terça-feira, 18 de abril de 2023

Adolph Zukor, o vendedor de peles que mudou o cinema mundial

 

Há um ditado popular que diz “a fé é capaz de mover montanhas”. Você, caro leitor, certamente já escutou ou mesmo falou essa frase, mas é possível que algo tenha lhe escapado em seu sentido. Digo isso porque, em geral, associamos a fé somente a um sentido religioso, em acreditar que Deus nos ajudará em alguma situação, certo? O significado de fé, porém, extrapola essa limitação e pode ser empregado de várias maneiras. Podemos, por exemplo, ter fé na humanidade e acreditar que um dia nossa realidade irá melhorar. Do mesmo modo podemos ter fé em nós mesmos, nos nossos objetivos e realizá-los, não é verdade?

Considerando esse sentido mais amplo, o que nos faz mover montanhas é acreditar tão piamente em nossos objetivos que fazemos o possível (e às vezes o aparente impossível) para transformar nossa realidade. Assim, todas as grandes histórias de empreendedores começam mais ou menos dessa maneira: quando um homem ou mulher passa a sonhar que pode mudar a realidade à sua volta, seja somente a sua ou a de uma série de pessoas, e coloca em prática aquilo em que acredita. Por vezes, ainda, pode-se estar motivado por um gosto qualquer, um hobby, mas o empenho e dedicação são similares para todos que iniciam sua jornada no empreendedorismo. Portanto, para realmente tornar-se um empreendedor de sucesso é fundamental, mais do que as técnicas, é não perder a fé em seu próprio negócio.

Partindo dessa perspectiva, hoje conheceremos um dos maiores empreendedores do audiovisual, um homem que foi capaz de reinventar-se sem perder de vista suas tradições e cultura. Estamos falando de Adolph Zukor, o húngaro que revolucionou o cinema mundial com seu método de gerenciamento.

O menino órfão chega à América

Para entendermos a resiliência de Zukor precisamos conhecer um pouco dos seus primeiros anos de vida. Nascido no antigo Império Austro-Hungaro (atual Hungria), mais precisamente no pequeno vilarejo de Risce. A nível de comparação, Risce hoje possui pouco mais de 1.400 habitantes, logo, podemos supor que no final do século XIX, em 1873, quando Zukor nasceu, Risce não passava de um pequeno grupo de casas com uma vida extremamente pacata. 

Seu pai, Jacob, tinha uma pequena loja no povoado, mas Adolph nunca chegou a conhecê-lo propriamente, pois Jacob faleceu quando Zukor tinha apenas um ano de idade. Sua mãe passou a cuidar dos filhos e dos negócios da família sozinha, mas também pereceu poucos anos depois, deixando Adolph e seus irmãos órfãos. A tragédia que marcou a vida de Zukor nos seus primeiros anos certamente deixou grandes feridas em sua personalidade, mas também foi responsável pela força que ele encontraria para seguir mesmo nos seus piores momentos.

Sem pais aos 7 anos de idade, Adolph foi morar com um tio que o criou dentro da cultura judaica. Zukor chegou a servir por três anos na comunidade, mesmo que, de acordo com historiadores, forçado pelo tio. O fato que legitima esse ponto de vista está na migração que o jovem optou fazer aos 16 anos, em 1889, deixando seu tio e irmão no então Império Austro-Hungaro e indo ganhar a vida nos Estados Unidos, até então a terra dos sonhos. 

Devemos lembrar que no final do século XIX o país americano já demonstrava uma acelerada economia, rivalizando com as grandes potências europeias como Inglaterra, Alemanha e França.

A escolha pelos Estados Unidos não está clara quando pesquisamos sobre a biografia do empreendedor da indústria cinematográfica, mas podemos deduzir que Zukor buscava uma nova vida, longe do velho continente e da mentalidade que habitava a Europa e seus impérios. Um país que pregava a liberdade e a possibilidade de viver o American Dream provavelmente soava melhor nas intenções de Zukor. 

Assim, o jovem de apenas 16 anos chegou em Nova York, tão perdido na metrópole como qualquer um que sai de uma cidade pequena e cai, de uma hora para outra, na grande confusão das selvas de pedra moderna.

A paixão de Zukor pelo cinema e o início de um negócio promissor

O novo mundo esperado por Zukor lhe obrigou a batalhar pelos seus sonhos. O jovem trabalhou em diversos ramos, mas seus principais empregos foram de faxineiro e de peleteiro, que nada mais é do que um artesão e vendedor de peles. Com apenas dois anos na profissão, Zukor abriu seu primeiro negócio e acabou tendo um relativo sucesso, mostrando grande habilidade para o comércio. Entretanto, Nova York mostrou ao jovem Adolph Zukor algo que ele nunca havia experimentado antes: o cinema.

Criado em 1895, o cinema tornou-se uma verdadeira paixão para o jovem Zukor. Quando a novidade chegou nas terras americanas, Zukor já possuía um acúmulo de capital considerável. Com toda certeza podemos afirmar que não era uma pessoa rica, muito menos com diversas posses, mas sua capacidade de gerenciamento de recursos o fez sobressair-se frente aos demais. 

Assim, a partir de 1903, junto com Max Goldenstein, Adolph Zukor começou a investir na indústria audiovisual. Seu plano inicial foi comprar pequenos cinemas, que não passavam de salas de exibição, e a partir daí aprender sobre o novo mercado que se formava, suas necessidades e o que precisava suprir para tornar rentável seu projeto.

Esses primeiros anos de experiência renderam a Adolph Zukor uma grande experiência e certo acúmulo de patrimônio. Isso lhe permitiu, em 1912, também com outros dois sócios, fundar a “Famous Players Company”. 

Pouco tempo depois Zukor já não cuidava apenas dos números da empresa, mas também era o gênio criativo dos longas e curta metragens que passavam a ser produzidos. Desse modo, em 1924, doze anos após iniciar seu projeto cinematográfico, Zukor deu o passo que tornou-o um verdadeiro empreendedor de sucesso: o húngaro criou a Paramount.

Se você assiste filmes hoje é muito provável que você conheça a empresa Paramount. Responsável pela produção e distribuição de diversos longa-metragens, a empresa pode ser considerada uma das mais antigas do ramo nos Estados Unidos. Com 110 anos de existência (conta-se a partir de 1912), o primeiro presidente da empresa foi Zukor, que seguiu no comando até 1936, mas até sua morte seguiu como presidente honorário. 

Ao longo das décadas, a Paramount foi tendo altos e baixos, principalmente nos momentos de crise como em 1929. Porém, a magia do cinema e uma gestão firme na contenção de gastos e obtenção de recursos não deixaram que a empresa declarasse falência em seus momentos mais obscuros.

O diferencial da Paramount

Para além de uma boa administração, a Paramount destacou-se no segmento por ser a pioneira em produzir, distribuir e exibir seus filmes. Com mais de 1.200 salas de cinema nos anos 1930, (um recorde até os dias atuais) a empresa de Zukor conseguiu entrar e controlar todas as fases do processo do filme, desde a contratação dos atores e a filmagens do longa, até o filme chegar nas telas e serem mostrados ao público.

Mesmo sendo uma ação centralizadora, o fato de conseguir executar diferentes funções dava uma grande margem de manobra e independência para a Paramount, que podia ditar o ritmo de produção e reprodução dos filmes.

Desse modo, a ideia de Zukor foi de estar em todas as etapas do filme, o que mais tarde se tornou uma prática bastante comum no cinema. Assim, o jovem que vendia peles agora era um comerciante da sétima arte, capaz de apreciar milhares de filmes acumulados em seus estúdios e salas de cinema. 

O próprio Adolph Zukor foi diretor e produtor de alguns filmes lançados pela Paramount, mostrando que sua paixão pelo cinema não estava limitada a assistir um bom filme, mas também de criar boas histórias para entreter a população.

Ao longo do século XX a Paramount lançou uma série de clássicos do cinema. Filmes como “Star Trek” e “O poderoso chefão” são apenas dois dos inúmeros sucessos da companhia de audiovisual. Desse modo, Adolph não só contribuiu para tornar o cinema um entretenimento viável à sociedade americana, como também pôde realizar-se enquanto empreendedor ao ver seu negócio tornar-se gigante.

O jovem de 16 anos que saiu de Risce poderia, finalmente, dizer que viveu o sonho americano. E o fez por muitos anos, uma vez que viveu até os 103 anos. Falecendo em 1976 de causas naturais, o húngaro fez sua estrela brilhar, tanto nas telas de cinema como na vida, sendo um verdadeiro artista do mundo empresarial.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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