“Sucesso é 99% fracasso.” Essa famosa frase dita por Soichiro Honda deveria ecoar na mente e coração de todos aqueles que pretendem seguir o caminho do empreendedorismo, pois sintetiza grande parte da vida empresarial. Sabemos que o conhecimento e a capacitação são vitais em qualquer segmento, porém, nada disso importa sem estarmos dispostos a realizar esforços desmedidos, a ter uma disciplina inquebrantável e a ser capaz de resistir quando a maioria desiste. São exatamente essas características, que só podem ser adquiridas com vivência das experiências, que forjam o espírito dos grandes empreendedores, pois não há escolas que formam pessoas disciplinadas ou resistentes a não ser a própria vida.
Por isso, hoje no “Grandes empreendedores da História” vamos conhecer um pouco mais sobre Soichiro Honda, o homem que saiu de um pequeno vilarejo no Japão para fundar a maior multinacional de motocicletas do mundo.
Os primeiros passos do jovem Honda
Soichiro nasceu no povoado de Komyo, no Japão, em 1906. Na pequena aldeia seus pais trabalhavam prestando serviços: enquanto sua mãe era uma habilidosa tecelã, seu pai consertava bicicletas atuando como ferreiro. Desde cedo Honda passou a ajudar nas forjas, além de seguir os estudos formais. Entretanto, o caminho das letras não parecia agradar o jovem, que não tirava notas boas e até chegou a burlar o sistema escolar falsificando o carimbo da sua família para esconder dos pais o boletim.
A vivência do trabalho lhe parecia um caminho mais adequado. Tanto que, anos mais tarde, já reconhecido como um grande empresário, Soichiro revelou que pouco importava-se com a formação intelectual dos seus funcionários, mas sim com os conhecimentos que cada um possuía, seja advindo da universidade ou da vida prática. Tal opinião não era por acaso, uma vez que o próprio Soichiro começou a dar seus primeiros passos no mundo do trabalho desta maneira.
Aos 15 anos de idade, sem ter concluído a etapa escolar, o jovem partiu da sua aldeia para arriscar-se em Tokyo, a capital do país. Lá, Soichiro conseguiu um emprego de aprendiz em uma oficina mecânica. O que o levou a buscar aprender o ofício de mecânico foi, porém, uma memória afetiva da primeira vez que viu um automóvel circular em sua aldeia. O próprio Soichiro afirmava que nunca esqueceu o cheiro de óleo que o carro exalava e que isso o fez apaixonar-se pela mecânica e suas invenções.
Honda passou seis anos atuando como mecânico em Tokyo, de 1922 a 1928. Nesse período ele chegou a desenvolver um carro de corrida que bateu recordes nacionais de velocidade, o que lhe projetou não somente como um hábil construtor, mas também piloto. O gosto pela velocidade dos automóveis fez com que Honda buscasse, inicialmente, uma vida de piloto, mas tal carreira se mostrou bem curta para o empreendedor japonês. Até 1936 ele ainda competiu em algumas corridas, mas um grave acidente o fez abandonar o volante, levando-o para um outro momento da vida: o de construir sua própria empresa.
Os percalços do empreendedor Honda
Em 1937 Soichiro, então com 31 anos, decidiu começar sua própria empresa: a Tokai Seiki. Essa empresa tinha como finalidade construir anéis de pistão, que são responsáveis por vedar os cilindros dos motores e evitar que o óleo escorra para outras partes do veículo. Inicialmente a empresa de Soichiro tentou vender seus pistões para a Toyota, que na época era a líder do segmento no Japão. Porém, a empresa rejeitou os produtos da Tokai Seiki devido considerar que não atendiam ao padrão da Toyota.
O que fazer frente a isso?
Homem de ação, Soichiro não deixou-se abalar pela recusa inicial e passou cerca de quatro anos (entre 1937 a 1941) aperfeiçoando seus anéis. Soichiro visitou fábricas, conversou com engenheiros, chegou a assistir aulas em universidades para tentar compreender a melhor maneira de fabricar o seu produto. Melhorando ao longo dos anos, acabou conseguindo o contrato com a Toyota, porém o sucesso ainda estaria longe.
Como sabemos, em 1939 iniciou o maior conflito bélico da história: a II Guerra Mundial (1939 - 1945). O Japão, assim como as demais nações que entraram no conflito, começaram um esforço de guerra e praticamente todos os recursos financeiros e naturais foram destinados para a construção de armas e equipamentos para o confronto. Visto isso, Soichiro não conseguia matéria-prima para fazer seus anéis de pistão, muito menos cimento para a ampliação da sua fábrica.
Mais uma vez o destino impunha um obstáculo no sonho do fundador da Honda. Soichiro não ficou à mercê das circunstâncias e criou seu próprio cimento, gerando assim seus próprios recursos de maneira que não impactasse a produção bélica do país. Porém, ainda não seria esse o sucesso de Soichiro, pois em 1944, pouco tempo após ampliar seus negócios, a fábrica foi bombardeada e destruída. Ainda restaria uma outra fábrica, mas essa, em 1945, também foi ao solo devido um terremoto.
Imaginem assistir seu negócio ruir por tais circunstâncias. O que faríamos? É muito provável que desistiríamos dos nossos sonhos e nos renderíamos ao contexto em que estávamos vivenciando, mas Soichiro não seria vencido assim. Mesmo sob condições tão adversas, a resiliência de Honda conseguiu mantê-lo firme em seu sonho de empreender
O nascimento da Honda
As cinzas e escombros das duas fábricas de Soichiro foram a semente do maior dos seus empreendimentos: a Honda. Precisando reestruturar-se, Soichiro vendeu o que tinha restado de material para Toyota, assim como a própria empresa Tokai Seiki. Em 1946, vislumbrando um futuro sem guerras, Soichiro fundou o instituto de pesquisas Honda, no qual foi responsável por criar protótipos de uma bicicleta motorizada, capaz de transportar as pessoas de forma econômica. Em um país arrasado pela guerra, uma solução eficaz e barata era ideal para começar o longo processo de restauração da economia nacional.
A Honda começou a fabricar suas bicicletas motorizadas em 1948, chamadas de Tipo A. O sucesso do novo meio de transporte foi um sinal de que aquela era a oportunidade tão esperada por Soichiro. Em 1949 ele fechou seu instituto de pesquisa para lançar em definitivo a “Honda Motor Company”, ou simplesmente Honda. Com o tempo, Soichiro passou a fabricar motores melhores, mais silenciosos e mudar o design do seu produto, pois a aparência de uma bicicleta tornava pouco atrativa as motos Honda.
Para auxiliá-lo nessa empreitada, Soichiro tornou-se sócio de Takeo Fujisawa, um grande administrador japonês que pouco entendia de motos, mas muito de negócios. Fujisawa foi o braço direito de Soichiro e é graças a ele que a Honda conseguiu expandir-se rapidamente para outros países. Enquanto Soichiro cuidava da parte mecânica dos modelos, fazendo-os mais rápidos e eficazes, Fujisawa trabalhava na parte financeira e na publicidade da Honda.
A união dessas duas habilidades fizeram com que a Honda fosse ao sucesso de forma extremamente rápida. Em 1958, somente dez anos após o lançamento do seu primeiro protótipo, a empresa já era a maior fabricante de motos do Japão. Seu sucesso foi graças a qualidade das motos, com motores velozes e também pela publicidade da empresa, fazendo-a cair no gosto popular.
Os últimos anos de Soichiro Honda
A Honda continuou a expandir seus negócios. Hoje, presente em mais de 20 países, a empresa não fabrica apenas motos, mas também carros. Soichiro ficou à frente da Honda até 1973, ano em que se aposentou. Entretanto, até seu último dia estava presente na empresa. Em 1983, por exemplo, o fundador da empresa recebeu o “cargo” de “conselheiro supremo”, no qual estava sempre à disposição para apresentar sua visão de negócios e os caminhos que a Honda poderia seguir.
O “Henry Ford Japonês”, como também foi apelidado, chegou ao fim da vida no ano de 1991, aos 84 anos. Como o mesmo disse: "O dia em que paro de sonhar é o dia que eu morrer." No fim, talvez essa seja a maior lição a ser aprendida com o fundador da Honda: o valor de continuarmos sonhando para nos mantermos invencíveis frente às adversidades.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio
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