sexta-feira, 27 de outubro de 2023

George Elton Mayo, o humanista da administração

A administração é um saber construído a partir de outras áreas da ciência, afinal, é necessário não somente colocar as “peças nos lugares corretos”, mas também desenvolver a capacidade de administrar uma série de intenções e desejos humanos, tanto nossos como dos nossos colaboradores. Nessa tênue relação entre os gestores e trabalhadores não é raro momentos de tensão e sobre esforço no trabalho, seja em qual segmento for. 

Talvez seja por isso que ao observarmos o desenvolvimento da teoria da administração percebemos que uma grande parte dos teóricos não foram necessariamente administradores de empresas, mas sim outros profissionais como sociólogos e psicólogos. Apesar de não possuírem o conhecimento operacional de uma fábrica, tais pensadores se debruçaram sobre o assunto devido o caráter estritamente humano nas relações de trabalho, percebendo as nuances entre os tipos de estímulos e a produtividade dos funcionários.

Visto isso, hoje conheceremos um dos grandes nomes da teoria das relações humanas na administração, responsável por experimentos em fábricas e a constatação de que não podemos pensar no funcionário apenas como uma força de produção. Falaremos de Elton Mayo, um dos maiores humanistas da história da administração.

Elton Mayo, da Austrália para o mundo

A história de George Elton Mayo não começa, porém, dentro das fábricas, muito menos nos Estados Unidos dos anos 1930. Os primeiros passos do pai da teoria humanista da administração foram na cidade de Adelaide, na Austrália, em 1880. Descendente de pais britânicos, Mayo cresceu em uma família de boas condições financeiras, (seu pai era engenheiro civil e prestava serviços ao Estado) o que lhe permitiu uma infância abastada junto com seus seis irmãos. Tendo como sua única obrigação os estudos, Mayo seguiu para a universidade, formando-se em filosofia pela universidade de Adelaide.

Logo após formado o jovem Elton Mayo começou sua carreira acadêmica ensinando na universidade de Queensland. Ao alcançar o “sucesso” acadêmico, todos poderiam pensar que a vida de Mayo se resumiria às aulas e seus alunos, ano após ano dentro de uma sala de aula, mas essa não foi a vida que ele escolheu. Não há registros das razões pela qual em 1923 Mayo decide renunciar seu cargo de professor em Queensland, mas provavelmente o australiano/britânico tinha outros anseios em sua vida que o levaram até suas pesquisas. 

Podemos aferir, contudo, que a rotina estabelecida em sua fase adulta (Mayo tinha 43 anos quando largou a universidade) não o realizava e para isso se propôs a novos desafios.

Juntando seus bens, Elton Mayo mudou-se da Austrália e foi para Chicago, no qual conseguiu um cargo na Universidade da Pensilvânia. Mesmo voltando ao “mesmo” trabalho, a diferença estava na forma de atuação que Mayo teria: o professor agora não ficaria somente nos gabinetes e sala de aula, mas passou a desenvolver pesquisas e experimentos dentro das fábricas têxteis. 

Durante três anos suas primeiras observações o fizeram chegar em uma síntese interessante: a necessidade de inserir a sociologia e psicologia organizacional no mundo do trabalho. 

Vale lembrar que durante a década de 1920 a administração científica de Taylor estava sendo empregada em larga escala nas rotinas dos operários. A mentalidade de produção máxima, fazendo com que os trabalhadores funcionassem como máquinas, mostrou a Mayo que aquele ritmo de trabalho e de vida iria desgastar não somente os corpos dos trabalhadores, mas principalmente sua psique. Efeitos comuns para os trabalhadores da época, por exemplo, era o uso abusivo de álcool, a fadiga corporal e, naturalmente, as brigas entre os próprios empregados e por vezes com os gestores. Todos esses aspectos negativos diminuíam não só a produção, mas tornava o ambiente de trabalho ainda mais insalubre.

Considerando todos esses aspectos, Mayo iniciou o experimento que mudaria sua carreira e o colocaria de vez na história da administração: o experimento Hawthorne.

O experimento Hawthorne: a humanização do trabalho

Em 1927, com quatro anos desenvolvendo sua pesquisa na psicologia organizacional do trabalho, Mayo propôs a empresa de energia Hawthorne (daí o nome do experimento), uma mudança na rotina e estímulo dos trabalhadores a fim de descobrir se esses aspectos iriam alterar a produtividade da empresa. Essas mudanças seriam de diversos níveis, desde a um aumento salarial até as condições de iluminação na fábrica. 

Inicialmente pensava-se que o maior estímulo que poderiam dar aos funcionários para aumentar sua produtividade seria o salário, afinal, essa era a lógica da administração científica: quanto mais se produz, mais salário se recebe. Esse reforço positivo seria a única e maior motivação dos funcionários frente ao trabalho. Entretanto, Mayo chegou a conclusão através do seu experimento que outros fatores, às vezes até demasiadamente subjetivos, foram mais eficazes do que o aumento salarial. Um deles foi a confiança entre empregadores e empregados, no qual se notou que à medida que os funcionários passavam a sentir-se mais confortáveis junto aos seus gestores se criava uma relação de confiança e lealdade, fazendo com que os empregados se empenhassem mais nas suas tarefas. Acima disso, o valor do grupo se destacava, mostrando que ao se juntarem ou se perceberem enquanto uma coletividade a cooperação fazia com que a produção subisse.

Todos esses fatores levaram Mayo a concluir que o aspecto humano não pode ser desconsiderado dentro do processo de produção industrial. Desde questões biológicas (o quanto se consegue fisicamente produzir ou que tarefas podem ser realizadas) até fatores psicológicos, como a crença no grupo e no seu líder, o ambiente mais amistoso de trabalho e as expectativas geradas em torno da produção. 

Graças ao experimento Hawthorne Elton Mayo conseguiu construir uma contraposição à teoria clássica da administração, mostrando que somente a eficiência rigorosa não é sustentável no longo prazo

O mundo pós-Guerra: Anos finais de Mayo

A análise do experimento Hawthorne levou alguns anos até ser finalizada. Somente em 1939 suas conclusões foram divulgadas, mostrando ao mundo da administração um novo modo de atuação. Entretanto, exatamente nesse mesmo ano eclodiu a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Mayo mudou-se com sua família para a Inglaterra e dedicou seus esforços nestes anos de conflito bélico à ajudar soldados com seus traumas de guerra. Sua contribuição “indireta” revelou em sua prática não somente os horrores a que os soldados são submetidos, mas também apresentou o quanto a saúde psíquica,seja de um funcionário, um gestor ou de qualquer outra profissão é fundamental para executar suas tarefas corretamente.

Após o fim do conflito, Elton Mayo dedicou seus últimos anos a ajudar a Inglaterra a reerguer-se. O resultado da guerra, além da perda de milhões de seres humanos, foi a destruição das principais cidades. Mayo, com sua experiência na organização do trabalho fabril, tinha como papel conduzir as empresas a reestruturarem toda a nação. Entretanto, em 1949, aos 68 anos, Elton Mayo faleceu em Guildford. Mesmo deixando a vida e sua família, mais precisamente sua esposa e dois filhos, Mayo entrou para a história por desenvolver suas teorias humanistas na administração, mostrando que jamais podemos deixar nossa natureza humana fora dessa equação de produtividade. 

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



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