terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Padre Saboia de Medeiros, o homem que trouxe a administração para o Brasil

Tudo que existe teve, em algum momento, um início. Essa é uma frase um tanto quanto óbvia, mas que, às vezes, por falta de uma visão mais objetiva dos fatos, ou mesmo por displicência, não a enxergamos com clareza. Esse “problema de vista” faz com que percamos a noção de tempo, e acabamos caindo em ideias equivocadas como, por exemplo, que os elementos que compõem nossa vida hoje sempre foram dessa maneira e que não houve, necessariamente, um início.

Sendo assim, parte do papel da História, não somente como disciplina científica, mas como atitude de vida, é resgatar o passado e lembrar ao indivíduo sobre aspectos que não devem ser esquecidos. Esse resgate traz, naturalmente, a possibilidade de aprendermos e nos reposicionarmos, construindo assim uma sólida trilha em direção ao futuro. Visto isso, talvez caiba aprofundarmos um pouco sobre nossa própria história enquanto administradores, conhecendo as raízes e os pioneiros dessa ciência em nossa terra, afinal, sem esse impulso inicial jamais os cursos de administração teriam chegado nas nossas universidades.

Considerando a necessidade desse resgate, hoje falaremos do pioneiro da administração em terras brasileiras, o homem que trouxe o conhecimento científico para a educação e pôde formar milhares de administradores ao longo da nossa história. Estamos falando do Padre Roberto Sabóia Medeiros, o pai da administração brasileira.

Padre Saboia e sua trajetória

A história do Padre Roberto Sabóia começa no Rio de Janeiro, em 1905. Nascido na capital do Brasil, sua vocação religiosa o despertou para a ordem dos jesuítas, no qual ingressou em 1922, com 17 anos. Não possuímos nenhum detalhe de sua infância, mas podemos deduzir que a vida clerical pode ter sido uma via natural, própria de sua vocação e formação familiar. 

O fato é que desde cedo o Padre Sabóia voltou-se para as questões sociais, não aceitava as injustiças e a miséria que grande parte da população vivia. Ao longo dos anos 1920 e 1930, principalmente após ordenar-se sacerdote em 1936, o jesuíta percebeu a necessidade de atuar em prol destas causas, mas como fazê-lo em um Brasil de realidades tão abismais como o do início do século XX? 

O Padre Sabóia, devido à sua formação religiosa, sabia que o trabalho era uma pedra angular no processo de formação humana. Foi assim que surgiu a ideia de fundar institutos técnicos para instruir a população e capacitá-las. Sua ação estava alinhada com a nova mentalidade do Estado brasileiro que vivia, à época, a Era Vargas (1930 - 1945), no qual o trabalho e a industrialização passaram a ser uma necessidade crescente. Logo, era fundamental ao governo e a população, uma formação técnica voltada para a indústria, tanto para possuirmos gestores como mão de obra qualificada. 

É nesse contexto de necessidade de formação que o Padre resolve fundar a primeira escola de administração do Brasil, a ESAN, em 1941. Para tanto, o mesmo viajou aos Estados Unidos para aprender sobre a gestão de um curso superior. Inspirado nas ideias trazidas de Harvard, no qual já despontava em seu currículo um tipo de administração chamada de “humanista”, o Padre Sabóia percebeu que a necessidade fabril, muito marcada à época pelas condições extremas ao qual os trabalhadores estavam submetidos, não era uma verdade absoluta e que era possível construir um ambiente saudável e produtivo sem a necessidade de exageros. Como não tinha recursos próprios para fundar sua escola, o padre manteve relações próximas a empresários e amigos, que ajudaram-no a financiar a ESAN, o sonho que tornava-se realidade.

É evidente, entretanto, que a administração enquanto prática já ocorria há séculos no Brasil, uma vez que todo negócio precisa de gestores. O pioneirismo do Padre Sabóia está em trazer o modelo de ensino da administração e tratá-la como uma ciência que merece ser estudada a fundo, tal qual uma outra área do conhecimento humano. Junto a ele, sem dúvida, poderíamos elencar nomes como Roberto Simonsen, que de maneira similar tentou construir através da Escola Livre de Sociologia de São Paulo (ELSP) uma nova mentalidade social, mas que não necessariamente estava focada somente na área da administração.

Por isso, ressaltamos o pioneirismo do Padre Sabóia, pois suas ações transformaram objetivamente o modo de aprender sobre administração. O Padre, entretanto, não se deteve apenas a esse aspecto do conhecimento. Ele também foi responsável por fundar a FEI, Faculdade de Engenharia Industrial, em 1946, no qual tinha como propósito formar engenheiros para trabalhar diretamente nas novas fábricas que surgiam no Brasil. 

Hoje a FEI é a Fundação Educacional Inaciana "Padre Sabóia de Medeiros", uma Universidade que oferece diversos cursos na área de ciências aplicadas e que pertence à ordem dos jesuítas, sendo um dos legados do Padre Saboia.

Além disso, o Padre ainda escrevia artigos, tinha programas no rádio e cuidava de uma biblioteca que ajudou a fundar, em 1944. Como podemos notar, suas ações estavam ligadas sempre à formação da população, que em geral tinham pouco acesso à educação. Essa verdade fez com que o Padre Sabóia permitisse que pessoas que não tinham terminado seus estudos básicos entrassem na ESAN, pois sabia que o número de pessoas com essa qualificação era raro nos anos 1940. 

Assim, a ESAN estava de portas abertas para quem quisesse aprender sobre o mundo da administração e suas teorias, desde o Taylorismo até a inovadora teoria humanista de Elton Mayo.

Entretanto, o Padre faleceu em 1955, precocemente aos 50 anos, vítima de leucemia. A doença o debilitou e pouco antes de sua partida seus companheiros da Companhia de Jesus (os jesuítas) assumiram a administração da ESAN e da FEI. Apesar da sua breve vida, os feitos do Padre Sabóia precisam ser reconhecidos como esse impulso inicial para o desbravamento da administração em nosso território. 

Se hoje podemos debater com profundidade sobre as diversas teorias de nossa área é graças a esse homem, que enxergando a necessidade do seu tempo abriu a trilha que hoje todos nós percorremos.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Enzo Ferrari, O homem que mudou o automobilismo

O carro é uma das maiores invenções da humanidade. Não nos resta dúvidas de que no último século esse tem sido o principal meio de transporte humano. Apesar de não ser o mais rápido, tampouco o mais seguro, ainda assim sua praticidade é inigualável. Porém, para alguns há uma mágica quando se está atrás dos volantes que é inexplicável, tanto que faltam palavras para descrevê-la. Essa paixão pela velocidade e autonomia que esse veículo nos dá tornou-se, ao longo do tempo, uma verdadeira paixão.

Basta observarmos que o automobilismo hoje é um dos esportes mais assistidos do mundo. Quem de nós, que já passa da casa dos 40 anos, não acordava cedo para assistir Ayrton Senna competir na Fórmula 1? Não por acaso Senna ainda é um dos maiores ídolos do nosso país, ficando à frente de diversas figuras de poder e que, tanto no passado como no presente, moldam nossa realidade. Frente a isso, talvez não consigamos achar um fator determinante que explique a paixão que possuímos por nossos carros e suas mais distintas funções, mas que essa seja o resultado de diferentes estímulos combinados com uma única finalidade.

Para entendermos um pouco sobre este fascínio é preciso conhecermos um dos maiores empreendedores do ramo automobilístico, capaz de fazer com que seu nome se tornasse, provavelmente, a marca de carro mais famosa do mundo e que hoje fatura mais de 3 bilhões de dólares. Estamos falando de Enzo Anselmo Giuseppe Maria Ferrari, o homem que mudou a história do automobilismo.

Ferrari, das oficinas mecânicas às pistas de corrida

Nascido em 1898 na cidade de Modena, Enzo Ferrari vem de uma origem humilde. Seus pais tinham um pequeno negócio no ramo da carpintaria e viviam com altos e baixos, porém o suficiente para formar o caráter do jovem Enzo. Aos dez anos de idade, ao ver uma corrida automobilística, Ferrari encantou-se com aquele universo que abria-se à sua frente e decidiu que faria parte dele. Ainda jovem passou a trabalhar como mecânico e apesar de nunca ter feito uma faculdade de engenharia, a prática levou-o a conhecer e aprimorar diferentes tipos de carro.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), o jovem Ferrari, então com apenas 20 anos, já era o principal provedor de sua família, pois seu pai e seu irmão mais novo acabaram por falecer, ambos, em 1916. A dupla perda familiar fez com que a responsabilidade crescesse rapidamente em Enzo, que passaria a procurar empregos melhores para sustentar sua mãe e irmãos. Com sua experiência de mecânico, tentou emprego em grandes fabricantes de carros como a Fiat, mas diversas vezes foi recusado.

Mesmo assim Ferrari seguiu firme e tornou-se piloto de testes na CMN, a Costruzioni Meccaniche Nazionali, em Milão. Na CMN Ferrari conseguiu ser promovido para piloto e participar das primeiras corridas de sua vida, porém ainda era um pequeno passo para quem almejava o maior dos sucessos.

A vida de Enzo Ferrari começou a mudar quando procurou a Alfa Romeo. Seu primeiro emprego na fabricante de carros italiana foi o de piloto, mas podemos dizer que Ferrari passou por praticamente todas as funções da empresa. Desde vendedor à chefe do departamento de desenvolvimento de carros. Como piloto Enzo competiu até o fim dos anos 1920, mas ao longo dos anos tomou mais gosto pela gestão da equipe do que por estar nas pistas. Assim, em 1929 chegou a fundar a scuderia Ferrari, uma divisão da Alfa Romeo para competir em outras categorias. Assim começava, de fato, o império de Enzo Ferrari.

O começo do império Ferrari

A scuderia Ferrari existiu por poucos anos, mas seus feitos dentro e fora das pistas causaram um grande impacto na vida de Enzo. Apesar de ser um braço novo da Alfa Romeo, a dificuldade em estabelecer-se na divisão que competia logo foi superada por grandes conquistas. Em 1935 ocorreu a mais notável delas, no qual a scuderia Ferrari chegou em primeiro lugar no prêmio da Alemanha, que na época tinha os melhores pilotos e carros de corrida.

O talento da scuderia começou a se destacar, porém, os ventos da mudança acabaram não sendo favoráveis a Ferrari e seus pilotos. Passando por dificuldades financeiras, em 1937 a Alfa Romeo tirou seu patrocínio e, na prática, fechou a divisão comandada por Enzo. Ele foi realocado para a divisão de esportes, o que naturalmente deixou o modenês descontente. Dois anos depois, após um desentendimento com seu chefe, Ferrari deixou a Alfa Romeo e construiu um novo empreendimento para fabricação de carros. Porém, logo após a estreia de sua fábrica o mundo entraria na sombria II Guerra Mundial (1939 - 1945). A fábrica de Enzo Ferrari foi obrigada, via decreto de Guerra, a fabricar não mais carros, mas sim armas. Assim passaram-se longos 6 anos até que Enzo pudesse retomar sua atividade.

Somente em 1947 a Ferrari nasceu, fruto de um objetivo claro: fabricar carros e competir. Inicialmente o plano de Enzo Ferrari era o de fazer frente ao dominante mercado interno da Itália, que era conduzido principalmente pela Alfa Romeo. Em 1948, a Ferrari lançou-se nas primeiras competições e mais uma vez os seus carros ganharam um rápido destaque. Para uma equipe iniciante o primeiro ano de competições foi surpreendente, mas ainda precisaria de muito esforço para conseguir competir com os carros da Alfa Romeo e, mais tarde, com outros grupos já consolidados no mundo automobilístico.

Ao longo dos anos 1950, a Ferrari passou de estreante à grande favorita do mundo automobilístico. Além do destaque nas pistas, os carros de luxo da Ferrari seriam não somente um valor para a marca, mas um status que até os dias atuais mantém-se. Porém, nem tudo foram flores durante esse período para o empresário do automobilismo. Em 1956 Enzo precisou lidar, mais uma vez, com a perda de um ente querido. Seu filho acabou falecendo precocemente, o que causou um grande impacto psicológico no dono da Ferrari. Ele passou a evitar encontros sociais desnecessários, além de andar sempre de óculos escuros, o que tornou-se, em sua maturidade, uma marca pessoal.

Apesar disso, a história da Ferrari seguiu o rumo do sucesso, mesmo com momentos de dificuldade. Nos anos 1960, por exemplo, uma rixa interna fez com que diversos membros da diretoria e pilotos abandonassem a equipe. As dificuldades financeiras também precisaram que Enzo fizesse alguns ajustes, como a venda de 50% da Ferrari para a Fiat, mas mantendo o controle sobre as operações nos campeonatos mundiais de automobilismo.

Mantendo sempre o controle da empresa em suas mãos, Enzo Ferrari seguiu até seu último suspiro no controle da sua empresa. O menino que amou o automobilismo à primeira vista descansou aos 91 anos, em 1988. No mesmo ano de sua morte a Fiat tornou-se dona da marca, comprando 90% de suas ações. Isso só foi possível após a partida de Enzo, que jamais permitiria perder o controle da Ferrari.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Brainstorming: um guia para conduzir e encontrar as melhores ideias

Brainstorming

Você com certeza já deve ter ouvido falar de Brainstorming e talvez, até tenha tentado aplicar a técnica com o seu time.

Mas, será que você sabe fazer isso de forma eficaz? Continue a leitura e descubra a maneira mais assertiva de coordenar um toró de palpites.

Conheça o Brainstorming 

Brainstorming é a junção das palavras inglesas “brain” que significa cérebro e “storm”, por isso, o brainstorming também é chamado tempestade de ideias, ou, no bom português, toró de palpites.

Ele foi inventado pelo publicitário estadunidense Alex Faickney Osborn e consiste em reunir um grupo de pessoas para criar uma ideia inusitada.

O Brainstorming deu tão certo que atualmente ele é utilizado não só no marketing e publicidade, mas em escolas, universidades e no mundo dos negócios.

Tipos de Brainstorming

Por ser uma ferramenta versátil, o toró de palpites acontece de várias maneiras, conheça as principais:

Estruturado e Não Estruturado

Como o nome indica, no Brainstorming estruturado há um roteiro a ser seguido com objetivos, horários e formas de aplicação.

Por exemplo: em um encontro estruturado, as pessoas têm um momento estipulado para expor as suas ideias.

Já o Não Estruturado é mais livre, sendo que os participantes podem trazer as suas opiniões quando desejarem.

Outra característica muito utilizada para diferenciar o Estruturado do Não Estruturado é o anonimato.

Neste modelo os participantes anotam as ideias em um papel e entregam para o responsável do Brainstorming que as expõe para o restante do grupo.

Esta é uma ótima estratégia para fazer com que pessoas tímidas sintam-se confortáveis em apresentar suas ideias.

Ainda, é uma tática para empresas que não tem a cultura do Brainstorming e desejam começar aos poucos.

Individual e Grupo

Engana-se quem pensa que é preciso mais de uma pessoa para fazer um Brainstorming, um empreendedor autônomo também pode se beneficiar desta técnica.

Por exemplo: um professor particular de inglês está com poucos alunos na sua agenda. Então ele reserva uma hora do seu dia, pega uma folha de papel em branco e anota as ideias que surgirem.

A tempestade de ideias em grupo é a prática mais realizada, pois, conforme o ditado “duas cabeças pensam melhor do que uma", é esse tipo de Brainstorming que mostrarei como conduzir no próximo tópico.

Orientando um Brainstorming

Com o intuito de facilitar a compreensão, separei o Brainstorming em 3 etapas: antes, durante e depois.

Antes

A melhor forma de conseguir bons resultados em um toró de palpites é se preparar, as principais tarefas são:

Defina o objetivo

Um erro comum na realização de um brainstorming é deixar “muito solto” e quando a reunião de fato acontece os participantes se sentem perdidos.

Para evitar esta situação, o ideal é mandar um briefing antes com o tema e qual problema será abordado para cada integrante.

Selecione os participantes

O objetivo do Brainstorming é trazer ideias inovadoras, certo? 

A melhor forma de fazer isso é construindo uma equipe multidisciplinar.

Com pessoas que atuam em vários setores, terão diferentes visões sobre o assunto, contribuindo para soluções inusitadas.

Por isso não se limite a equipe de marketing, deixe espaço para o setor de atendimento, comercial e vendas.

Mas não se empolgue demais, para a reunião ser eficaz o melhor é que o grupo não ultrapasse 8 pessoas.

Decida o início e o fim

Estabeleça um horário para começar e para terminar. Afinal, mesmo que seja um encontro criativo, ele precisa ter foco.

Logo, é fundamental determinar um tempo, geralmente entre uma e duas horas para o desenvolvimento da estratégia.

Também o fato de ter um horário gera uma urgência nos participantes, contribuindo para o surgimento das ideais.

Escolha o facilitador

O facilitador é alguém neutro, que irá explicar o funcionamento do Brainstorming, garantir que todos tenham espaço para falar, controlar o tempo de cada participante, ajudar a manter o foco e mediar conflitos.

Esta pessoa, inclusive, pode ser você.

Uma atribuição que pode ser do facilitador é registrar as ideias que surgirem, se não for você estabeleça outra pessoa para esta função.

Prepare o ambiente

Para que a criatividade possa aflorar naturalmente é importante criar um clima descontraído e informal, fugindo do conceito de reunião tradicional. Uma tática é mudar a organização da sala, colocando as cadeiras em círculo.

E não se esqueça de deixar um quadro em branco para escrever as ideias, que devem estar visíveis para todos.

Durante

Um bom Brainstorming é dividido em duas etapas:

  1. Levantar o máximo de ideias possíveis.

  2. Refinar as ideias.

Entre elas é fundamental que haja uma pausa, de preferência de um dia para o outro, permitindo que as ideias amadureçam.

Parte 1: Tempestade de ideias

Neste momento é que acontece o Brainstorming de fato, pois é quando as ideias são expostas.

Mas, para isso acontecer é primordial que não haja julgamentos, portanto, nenhuma ideia deve ser barrada ou criticada, mesmo que aquela ideia não faça sentido no momento ou não seja viável para aplicar.

A palavra não, deve ser cortada do vocabulário nesta primeira parte.

Também cada integrante é obrigado a apresentar pelo menos uma sugestão.

Contudo, isso não significa que os participantes não devem interagir uns com os outros. Pelo contrário, podem conversar e se inspirar nas ideias dos demais, só não pode haver julgamentos.

Ainda, é possível fazer outra dinâmica nesta primeira parte: ao invés de procurar as respostas, fazer as perguntas.

Por exemplo:

Problema: Falta de clientes para se hospedarem no período de inverno.

Perguntas levantadas no Brainstorming: Por que os clientes não se hospedam no inverno? O que falta para as pessoas virem ao hotel no inverno? O que podemos fazer para estimular os hóspedes a viajar no inverno?

Normalmente, no ambiente de trabalho pensamos mais em ter todas as respostas do que fazer as perguntas, esta mudança de dinâmica pode trazer uma nova visão do problema.

Parte 2: Lapidando as ideias

A segunda etapa do Brainstorming começa após o intervalo. A equipe se reúne e comenta como foi a primeira parte e se durante o período de descanso surgiu uma nova ideia.

Em seguida, o grupo seleciona as melhores ideias e passa a aprimorá-las, pensando na implementação.

Assim que cada uma é discutida, acontece uma nova rodada de seleção, eliminando outras ideias para que no final da reunião tenha no máximo em 3 ideias.

Nesta parte, o tempo também deve ser controlado, não passando de 2 horas.

Depois

O após muitas vezes é negligenciado pelo gestor e o grupo, as ideias principais são escolhidas e pronto, os participantes levantam e retornam para o trabalho.

No entanto, não basta ter as melhores ideias, é preciso colocá-las em prática.

Por isso, ações devem ser atribuídas para os participantes e monitoradas até que a ideia seja concretizada.

Feito isso, está concluído o seu Brainstorming!

Bom trabalho e grande abraço.


Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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Resolva problemas com o Diagrama de Ishikawa



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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Peter Drucker, o pai da administração moderna

A administração como a conhecemos hoje foi desenvolvida, em grande medida, graças ao trabalho de Peter Drucker, que ganhou a alcunha de pai da administração por todo seu legado construído ao longo do século XX. A carreira profissional de Drucker como professor e consultor de empresas foi bastante dinâmica, com passagens marcantes nas universidades de Nova Iorque e Claremont na Califórnia, onde atuou por mais de duas a três décadas, respectivamente.

No campo empresarial, Drucker atuou junto a grandes corporações, tais como: Sears, Roebuck e IBM, sendo um dos responsáveis por mudanças significativas em suas estruturas administrativas. Bill Gates, fundador da Microsoft, foi apenas uma das personalidades do mundo corporativo que se inspiraram nos ensinamentos de Drucker.

As áreas de estudos de Peter Drucker abrangeram os aspectos basilares da administração e gestão de empresas, mas também abarcou cultura organizacional, economia, ciências sociais e marketing. Do arsenal de conhecimento invejável Drucker escreveu 30 livros ao longo da sua carreira e dezenas de artigos. 

Entre as suas ideias, destaca-se o seu pioneirismo ao propor que o conhecimento humano e as relações entre os colaboradores são os ativos mais valiosos dentro de uma organização, portanto, uma estrutura que valoriza as pessoas, o fomento ao conhecimento e cria ambientes sadios de trabalho, relações e crescimento colhe os frutos de entregas com mais qualidade e produtividade.

Peter Drucker deixou um legado marcante para administradores e estudiosos de todo mundo, a sua trajetória que começou na Áustria, passou pela Inglaterra e se sedimentou nos Estados Unidos vale a pena ser conhecida e certamente servirá de inspiração para todos.

A vida de Peter Drucker

Peter Ferdinand Drucker nasceu em 19 de novembro de 1909, em Viena na Áustria, em um contexto de ebulição cultural e desenvolvimento científico. Não custa lembrar que a Áustria é pátria de Sigmund Freud, Mozart e Gustav Klimt, ou seja, grandes gênios das mais distintas áreas do conhecimento e na administração desta nação também fez brilhar a luz do gênio Peter Drucker. 

A família Drucker era conhecida por sua erudição e refinamento cultural. Conta-se que seus pais promoviam encontros em sua residência com pensadores, cientistas e artistas da época e personalidades austríacas. Em meio a um contexto tão rico em conhecimento, Drucker foi impulsionado a buscar os próprios saberes e construir o seu caminho. Ainda jovem, Drucker se mudou para a Alemanha, onde cursou economia na Universidade de Frankfurt, já em 1932 concluiu o doutorado e garantiu o Ph.D em Direito Internacional, pela mesma universidade.

Drucker escreveu seu primeiro livro The End of Economic Man: The Origins of Totalitarianism, em 1939, em um contexto de extrema tensão na Europa. Com severas críticas à economia dos países totalitários, especialmente a Alemanha e a Itália, a obra chamou atenção do então primeiro-ministro inglês Winston Churchill. Para além das críticas, Churchill reconheceu o valor das ideias de Drucker, assim como grande parte do mundo ocidental. Não por acaso Drucker escreveria outros 38 livros ao longo de sua carreira, além do brilhante sucesso como consultor.

Mas estamos nos adiantando em sua biografia. Voltemos para o início dos anos 1930. Em função da ascensão do Partido Nazista ao governo alemão e a iminência de novos conflitos, Drucker mudou-se para Londres em 1935 e começou a trabalhar como jornalista e economista. Um dos fatos curiosos desse período pré-Segunda Guerra Mundial na vida de Drucker está na perda dos seus trabalhos pela censura do novo regime alemão. A destruição dos seus ensaios sobre economia apontam uma direção distinta da praticada pelo governo, o que naturalmente não foi vista com bons olhos. Além disso, algumas opiniões pessoais de Drucker também desagradava o regime nazista, o que o tornava uma persona non grata aos olhos do governo. Dentro desse contexto e notando que a vida no país seria uma luta sem fim contra sua produção de conhecimento, Drucker ganhou o mundo e deixou a Alemanha.

Primeiramente ficou em Londres, como apontamos, mas a estadia na capital inglesa durou pouco e em 1937 Drucker mudou-se para os Estados Unidos, dando início a sua carreira como professor universitário. No continente americano Drucker não somente lecionou, mas também foi responsável pelo crescimento de centenas de empresas com suas consultorias. Em verdade, muitas de suas experiências como consultor foram levadas aos seus livros, o que o tornou um nome cada vez mais relevante dentro da administração, tanto como consultor quanto teórico.

Um dos seus principais trabalhos nesse aspecto foi realizado ainda na década de 1940 para a multinacional General Motors. Graças a essa consultoria Drucker conseguiu produzir, em 1946, o livro Concept of the Corporation, no qual o pai da administração se debruça sobre os desafios de gerenciar uma empresa de porte internacional. O livro também possibilitou um maior acesso de Drucker no meio acadêmico, o levando, em 1950, para ensinar em uma das principais universidades dos Estados Unidos: a New York University. Sua trajetória na universidade de Nova York durou mais de duas décadas, no qual Drucker cresceu e tornou-se um dos principais professores da business school. Nesse momento Drucker já se destacava como professor, por suas ideias e pelos livros publicados. 

Entre os anos 1950 e 1990 Drucker chegou a visitar o Brasil em algumas ocasiões. Como consultor prestou serviço para grandes empresas nacionais como a Petrobrás e a Embraer, porém, seu encontro mais marcante em nosso país se deu ainda no final dos anos 1950 quando conheceu o presidente Juscelino Kubitschek. Na ocasião, o pai da administração ficou impressionado com a decisão de construir uma nova capital, na qual disse que essa tenha sido o fato mais relevante do Brasil nos últimos 50 anos. De fato, a construção de Brasília apresentou o Brasil à modernidade e fez grandes mudanças no eixo político, social e psicológico da nação. A partir dessa mudança fomos capazes de olhar com mais atenção para o Centro-Oeste, até então uma parte quase anônima em nossa geografia. 

Nas outras duas oportunidades que veio ao Brasil, Drucker firmou parceria com Ozires Silva, ex-presidente da Embraer. A presença de Drucker nessas duas estatais foi uma tentativa de torná-las grandes forças produtivas do país, servindo à nação e também gerando grandes lucros. Nesse sentido, a tarefa de Drucker foi demonstrar que a pecha de que empresas estatais estão “fadadas” ao baixo rendimento era uma falácia - isso naquela ocasião, pois mais tarde foi idealista de privatizar serviços públicos. De fato, a consultoria de Drucker ajudou a Petrobrás dos anos 1990 e a Embraer nos anos 1980, dando-lhes um novo direcionamento para aquele período.

Voltando para a sua carreira, após duas décadas na New York University, Drucker estabelece seu vínculo mais duradouro, desta vez com a Universidade de Claremont, na Califórnia. O pai da administração moderna lecionou por mais de 30 anos nessa instituição, se consolidando como o grande nome da administração do final do século XX. Em Claremont, porém, Drucker dedicou-se a ensinar administração e economia voltada para as ciências sociais e a filosofia.

Num primeiro momento talvez pareça "estranho" que um consultor e teórico da administração esteja ensinando nesses cursos, mas o fato é que é impossível separar a administração dessas duas outras ciências. Para entendermos a sociedade e todos os seus movimentos é fundamental sabermos de economia e como os ciclos econômicos moldam as estruturas sociais. Em contrapartida, um bom administrador jamais poderá deixar de lado a sociedade em que está inserido, pois sua empresa precisa atender a necessidade dessa população; já a filosofia está inserida na administração pois esta compreende uma atividade humana, fazendo-se assim objeto de estudo dos filósofos. 

Além das aulas em Claremont, Peter Drucker também fez palestras em Harvard, continuou trabalhando como consultor, o que lhe proporcionou conhecer diversos líderes mundiais e grandes empresários ao redor do mundo. Todos desejavam a valiosa opinião de Drucker sobre gestão e negócios. Como reconhecimento, Drucker recebeu diversos prêmios em sua jornada. A principal honraria que lhe foi dada ocorreu em 2002, aos 91 anos, quando ganhou a medalha presidencial da liberdade. Essa medalha é a mais alta honraria que o governo americano possui aos civis e é dedicada àqueles que contribuíram de forma significativa para o progresso da nação, para a paz mundial e para o desenvolvimento da cultura.

O fato de Drucker receber essa condecoração apenas demonstra o valor do seu trabalho ao longo dos seus 60 anos de dedicação à administração. Mais do que uma medalha, o reconhecimento de Drucker nos ensina que todo esforço em prol do desenvolvimento e evolução da humanidade, seja na administração, na construção de novos empreendimentos ou demais áreas, é fruto de um esforço e persistência. Nesse aspecto, a vida de Peter Drucker nos ensina muito mais do que manuais de administração, pois é um exemplo vivo de como fazer o sucesso florescer.

Tendo essa breve biografia do pai da administração como pano de fundo, vamos conhecer um pouco de suas ideias.

Principais ideias de Peter Drucker

Peter Drucker é tido por muitos como o pai da administração moderna por suas ideias revolucionárias para a época em que foram expostas. Podemos citar como exemplo a ideia de que a administração não seria uma ciência, mas sim uma prática cotidiana ou seja, uma conduta que precisa ser alimentada por outras disciplinas correlatas, como a Economia, Gestão, Liderança, Filosofia, Matemática, etc. 

Drucker foi pioneiro em classificar a Administração como uma disciplina que deveria constar nas grades curriculares das universidades, logo, foi um dos responsáveis por fomentar e abrir espaço no meio acadêmico para as disciplinas de administração e gestão. Hoje, ambas as disciplinas, que caminham juntas, estão inseridas dentro de quase todos os cursos de diversas graduações.

Ao longo da sua extensa trajetória acadêmica e como consultor, Drucker conseguiu desenvolver uma dezena de teorias e lançar novas ideias que chacoalharam o universo da administração e o fizeram avançar. Veremos agora as suas ideias que tiveram maior destaque.

Valorização da Individualidade

Ainda no começo de sua carreira, Drucker lançou um olhar diferente para o cliente. Na época, nas décadas de 40 e 50, as empresas produziam visando atingir a grande demanda e atender às massas, porém, Drucker percebeu que era preciso estar mais atento aos clientes e eles deveriam ser tratados com prioridade. Essa mudança de paradigma levou as empresas a direcionarem seus esforços a entender os desejos dos consumidores e paulatinamente a indústria passou do local cômodo de atender as massas para entender as particularidades dos seus clientes e atender por nichos.

A valorização da individualidade que primeiro foi estudada a partir da relação empresa e cliente expandiu para a reflexão das relações dos indivíduos dentro das organizações. Para Drucker, os colaboradores não poderiam ser encarados apenas como extensão das máquinas, em ambientes de sucesso, o conhecimento dos funcionários é valorizado e fomentado para gerar ainda mais riqueza, por meio de uma gestão humanizada.

Privatizações de serviços públicos

Para Peter Drucker uma das formas de dar eficiência e melhorar a qualidade dos serviços públicos, se daria através do modelo de privatizações, o qual foi amplamente aceito em várias sociedades com resultados também distintos.

Para Drucker um dos principais aspectos positivos da política de privatização seria a desburocratização de serviços essenciais, além de favorecer a eficiência da administração pública. 

Gestão descentralizada

O modelo de gestão centrado na figura do chefe autoritário não cabe mais no entendimento de Peter Drucker, corroborando com seus estudos sobre os benefícios da valorização dos indivíduos dentro das empresas. Drucker entende que dar maior autonomia aos colaboradores traz ganhos diversos para as organizações.

Contudo, é preciso estar atento à gestão da equipe, para Drucker, uma má gestão compromete o resultado do time, portanto, ao falar em gestão descentralizada, maior autonomia e poder de decisão para mais pessoas, é preciso também de um gestor à altura da missão.

Gestão por objetivos

De acordo com Drucker, uma empresa para ter resultados precisa saber planejar. Essa etapa inicial, muitas vezes negligenciada pelos gestores, serve como guia para saber o que deve ser feito a cada momento. Drucker divide os objetivos de uma empresa em 3 etapas básicas:

  • Objetivos estratégicos: mostram aonde a empresa quer chegar ou construir a longo prazo;
  • Objetivos táticos: mostram aonde se quer chegar a médio prazo;
  • Objetivos operacionais: são os passos imediatos a serem dados.

A gestão por objetivos auxilia na medida em que norteia as missões da organização para que siga dentro das suas metas. 

O imenso legado de Peter Drucker

Peter Drucker foi um dos maiores pensadores e estudiosos da administração e gestão de negócios do século XX. Suas teorias inspiraram grandes empresários e milhares de alunos ao redor do mundo. 

A contribuição de Drucker para a prática da administração abarcou diversas áreas correlatas do conhecimento, o que fez de Drucker um dos intelectuais mais lidos por estudantes de administração, gestão, negócios, marketing, economia e outras matérias. 

A carreira de Drucker foi marcada por sua grande capacidade produtiva, em especial na elaboração de teorias amplamente aceitas, como já mencionamos. É comum nos depararmos com frases de Peter Drucker passando em nossa timeline nas redes sociais, em especial no Instagram e LinkedIN. Separamos uma das mais famosos para finalizar este artigo. 

"Uma decisão só se torna eficaz quando os comprometimentos com a ação são incluídos na decisão desde o início". 

Com o ensinamento acima, Drucker quer nos ensinar sobre o valor do compromisso para o sucesso das organizações, sejam elas quais forem, que devem começar por sua liderança. Para Drucker, um bom gestor, além do saber técnico, deve direcionar toda sua energia no cumprimento das metas, o resultado será consequência.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent, O rei da moda

Vivemos em um mundo de novidades. A todo momento algo está na moda, seja um tipo de comportamento, uma gíria, um esporte ou mesmo uma mentalidade. É essa eterna inovação que movimenta o mundo dos negócios, fazendo a roda da economia girar em nosso momento histórico atual.

Apesar das críticas que são feitas a esse estilo de vida, é inegável que o padrão que se estabeleceu dentro da nossa sociedade exige cada vez mais refinamento e criatividade dos nossos empreendedores. Quando nos remetemos a essas duas características certamente alguns nomes vêm a nossa mente, mas provavelmente nenhum deles esteve no patamar de Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent, ou simplesmente Yves Saint Laurent. O designer francês reinventou o mundo da moda com suas criações, mostrando que sofisticação e bom gosto podem se tornar um modelo de negócio acessível e lucrativo.

Os primeiros anos de Saint Laurent

A jornada de Saint-Laurent começa na Argélia, em um tempo em que este país ainda era uma colônia francesa. O ano era 1936 quando a família Saint-Laurent fez vir ao mundo Yves. A infância do nosso empreendedor foi relativamente tranquila, sendo uma típica família dos anos 1940. O pai de Yves Saint-Laurent era presidente de uma companhia de seguros, o que provavelmente foi uma de suas inspirações para  empreender. Apesar disso, sua inclinação para a moda não foi incentivada pelo seu pai. Por outro lado, a falta de apoio da figura paterna era compensada graças à sua mãe, que o incentivou a dar os primeiros passos rumo ao seu sonho de se tornar estilista.

Logo após finalizar seus estudos, Yves procurou perseguir o seu sonho. Vivendo na Paris do pós-guerra, o jovem designer conseguiu trabalhar lado a lado com Christian Dior, um dos maiores estilistas franceses do século XX. Dior se tornou para Yves um mestre no qual o jovem argelino podia contar para evoluir sua percepção do Belo e aprender o seu ofício. Infelizmente a convivência entre os dois durou poucos anos, pois Dior faleceu precocemente em 1957. Yves, de acordo com relatos da época, ficou extremamente abalado com a partida do seu influenciador, mas o testamento de Dior fez com que a vida de Saint-Laurent desse um importante salto. Isso porque Dior deixou a empresa que possuía nas mãos do seu pupilo, considerando que ele seria capaz de salvá-la da falência.

Era esse o contexto em que encontrava-se Yves Saint-Laurent, até então com 21 anos. Quando analisa-se a história deste empreendedor uma pergunta comum que os biógrafos fazem é acerca da razão que Yves herdou uma empresa tão importante e, ao mesmo tempo, tão próxima da falência. As teorias são inúmeras, mas entendemos que Dior buscava alguém que continuasse o seu trabalho e enxergou em Yves um potencial de gestor em conflitos, tanto administrador como de empreendedor, que decidiu colocá-lo entre os seus beneficiados.

Para os seus contemporâneos, certamente a decisão de Dior foi vista como um acesso de loucura, ou mesmo um ato desesperado, porém, que chegou a um excelente resultado. Yves Saint-Laurent colocou as contas em ordem e a empresa de Dior pôde respirar com tranquilidade, mas os problemas enfrentados pelo estilista estavam apenas começando.

O trauma da Guerra

Apesar de ter nascido na Argélia, toda a vida de Yves se deu praticamente em solo francês. Por ter cidadania francesa, o designer foi convocado para lutar pelo exército da França durante a guerra de independência argelina. Como podemos imaginar, a obrigação de voltar à sua terra natal na condição de um soldado que tiraria a vida de seus compatriotas fez com que Yves Saint-Laurent tivesse uma carreira curta no exército. Somado a esse estresse psicológico, como foi diagnosticado, havia o fato de outros soldados de seu batalhão o perseguirem devido sua orientação sexual.

Atormentado pela guerra e pelo perigo do seu próprio batalhão, Yves passou somente 20 dias em preparação para o combate, sendo dispensado após um relatório médico afirmando que ele não teria condições de lutar.

De fato, é completamente compreensível o problema adquirido por Yves quando observamos o seu contexto. Ainda assim não podemos dizer que Yves Saint-Laurent era um homem acomodado ou mesmo que tivesse medo dos conflitos. O fato era, em verdade, que o campo de batalha de Saint-Laurent seria outro.

Após recuperar-se do trauma sofrido nas forças armadas, em 1962 Yves Saint-Laurent daria um dos passos mais importantes (talvez o mais importante) de sua vida. Em parceria com seu companheiro Pierre Bergé, ele fundou sua própria marca, sendo esta homônima. 

A experiência adquirida gerindo a empresa de Dior fez com que Saint-Laurent percebesse que a alta costura não precisava, necessariamente, ser um sinônimo de algo caro. Assim, um dos primeiros feitos de Saint-Laurent foi conseguir tornar sua moda acessível, o que ajudou a difundi-la em grande escala.

Yves Saint-Laurent - tornando-se uma lenda

Além de conseguir trazer a sofisticação para o cotidiano das pessoas, Yves Saint-Laurent, ao longo de 20 anos, conseguiu projetar não apenas suas marca, mas a si próprio. Suas inovações na moda fizeram uma verdadeira revolução no modo das pessoas se vestirem. Colocando em exemplos, podemos falar do Smoking feminino, uma peça de roupa que usualmente era destinada apenas aos homens e que possibilitou uma elegância distinta às damas, fazendo com que o uso de calças cumpridas por parte das mulheres fosse ainda mais difundida.

Talvez isso pareça relativamente superficial para nós atualmente, porém devemos lembrar que os anos 1960 foi marcada pela revolução feminista no Ocidente. As mulheres ganharam cada vez mais espaço e direitos, tanto no mundo do trabalho como em outros setores da sociedade. 

Visto isso, era necessário também uma adaptação da moda frente a esse novo paradigma social. Yves Saint-Laurent conseguiu captar essa mudança e foi pioneiro em suas roupas para atender essa nova demanda, afinal, uma nova sociedade começava a formar-se em meio aquela geração.

Combinando sua identidade à sua marca, estando na vanguarda do seu segmento em meio às transformações vividas pelo mundo e mantendo-se criativo, Yves Saint-Laurent teve a receita do sucesso em suas mãos e não a desperdiçou. O lucro de sua marca foi tão alto que após sua morte, há mais de uma década, o argelino é a pessoa que mais ganhou dinheiro mesmo estando morto em nosso mundo atual. Tudo graças ao seu esforço e visão de mundo, possibilitando assim abrir as portas do futuro.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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