terça-feira, 18 de abril de 2023

Adolph Zukor, o vendedor de peles que mudou o cinema mundial

 

Há um ditado popular que diz “a fé é capaz de mover montanhas”. Você, caro leitor, certamente já escutou ou mesmo falou essa frase, mas é possível que algo tenha lhe escapado em seu sentido. Digo isso porque, em geral, associamos a fé somente a um sentido religioso, em acreditar que Deus nos ajudará em alguma situação, certo? O significado de fé, porém, extrapola essa limitação e pode ser empregado de várias maneiras. Podemos, por exemplo, ter fé na humanidade e acreditar que um dia nossa realidade irá melhorar. Do mesmo modo podemos ter fé em nós mesmos, nos nossos objetivos e realizá-los, não é verdade?

Considerando esse sentido mais amplo, o que nos faz mover montanhas é acreditar tão piamente em nossos objetivos que fazemos o possível (e às vezes o aparente impossível) para transformar nossa realidade. Assim, todas as grandes histórias de empreendedores começam mais ou menos dessa maneira: quando um homem ou mulher passa a sonhar que pode mudar a realidade à sua volta, seja somente a sua ou a de uma série de pessoas, e coloca em prática aquilo em que acredita. Por vezes, ainda, pode-se estar motivado por um gosto qualquer, um hobby, mas o empenho e dedicação são similares para todos que iniciam sua jornada no empreendedorismo. Portanto, para realmente tornar-se um empreendedor de sucesso é fundamental, mais do que as técnicas, é não perder a fé em seu próprio negócio.

Partindo dessa perspectiva, hoje conheceremos um dos maiores empreendedores do audiovisual, um homem que foi capaz de reinventar-se sem perder de vista suas tradições e cultura. Estamos falando de Adolph Zukor, o húngaro que revolucionou o cinema mundial com seu método de gerenciamento.

O menino órfão chega à América

Para entendermos a resiliência de Zukor precisamos conhecer um pouco dos seus primeiros anos de vida. Nascido no antigo Império Austro-Hungaro (atual Hungria), mais precisamente no pequeno vilarejo de Risce. A nível de comparação, Risce hoje possui pouco mais de 1.400 habitantes, logo, podemos supor que no final do século XIX, em 1873, quando Zukor nasceu, Risce não passava de um pequeno grupo de casas com uma vida extremamente pacata. 

Seu pai, Jacob, tinha uma pequena loja no povoado, mas Adolph nunca chegou a conhecê-lo propriamente, pois Jacob faleceu quando Zukor tinha apenas um ano de idade. Sua mãe passou a cuidar dos filhos e dos negócios da família sozinha, mas também pereceu poucos anos depois, deixando Adolph e seus irmãos órfãos. A tragédia que marcou a vida de Zukor nos seus primeiros anos certamente deixou grandes feridas em sua personalidade, mas também foi responsável pela força que ele encontraria para seguir mesmo nos seus piores momentos.

Sem pais aos 7 anos de idade, Adolph foi morar com um tio que o criou dentro da cultura judaica. Zukor chegou a servir por três anos na comunidade, mesmo que, de acordo com historiadores, forçado pelo tio. O fato que legitima esse ponto de vista está na migração que o jovem optou fazer aos 16 anos, em 1889, deixando seu tio e irmão no então Império Austro-Hungaro e indo ganhar a vida nos Estados Unidos, até então a terra dos sonhos. 

Devemos lembrar que no final do século XIX o país americano já demonstrava uma acelerada economia, rivalizando com as grandes potências europeias como Inglaterra, Alemanha e França.

A escolha pelos Estados Unidos não está clara quando pesquisamos sobre a biografia do empreendedor da indústria cinematográfica, mas podemos deduzir que Zukor buscava uma nova vida, longe do velho continente e da mentalidade que habitava a Europa e seus impérios. Um país que pregava a liberdade e a possibilidade de viver o American Dream provavelmente soava melhor nas intenções de Zukor. 

Assim, o jovem de apenas 16 anos chegou em Nova York, tão perdido na metrópole como qualquer um que sai de uma cidade pequena e cai, de uma hora para outra, na grande confusão das selvas de pedra moderna.

A paixão de Zukor pelo cinema e o início de um negócio promissor

O novo mundo esperado por Zukor lhe obrigou a batalhar pelos seus sonhos. O jovem trabalhou em diversos ramos, mas seus principais empregos foram de faxineiro e de peleteiro, que nada mais é do que um artesão e vendedor de peles. Com apenas dois anos na profissão, Zukor abriu seu primeiro negócio e acabou tendo um relativo sucesso, mostrando grande habilidade para o comércio. Entretanto, Nova York mostrou ao jovem Adolph Zukor algo que ele nunca havia experimentado antes: o cinema.

Criado em 1895, o cinema tornou-se uma verdadeira paixão para o jovem Zukor. Quando a novidade chegou nas terras americanas, Zukor já possuía um acúmulo de capital considerável. Com toda certeza podemos afirmar que não era uma pessoa rica, muito menos com diversas posses, mas sua capacidade de gerenciamento de recursos o fez sobressair-se frente aos demais. 

Assim, a partir de 1903, junto com Max Goldenstein, Adolph Zukor começou a investir na indústria audiovisual. Seu plano inicial foi comprar pequenos cinemas, que não passavam de salas de exibição, e a partir daí aprender sobre o novo mercado que se formava, suas necessidades e o que precisava suprir para tornar rentável seu projeto.

Esses primeiros anos de experiência renderam a Adolph Zukor uma grande experiência e certo acúmulo de patrimônio. Isso lhe permitiu, em 1912, também com outros dois sócios, fundar a “Famous Players Company”. 

Pouco tempo depois Zukor já não cuidava apenas dos números da empresa, mas também era o gênio criativo dos longas e curta metragens que passavam a ser produzidos. Desse modo, em 1924, doze anos após iniciar seu projeto cinematográfico, Zukor deu o passo que tornou-o um verdadeiro empreendedor de sucesso: o húngaro criou a Paramount.

Se você assiste filmes hoje é muito provável que você conheça a empresa Paramount. Responsável pela produção e distribuição de diversos longa-metragens, a empresa pode ser considerada uma das mais antigas do ramo nos Estados Unidos. Com 110 anos de existência (conta-se a partir de 1912), o primeiro presidente da empresa foi Zukor, que seguiu no comando até 1936, mas até sua morte seguiu como presidente honorário. 

Ao longo das décadas, a Paramount foi tendo altos e baixos, principalmente nos momentos de crise como em 1929. Porém, a magia do cinema e uma gestão firme na contenção de gastos e obtenção de recursos não deixaram que a empresa declarasse falência em seus momentos mais obscuros.

O diferencial da Paramount

Para além de uma boa administração, a Paramount destacou-se no segmento por ser a pioneira em produzir, distribuir e exibir seus filmes. Com mais de 1.200 salas de cinema nos anos 1930, (um recorde até os dias atuais) a empresa de Zukor conseguiu entrar e controlar todas as fases do processo do filme, desde a contratação dos atores e a filmagens do longa, até o filme chegar nas telas e serem mostrados ao público.

Mesmo sendo uma ação centralizadora, o fato de conseguir executar diferentes funções dava uma grande margem de manobra e independência para a Paramount, que podia ditar o ritmo de produção e reprodução dos filmes.

Desse modo, a ideia de Zukor foi de estar em todas as etapas do filme, o que mais tarde se tornou uma prática bastante comum no cinema. Assim, o jovem que vendia peles agora era um comerciante da sétima arte, capaz de apreciar milhares de filmes acumulados em seus estúdios e salas de cinema. 

O próprio Adolph Zukor foi diretor e produtor de alguns filmes lançados pela Paramount, mostrando que sua paixão pelo cinema não estava limitada a assistir um bom filme, mas também de criar boas histórias para entreter a população.

Ao longo do século XX a Paramount lançou uma série de clássicos do cinema. Filmes como “Star Trek” e “O poderoso chefão” são apenas dois dos inúmeros sucessos da companhia de audiovisual. Desse modo, Adolph não só contribuiu para tornar o cinema um entretenimento viável à sociedade americana, como também pôde realizar-se enquanto empreendedor ao ver seu negócio tornar-se gigante.

O jovem de 16 anos que saiu de Risce poderia, finalmente, dizer que viveu o sonho americano. E o fez por muitos anos, uma vez que viveu até os 103 anos. Falecendo em 1976 de causas naturais, o húngaro fez sua estrela brilhar, tanto nas telas de cinema como na vida, sendo um verdadeiro artista do mundo empresarial.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 11 de abril de 2023

Mary Parker Follet, a grande dama da administração

Uma antiga frase diz que “a História traz a redenção aos injustiçados”. Quando analisamos a vida de diversos personagens históricos como Hipátia e Giordano Bruno, por exemplo, podemos compreender que, de fato, ao longo do tempo pessoas que não foram bem compreendidas em sua época acabam por serem redescobertas.

No caso de Hipátia, a matemática e filósofa chegou a ser diretora da biblioteca de Alexandria, considerada uma das maiores instituições intelectuais do século V, junto com a Academia de Atenas, fundada por Platão. Apesar da sua brilhante carreira, Hipátia teve um fim trágico ao ser morto por fanáticos religiosos, que não aceitavam seu papel na sociedade. Grande parte dos seus ensinamentos foram queimados e por mais de mil anos a grande filósofa de Alexandria foi relegada ao esquecimento. Já o caso de Giordano Bruno, frade dominicado que viveu no século XVI, também é emblemático. Condenado à fogueira pela inquisição, o filósofo não somente aceitou sua condenação como profetizou que séculos mais tarde existiria uma estátua sua no mesmo local onde estava sendo levado à morte.

Assim, parece-nos que a História, uma hora ou outra, acaba sendo revelada e aqueles tidos como loucos provam-se, na verdade, como os mais lúcidos do seu tempo. É evidente que para isso ocorrer é preciso que busquemos enxergar tais injustiças e corrigi-las o quanto antes, como no caso da administradora que conheceremos um pouco mais hoje: Mary Parker Follet, a grande dama da administração moderna.

Quem foi Mary Parker Follet?

A história de Mary Parker Follet começa nos Estados Unidos, na cidade de Quincy em 1868. Como podemos imaginar, os primeiros anos da vida de Follet não foram tão diferentes de qualquer mulher que nascesse no século XIX. Sua rotina dividia-se entre o ensino básico e as atividades domésticas, o que, para muitas damas dessa época, seria uma realidade quase insuperável. Porém, graças a influência de uma professora, a jovem Mary Parker conseguiu perceber que poderia seguir outras profissões que não fosse cuidar dos filhos e do lar.

Desde os doze anos de idade começou a se debruçar sobre o pensamento científico e como era possível compreender o mundo através da razão. A grande admiração de Follet pela ciência foi por sua precisão de resultados e, acima disso, a possibilidade de verificar se o experimento estava correto ou não. Assim, os experimentos para a teórica da administração passaram a ser uma tônica em sua vida, na qual tornava palpável a realidade, que até então era vista como uma especulação.

Desde então Follet passou a desejar ser cientista. Isso não significa dizer que ela queria viver dentro de um laboratório, criando novas fórmulas químicas como geralmente pensamos quando imaginamos um cientista. Devemos lembrar que o pensamento e método científico se aplica fora dos laboratórios, tendo como principal ambiente a própria vida. Não por acaso temos as ciências humanas, que vão tratar diretamente do comportamento e vida social e, naturalmente, a administração está dentro desse grande bloco de disciplinas.

Follet conseguiu ao longo de sua vida formar-se em filosofia, direito, economia e administração e para isso precisou superar uma série de barreiras. A primeira delas estava diretamente ligada à sua condição de mulher, visto que tinha pouco espaço para o gênero feminino nesse período. Estamos falando do início do século XX e apesar de existirem grandes damas na ciência como Marie Curie e Florence Bascom, elas ainda eram a extrema minoria dentro das universidades e grandes pesquisas.

De maneira objetiva, Follet precisou batalhar para conseguir entrar em Harvard, uma vez que na época o renomado centro de estudos superiores não aceitava mulheres em seu corpo de estudantes regulares. Assim, Mary Parker foi conduzida pelo anexo da universidade, como uma estudante à margem da grade regular. Apesar disso, em 1898 Follet formou-se com honras na universidade, recebendo o título summa cum laude, dado somente aos alunos que atingiram pontuação máxima.

Mary Follet, do esquecimento ao redescobrimento

Apesar da sua grande capacidade intelectual, é fato que durante os anos 1920 e 1930, época em que Follet desenvolveu suas principais teorias, praticamente ninguém a conhecia. Na época a teoria vigente ainda era o Taylorismo, focado na produção em seu mais alto nível. Follet, porém, não compartilhava dos princípios empregados por Taylor e por isso é geralmente classificada como uma das pensadoras da escola das relações humanas, que mais tarde ganharia projeção a partir dos trabalhos de Elton Mayo.

Follet percebeu que a dinâmica de empresas, que naquele período se definia a partir de uma oposição entre patrões e empregados, era nociva à produção, visto que ambas as partes sentiam-se lesadas nas relações de trabalho. De um lado os patrões sentiam que seus empregados poderiam render mais, dedicando mais horas e trabalhando de maneira mais esforçada. Do outro, os empregados não se sentiam valorizados pelos gestores, recebendo baixos salários e condições de trabalho pouco gratificantes. Desse modo, o ambiente dentro da empresa era uma eterna trincheira, em que mais assemelhava-se a um conflito bélico do que uma relação de trabalho. Como resolver este conflito então? 

As duas principais teorias de Mary Parker Follet vão debruçar-se para melhorar os conflitos no trabalho. Como lidamos com seres humanos, que pensam e são autoconscientes, devemos sempre considerar o universo interior que há em cada um de nós. As angústias, prazeres, ambições e desejos são variáveis que devem estar sempre pesando na balança das relações e por isso não é tão simples criar um método que atenda com eficácia todas as pessoas. Como se costuma dizer, “não há receita para uma relação perfeita.”  Sabendo disso, Follet tentou estabelecer duas relações fundamentais que melhorariam a convivência no ambiente de trabalho e, consequentemente, a produção. A primeira delas foi a resposta circular, que basicamente vai apontar que em toda interação humana é fundamental que cada resposta seja considerada em uma discussão, no qual a opinião de uma pessoa irá interferir no meu posicionamento. Quando ambas as partes atuam a partir deste princípio as relações tendem a se harmonizar, criando um ambiente mais favorável e respeitoso. 

A outra teoria é o conflito construtivo, no qual parte do pressuposto que a divergência é natural e benéfica em todas as relações. Assim, precisamos discordar para construir um novo olhar/ponto de vista sobre algum aspecto da vida. É graças às discordâncias que as mudanças ocorrem e, naturalmente, um reposicionamento frente a um dilema ou problemática existente. Quando se faz esse processo de maneira construtiva, ou seja, buscando uma resolução mais apropriada e não como uma “queda de braço” entre duas opiniões, o resultado do conflito acaba sendo benéfico para a empresa pois chega-se a um denominador comum. 

Tais ideias são básicas para as nossas relações diárias, certo? Porém elas definitivamente não foram aceitas no contexto em que Follet vivia. Por isso que até a sua morte, em 1933, o Ocidente praticamente a considerava uma desconhecida, mesmo sendo uma cientista renomada em outros países. Mary Parker Follet fez palestras no Oriente e em alguns países da Europa, mesmo sendo esquecida no seu próprio território. 

Apesar de passar décadas no esquecimento, hoje ela é uma das principais referências da administração moderna. Suas ideias são a base de qualquer prática de convivência comum, seja no trabalho ou na nossa vida privada. Assim, a história mais uma vez provou que traz a redenção para os injustiçados, desta vez não precisando passar séculos ou mesmo um milênio para trazer o reconhecimento tão merecido à essa grande dama da administração.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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terça-feira, 4 de abril de 2023

Como criar uma estratégia de Benchmarking

benchmarking

A comparação é algo comum no mundo dos negócios, afinal, não tem nada de errado em “olhar a grama do vizinho” para buscar melhorias, existe até um nome para isso: Benchmarking.

Descubra o que é esta estratégia e como colocá-la em prática neste texto.

O que é Benchmarking?

A palavra Benchmarking pode ser traduzida como “ponto de referência” e representa uma estratégia para analisar o mercado, seus concorrentes ou empresas de sucesso a fim de se inspirar e fazer melhorias no seu negócio.

Embora muitas vezes o Benchmarking aconteça de maneira natural. Por exemplo: um dono de restaurante visitando outra cidade, encontra uma lanchonete com um cardápio temático e decide adotar esta estratégia no próprio estabelecimento.

Para que a análise de mercado seja feita de maneira eficiente e traga os melhores resultados, um trabalho de pesquisa e a definição de boas métricas é essencial.

A ideia do Benchmarking não é fazer uma cópia do que funciona nos concorrentes, mas sim encontrar as características que adaptadas à sua realidade, podem aumentar o sucesso do seu empreendimento.

Tipos de Benchmarking

Conheça as principais formas de buscar referências:

1.   Benchmarking interno

Nesta estratégia são analisadas as práticas que acontecem na própria empresa, entre filiais ou outros setores.

Por exemplo: o departamento financeiro desenvolve um método mais simples e rápido para armazenar e identificar documentos que também pode ser aplicado no RH.

A grande vantagem deste tipo é que os custos são menores e a implementação é mais fácil. Por isso, esta é a melhor tática para começar.

2.   Benchmarking de cooperação

Acontece quando duas ou mais empresas fazem uma parceria compartilhando estratégias e boas práticas.

Nesta técnica é comum que empresas já consolidadas no mercado abram as suas portas para negócios que estão começando. Contudo, nada impede que dois empreendimentos de sucesso se reuniam para trocar ideias.

3.    Benchmarking competitivo

No formato competitivo, você faz uma comparação da sua empresa com o seu concorrente direto.

No método você avalia as semelhanças e diferenças de produtos, preços, serviços, processos e a forma com que ele se posiciona no mercado.

Um dos fatores que mais impactam no Benchmarking competitivo é a questão ética, pois a maioria das empresas não divulga abertamente estas informações.

4.   Benchmarking funcional

Já neste caso a comparação acontece com empresas de diferentes segmentos, mas que tenha algo que possa ser adaptado para o seu negócio.

Por exemplo: uma loja de móveis pode se beneficiar do mesmo software para controle de estoque que uma loja de eletrodomésticos.

No entanto, para que essa análise seja feita de forma adequada é importante considerar as diferenças entre os dois empreendimentos, de modo a não implementar ideias que, embora sejam boas, não são compatíveis com a sua realidade.

5.   Benchmarking genérico

Muito parecido com o funcional, o Benchmarking genérico recebe este nome por observar as outras empresas de maneira ampla, sendo concorrentes ou não.

Mas nesta situação é importante ter alguma similaridade que baseie a comparação.

Por exemplo: uma empresa deseja investir na humanização da marca e por isso, analisa o caso da Lu da Magalu, assistente virtual da Magazine Luiza.

6.   Benchmarking internacional

Como o nome já diz, neste método, para se destacar no mercado nacional, você busca referências em empresas que estão no exterior.

Por ser em outro país, você pode encontrar mais dificuldades para conseguir as informações e fazer os estudos, entretanto, é uma ótima oportunidade para descobrir ideias inovadoras.

Como buscar as referências

Com o surgimento da internet, estudar a concorrência é bem mais fácil e rápido. Entretanto, para você tirar ótimas ideias da pesquisa é importante traçar uma rota.  Por isso, segue um exemplo:

Faça uma análise interna

Como já disse anteriormente o Benchmarking interno é o mais simples de fazer e o mais fácil de implementar, afinal já está na cultura da empresa.

Por isso, a ideia é começar analisando os processos e práticas do próprio negócio.

Esta etapa, além de possibilitar o encontro de cases de sucesso internos, te mostrará quais pontos o seu empreendimento precisa melhorar.

Escolha quais empresas irá estudar

Agora é o momento de escolher em quais empreendimentos você irá buscar inspiração. O ideal é que você comece pelas empresas que são referência no seu mercado.

Decida quais respostas você busca

Antes de iniciar a pesquisa em si, é fundamental que você estabeleça os indicadores que vão nortear a sua análise.

Por exemplo: você deseja melhorar o seu marketing digital, então elementos para avaliar os concorrentes são:

  • Como eles interagem com o público?

  • Quais canais mais utilizam?

  • O tipo de linguagem (formal, informal, etc.).

  • Quais são os números (inscritos, curtidas, visualizações…).

Capture os dados

Com o planejamento montado é hora de ir atrás das informações. Existem ferramentas que podem te auxiliar nesta jornada.

O Google Analytics, por exemplo, permite que você obtenha informações sobre o tráfego dos sites de concorrentes.

Além desta etapa online, você pode utilizar outras estratégias como:

  • Participar de eventos: além de fazer networking os eventos são ótimos espaços para trocar informações com outras empresas e para conhecer as tendências do mercado.

  • Visitas presenciais: essa com certeza é a melhor maneira de conseguir informações valiosas, por isso, é fundamental estabelecer parcerias até com os concorrentes.

  • Mentorias: muitos empreendedores contam como foi a sua experiência e os seus aprendizados nas mentorias.

Analise e compare as informações

Com os dados em mãos é o momento de fazer as comparações e identificar o que é interessante incluir no seu empreendimento.

Faça um relatório

Este será o documento em que você descreverá a sua pesquisa e também as ideias levantadas durante este processo.

Nele, é importante conter tanto o que você identificou como positivo quanto o negativo. Desta maneira, não irá repetir as falhas do concorrente, mas sim utilizar as melhores estratégias como base para ações futuras.

Cuidados ao fazer o Benchmarking

Mesmo que seja uma estratégia simples, o Benchmarking deve ser feito com muita cautela, pois uma análise realizada de forma equivocada pode causar prejuízos graves para o negócio.

Por isso, seguem 3 pontos para você prestar atenção durante o processo:

Não faça cópia

Lembre-se: o Benchmarking é utilizado para buscar referências e não simplesmente fazer um “copiar e colar” das estratégias.

Afinal, mesmo que a empresa estudada seja do mesmo segmento que o seu, isso não significa que se você fizer exatamente a mesma tática, irá funcionar.

Não perca a identidade

Ao utilizar referências de outras empresas, tome cuidado para que os diferenciais do seu negócio não se percam durante o processo. Então, fazer uma investigação interna e estabelecer objetivos claros irá ajudar neste ponto.

Coloque a estratégia em prática

É fundamental que você não fique apenas no campo da análise, mas sim, utilize os dados e ideias que surgirem durante o Benchmarking nas suas próximas ações.

Então, me diga o que achou desta estratégia? Está disposto a aplicá-la?

Bom trabalho e grande abraço.


Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 28 de março de 2023

Lyndall Fownes Urwick, o homem que firmou os princípios da administração


Todo negócio precisa de um líder. Mais que um simples gestor ou chefe, estamos falando de alguém que tome as rédeas da empresa e consiga motivar, alcançar resultados e ser inspiração para os seus colaboradores. Tal concepção mostra-se nítida nos dias atuais, em que cada vez mais crescem cursos sobre liderança e despontam técnicas para desenvolver o líder que há dentro de cada um de nós.

Há quase um século esse tema tem sido estudado pelos administradores, mas o pontapé inicial para o desenvolvimento dessa área foi dado por Lyndall Urwick, um teórico clássico do início do século XX. Lyndall Urwick foi responsável por criar os princípios da liderança e provou, ao longo de suas consultorias e livros, o indispensável papel de um líder dentro de qualquer negócio, do pequeno ao grande empreendimento. Por isso hoje conheceremos um pouco mais sobre sua biografia.

Os primeiros anos de Urwick

Lyndall Urwick nasceu em 1891, no pequeno condado de Worcestershire, Inglaterra. Desde pequeno sua criação indicava o mundo da administração, uma vez que seu pai era sócio de uma importante empresa da região, a Fownes Brothers and Company, uma empresa voltada para a fabricação de luvas dos mais variados tipos. Urwick cresceu observando seu pai tomar conta da empresa e em 1913, após terminar seus estudos universitários em Oxford, o primeiro emprego do jovem Lyndall foi na empresa do seu pai.

Porém, a vida de Urwick - e a de milhões de outras pessoas - deu uma reviravolta com o início da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). Apenas um ano após ingressar no mundo dos negócios a guerra tragou Urwick para as trincheiras, fazendo-o lutar como oficial no front ocidental. Alistado pelo exército inglês, o jovem administrador lutou na França e chegou a ser condecorado com a cruz militar do império britânico. A medalha é a mais alta condecoração militar e só é dada para aqueles que enfrentaram o inimigo “cara a cara”, dando assim uma prova de coragem e lealdade com a Coroa Britânica. Urwick ainda chegou a se tornar major e mesmo sob momento de extrema tensão conseguiu lutar os quatro anos de guerra e voltar para casa.

A vida de Urwick no pós guerra não voltou à normalidade de imediato. Ele ainda continuou servindo por alguns anos no exército pois era necessário uma reorganização da estrutura militar. Nesse momento os conhecimentos de administração de Lyndall foram úteis para a companhia em que atuava e, em contrapartida, a vivência militar o ajudou a desenvolver alguns conceitos que mais tarde seriam utilizados em suas próprias teorias. Um desses conceitos, por exemplo, é o da organização linear. Basicamente, uma organização linear preza pela verticalização de uma empresa, mantendo uma hierarquia bem definida entre os participantes, criando assim uma cadeia de comando e ações eficazes. Dentro da estrutura militar é natural esse tipo de organização e os anos no exército fizeram Urwick ver de perto como uma empresa poderia beneficiar-se desse modelo de organização. Anos depois, já em sua vida como administrador, Urwick se valeu do modelo militar para exemplificar as razões pelas quais a organização linear ajudava no crescimento e no gerenciamento de processos dentro de uma fábrica, quartel ou outro tipo de empreendimento. 

Entre o Taylorismo e a gestão humanista

Da metade dos anos 1920 até os anos 1940 a vida de Lyndall Urwick voltou-se plenamente para a administração. Ao sair do exército, o jovem de Worcestershire tentou retomar seu antigo emprego na empresa do seu pai, o que lhe foi concedido. Porém, as ideias de administração de Urwick não foram aceitas pelos donos da Fownes Brothers and Company. As relações de trabalho se acentuaram ao ponto de Urwick perceber que não poderia ajudar a empresa a crescer, pois a gestão estava presa a sua forma tradicional de gerenciamento. Pior que isso, os donos - incluindo seu pai - não conseguiam vislumbrar as dinâmicas de trabalho que estavam mudando naquele período, o que faria a empresa perder potência no longo prazo. 

Após deixar a Fownes, Lyndall foi empregado por outra empresa, a Rowntree. A empresa estava no ramo de produção de chocolates e buscava modernizar-se. Graças a Urwick o empreendimento conseguiu excelentes resultados e sua maneira de gerenciar as relações de trabalho, processos e as pessoas ganhou notoriedade entre os empresários de sua época. Com o tempo, Urwick passou a dar consultorias para outras empresas, aplicando os princípios de liderança e gestão que mais tarde estariam em seus livros.

O grande diferencial do método de Urwick estava na sua capacidade de conseguir juntar duas teorias da administração que, naquele tempo, pareciam inconciliáveis: O taylorismo e a gestão humanista. Enquanto o Taylorismo tinha como prioridade a eficácia na produção, o humanismo tinha como base criar boas relações para que os colaboradores trabalhassem de maneira satisfatória. Urwick encontrou o meio termo entre essas duas teorias da administração e assim pôde impulsionar os empreendimentos aos quais prestou seus serviços.

O reconhecimento pelo seu trabalho veio ainda no final dos anos 1920, quando Urwick foi nomeado para ser diretor do IMI - International Management Institute. O IMI foi o primeiro instituto de administração a nível global, tendo foco em desenvolver e propagar as teorias da administração que surgiam naquele momento. Apesar de ter existido por apenas alguns anos - o instituto seria fechado em 1933 - foi no papel de diretor que o administrador pôde escrever dois dos seus principais livros: The Meaning of Rationalization (1929) e The Management of Tomorrow (1933). Com essas duas obras os princípios da administração de Urwick começavam a ganhar asas, saindo das consultorias e indo parar nas livrarias e cursos de administração pelo mundo.

Os princípios da administração de Urwick

Lyndall Urwick estabeleceu quatro princípios básicos para a administração:
1) O da especialização;
2) O da autoridade;
3) O da amplitude administrativa;
4) O da definição.

Nos dias atuais há uma série de estudos sobre cada um destes princípios e por isso não entraremos em detalhes quanto a cada um deles. Entretanto, vale destacar que Urwick não criou tais concepções somente a partir da sua prática como consultor. A bem da verdade, esses princípios já podem ser vistos nas teorias de Fayol e Taylor, porém a sistematização de Urwick e sua flexibilidade em juntar diversas teorias é, talvez, o grande mérito desse pai da administração. Visto isso, vamos conhecer um pouco mais sobre os princípios destacados. 

Começando pela especialização, para Urwick era fundamental que dentro de uma empresa os papéis de cada funcionário estivessem claros. Além de melhorar a organização dentro da estrutura empresarial, esse princípio auxilia no desenvolvimento da produção.

O princípio da autoridade talvez tenha sido o mais bem definido por Urwick, uma vez que a partir dele desenvolveu-se seus princípios de liderança. Com base em sua experiência militar, Urwick concebia um sistema hierárquico bem definido, com uma cadeia de comando que fosse reconhecida por todos os funcionários. 

Junto ao princípio da autoridade também podemos enxergar o que Urwick chamou de “amplitude administrativa”. Para ele, em cada cargo de chefia existia um número limitado de pessoas a serem gerenciadas. Assim, um gestor não deveria ultrapassar esse limite, pois a partir dele perderia-se o controle - e a autoridade - sobre os seus colaboradores. 

Por último temos o princípio de definição, que aponta para a necessidade de clareza nas informações e oficialização destas. Com esse princípio mina-se a comunicação paralela no qual alimenta-se boatos e intrigas dentro do corpo de trabalhadores. Uma vez que as informações partem de forma oficial e chegam com transparência para todos, elimina-se tais aspectos. 

O legado de Lyndall Urwick 

A vida de Lyndall Urwick continuou pelo viés acadêmico, tornando-se um respeitado teórico da administração. Ao longo das décadas de 1940 e 1960 o administrador atuou principalmente com consultoria, ajudando milhares de empresas a se restabelecerem. Sua principal atuação ocorreu no período pós Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), ajudando seu país a reerguer-se mais uma vez depois de outro conflito bélico.

Ao longo das décadas, outra paixão de Urwick foi o ensino. Dedicou-se a divulgar a administração por programas de rádios, principalmente pela BBC. Sua participação nos meios de comunicação e seus livros ganharam o mundo e assim a carreira de Urwick tornou-se, de fato, internacional. 

Nos últimos anos de sua vida, porém, retirou-se da vida pública ao aposentar-se e decidiu morar na Austrália. Foi lá que faleceu, em 1983, aos 92 anos de idade. 

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.

 


terça-feira, 21 de março de 2023

Ferruccio Lamborghini, dos tratores aos carros de luxo


Os anos iniciais do futuro empreendedor Lamborghini

Nascido em 1916, na região da Bolonha, o italiano Ferruccio Lamborghini foi um homem de origem simples e que, mesmo após tornar-se grande em seu segmento, mostrou-se humilde em manter seus pés no chão. Filho de fazendeiros, o jovem desde pequeno mostrava uma habilidade especial em engenharia mecânica, principalmente no reparo das máquinas da propriedade da família. Ferruccio era o primogênito da família Lamborghini, começando desde cedo a ajudar seu pai na lavoura.

O trabalho braçal contrastava com sua paixão pelas máquinas, mas ambos foram fundamentais na formação moral do jovem e futuro empreendedor, como o valor do trabalho e o tempo correto de plantar e colher, preparando o terreno sempre para gerar as suas melhores condições. Todas essas ideias, que num primeiro momento parecem tão óbvias que são quase naturais, passam despercebidas em nosso dia a dia, uma vez que podemos acabar não as colocando em prática.

Aos 14 anos, Ferruccio decidiu sair da fazenda dos pais e ir ganhar a vida em Bolonha, percorrendo assim o seu sonho. O jovem, naquela altura da vida com pouca instrução formal, mostrou que o aprendizado adquirido foi por meio da prática e não através dos livros. Sua habilidade manual em consertar equipamentos chamou atenção dos proprietários da Casa Righi, uma fábrica da região. Assim iniciou a jornada de Ferruccio no mundo do trabalho fabril, começando como um aprendiz de mecânico e recebendo 15 liras por semana. A nível de comparação, no final dos anos 1920 uma unidade de dólar americano era equivalente a 19 liras italianas, sendo assim, o trabalho semanal de Ferruccio valia menos de 1 dólar.

O pouco dinheiro recebido é justificado por diversas razões: uma delas era o fato da Itália estar vivendo o regime de Mussolini, que após um golpe de Estado tomou o poder no país. Em contrapartida, o mercado internacional fez uma série de sanções econômicas, mergulhando a Itália em uma forte crise. Logo, não era possível pagar bons salários, ainda mais para um aprendiz de mecânico. Assim, por alguns anos Ferruccio sobreviveu com pouco, mas essa adversidade não foi capaz de parar o seu sonho.

Entrando nas forças armadas

Após 6 anos trabalhando na Casa Righi, Ferruccio resolveu ingressar nas forças armadas italianas. O ano era 1936 e suas habilidades como mecânico tinham um terreno fértil no reparo de aeronaves e carros. A larga experiência e habilidade de Ferruccio o levou a se destacar entre os seus companheiros, que quando não conseguiam resolver um problema o chamavam. Ferruccio, após analisar com cuidado, conseguia achar a causa da falha e atuar precisamente nela.

Aqui se apresentam dois destaques interessantes que nos revelam um pouco do espírito de Lamborghini: o primeiro é a busca incessante de solucionar problemas. Para Ferruccio, quanto mais desafiador a resolução, mais motivado se sentia. Essa é uma perspectiva interessante de se encarar os problemas que a vida nos proporciona, afinal, geralmente desejamos ter o menor dos problemas e que todos sejam de fácil resolução. O segundo é a brilhante noção de que todo problema tem uma solução, por isso bastava-lhe procurar com cuidado a falha e o que seria necessário para o conserto. Essa perspectiva detalhista fez de Ferruccio um empreendedor capaz de contornar uma série de problemas, visto que partia desse princípio tão básico, mas que nunca o percebemos.

Nos anos de guerra, notadamente a II Guerra Mundial (1939 - 1945) Ferruccio atuou pelas forças italianas, mas foi feito prisioneiro de guerra pelas forças armadas britânica e colocado à trabalhar como mecânico nestas condições. Assim, mesmo na fase mais difícil de sua vida, ainda assim sua profissão não lhe foi tirada. Seu aprendizado, como podemos perceber, foi totalmente prático e autodidata, uma vez que jamais precisou entrar em uma universidade de engenharia para compreender os princípios da mecânica e as leis que faziam suas máquinas funcionarem.

Despertando o Empreendedor Lamborghini

Após o final da II Guerra Mundial, Ferruccio voltou à Itália com uma nova perspectiva. Não podemos afirmar que os anos de conflito foram o fato crucial nessa mudança, porém é fato que o jovem que ingressou nas forças armadas em 1936 já não era o mesmo após 1945, quando decidiu não apenas consertar carros, mas construir os seus próprios modelos. 

Seu primeiro passo foi justamente reunir diversas peças e fazer, ao seu modo, um carro completamente novo. Graças ao fim da guerra, em toda a Europa montanhas de sucata eram acumuladas, resultado do combate entre as nações envolvidas. No território italiano essa realidade não era diferente e Ferruccio pôde aproveitar-se disso.

Juntando diversas peças, mas não de forma aleatória, Lamborghini fez o seu primeiro automóvel, que não era, evidentemente, um automóvel Lamborghini. Na verdade, esse primeiro modelo criado por Ferruccio era um híbrido, ou seja, a mistura de um trator com um carro. Esse protótipo foi chamado de “Carioca” e ao longo de dois anos foi sendo aperfeiçoado, até chegar a se tornar um modelo comercial. Ferruccio conseguiu fabricar 500 unidades do “Carioca” e vendê-los. Ao que se sabe, cada unidade foi vendida por 800 mil liras. Nesse momento (lembremos que a Itália foi derrotada na II Guerra Mundial) o valor da moeda italiana estava extremamente baixo, por isso cada dólar era equivalente há 525 liras (diferente dos 19 liras da época em que Ferruccio era apenas um aprendiz de mecânico). Convertendo os valores, o valor de cada “Carioca” girava em torno de 1.500 dólares.

O lucrativo negócio recém-nascido de Ferruccio o animou, fazendo com que se investisse em uma fábrica de tratores. A motivação pela construção de tratores se deu por alguns motivos, mas principalmente pela necessidade do país em retornar a uma economia de base e também pela familiaridade de Ferruccio com essa máquina, que foi a primeira ao qual teve seu primeiro contato com a mecânica, na fazenda de seu pai.

Uma resposta à Ferrari: nasce a Lamborghini

Somente em 1966, após um clássico episódio com Enzo Ferrari, foi que Ferruccio decidiu ampliar seus negócios e entrar no mercado de carros de luxo. Na época, com seu negócio indo muito bem, Lamborghini decidiu comprar uma Ferrari, porém, um problema no câmbio do carro o incomodava. O fabricante de tratores foi fazer suas reclamações em uma das lojas da Ferrari que, por acaso ou “destino”, estava Enzo Ferrari, o fundador da marca e também excelente mecânico. Enzo não aceitou bem a crítica de Ferruccio, dizendo que ele “nada entendia de carros e que ele devia contentar-se a andar nos seus tratores”.

A ofensa, porém, fez com que Ferruccio não apenas consertasse o problema do câmbio do seu carro, mas lhe instigou a fabricar o seu próprio carro de luxo. Assim nascia a marca Lamborghini. A entrada nesse novo ramo fez os negócios de Ferruccio escalonarem para outro patamar, graças a potência e qualidade do seu carro. A rivalidade com a Ferrari estava plantada, mas o fato é que Ferruccio apenas provou suas qualidades como mecânico.

A partir do final dos anos 1970, Ferruccio decidiu afastar-se dos negócios, visto sua idade avançada. O jovem de Bolonha, agora um senhor de mais de 60 anos, ainda seria condecorado pelo Estado com o título de "Cavaliere del Lavoro", graças aos seus serviços prestados para a economia do país. Em 1993, aos 76 anos, Ferruccio descansou, tendo uma morte por causas naturais. Seu legado, porém, mantém-se vivo.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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