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terça-feira, 16 de maio de 2023

Soichiro Honda, o empreendedor invencível

“Sucesso é 99% fracasso.” Essa famosa frase dita por Soichiro Honda deveria ecoar na mente e coração de todos aqueles que pretendem seguir o caminho do empreendedorismo, pois sintetiza grande parte da vida empresarial. Sabemos que o conhecimento e a capacitação são vitais em qualquer segmento, porém, nada disso importa sem estarmos dispostos a realizar esforços desmedidos, a ter uma disciplina inquebrantável e a ser capaz de resistir quando a maioria desiste. São exatamente essas características, que só podem ser adquiridas com vivência das experiências, que forjam o espírito dos grandes empreendedores, pois não há escolas que formam pessoas disciplinadas ou resistentes a não ser a própria vida.

Por isso, hoje no “Grandes empreendedores da História” vamos conhecer um pouco mais sobre Soichiro Honda, o homem que saiu de um pequeno vilarejo no Japão para fundar a maior multinacional de motocicletas do mundo.

Os primeiros passos do jovem Honda

Soichiro nasceu no povoado de Komyo, no Japão, em 1906. Na pequena aldeia seus pais trabalhavam prestando serviços: enquanto sua mãe era uma habilidosa tecelã, seu pai consertava bicicletas atuando como ferreiro. Desde cedo Honda passou a ajudar nas forjas, além de seguir os estudos formais. Entretanto, o caminho das letras não parecia agradar o jovem, que não tirava notas boas e até chegou a burlar o sistema escolar falsificando o carimbo da sua família para esconder dos pais o boletim.

A vivência do trabalho lhe parecia um caminho mais adequado. Tanto que, anos mais tarde, já reconhecido como um grande empresário, Soichiro revelou que pouco importava-se com a formação intelectual dos seus funcionários, mas sim com os conhecimentos que cada um possuía, seja advindo da universidade ou da vida prática. Tal opinião não era por acaso, uma vez que o próprio Soichiro começou a dar seus primeiros passos no mundo do trabalho desta maneira.

Aos 15 anos de idade, sem ter concluído a etapa escolar, o jovem partiu da sua aldeia para arriscar-se em Tokyo, a capital do país. Lá, Soichiro conseguiu um emprego de aprendiz em uma oficina mecânica. O que o levou a buscar aprender o ofício de mecânico foi, porém, uma memória afetiva da primeira vez que viu um automóvel circular em sua aldeia. O próprio Soichiro afirmava que nunca esqueceu o cheiro de óleo que o carro exalava e que isso o fez apaixonar-se pela mecânica e suas invenções.

Honda passou seis anos atuando como mecânico em Tokyo, de 1922 a 1928. Nesse período ele chegou a desenvolver um carro de corrida que bateu recordes nacionais de velocidade, o que lhe projetou não somente como um hábil construtor, mas também piloto. O gosto pela velocidade dos automóveis fez com que Honda buscasse, inicialmente, uma vida de piloto, mas tal carreira se mostrou bem curta para o empreendedor japonês. Até 1936 ele ainda competiu em algumas corridas, mas um grave acidente o fez abandonar o volante, levando-o para um outro momento da vida: o de construir sua própria empresa.

Os percalços do empreendedor Honda

Em 1937 Soichiro, então com 31 anos, decidiu começar sua própria empresa: a Tokai Seiki. Essa empresa tinha como finalidade construir anéis de pistão, que são responsáveis por vedar os cilindros dos motores e evitar que o óleo escorra para outras partes do veículo. Inicialmente a empresa de Soichiro tentou vender seus pistões para a Toyota, que na época era a líder do segmento no Japão. Porém, a empresa rejeitou os produtos da Tokai Seiki devido considerar que não atendiam ao padrão da Toyota.

O que fazer frente a isso?

Homem de ação, Soichiro não deixou-se abalar pela recusa inicial e passou cerca de quatro anos (entre 1937 a 1941) aperfeiçoando seus anéis. Soichiro visitou fábricas, conversou com engenheiros, chegou a assistir aulas em universidades para tentar compreender a melhor maneira de fabricar o seu produto. Melhorando ao longo dos anos, acabou conseguindo o contrato com a Toyota, porém o sucesso ainda estaria longe.

Como sabemos, em 1939 iniciou o maior conflito bélico da história: a II Guerra Mundial (1939 - 1945). O Japão, assim como as demais nações que entraram no conflito, começaram um esforço de guerra e praticamente todos os recursos financeiros e naturais foram destinados para a construção de armas e equipamentos para o confronto. Visto isso, Soichiro não conseguia matéria-prima para fazer seus anéis de pistão, muito menos cimento para a ampliação da sua fábrica.

Mais uma vez o destino impunha um obstáculo no sonho do fundador da Honda. Soichiro não ficou à mercê das circunstâncias e criou seu próprio cimento, gerando assim seus próprios recursos de maneira que não impactasse a produção bélica do país. Porém, ainda não seria esse o sucesso de Soichiro, pois em 1944, pouco tempo após ampliar seus negócios, a fábrica foi bombardeada e destruída. Ainda restaria uma outra fábrica, mas essa, em 1945, também foi ao solo devido um terremoto.

Imaginem assistir seu negócio ruir por tais circunstâncias. O que faríamos? É muito provável que desistiríamos dos nossos sonhos e nos renderíamos ao contexto em que estávamos vivenciando, mas Soichiro não seria vencido assim. Mesmo sob condições tão adversas, a resiliência de Honda conseguiu mantê-lo firme em seu sonho de empreender

O nascimento da Honda

As cinzas e escombros das duas fábricas de Soichiro foram a semente do maior dos seus empreendimentos: a Honda. Precisando reestruturar-se, Soichiro vendeu o que tinha restado de material para Toyota, assim como a própria empresa Tokai Seiki. Em 1946, vislumbrando um futuro sem guerras, Soichiro fundou o instituto de pesquisas Honda, no qual foi responsável por criar protótipos de uma bicicleta motorizada, capaz de transportar as pessoas de forma econômica. Em um país arrasado pela guerra, uma solução eficaz e barata era ideal para começar o longo processo de restauração da economia nacional.

A Honda começou a fabricar suas bicicletas motorizadas em 1948, chamadas de Tipo A. O sucesso do novo meio de transporte foi um sinal de que aquela era a oportunidade tão esperada por Soichiro. Em 1949 ele fechou seu instituto de pesquisa para lançar em definitivo a “Honda Motor Company”, ou simplesmente Honda. Com o tempo, Soichiro passou a fabricar motores melhores, mais silenciosos e mudar o design do seu produto, pois a aparência de uma bicicleta tornava pouco atrativa as motos Honda.

Para auxiliá-lo nessa empreitada, Soichiro tornou-se sócio de Takeo Fujisawa, um grande administrador japonês que pouco entendia de motos, mas muito de negócios. Fujisawa foi o braço direito de Soichiro e é graças a ele que a Honda conseguiu expandir-se rapidamente para outros países. Enquanto Soichiro cuidava da parte mecânica dos modelos, fazendo-os mais rápidos e eficazes, Fujisawa trabalhava na parte financeira e na publicidade da Honda.

A união dessas duas habilidades fizeram com que a Honda fosse ao sucesso de forma extremamente rápida. Em 1958, somente dez anos após o lançamento do seu primeiro protótipo, a empresa já era a maior fabricante de motos do Japão. Seu sucesso foi graças a qualidade das motos, com motores velozes e também pela publicidade da empresa, fazendo-a cair no gosto popular.

Os últimos anos de Soichiro Honda

A Honda continuou a expandir seus negócios. Hoje, presente em mais de 20 países, a empresa não fabrica apenas motos, mas também carros. Soichiro ficou à frente da Honda até 1973, ano em que se aposentou. Entretanto, até seu último dia estava presente na empresa. Em 1983, por exemplo, o fundador da empresa recebeu o “cargo” de “conselheiro supremo”, no qual estava sempre à disposição para apresentar sua visão de negócios e os caminhos que a Honda poderia seguir. 

O “Henry Ford Japonês”, como também foi apelidado, chegou ao fim da vida no ano de 1991, aos 84 anos. Como o mesmo disse: "O dia em que paro de sonhar é o dia que eu morrer." No fim, talvez essa seja a maior lição a ser aprendida com o fundador da Honda: o valor de continuarmos sonhando para nos mantermos invencíveis frente às adversidades.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.   

terça-feira, 18 de abril de 2023

Adolph Zukor, o vendedor de peles que mudou o cinema mundial

 

Há um ditado popular que diz “a fé é capaz de mover montanhas”. Você, caro leitor, certamente já escutou ou mesmo falou essa frase, mas é possível que algo tenha lhe escapado em seu sentido. Digo isso porque, em geral, associamos a fé somente a um sentido religioso, em acreditar que Deus nos ajudará em alguma situação, certo? O significado de fé, porém, extrapola essa limitação e pode ser empregado de várias maneiras. Podemos, por exemplo, ter fé na humanidade e acreditar que um dia nossa realidade irá melhorar. Do mesmo modo podemos ter fé em nós mesmos, nos nossos objetivos e realizá-los, não é verdade?

Considerando esse sentido mais amplo, o que nos faz mover montanhas é acreditar tão piamente em nossos objetivos que fazemos o possível (e às vezes o aparente impossível) para transformar nossa realidade. Assim, todas as grandes histórias de empreendedores começam mais ou menos dessa maneira: quando um homem ou mulher passa a sonhar que pode mudar a realidade à sua volta, seja somente a sua ou a de uma série de pessoas, e coloca em prática aquilo em que acredita. Por vezes, ainda, pode-se estar motivado por um gosto qualquer, um hobby, mas o empenho e dedicação são similares para todos que iniciam sua jornada no empreendedorismo. Portanto, para realmente tornar-se um empreendedor de sucesso é fundamental, mais do que as técnicas, é não perder a fé em seu próprio negócio.

Partindo dessa perspectiva, hoje conheceremos um dos maiores empreendedores do audiovisual, um homem que foi capaz de reinventar-se sem perder de vista suas tradições e cultura. Estamos falando de Adolph Zukor, o húngaro que revolucionou o cinema mundial com seu método de gerenciamento.

O menino órfão chega à América

Para entendermos a resiliência de Zukor precisamos conhecer um pouco dos seus primeiros anos de vida. Nascido no antigo Império Austro-Hungaro (atual Hungria), mais precisamente no pequeno vilarejo de Risce. A nível de comparação, Risce hoje possui pouco mais de 1.400 habitantes, logo, podemos supor que no final do século XIX, em 1873, quando Zukor nasceu, Risce não passava de um pequeno grupo de casas com uma vida extremamente pacata. 

Seu pai, Jacob, tinha uma pequena loja no povoado, mas Adolph nunca chegou a conhecê-lo propriamente, pois Jacob faleceu quando Zukor tinha apenas um ano de idade. Sua mãe passou a cuidar dos filhos e dos negócios da família sozinha, mas também pereceu poucos anos depois, deixando Adolph e seus irmãos órfãos. A tragédia que marcou a vida de Zukor nos seus primeiros anos certamente deixou grandes feridas em sua personalidade, mas também foi responsável pela força que ele encontraria para seguir mesmo nos seus piores momentos.

Sem pais aos 7 anos de idade, Adolph foi morar com um tio que o criou dentro da cultura judaica. Zukor chegou a servir por três anos na comunidade, mesmo que, de acordo com historiadores, forçado pelo tio. O fato que legitima esse ponto de vista está na migração que o jovem optou fazer aos 16 anos, em 1889, deixando seu tio e irmão no então Império Austro-Hungaro e indo ganhar a vida nos Estados Unidos, até então a terra dos sonhos. 

Devemos lembrar que no final do século XIX o país americano já demonstrava uma acelerada economia, rivalizando com as grandes potências europeias como Inglaterra, Alemanha e França.

A escolha pelos Estados Unidos não está clara quando pesquisamos sobre a biografia do empreendedor da indústria cinematográfica, mas podemos deduzir que Zukor buscava uma nova vida, longe do velho continente e da mentalidade que habitava a Europa e seus impérios. Um país que pregava a liberdade e a possibilidade de viver o American Dream provavelmente soava melhor nas intenções de Zukor. 

Assim, o jovem de apenas 16 anos chegou em Nova York, tão perdido na metrópole como qualquer um que sai de uma cidade pequena e cai, de uma hora para outra, na grande confusão das selvas de pedra moderna.

A paixão de Zukor pelo cinema e o início de um negócio promissor

O novo mundo esperado por Zukor lhe obrigou a batalhar pelos seus sonhos. O jovem trabalhou em diversos ramos, mas seus principais empregos foram de faxineiro e de peleteiro, que nada mais é do que um artesão e vendedor de peles. Com apenas dois anos na profissão, Zukor abriu seu primeiro negócio e acabou tendo um relativo sucesso, mostrando grande habilidade para o comércio. Entretanto, Nova York mostrou ao jovem Adolph Zukor algo que ele nunca havia experimentado antes: o cinema.

Criado em 1895, o cinema tornou-se uma verdadeira paixão para o jovem Zukor. Quando a novidade chegou nas terras americanas, Zukor já possuía um acúmulo de capital considerável. Com toda certeza podemos afirmar que não era uma pessoa rica, muito menos com diversas posses, mas sua capacidade de gerenciamento de recursos o fez sobressair-se frente aos demais. 

Assim, a partir de 1903, junto com Max Goldenstein, Adolph Zukor começou a investir na indústria audiovisual. Seu plano inicial foi comprar pequenos cinemas, que não passavam de salas de exibição, e a partir daí aprender sobre o novo mercado que se formava, suas necessidades e o que precisava suprir para tornar rentável seu projeto.

Esses primeiros anos de experiência renderam a Adolph Zukor uma grande experiência e certo acúmulo de patrimônio. Isso lhe permitiu, em 1912, também com outros dois sócios, fundar a “Famous Players Company”. 

Pouco tempo depois Zukor já não cuidava apenas dos números da empresa, mas também era o gênio criativo dos longas e curta metragens que passavam a ser produzidos. Desse modo, em 1924, doze anos após iniciar seu projeto cinematográfico, Zukor deu o passo que tornou-o um verdadeiro empreendedor de sucesso: o húngaro criou a Paramount.

Se você assiste filmes hoje é muito provável que você conheça a empresa Paramount. Responsável pela produção e distribuição de diversos longa-metragens, a empresa pode ser considerada uma das mais antigas do ramo nos Estados Unidos. Com 110 anos de existência (conta-se a partir de 1912), o primeiro presidente da empresa foi Zukor, que seguiu no comando até 1936, mas até sua morte seguiu como presidente honorário. 

Ao longo das décadas, a Paramount foi tendo altos e baixos, principalmente nos momentos de crise como em 1929. Porém, a magia do cinema e uma gestão firme na contenção de gastos e obtenção de recursos não deixaram que a empresa declarasse falência em seus momentos mais obscuros.

O diferencial da Paramount

Para além de uma boa administração, a Paramount destacou-se no segmento por ser a pioneira em produzir, distribuir e exibir seus filmes. Com mais de 1.200 salas de cinema nos anos 1930, (um recorde até os dias atuais) a empresa de Zukor conseguiu entrar e controlar todas as fases do processo do filme, desde a contratação dos atores e a filmagens do longa, até o filme chegar nas telas e serem mostrados ao público.

Mesmo sendo uma ação centralizadora, o fato de conseguir executar diferentes funções dava uma grande margem de manobra e independência para a Paramount, que podia ditar o ritmo de produção e reprodução dos filmes.

Desse modo, a ideia de Zukor foi de estar em todas as etapas do filme, o que mais tarde se tornou uma prática bastante comum no cinema. Assim, o jovem que vendia peles agora era um comerciante da sétima arte, capaz de apreciar milhares de filmes acumulados em seus estúdios e salas de cinema. 

O próprio Adolph Zukor foi diretor e produtor de alguns filmes lançados pela Paramount, mostrando que sua paixão pelo cinema não estava limitada a assistir um bom filme, mas também de criar boas histórias para entreter a população.

Ao longo do século XX a Paramount lançou uma série de clássicos do cinema. Filmes como “Star Trek” e “O poderoso chefão” são apenas dois dos inúmeros sucessos da companhia de audiovisual. Desse modo, Adolph não só contribuiu para tornar o cinema um entretenimento viável à sociedade americana, como também pôde realizar-se enquanto empreendedor ao ver seu negócio tornar-se gigante.

O jovem de 16 anos que saiu de Risce poderia, finalmente, dizer que viveu o sonho americano. E o fez por muitos anos, uma vez que viveu até os 103 anos. Falecendo em 1976 de causas naturais, o húngaro fez sua estrela brilhar, tanto nas telas de cinema como na vida, sendo um verdadeiro artista do mundo empresarial.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 21 de março de 2023

Ferruccio Lamborghini, dos tratores aos carros de luxo


Os anos iniciais do futuro empreendedor Lamborghini

Nascido em 1916, na região da Bolonha, o italiano Ferruccio Lamborghini foi um homem de origem simples e que, mesmo após tornar-se grande em seu segmento, mostrou-se humilde em manter seus pés no chão. Filho de fazendeiros, o jovem desde pequeno mostrava uma habilidade especial em engenharia mecânica, principalmente no reparo das máquinas da propriedade da família. Ferruccio era o primogênito da família Lamborghini, começando desde cedo a ajudar seu pai na lavoura.

O trabalho braçal contrastava com sua paixão pelas máquinas, mas ambos foram fundamentais na formação moral do jovem e futuro empreendedor, como o valor do trabalho e o tempo correto de plantar e colher, preparando o terreno sempre para gerar as suas melhores condições. Todas essas ideias, que num primeiro momento parecem tão óbvias que são quase naturais, passam despercebidas em nosso dia a dia, uma vez que podemos acabar não as colocando em prática.

Aos 14 anos, Ferruccio decidiu sair da fazenda dos pais e ir ganhar a vida em Bolonha, percorrendo assim o seu sonho. O jovem, naquela altura da vida com pouca instrução formal, mostrou que o aprendizado adquirido foi por meio da prática e não através dos livros. Sua habilidade manual em consertar equipamentos chamou atenção dos proprietários da Casa Righi, uma fábrica da região. Assim iniciou a jornada de Ferruccio no mundo do trabalho fabril, começando como um aprendiz de mecânico e recebendo 15 liras por semana. A nível de comparação, no final dos anos 1920 uma unidade de dólar americano era equivalente a 19 liras italianas, sendo assim, o trabalho semanal de Ferruccio valia menos de 1 dólar.

O pouco dinheiro recebido é justificado por diversas razões: uma delas era o fato da Itália estar vivendo o regime de Mussolini, que após um golpe de Estado tomou o poder no país. Em contrapartida, o mercado internacional fez uma série de sanções econômicas, mergulhando a Itália em uma forte crise. Logo, não era possível pagar bons salários, ainda mais para um aprendiz de mecânico. Assim, por alguns anos Ferruccio sobreviveu com pouco, mas essa adversidade não foi capaz de parar o seu sonho.

Entrando nas forças armadas

Após 6 anos trabalhando na Casa Righi, Ferruccio resolveu ingressar nas forças armadas italianas. O ano era 1936 e suas habilidades como mecânico tinham um terreno fértil no reparo de aeronaves e carros. A larga experiência e habilidade de Ferruccio o levou a se destacar entre os seus companheiros, que quando não conseguiam resolver um problema o chamavam. Ferruccio, após analisar com cuidado, conseguia achar a causa da falha e atuar precisamente nela.

Aqui se apresentam dois destaques interessantes que nos revelam um pouco do espírito de Lamborghini: o primeiro é a busca incessante de solucionar problemas. Para Ferruccio, quanto mais desafiador a resolução, mais motivado se sentia. Essa é uma perspectiva interessante de se encarar os problemas que a vida nos proporciona, afinal, geralmente desejamos ter o menor dos problemas e que todos sejam de fácil resolução. O segundo é a brilhante noção de que todo problema tem uma solução, por isso bastava-lhe procurar com cuidado a falha e o que seria necessário para o conserto. Essa perspectiva detalhista fez de Ferruccio um empreendedor capaz de contornar uma série de problemas, visto que partia desse princípio tão básico, mas que nunca o percebemos.

Nos anos de guerra, notadamente a II Guerra Mundial (1939 - 1945) Ferruccio atuou pelas forças italianas, mas foi feito prisioneiro de guerra pelas forças armadas britânica e colocado à trabalhar como mecânico nestas condições. Assim, mesmo na fase mais difícil de sua vida, ainda assim sua profissão não lhe foi tirada. Seu aprendizado, como podemos perceber, foi totalmente prático e autodidata, uma vez que jamais precisou entrar em uma universidade de engenharia para compreender os princípios da mecânica e as leis que faziam suas máquinas funcionarem.

Despertando o Empreendedor Lamborghini

Após o final da II Guerra Mundial, Ferruccio voltou à Itália com uma nova perspectiva. Não podemos afirmar que os anos de conflito foram o fato crucial nessa mudança, porém é fato que o jovem que ingressou nas forças armadas em 1936 já não era o mesmo após 1945, quando decidiu não apenas consertar carros, mas construir os seus próprios modelos. 

Seu primeiro passo foi justamente reunir diversas peças e fazer, ao seu modo, um carro completamente novo. Graças ao fim da guerra, em toda a Europa montanhas de sucata eram acumuladas, resultado do combate entre as nações envolvidas. No território italiano essa realidade não era diferente e Ferruccio pôde aproveitar-se disso.

Juntando diversas peças, mas não de forma aleatória, Lamborghini fez o seu primeiro automóvel, que não era, evidentemente, um automóvel Lamborghini. Na verdade, esse primeiro modelo criado por Ferruccio era um híbrido, ou seja, a mistura de um trator com um carro. Esse protótipo foi chamado de “Carioca” e ao longo de dois anos foi sendo aperfeiçoado, até chegar a se tornar um modelo comercial. Ferruccio conseguiu fabricar 500 unidades do “Carioca” e vendê-los. Ao que se sabe, cada unidade foi vendida por 800 mil liras. Nesse momento (lembremos que a Itália foi derrotada na II Guerra Mundial) o valor da moeda italiana estava extremamente baixo, por isso cada dólar era equivalente há 525 liras (diferente dos 19 liras da época em que Ferruccio era apenas um aprendiz de mecânico). Convertendo os valores, o valor de cada “Carioca” girava em torno de 1.500 dólares.

O lucrativo negócio recém-nascido de Ferruccio o animou, fazendo com que se investisse em uma fábrica de tratores. A motivação pela construção de tratores se deu por alguns motivos, mas principalmente pela necessidade do país em retornar a uma economia de base e também pela familiaridade de Ferruccio com essa máquina, que foi a primeira ao qual teve seu primeiro contato com a mecânica, na fazenda de seu pai.

Uma resposta à Ferrari: nasce a Lamborghini

Somente em 1966, após um clássico episódio com Enzo Ferrari, foi que Ferruccio decidiu ampliar seus negócios e entrar no mercado de carros de luxo. Na época, com seu negócio indo muito bem, Lamborghini decidiu comprar uma Ferrari, porém, um problema no câmbio do carro o incomodava. O fabricante de tratores foi fazer suas reclamações em uma das lojas da Ferrari que, por acaso ou “destino”, estava Enzo Ferrari, o fundador da marca e também excelente mecânico. Enzo não aceitou bem a crítica de Ferruccio, dizendo que ele “nada entendia de carros e que ele devia contentar-se a andar nos seus tratores”.

A ofensa, porém, fez com que Ferruccio não apenas consertasse o problema do câmbio do seu carro, mas lhe instigou a fabricar o seu próprio carro de luxo. Assim nascia a marca Lamborghini. A entrada nesse novo ramo fez os negócios de Ferruccio escalonarem para outro patamar, graças a potência e qualidade do seu carro. A rivalidade com a Ferrari estava plantada, mas o fato é que Ferruccio apenas provou suas qualidades como mecânico.

A partir do final dos anos 1970, Ferruccio decidiu afastar-se dos negócios, visto sua idade avançada. O jovem de Bolonha, agora um senhor de mais de 60 anos, ainda seria condecorado pelo Estado com o título de "Cavaliere del Lavoro", graças aos seus serviços prestados para a economia do país. Em 1993, aos 76 anos, Ferruccio descansou, tendo uma morte por causas naturais. Seu legado, porém, mantém-se vivo.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Enzo Ferrari, O homem que mudou o automobilismo

O carro é uma das maiores invenções da humanidade. Não nos resta dúvidas de que no último século esse tem sido o principal meio de transporte humano. Apesar de não ser o mais rápido, tampouco o mais seguro, ainda assim sua praticidade é inigualável. Porém, para alguns há uma mágica quando se está atrás dos volantes que é inexplicável, tanto que faltam palavras para descrevê-la. Essa paixão pela velocidade e autonomia que esse veículo nos dá tornou-se, ao longo do tempo, uma verdadeira paixão.

Basta observarmos que o automobilismo hoje é um dos esportes mais assistidos do mundo. Quem de nós, que já passa da casa dos 40 anos, não acordava cedo para assistir Ayrton Senna competir na Fórmula 1? Não por acaso Senna ainda é um dos maiores ídolos do nosso país, ficando à frente de diversas figuras de poder e que, tanto no passado como no presente, moldam nossa realidade. Frente a isso, talvez não consigamos achar um fator determinante que explique a paixão que possuímos por nossos carros e suas mais distintas funções, mas que essa seja o resultado de diferentes estímulos combinados com uma única finalidade.

Para entendermos um pouco sobre este fascínio é preciso conhecermos um dos maiores empreendedores do ramo automobilístico, capaz de fazer com que seu nome se tornasse, provavelmente, a marca de carro mais famosa do mundo e que hoje fatura mais de 3 bilhões de dólares. Estamos falando de Enzo Anselmo Giuseppe Maria Ferrari, o homem que mudou a história do automobilismo.

Ferrari, das oficinas mecânicas às pistas de corrida

Nascido em 1898 na cidade de Modena, Enzo Ferrari vem de uma origem humilde. Seus pais tinham um pequeno negócio no ramo da carpintaria e viviam com altos e baixos, porém o suficiente para formar o caráter do jovem Enzo. Aos dez anos de idade, ao ver uma corrida automobilística, Ferrari encantou-se com aquele universo que abria-se à sua frente e decidiu que faria parte dele. Ainda jovem passou a trabalhar como mecânico e apesar de nunca ter feito uma faculdade de engenharia, a prática levou-o a conhecer e aprimorar diferentes tipos de carro.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), o jovem Ferrari, então com apenas 20 anos, já era o principal provedor de sua família, pois seu pai e seu irmão mais novo acabaram por falecer, ambos, em 1916. A dupla perda familiar fez com que a responsabilidade crescesse rapidamente em Enzo, que passaria a procurar empregos melhores para sustentar sua mãe e irmãos. Com sua experiência de mecânico, tentou emprego em grandes fabricantes de carros como a Fiat, mas diversas vezes foi recusado.

Mesmo assim Ferrari seguiu firme e tornou-se piloto de testes na CMN, a Costruzioni Meccaniche Nazionali, em Milão. Na CMN Ferrari conseguiu ser promovido para piloto e participar das primeiras corridas de sua vida, porém ainda era um pequeno passo para quem almejava o maior dos sucessos.

A vida de Enzo Ferrari começou a mudar quando procurou a Alfa Romeo. Seu primeiro emprego na fabricante de carros italiana foi o de piloto, mas podemos dizer que Ferrari passou por praticamente todas as funções da empresa. Desde vendedor à chefe do departamento de desenvolvimento de carros. Como piloto Enzo competiu até o fim dos anos 1920, mas ao longo dos anos tomou mais gosto pela gestão da equipe do que por estar nas pistas. Assim, em 1929 chegou a fundar a scuderia Ferrari, uma divisão da Alfa Romeo para competir em outras categorias. Assim começava, de fato, o império de Enzo Ferrari.

O começo do império Ferrari

A scuderia Ferrari existiu por poucos anos, mas seus feitos dentro e fora das pistas causaram um grande impacto na vida de Enzo. Apesar de ser um braço novo da Alfa Romeo, a dificuldade em estabelecer-se na divisão que competia logo foi superada por grandes conquistas. Em 1935 ocorreu a mais notável delas, no qual a scuderia Ferrari chegou em primeiro lugar no prêmio da Alemanha, que na época tinha os melhores pilotos e carros de corrida.

O talento da scuderia começou a se destacar, porém, os ventos da mudança acabaram não sendo favoráveis a Ferrari e seus pilotos. Passando por dificuldades financeiras, em 1937 a Alfa Romeo tirou seu patrocínio e, na prática, fechou a divisão comandada por Enzo. Ele foi realocado para a divisão de esportes, o que naturalmente deixou o modenês descontente. Dois anos depois, após um desentendimento com seu chefe, Ferrari deixou a Alfa Romeo e construiu um novo empreendimento para fabricação de carros. Porém, logo após a estreia de sua fábrica o mundo entraria na sombria II Guerra Mundial (1939 - 1945). A fábrica de Enzo Ferrari foi obrigada, via decreto de Guerra, a fabricar não mais carros, mas sim armas. Assim passaram-se longos 6 anos até que Enzo pudesse retomar sua atividade.

Somente em 1947 a Ferrari nasceu, fruto de um objetivo claro: fabricar carros e competir. Inicialmente o plano de Enzo Ferrari era o de fazer frente ao dominante mercado interno da Itália, que era conduzido principalmente pela Alfa Romeo. Em 1948, a Ferrari lançou-se nas primeiras competições e mais uma vez os seus carros ganharam um rápido destaque. Para uma equipe iniciante o primeiro ano de competições foi surpreendente, mas ainda precisaria de muito esforço para conseguir competir com os carros da Alfa Romeo e, mais tarde, com outros grupos já consolidados no mundo automobilístico.

Ao longo dos anos 1950, a Ferrari passou de estreante à grande favorita do mundo automobilístico. Além do destaque nas pistas, os carros de luxo da Ferrari seriam não somente um valor para a marca, mas um status que até os dias atuais mantém-se. Porém, nem tudo foram flores durante esse período para o empresário do automobilismo. Em 1956 Enzo precisou lidar, mais uma vez, com a perda de um ente querido. Seu filho acabou falecendo precocemente, o que causou um grande impacto psicológico no dono da Ferrari. Ele passou a evitar encontros sociais desnecessários, além de andar sempre de óculos escuros, o que tornou-se, em sua maturidade, uma marca pessoal.

Apesar disso, a história da Ferrari seguiu o rumo do sucesso, mesmo com momentos de dificuldade. Nos anos 1960, por exemplo, uma rixa interna fez com que diversos membros da diretoria e pilotos abandonassem a equipe. As dificuldades financeiras também precisaram que Enzo fizesse alguns ajustes, como a venda de 50% da Ferrari para a Fiat, mas mantendo o controle sobre as operações nos campeonatos mundiais de automobilismo.

Mantendo sempre o controle da empresa em suas mãos, Enzo Ferrari seguiu até seu último suspiro no controle da sua empresa. O menino que amou o automobilismo à primeira vista descansou aos 91 anos, em 1988. No mesmo ano de sua morte a Fiat tornou-se dona da marca, comprando 90% de suas ações. Isso só foi possível após a partida de Enzo, que jamais permitiria perder o controle da Ferrari.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.       

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent, O rei da moda

Vivemos em um mundo de novidades. A todo momento algo está na moda, seja um tipo de comportamento, uma gíria, um esporte ou mesmo uma mentalidade. É essa eterna inovação que movimenta o mundo dos negócios, fazendo a roda da economia girar em nosso momento histórico atual.

Apesar das críticas que são feitas a esse estilo de vida, é inegável que o padrão que se estabeleceu dentro da nossa sociedade exige cada vez mais refinamento e criatividade dos nossos empreendedores. Quando nos remetemos a essas duas características certamente alguns nomes vêm a nossa mente, mas provavelmente nenhum deles esteve no patamar de Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent, ou simplesmente Yves Saint Laurent. O designer francês reinventou o mundo da moda com suas criações, mostrando que sofisticação e bom gosto podem se tornar um modelo de negócio acessível e lucrativo.

Os primeiros anos de Saint Laurent

A jornada de Saint-Laurent começa na Argélia, em um tempo em que este país ainda era uma colônia francesa. O ano era 1936 quando a família Saint-Laurent fez vir ao mundo Yves. A infância do nosso empreendedor foi relativamente tranquila, sendo uma típica família dos anos 1940. O pai de Yves Saint-Laurent era presidente de uma companhia de seguros, o que provavelmente foi uma de suas inspirações para  empreender. Apesar disso, sua inclinação para a moda não foi incentivada pelo seu pai. Por outro lado, a falta de apoio da figura paterna era compensada graças à sua mãe, que o incentivou a dar os primeiros passos rumo ao seu sonho de se tornar estilista.

Logo após finalizar seus estudos, Yves procurou perseguir o seu sonho. Vivendo na Paris do pós-guerra, o jovem designer conseguiu trabalhar lado a lado com Christian Dior, um dos maiores estilistas franceses do século XX. Dior se tornou para Yves um mestre no qual o jovem argelino podia contar para evoluir sua percepção do Belo e aprender o seu ofício. Infelizmente a convivência entre os dois durou poucos anos, pois Dior faleceu precocemente em 1957. Yves, de acordo com relatos da época, ficou extremamente abalado com a partida do seu influenciador, mas o testamento de Dior fez com que a vida de Saint-Laurent desse um importante salto. Isso porque Dior deixou a empresa que possuía nas mãos do seu pupilo, considerando que ele seria capaz de salvá-la da falência.

Era esse o contexto em que encontrava-se Yves Saint-Laurent, até então com 21 anos. Quando analisa-se a história deste empreendedor uma pergunta comum que os biógrafos fazem é acerca da razão que Yves herdou uma empresa tão importante e, ao mesmo tempo, tão próxima da falência. As teorias são inúmeras, mas entendemos que Dior buscava alguém que continuasse o seu trabalho e enxergou em Yves um potencial de gestor em conflitos, tanto administrador como de empreendedor, que decidiu colocá-lo entre os seus beneficiados.

Para os seus contemporâneos, certamente a decisão de Dior foi vista como um acesso de loucura, ou mesmo um ato desesperado, porém, que chegou a um excelente resultado. Yves Saint-Laurent colocou as contas em ordem e a empresa de Dior pôde respirar com tranquilidade, mas os problemas enfrentados pelo estilista estavam apenas começando.

O trauma da Guerra

Apesar de ter nascido na Argélia, toda a vida de Yves se deu praticamente em solo francês. Por ter cidadania francesa, o designer foi convocado para lutar pelo exército da França durante a guerra de independência argelina. Como podemos imaginar, a obrigação de voltar à sua terra natal na condição de um soldado que tiraria a vida de seus compatriotas fez com que Yves Saint-Laurent tivesse uma carreira curta no exército. Somado a esse estresse psicológico, como foi diagnosticado, havia o fato de outros soldados de seu batalhão o perseguirem devido sua orientação sexual.

Atormentado pela guerra e pelo perigo do seu próprio batalhão, Yves passou somente 20 dias em preparação para o combate, sendo dispensado após um relatório médico afirmando que ele não teria condições de lutar.

De fato, é completamente compreensível o problema adquirido por Yves quando observamos o seu contexto. Ainda assim não podemos dizer que Yves Saint-Laurent era um homem acomodado ou mesmo que tivesse medo dos conflitos. O fato era, em verdade, que o campo de batalha de Saint-Laurent seria outro.

Após recuperar-se do trauma sofrido nas forças armadas, em 1962 Yves Saint-Laurent daria um dos passos mais importantes (talvez o mais importante) de sua vida. Em parceria com seu companheiro Pierre Bergé, ele fundou sua própria marca, sendo esta homônima. 

A experiência adquirida gerindo a empresa de Dior fez com que Saint-Laurent percebesse que a alta costura não precisava, necessariamente, ser um sinônimo de algo caro. Assim, um dos primeiros feitos de Saint-Laurent foi conseguir tornar sua moda acessível, o que ajudou a difundi-la em grande escala.

Yves Saint-Laurent - tornando-se uma lenda

Além de conseguir trazer a sofisticação para o cotidiano das pessoas, Yves Saint-Laurent, ao longo de 20 anos, conseguiu projetar não apenas suas marca, mas a si próprio. Suas inovações na moda fizeram uma verdadeira revolução no modo das pessoas se vestirem. Colocando em exemplos, podemos falar do Smoking feminino, uma peça de roupa que usualmente era destinada apenas aos homens e que possibilitou uma elegância distinta às damas, fazendo com que o uso de calças cumpridas por parte das mulheres fosse ainda mais difundida.

Talvez isso pareça relativamente superficial para nós atualmente, porém devemos lembrar que os anos 1960 foi marcada pela revolução feminista no Ocidente. As mulheres ganharam cada vez mais espaço e direitos, tanto no mundo do trabalho como em outros setores da sociedade. 

Visto isso, era necessário também uma adaptação da moda frente a esse novo paradigma social. Yves Saint-Laurent conseguiu captar essa mudança e foi pioneiro em suas roupas para atender essa nova demanda, afinal, uma nova sociedade começava a formar-se em meio aquela geração.

Combinando sua identidade à sua marca, estando na vanguarda do seu segmento em meio às transformações vividas pelo mundo e mantendo-se criativo, Yves Saint-Laurent teve a receita do sucesso em suas mãos e não a desperdiçou. O lucro de sua marca foi tão alto que após sua morte, há mais de uma década, o argelino é a pessoa que mais ganhou dinheiro mesmo estando morto em nosso mundo atual. Tudo graças ao seu esforço e visão de mundo, possibilitando assim abrir as portas do futuro.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Christian Dior, O homem que vestiu a Europa Pós-Guerra

Todos nós temos habilidades e talentos, não é mesmo? Por vezes, o que separa um profissional bem sucedido de outro é justamente a sua capacidade de reconhecer e desenvolver aquilo que naturalmente ele já possui. Seguindo esse pensamento, talvez a vida e suas suas mais diferentes situações se tornassem mais fáceis se seguíssemos nossas inclinações naturais. Entretanto, muitas vezes sucumbimos à pressão externa, seja de parentes, amigos ou mesmo o senso comum e acabamos desistindo de nossos sonhos. Passamos a trilhar um caminho sem entusiasmo e, por fim, não nos sentimos realizados.

Esse sentimento comum à maioria das pessoas pode ter como causa de diferentes motivos, mas o fato de não seguirmos nossa vocação é um deles. Estamos falando sobre isso porque o empreendedor que conheceremos hoje foi de encontro com os padrões de sua época e precisou enfrentar não somente a opinião pública, mas sua própria família para alcançar seus sonhos. Estamos falando de Christian Dior, o homem que vestiu a Europa após o fim da II Guerra Mundial.

Dior, entre a obediência e o sonho

A história de Christian Dior começa na pacata Granville, uma pequena região no norte da França em 1905. Pouco sabemos sobre os seus primeiros anos de vida, mas Dior era filho de um comerciante que sonhava, entre outras coisas, em ver o filho como diplomata. Todavia, esse jamais foi um sonho do jovem Christian, que sempre apresentou um talento nato para as artes plásticas, principalmente a pintura e o desenho. Na sua época, porém, não existia tanta liberdade para dialogar com os mais velhos sobre o futuro, apenas obedecia-se aos desejos dos pais.

Sendo assim, Christian chegou a cursar por alguns anos a faculdade de relações internacionais, mesmo a contra gosto e não demonstrando nenhuma vocação para tal profissão. Nessa época Dior mudou-se para Paris e lá acabou conhecendo o maior centro cultural do mundo. 

O jovem de Granville deparava-se com a vida artística mais inflamada da Europa, o que o levou a desejar mais ainda seguir aquilo que sempre foi sua verdadeira paixão. Ao longo dos anos, em meio a dúvida entre a obediência ao pai ou tomar as rédeas do próprio destino, Dior tomou uma decisão. Em 1927, com então 22 anos, largou a faculdade de relações internacionais e iniciou seu primeiro empreendimento: uma galeria de arte. 

Essa tomada de decisão desestruturou significativamente seus laços familiares, porém, estes iriam ser restabelecidos poucos anos mais tarde, quando toda a família precisou unir forças (e recursos) para superar um revés econômico sofrido por seu pai. Ainda assim, a galeria de arte de Dior não foi um empreendimento lucrativo, sendo fechado poucos anos após o seu lançamento. Mesmo não conseguindo o sucesso que almejava, é inegável que foi uma importante experiência para o jovem que mais tarde seria um dos principais estilistas da Europa dos anos 1940 e 1950.

Christian Dior crescendo na profissão

Durante os anos 1930, Dior aprimorou suas habilidades como artista plástico e começou a vender seus desenhos para ajudar a saúde financeira da família. Seu primeiro trabalho mais relevante foi o de desenhar croquis para uma revista, passando a ganhar assim uma pequena visibilidade com o seu trabalho. Graças a constância de publicações na “Figaro Illustre", seu nome começou a circular entre os apreciadores e profissionais da moda em Paris. Esse seria o segundo passo de Dior em direção ao seu sonho.

Ainda em 1938, Christian Dior fez diversos trabalhos com Robert Piquet, um estilista suíço responsável por diversas lojas na capital francesa. Dior ganhou experiência não apenas sobre a criação de suas peças, mas também em como gerenciar pessoas e atender às mais distintas demandas. 

Até então, porém, Dior mostrava-se um excelente trabalhador, mas ainda não tinha se tornado um verdadeiro empreendedor. Esse momento ainda demoraria alguns anos até chegar, pois os seis anos seguintes, de 1939 à 1945, o mundo mergulhou na II Guerra Mundial.

O conflito entre diversas nações arrastou a Europa para o centro da guerra. Dior acabou sendo convocado para o exército francês, servindo por dois anos. Mesmo não sendo um homem das armas, o esforço de guerra fez com que todas as pessoas, direta ou indiretamente, estivessem envolvidas no combate. Porém, das cinzas da guerra começou a surgir o pequeno império da moda e o principal comandante deste novo momento seria o nosso grande empreendedor.

Fundando a Maison Dior

A reviravolta na vida profissional de Christian Dior começou em 1946. Após anos aprendendo sobre sua profissão, Dior recebeu uma ajuda financeira para lançar seu maior empreendimento: a Maison Dior. O termo “Maison” advém do francês e traduz-se como “lar” ou “casa”. Porém, no mundo da moda uma Maison é um empreendimento que trabalha com a alta costura, que nada mais é do que roupas sofisticadas e exclusivas, geralmente voltada ao público feminino. 

A alta costura, como podemos imaginar, está sempre na vanguarda da moda, pois busca lançar tendências. Nesse sentido, Dior projetou sua arte até o alto escalão social, buscando reinventar a maneira como as mulheres vestiam-se.

Após anos de experiência como funcionário, tanto na construção de novos modelos como no gerenciamento da empresa, Christian Dior inaugurou sua primeira coleção em 1947. A Dior tornou-se pioneira no que ficou conhecido como “New look”, uma moda que buscava reinventar o padrão de vestuário europeu, que naquele momento buscava reerguer-se dos danos causados pela guerra.

O “New Look” tinha como característica a extravagância, com várias camadas de tecido para construção de uma peça de roupa, o que para os produtores mostrava-se um “desperdício”, mas não para Dior. Seu interesse era revolucionar o modo como as mulheres vestiam-se e assim o fez de maneira maestral. 

O New Look rapidamente caiu nas graças das classes altas e espalhou-se rapidamente pela Europa. Ao mesmo tempo, Dior percebeu que o “New Look” era mais do que apenas uma roupa, mas sim um estilo de vida. Sendo assim, ampliou o raio de ação da sua Maison e passou a produzir diversos produtos como perfumes, jóias e diversas peças de roupa que iriam compor o vestuário de homens e mulheres por todo o velho mundo.

A Dior (a marca) tornou-se uma das mais famosas e respeitadas empresas de moda ao redor da terra. Sua fama alastrou-se de tal maneira que seu criador passou a ser confundido pela sua criação. Ela foi lar de grandes estilistas ao longo do tempo, o mais notável, além do próprio Dior, foi Yves Saint - Laurent, que acabaria se tornando o sucessor da Dior após a morte de Christian, em 1957. Vítima de um ataque cardíaco, Dior estava de férias quando sentiu-se mal e acabou deixando a vida muito cedo, aos 52 anos. Ainda hoje, porém, é impossível entendermos a grandeza da Dior sem enxergar a biografia do seu fundador e notar as qualidades deste dentro da sua empresa.

Por sua coragem em desafiar a opinião pública e a autoridade familiar, por sua inovação frente a necessidade de quebra de padrões após a II Guerra e sua rápida capacidade de expansão, coloco Christian Dior como um dos empreendedores que conseguiram marcar a história, mostrando o que podemos fazer quando canalizamos bem nossas habilidades e talentos naturais.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio




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terça-feira, 29 de novembro de 2022

Carlos Slim Helú, o homem em que tudo que toca torna-se ouro

A mitologia grega é fascinante. Até os dias de hoje suas histórias e personagens nos rendem entretenimento e sábios ensinamentos. Os mitos, que em geral são vistos como um apanhado de histórias com pouco (ou nenhum) sentido, são fundamentais para aprendermos alguns ensinamentos colocados ao longo da vida. Um deles é o mito do rei Midas, que de tão próspero e prestativo ao deus Dionísio recebeu do próprio Deus o poder de tudo que tocasse se transformasse em ouro.

Esse poderoso talento, porém, revelou-se uma maldição. Midas não conseguia comer sozinho, muito menos tocar nas pessoas que sempre amou. Isolado, acabou seus dias na montanha de ouro que fez com seus poderes. A lição aqui, como podemos perceber, é bastante clara: nenhum preço do mundo pode comprar o afeto. A ganância, portanto, é um mal irremediável que nos leva a afastar-se daquilo que verdadeiramente importa.

Conto-lhe brevemente esse mito para podermos entender melhor a história de Carlos Slim Helú, um mexicano com pais imigrantes do Líbano que superou a limitação financeira de sua família e tornou-se um dos homens mais ricos do mundo. Não por acaso seu apelido no mundo financeiro é justamente “Midas”, por ser capaz de transformar qualquer negócio em um lucrativo empreendimento. Diferentemente do rei grego, porém, Carlos Slim não é uma pessoa solitária, entregue ao desejo de crescer seus recursos de maneira desenfreada, mas sim um homem que adora estar em família e aproveitar os bons momentos junto com as pessoas que ama.

Os primeiros passos de Carlos Slim

Antes de entrarmos nestes detalhes devemos conhecer um pouco da origem deste grande empreendedor. Carlos Slim nasceu em 1940, na Cidade do México, e desde cedo precisou lidar com o mundo do trabalho. Seu pai, Julian Slim, era proprietário de uma loja de artigos orientais e aos oito anos Carlos passou a ajudá-lo. Descendente de libaneses, um povo que em sua cultura valoriza o comércio e a mentalidade empreendedora, Carlos Slim foi doutrinado por seu pai ao longo de toda sua vida. Com seu pai Carlos aprendeu a guardar dinheiro para utilizá-lo na hora certa, a investir a longo prazo e tantos outros ensinamentos que lhe foi útil na sua vida adulta.

Aos 15 anos, imerso no mundo do comércio, Carlos já operava cadernos de contabilidade e tinha o seu primeiro negócio informal: vendia doces para seus primos e amigos. Apesar de parecer uma prática “inocente”, o que começou como uma brincadeira nada mais foi do que um exercício para aprender a gerenciar seus empreendimentos. Logo em seguida, ainda na fase da adolescência, com a ajuda de seu pai, ele conseguiu comprar e monitorar ações de banco, o que lhe deu grande experiência no mercado internacional da bolsa de valores.

A primeira empresa “séria” de Carlos foi uma imobiliária. Aprendendo os segredos da especulação, o empreendedor viveu da compra e venda de terrenos, casas e apartamentos entre os anos 1965 a 1969. Com apenas 27 anos Slim já acumulava não somente a expertise do seu ramo, mas era um veterano nas relações de trabalho. É claro que ele ainda teria muito a aprender, mas os seus primeiros sucessos demonstram a razão pela qual seu “apelido” no mundo dos negócios foi Midas.

Carlos Slim, tocando em negócios e transformando-os em ouro

Com o sucesso de seus investimentos, em uma década Carlos construiu seu patrimônio tendo uma série de empresas dos mais variados negócios. Além da imobiliária, por exemplo, Carlos possuía uma empresa de cigarros, uma fábrica e uma rede de restaurantes espalhada pelo México. Assim, sua fama de ser um excelente administrador foi crescendo, pois se já não é simples lidar com um segmento, imaginemos o quão mais difícil é entender as nuances de diferentes ramos de negócio, cada um com suas especificidades e necessidades.

É evidente, porém, que diversificar apresenta pontos positivos. Com a fluidez do mercado, sempre sujeito a variações internas e externas, diversificar seus investimentos pode ser uma excelente estratégia para manter-se crescendo apesar das circunstâncias. Enquanto um ou mais segmentos, por exemplo, mostram-se em baixa, outros ramos são favorecidos pela mesma situação, fazendo seu lucro compensar as perdas ocorridas em outros empreendimentos.

Nesse sentido, a estratégia de Carlos Slim foi altamente eficaz. Porém, seu principal investimento, o que o tornaria verdadeiramente famoso (e rico) só foi adquirido nos anos 1990, quando Slim aproximava-se dos 40 anos. Ao comprar a BMmex, um sistema de telefonia usado no México, Carlos não só aproveitou o momento de recessão econômica do país e investiu fortemente em sua nova empresa. 

Ao longo dos anos 1990 e 2000, como sabemos, o acesso a telefones ficou cada vez mais amplo, o que tornava a demanda da BMmex gigantesca. Em seu auge, por exemplo, dizem os especialistas, que a fortuna de Carlos Slim chegou a ser metade do PIB do México. Para termos um pouco de noção do que isso significa, imaginemos que algumas empresas, nas mãos de um único homem, poderia levar (ou retirar) o país de uma crise econômica.

A Telmex, como ficou conhecida sua empresa de telefonia, alcançou 90% dos mexicanos, um número tão impressionante que praticamente não existia concorrentes à altura dos negócios de Carlos Slim. O empreendedor, com seu espírito de inovação e busca de novos mercados, passou a investir e comprar empresas de telefonia de toda a América Central, ampliando seu mercado. Assim começava um verdadeiro monopólio pela telefonia nas mais distintas regiões, desde a Guatemala até Porto Rico e a Argentina. 

Slim, como podemos imaginar, saiu vitorioso dessas experiências, não por se tornar grande em cada um destes países, mas por ter ganhado uma vivência internacional em seus negócios, lhe dando uma expertise que ainda faltava-lhe.

Com essa projeção, Slim foi expandindo os negócios e chegou a ser dono de empresas brasileiras como a Claro e a Embratel, ambas com excelente público no Brasil. Tais feitos, em meio a tantas outras conquistas econômicas, rendeu aos admiradores do empreendedor o fato dele nunca ter tomado decisões equivocadas em seus negócios.

Parece-nos, à primeira vista, que tudo foi “fácil” de conquistar, mas certamente essa é apenas a ponta do iceberg e nossa visão, limitada e distante da realidade, não consegue imaginar o esforço feito por Carlos Slim para deixar suas empresas no patamar atual. Certamente erros foram cometidos, afinal, muitas vezes aprendemos através deles, porém, o diferencial de Slim é o fato de nenhum destes equívocos serem grandes o suficientes para colocar em jogo suas operações.

Sendo assim, ainda hoje, com quase 82 anos, Carlos Slim não é somente um dos homens mais ricos do mundo, mas também apresenta um forte valor humano em si. Não preocupa-se, por exemplo, em “ostentar” com bens materiais, veste-se de maneira comum e sem chamar atenção. Também não busca os holofotes da mídia a todo momento, muito menos preocupa-se em aparecer em capas de revista. Esse modo de vida humilde foi forjado por seus pais no começo de sua criação e o empreendedor carrega consigo até hoje. Assim, Slim segue a educação que lhe foi fornecida, sendo um ótimo exemplo de como os valores devem ser carregados conosco ao longo da nossa existência.

Por não deixar corromper-se pela ganância e ser bem sucedido nos seus empreendimentos é que considero Carlos Slim um dos grandes empreendedores da história e por ser o primeiro empreendedor em vida que escrevo este ensaio.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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