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terça-feira, 28 de junho de 2022

Madam C. J. Walker, a primeira milionária dos Estados Unidos

Ser um empreendedor de sucesso não é uma tarefa fácil. O mundo dos negócios pode ser um campo intenso para aqueles que não demonstram talento ou esforço para gerir seus empreendimentos por maior que seja o recurso disponível para investir. Dizemos isso porque o senso comum aponta que para alguém ser bem sucedido nos negócios é porque, em grande parte, nunca precisou se preocupar em gerenciar bem seus recursos. Esse frágil argumento, porém, é facilmente refutado quando olhamos para a própria história de alguns empreendedores. 

Nascidos em lares humildes, esses empreendedores precisaram começar sozinhos a acreditar em seus negócios e a fazê-los funcionar. Não por acaso são chamados de “Self-made men” e os conhecemos a partir dos seus legados, que são a prova de que qualquer um pode se tornar um empreendedor, desde que esteja disposto a sacrificar-se em prol da sua ideia. 

Para derrubar definitivamente a falsa ideia de que somente os “bem nascidos”, hoje trouxemos uma das maiores empreendedoras da história dos Estados Unidos, uma mulher que enfrentou quase todas as barreiras sociais para conseguir lançar-se no mundo do empreendedorismo e tornar-se uma das mais poderosas damas da América. Estamos falando de Sarah Breedlove, mais conhecida como madame C. J. Walker, a primeira mulher americana a se tornar milionária.

De Sarah Breedlove a madame C. J Walker

Façamos, por alguns segundos, o seguinte exercício: imaginemos uma mulher afro-descendente nos Estados Unidos pós guerra civil. Nascida dois anos após o fim da guerra de secessão, em 1867, Sarah Breedlove nasceu livre de correntes, sendo a primeira de sua família a ter esse benefício. Seus pais, irmãos e irmãs mais velhas foram escravos e esse fato tornou-se marcante não apenas no início da vida da nossa empreendedora, mas também ao longo de toda a sua vida. Não por acaso, Sarah se tornou uma ativista dos direitos sociais em uma luta que somente décadas após a sua morte se concretizaria.

Porém estamos nos adiantando. Voltemos ao século XIX, no Estado da Louisiana. Conhecido por ser um dos principais centros escravistas dos Estados Unidos, a segregação racial não foi uma chaga extirpada tão facilmente por lá, logo, não é difícil imaginar as dificuldades passadas por Sarah e seus familiares.

Ainda na infância, com apenas 7 anos, a jovem Breedlove precisou encarar a morte de seus pais. Essa experiência fez com que a infante muda-se para os cuidados de sua irmã mais velha, servindo-a como empregada em sua casa. Assim inicia-se a carreira de Sarah: servindo a sua irmã em troca de moradia e comida. Essa situação manteve-se até os seus 14 anos, quando casou-se pela primeira vez e tornou-se mãe pouco tempo depois. Infelizmente, seu casamento não durou muito tempo devido ao falecimento do seu marido, em 1887. 

Desse modo, nem o mais otimista dos analistas diriam que Sarah tornar-se-ia uma empreendedora de sucesso, pois não nasceu rica, muito menos frequentou as universidades e era uma jovem viúva com uma filha pequena para cuidar. A situação de Breedlove, como podemos imaginar, não era nem um pouco confortável e para um espectador comum a jovem filha de ex-escravos jamais se tornaria uma mulher de negócios.

Entretanto, a vida não é tão simples de prever. No país da liberdade, mesmo sob a forte rejeição social que sofria por ser uma mulher afro-descendente, Sarah conseguiu o seu lugar ao sol. Tudo começou com um problema muito comum nos dias de hoje: a queda de cabelo. Como conta a história, Breedlove sofria de diversos problemas capilares devido aos produtos que usava, a má alimentação e o pouco cuidado (natural para a época) com o cabelo. A lista das suas enfermidades é enorme, mas os mais severos certamente envolviam inflamações no couro cabeludo, caspas e uma forte queda dos fios. Lembremos ainda que à época pouco se sabia sobre produtos para cabelo, ainda mais para um tipo tão discriminado como o dela.

Desse modo, o seu problema pessoal a fez refletir sobre as razões pela qual estava passando por aquele sofrimento. Como síntese, Sarah voltou determinada a encontrar uma solução para o seu dilema. Um primeiro passo foi notar a incompatibilidade com os produtos que usava e o seu cabelo. Junto a isso Sarah começou a investigar um pouco mais sobre o mundo dos capilares a partir dos seus irmãos mais velhos. Todos eram barbeiros e puderam dar as primeiras dicas do que viria a ser a mais brilhante das ideias de Sarah: fabricar produtos cosméticos para pessoas afro-descendentes.

Porém, sabemos que ideias só podem ser validadas quando saem do papel. Desse modo, Sarah criou um plano interessante para si. Começou, inicialmente, vendendo produtos de beleza para os seus irmãos, mergulhando no mundo da barbearia americana. Nesse meio Breedlove acabou conhecendo Annie Malone, uma empreendedora que vendia produtos capilares para mulheres com queda de cabelo. O diferencial de Malone é que ela vendia os produtos especializados para mulheres afro-descendentes, ou seja, executava a ideia que Sarah teve.

Pensemos um minuto quanto a isso. Em geral, quando sentimos que alguém “roubou” nossa ideia ficamos arrasados. Em nossa mente a inovadora ideia já havia sido vislumbrada por outro e isso, de certo modo, nos tira energia enquanto empreendedores. Acima disso, entretanto, devemos sempre retirar o melhor das experiências que a vida nos mostra. Sendo assim, nesses casos podemos aprender muito com o que a madame C. J. walker fez: ao invés de amaldiçoar Malone por ter tido a brilhante ideia antes dela, Sarah aproveitou para aproximar-se dela e entender os resultados que os produtos de Malone conseguiam.

A perspicácia de Sarah Breedlove foi muito impressionante, mostrando assim uma grande adaptabilidade às situações. Ainda hoje há certa polêmica quanto a essa atitude, pois muitos dizem que a empreendedora dos cosméticos roubou as ideias de Malone. Entretanto, nunca foi provado o roubo da fórmula, muito menos qualquer outro furto. O fato é que madame C. J. Walker viu uma oportunidade de aprender como vender o que ela esteve desejando por muito tempo. Sua visão fez com que não apenas aprendesse, mas também elevasse para um outro patamar o seu pequeno negócio.

Junto a isso, Sarah ainda contava com a ajuda do seu segundo marido, C. J Walker (daí o nome de Sarah ser visto como “senhora C. J Walker, traduzindo para a nossa língua) que era um brilhante publicitário em seu tempo. Assim, Sarah lançou-se à feroz competição com Malone para conquistar o mercado de cosméticos.

Tornando-se a primeira mulher milionária dos EUA

A estratégia da madame C. J Walker em conquistar o mercado foi simples e objetiva. Apresentando-se como uma cabeleireira e revendedora de cosméticos, ela atuava nos dois ramos e conseguia não somente captar possíveis clientes, mas fidelizá-los. Além disso, o investimento em fábrica e no treinamento de funcionários fez a diferença na popularização dos seus tratamentos e produtos. O famoso “sistema Walker” garantia que você conseguisse resultados para a queda de cabelo em pouco tempo, se tornando assim um sucesso.

Graças ao bom marketing e seu eterno reinvestimento na própria empresa, madame C. J. Walker expandiu seus negócios para outros Estados. Até então em Indianápolis, a madame C. J. Walker Manufacturing Company fez filiais em Nova York e Pittsburgh. Em seu auge, por volta de 1917, mais de 20 mil funcionários trabalhavam à serviço de suas fábricas, mantendo sua produção sempre em alta e com forte demanda. Assim, próximo de sua morte, em 1926, a empreendedora chegou à casa dos milhões.

Talvez esse número não seja tão relevante nos dias atuais, apesar de ser uma grande quantia de dinheiro. Porém, não podemos deixar de considerar o histórico duro em que Sarah Breedlove cresceu. Assim, a jovem de Louisiana demonstrou não apenas seu talento para os negócios, mas uma força tremenda, capaz de mover montanhas. Mesmo com os duros golpes que a vida lhe lançou, madame C. J. Walker conseguiu resistir e avançar seus empreendimentos para um novo patamar.

Pela sua resiliência e capacidade de superação é que a coloco como uma das maiores empreendedoras da história, pois seu exemplo é uma prova cabal de que um empreendedor não nasce apenas ao ter ideias ou dinheiro, mas principalmente a partir da vontade de tornar o mundo e da vida das outras pessoas um pouco melhor.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio
 


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