroa portuguesa

Introdução: O mito de Tiradentes 

O dia 21 de Abril é marcado pelas comemorações cívicas em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como o lendário Tiradentes. A alcunha vem do seu ofício de dentista, mas também entende-se que o fato de ser o único dos inconfidentes a ser conhecido pelo apelido denota que, em sua época, Tiradentes não foi levado a sério, sendo somente um “bode expiatório” da fracassada revolta.

Essa é uma visão atual sobre esse grande herói nacional. Ao longo dos séculos a visão sobre Tiradentes vêm sendo alterada de acordo com as necessidades de cada época. Sendo assim, de um revolucionário quase anônimo no Império até o grande herói insurgente republicano, Joaquim José da Silva Xavier é visto como uma figura histórica representada de diversas formas.

Nos dias atuais, infelizmente, nota-se uma tentativa consciente de destruir o símbolo ao qual Tiradentes representa, dando-lhe mais ênfase em sua vida comum do que nas ideias que o mineiro buscou com seu movimento libertário. Desse modo, a cada ano percebemos que o dia 21 de Abril tem perdido sua força enquanto a lembrança dos ideais libertadores dos inconfidentes mineiros e ganha-se mais ênfase na construção do mito de Tiradentes.

Nesse sentido, é preciso compreender que por trás do dentista, comerciante e minerador há uma figura histórica que representou a primeira expressão liberal frente aos desmandos da coroa portuguesa no século XIII aqui no Brasil. O mito de Tiradentes não é uma invenção em si próprio, mas a exaltação de um idealista que ao seu molde tentou mudar a realidade em que vivia. Vamos, portanto, conhecer mais profundamente sobre Joaquim José da Silva Xavier, seus ideais e como se constituiu sua luta que culminou em sua trágica morte.

Quem foi Tiradentes?


Nascido em 1746 na fazenda Pombal (atual São João del-Rei), Joaquim José da Silva Xavier era filho de um rico fazendeiro da região. Estima-se que sua família possuía 35 escravos que trabalhavam na lavoura e ajudavam nos serviços gerais da propriedade. Apesar de ter tido uma infância abastada e caso não fosse o trágico destino dos seus pais provavelmente Tiradentes seria um fazendeiro com largas posses. Entretanto, aos 11 anos de idade o jovem Joaquim encontrava-se órfão. Ao que consta nas fontes, sua mãe morreu em 1755 e em 1757, seu pai também deixou essa existência. A propriedade da família passa a ser gerida pelo seu tio, que torna-se tutor de Joaquim José da Silva Xavier, e para saldar dívidas acaba desfazendo-se das posses.

Após esse fatídico destino, Joaquim passa a aprender uma nova profissão: a de dentista. Seu tio já exercia esse ofício e passou a ensiná-lo. Assim, Joaquim começou a exercer a profissão desde cedo e ganhou notoriedade nisso, afinal, o apelido não era algo pejorativo (apesar de parecer). Fala-se inclusive que Tiradentes tinha uma habilidade única de fazer próteses, algo raro e difícil para as condições de sua época.

Outra profissão que exerceu foi a de militar. Em 1780 Tiradentes fez parte da tropa que defendia Minas Gerais. Graças a esse cargo de segurança ele chegou a ir para o Rio de Janeiro e passou alguns anos à serviço da proteção do território. Chegou a servir na cavalaria até 1787, quando ainda no Rio de Janeiro tentou implementar a canalização do rio Maracanã, mas sem sucesso. O que o impediu foi a burocracia portuguesa, que não lhe deu permissão para esse empreendimento. Sendo assim, em 1788 retornou para sua província para tentar explorar os caminhos da mineração.

Como sabemos, além do ofício de dentista, Tiradentes também era comerciante e, assim como a maioria das pessoas na Província de Minas Gerais à sua época, dedicou-se à mineração. Não podemos esquecer que o momento histórico que nosso inconfidente viveu era o auge do ciclo do ouro e os interesses portugueses estavam voltados para a exploração desse nobre minério.

A política portuguesa acerca do controle do ouro, porém, era extremamente desvantajoso para os mineradores. Além das péssimas condições de trabalho, os impostos abusivos e a forma de cobrá-los tornava um esforço quase infrutífero para quem quisesse de fato fazer sua fortuna em cima dessas minas. Não obstante, essa situação de injustiça levou, com o tempo, à insatisfação e as revoltas. Vamos entender, agora, o que foi, de fato, o movimento que Tiradentes participou como um dos líderes e seu desfecho.

Tiradentes e a inconfidência mineira


O tempo no Rio de Janeiro fez com que florescesse em Tiradentes mais que habilidades militares. Estando na capital da colônia - O Rio de Janeiro tornou-se a capital em 1763 - o mineiro teve acesso às ideias iluministas que chegavam, mesmo que timidamente, nos portos do nosso país tropical. O contato com as ideias de liberdade econômica e política encantaram Joaquim, que não achava benéfica a ligação entre Brasil e Portugal.

Ao deparar-se com o contexto da exploração do ouro e os desmandos da coroa, as ideias de Tiradentes afloraram e uma revolução começava a ser gestada na mente do dentista e de outras pessoas. É preciso recordar, portanto, o que foi, de fato, a chamada Inconfidência Mineira.

Para entender as causas que levaram a essa revolta separatista precisamos lembrar da política portuguesa frente aos impostos sobre o ouro. Ao se descobrir as grandes reservas de ouro da região, rapidamente o eixo econômico - até então focado na produção de Cana de açúcar - voltou-se para o interior do Brasil. Assim começava o ciclo do ouro. Portugal, porém, precisou de um aparato administrativo para controlar o boom populacional da região que até então tinha poucas centenas de pessoas. Com um crescimento desordenado, a vida em Minas Gerais no final do século XVII e início do XVIII era, no mínimo, difícil.

Frente a esse cenário e com desejo de controlar os ganhos com o Ouro, a coroa portuguesa criou não apenas impostos específicos como o famoso Quinto, em que 20% de tudo que fosse encontrado deveria ir para Portugal, como também algumas instituições como as Casas de fundição, locais em que se derretia o ouro encontrado e já se separava o Quinto da coroa.

Além disso, cobrava-se impostos sobre escravos, terras e ferramentas que eram usadas para extrair o minério. Desse modo, apesar de ser um local rico e com grandes possibilidades de gerar lucro, a pressão da administração portuguesa tornava limitado e, por vezes, prejudicial aos que estavam dispostos a empreender na região. Visto tais condições, era extremamente comum esconderem ouro e, com o tempo, criar um mercado interno que burlasse as regras portuguesas.

Durante os anos 1750 a chegada do Marquês do Pombal para administração do Brasil fez com que a política fiscal ganhasse ainda mais força. Com o aumento dos impostos tornava-se cada vez mais evidente a exploração portuguesa e o descontentamento das elites locais, principalmente em Minas Gerais. O estopim para a revolução separatista liderada por Tiradentes ocorreu com a chamada política da “Derrama”. Como sabemos, a derrama foi mais uma pressão fiscal para impor o pagamento do Quinto atrasado e executar dívidas para com a coroa portuguesa.

A revolta, porém, não chegou a ocorrer. Dias antes de ser deflagrada, os revoltosos descobriram que Portugal, mais precisamente o Visconde de Barbacena (até então o administrador real da região), descobriu os planos dos inconfidentes e realizou diversas prisões, sendo Tiradentes um dos encarcerados. Como narra a história, o Visconde de Barbacena descobriu os planos dos inconfidentes através da delação de Joaquim Silvério dos Reis, um militar com muitas dívidas e que provavelmente entraria em falência caso a derrama fosse executada. Em troca de contar acerca da revolução que pretendia libertar o Brasil, Silvério pediu que suas dívidas fossem esquecidas, uma pensão vitalícia e cargos na administração portuguesa.

O fim de Tiradentes? Morre o homem, nasce o mito


Após a delação e prisão de diversos conspiradores Portugal levou-os à justiça. Todos foram condenados, apesar de terem penas diferentes. Alguns dos revoltosos foram condenados ao Degredo, um exílio na África e a impossibilidade de voltar ao Brasil; outros foram condenados à prisão perpétua e a maioria foi condenada à forca. Porém, apesar dessa condenação na justiça, a maior parte dos que estavam destinados à morte foram perdoados pela rainha D. Maria I (conhecida como "a piedosa" e "a louca"). Apenas um homem foi levado, de fato, à morte para servir como exemplo aos que quisessem levantar-se contra Portugal: O Tiradentes.

Preso em 1789, a execução de Tiradentes só ocorreu em 21 de abril de 1792. Apesar das tentativas de impedir sua morte, tudo foi em vão. Após ser enforcado, Joaquim foi esquartejado e seus pedaços espalhados pela estrada que ligava o Rio de Janeiro até Vila Rica (atual Ouro Preto). Assim chegava o fim de Tiradentes, tido como um revolucionário “Lunático” que deu sua vida em nome de uma causa perdida.

A história, porém, sempre guarda um lugar especial para aqueles que dedicam sua vida em nome de uma ideia.

Após 30 anos da morte de Tiradentes houve a independência do Brasil (07/09/1822) e logo em seguida nasce o novo imperador D. Pedro II (02/01/1825) em solo brasileiro.

Com a implantação da República (15/11/1889) e a expulsão, de vez, da família imperial sob o comando do Brasil (vale lembrar que mesmo após a independência fomos governados por uma estrutura de poder deixada pelos portugueses), Tiradentes foi alçado como um mártir, o grande símbolo da república que entregou sua vida em nome da liberdade.

"Tiradentes, o libertário dos impostos abusivos da coroa."

Assim iniciou o mito de Tiradentes e que até hoje merece ser lembrado. Lembremos que num mesmo 21 de abril, há 231 anos, um brasileiro tentou libertar-se das amarras coloniais que por tanto tempo nos prenderam.

Tiradentes, portanto, não morreu. Segue vivo na memória e eternizado na cultura, na história e nos ideais de cada brasileiro. Que tenhamos uma excelente comemoração em homenagem a esse grande homem!

Bom trabalho e grande abraço,
Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 18 de abril de 2023

Adolph Zukor, o vendedor de peles que mudou o cinema mundial

 

Há um ditado popular que diz “a fé é capaz de mover montanhas”. Você, caro leitor, certamente já escutou ou mesmo falou essa frase, mas é possível que algo tenha lhe escapado em seu sentido. Digo isso porque, em geral, associamos a fé somente a um sentido religioso, em acreditar que Deus nos ajudará em alguma situação, certo? O significado de fé, porém, extrapola essa limitação e pode ser empregado de várias maneiras. Podemos, por exemplo, ter fé na humanidade e acreditar que um dia nossa realidade irá melhorar. Do mesmo modo podemos ter fé em nós mesmos, nos nossos objetivos e realizá-los, não é verdade?

Considerando esse sentido mais amplo, o que nos faz mover montanhas é acreditar tão piamente em nossos objetivos que fazemos o possível (e às vezes o aparente impossível) para transformar nossa realidade. Assim, todas as grandes histórias de empreendedores começam mais ou menos dessa maneira: quando um homem ou mulher passa a sonhar que pode mudar a realidade à sua volta, seja somente a sua ou a de uma série de pessoas, e coloca em prática aquilo em que acredita. Por vezes, ainda, pode-se estar motivado por um gosto qualquer, um hobby, mas o empenho e dedicação são similares para todos que iniciam sua jornada no empreendedorismo. Portanto, para realmente tornar-se um empreendedor de sucesso é fundamental, mais do que as técnicas, é não perder a fé em seu próprio negócio.

Partindo dessa perspectiva, hoje conheceremos um dos maiores empreendedores do audiovisual, um homem que foi capaz de reinventar-se sem perder de vista suas tradições e cultura. Estamos falando de Adolph Zukor, o húngaro que revolucionou o cinema mundial com seu método de gerenciamento.

O menino órfão chega à América

Para entendermos a resiliência de Zukor precisamos conhecer um pouco dos seus primeiros anos de vida. Nascido no antigo Império Austro-Hungaro (atual Hungria), mais precisamente no pequeno vilarejo de Risce. A nível de comparação, Risce hoje possui pouco mais de 1.400 habitantes, logo, podemos supor que no final do século XIX, em 1873, quando Zukor nasceu, Risce não passava de um pequeno grupo de casas com uma vida extremamente pacata. 

Seu pai, Jacob, tinha uma pequena loja no povoado, mas Adolph nunca chegou a conhecê-lo propriamente, pois Jacob faleceu quando Zukor tinha apenas um ano de idade. Sua mãe passou a cuidar dos filhos e dos negócios da família sozinha, mas também pereceu poucos anos depois, deixando Adolph e seus irmãos órfãos. A tragédia que marcou a vida de Zukor nos seus primeiros anos certamente deixou grandes feridas em sua personalidade, mas também foi responsável pela força que ele encontraria para seguir mesmo nos seus piores momentos.

Sem pais aos 7 anos de idade, Adolph foi morar com um tio que o criou dentro da cultura judaica. Zukor chegou a servir por três anos na comunidade, mesmo que, de acordo com historiadores, forçado pelo tio. O fato que legitima esse ponto de vista está na migração que o jovem optou fazer aos 16 anos, em 1889, deixando seu tio e irmão no então Império Austro-Hungaro e indo ganhar a vida nos Estados Unidos, até então a terra dos sonhos. 

Devemos lembrar que no final do século XIX o país americano já demonstrava uma acelerada economia, rivalizando com as grandes potências europeias como Inglaterra, Alemanha e França.

A escolha pelos Estados Unidos não está clara quando pesquisamos sobre a biografia do empreendedor da indústria cinematográfica, mas podemos deduzir que Zukor buscava uma nova vida, longe do velho continente e da mentalidade que habitava a Europa e seus impérios. Um país que pregava a liberdade e a possibilidade de viver o American Dream provavelmente soava melhor nas intenções de Zukor. 

Assim, o jovem de apenas 16 anos chegou em Nova York, tão perdido na metrópole como qualquer um que sai de uma cidade pequena e cai, de uma hora para outra, na grande confusão das selvas de pedra moderna.

A paixão de Zukor pelo cinema e o início de um negócio promissor

O novo mundo esperado por Zukor lhe obrigou a batalhar pelos seus sonhos. O jovem trabalhou em diversos ramos, mas seus principais empregos foram de faxineiro e de peleteiro, que nada mais é do que um artesão e vendedor de peles. Com apenas dois anos na profissão, Zukor abriu seu primeiro negócio e acabou tendo um relativo sucesso, mostrando grande habilidade para o comércio. Entretanto, Nova York mostrou ao jovem Adolph Zukor algo que ele nunca havia experimentado antes: o cinema.

Criado em 1895, o cinema tornou-se uma verdadeira paixão para o jovem Zukor. Quando a novidade chegou nas terras americanas, Zukor já possuía um acúmulo de capital considerável. Com toda certeza podemos afirmar que não era uma pessoa rica, muito menos com diversas posses, mas sua capacidade de gerenciamento de recursos o fez sobressair-se frente aos demais. 

Assim, a partir de 1903, junto com Max Goldenstein, Adolph Zukor começou a investir na indústria audiovisual. Seu plano inicial foi comprar pequenos cinemas, que não passavam de salas de exibição, e a partir daí aprender sobre o novo mercado que se formava, suas necessidades e o que precisava suprir para tornar rentável seu projeto.

Esses primeiros anos de experiência renderam a Adolph Zukor uma grande experiência e certo acúmulo de patrimônio. Isso lhe permitiu, em 1912, também com outros dois sócios, fundar a “Famous Players Company”. 

Pouco tempo depois Zukor já não cuidava apenas dos números da empresa, mas também era o gênio criativo dos longas e curta metragens que passavam a ser produzidos. Desse modo, em 1924, doze anos após iniciar seu projeto cinematográfico, Zukor deu o passo que tornou-o um verdadeiro empreendedor de sucesso: o húngaro criou a Paramount.

Se você assiste filmes hoje é muito provável que você conheça a empresa Paramount. Responsável pela produção e distribuição de diversos longa-metragens, a empresa pode ser considerada uma das mais antigas do ramo nos Estados Unidos. Com 110 anos de existência (conta-se a partir de 1912), o primeiro presidente da empresa foi Zukor, que seguiu no comando até 1936, mas até sua morte seguiu como presidente honorário. 

Ao longo das décadas, a Paramount foi tendo altos e baixos, principalmente nos momentos de crise como em 1929. Porém, a magia do cinema e uma gestão firme na contenção de gastos e obtenção de recursos não deixaram que a empresa declarasse falência em seus momentos mais obscuros.

O diferencial da Paramount

Para além de uma boa administração, a Paramount destacou-se no segmento por ser a pioneira em produzir, distribuir e exibir seus filmes. Com mais de 1.200 salas de cinema nos anos 1930, (um recorde até os dias atuais) a empresa de Zukor conseguiu entrar e controlar todas as fases do processo do filme, desde a contratação dos atores e a filmagens do longa, até o filme chegar nas telas e serem mostrados ao público.

Mesmo sendo uma ação centralizadora, o fato de conseguir executar diferentes funções dava uma grande margem de manobra e independência para a Paramount, que podia ditar o ritmo de produção e reprodução dos filmes.

Desse modo, a ideia de Zukor foi de estar em todas as etapas do filme, o que mais tarde se tornou uma prática bastante comum no cinema. Assim, o jovem que vendia peles agora era um comerciante da sétima arte, capaz de apreciar milhares de filmes acumulados em seus estúdios e salas de cinema. 

O próprio Adolph Zukor foi diretor e produtor de alguns filmes lançados pela Paramount, mostrando que sua paixão pelo cinema não estava limitada a assistir um bom filme, mas também de criar boas histórias para entreter a população.

Ao longo do século XX a Paramount lançou uma série de clássicos do cinema. Filmes como “Star Trek” e “O poderoso chefão” são apenas dois dos inúmeros sucessos da companhia de audiovisual. Desse modo, Adolph não só contribuiu para tornar o cinema um entretenimento viável à sociedade americana, como também pôde realizar-se enquanto empreendedor ao ver seu negócio tornar-se gigante.

O jovem de 16 anos que saiu de Risce poderia, finalmente, dizer que viveu o sonho americano. E o fez por muitos anos, uma vez que viveu até os 103 anos. Falecendo em 1976 de causas naturais, o húngaro fez sua estrela brilhar, tanto nas telas de cinema como na vida, sendo um verdadeiro artista do mundo empresarial.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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