Os anos iniciais do futuro empreendedor Lamborghini
Nascido em 1916, na região da Bolonha, o italiano Ferruccio Lamborghini foi um homem de
origem simples e que, mesmo após tornar-se grande em seu segmento, mostrou-se humilde
em manter seus pés no chão. Filho de fazendeiros, o jovem desde pequeno mostrava uma
habilidade especial em engenharia mecânica, principalmente no reparo das máquinas da
propriedade da família. Ferruccio era o primogênito da família Lamborghini, começando
desde cedo a ajudar seu pai na lavoura.
O trabalho braçal contrastava com sua paixão pelas máquinas, mas ambos foram
fundamentais na formação moral do jovem e futuro empreendedor, como o valor do trabalho
e o tempo correto de plantar e colher, preparando o terreno sempre para gerar as suas
melhores condições. Todas essas ideias, que num primeiro momento parecem tão óbvias
que são quase naturais, passam despercebidas em nosso dia a dia, uma vez que podemos
acabar não as colocando em prática.
Aos 14 anos, Ferruccio decidiu sair da fazenda dos pais e ir ganhar a vida em Bolonha,
percorrendo assim o seu sonho. O jovem, naquela altura da vida com pouca instrução
formal, mostrou que o aprendizado adquirido foi por meio da prática e não através dos
livros. Sua habilidade manual em consertar equipamentos chamou atenção dos
proprietários da Casa Righi, uma fábrica da região. Assim iniciou a jornada de Ferruccio no
mundo do trabalho fabril, começando como um aprendiz de mecânico e recebendo 15 liras
por semana. A nível de comparação, no final dos anos 1920 uma unidade de dólar americano era
equivalente a 19 liras italianas, sendo assim, o trabalho semanal de Ferruccio valia menos
de 1 dólar.
O pouco dinheiro recebido é justificado por diversas razões: uma delas era o fato da Itália
estar vivendo o regime de Mussolini, que após um golpe de Estado tomou o poder no país.
Em contrapartida, o mercado internacional fez uma série de sanções econômicas,
mergulhando a Itália em uma forte crise. Logo, não era possível pagar bons salários, ainda
mais para um aprendiz de mecânico. Assim, por alguns anos Ferruccio sobreviveu com
pouco, mas essa adversidade não foi capaz de parar o seu sonho.
Entrando nas forças armadas
Após 6 anos trabalhando na Casa Righi, Ferruccio resolveu ingressar nas forças armadas
italianas. O ano era 1936 e suas habilidades como mecânico tinham um terreno fértil no
reparo de aeronaves e carros. A larga experiência e habilidade de Ferruccio o levou a se
destacar entre os seus companheiros, que quando não conseguiam resolver um problema o
chamavam. Ferruccio, após analisar com cuidado, conseguia achar a causa da falha e atuar
precisamente nela.
Aqui se apresentam dois destaques interessantes que nos revelam um pouco do espírito de
Lamborghini: o primeiro é a busca incessante de solucionar problemas. Para Ferruccio,
quanto mais desafiador a resolução, mais motivado se sentia. Essa é uma perspectiva
interessante de se encarar os problemas que a vida nos proporciona, afinal, geralmente
desejamos ter o menor dos problemas e que todos sejam de fácil resolução. O segundo é a
brilhante noção de que todo problema tem uma solução, por isso bastava-lhe procurar com
cuidado a falha e o que seria necessário para o conserto. Essa perspectiva detalhista fez de
Ferruccio um empreendedor capaz de contornar uma série de problemas, visto que partia
desse princípio tão básico, mas que nunca o percebemos.
Nos anos de guerra, notadamente a II Guerra Mundial (1939 - 1945) Ferruccio atuou pelas
forças italianas, mas foi feito prisioneiro de guerra pelas forças armadas britânica e
colocado à trabalhar como mecânico nestas condições. Assim, mesmo na fase mais difícil
de sua vida, ainda assim sua profissão não lhe foi tirada. Seu aprendizado, como podemos
perceber, foi totalmente prático e autodidata, uma vez que jamais precisou entrar em uma
universidade de engenharia para compreender os princípios da mecânica e as leis que
faziam suas máquinas funcionarem.
Despertando o Empreendedor Lamborghini
Após o final da II Guerra Mundial, Ferruccio voltou à Itália com uma nova perspectiva. Não
podemos afirmar que os anos de conflito foram o fato crucial nessa mudança, porém é fato
que o jovem que ingressou nas forças armadas em 1936 já não era o mesmo após 1945,
quando decidiu não apenas consertar carros, mas construir os seus próprios modelos.
Seu
primeiro passo foi justamente reunir diversas peças e fazer, ao seu modo, um carro
completamente novo. Graças ao fim da guerra, em toda a Europa montanhas de sucata
eram acumuladas, resultado do combate entre as nações envolvidas. No território italiano
essa realidade não era diferente e Ferruccio pôde aproveitar-se disso.
Juntando diversas peças, mas não de forma aleatória, Lamborghini fez o seu primeiro
automóvel, que não era, evidentemente, um automóvel Lamborghini. Na verdade, esse primeiro
modelo criado por Ferruccio era um híbrido, ou seja, a mistura de um trator com um carro.
Esse protótipo foi chamado de “Carioca” e ao longo de dois anos foi sendo aperfeiçoado,
até chegar a se tornar um modelo comercial. Ferruccio conseguiu fabricar 500 unidades do
“Carioca” e vendê-los. Ao que se sabe, cada unidade foi vendida por 800 mil liras. Nesse
momento (lembremos que a Itália foi derrotada na II Guerra Mundial) o valor da moeda
italiana estava extremamente baixo, por isso cada dólar era equivalente há 525 liras
(diferente dos 19 liras da época em que Ferruccio era apenas um aprendiz de mecânico).
Convertendo os valores, o valor de cada “Carioca” girava em torno de 1.500 dólares.
O lucrativo negócio recém-nascido de Ferruccio o animou, fazendo com que se investisse
em uma fábrica de tratores. A motivação pela construção de tratores se deu por alguns
motivos, mas principalmente pela necessidade do país em retornar a uma economia de
base e também pela familiaridade de Ferruccio com essa máquina, que foi a primeira ao
qual teve seu primeiro contato com a mecânica, na fazenda de seu pai.
Uma resposta à Ferrari: nasce a Lamborghini
Somente em 1966, após um clássico episódio com Enzo Ferrari, foi que Ferruccio decidiu
ampliar seus negócios e entrar no mercado de carros de luxo. Na época, com seu negócio
indo muito bem, Lamborghini decidiu comprar uma Ferrari, porém, um problema no câmbio
do carro o incomodava. O fabricante de tratores foi fazer suas reclamações em uma das
lojas da Ferrari que, por acaso ou “destino”, estava Enzo Ferrari, o fundador da marca e
também excelente mecânico. Enzo não aceitou bem a crítica de Ferruccio, dizendo que ele
“nada entendia de carros e que ele devia contentar-se a andar nos seus tratores”.
A ofensa, porém, fez com que Ferruccio não apenas consertasse o problema do câmbio do
seu carro, mas lhe instigou a fabricar o seu próprio carro de luxo. Assim nascia a marca Lamborghini. A entrada nesse novo ramo fez os negócios de Ferruccio escalonarem para
outro patamar, graças a potência e qualidade do seu carro. A rivalidade com a Ferrari
estava plantada, mas o fato é que Ferruccio apenas provou suas qualidades como
mecânico.
A partir do final dos anos 1970, Ferruccio decidiu afastar-se dos negócios, visto sua idade
avançada. O jovem de Bolonha, agora um senhor de mais de 60 anos, ainda seria
condecorado pelo Estado com o título de "Cavaliere del Lavoro", graças aos seus serviços
prestados para a economia do país. Em 1993, aos 76 anos, Ferruccio descansou, tendo
uma morte por causas naturais. Seu legado, porém, mantém-se vivo.
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Adm. Rafael José Pôncio
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