terça-feira, 19 de março de 2024

Linda Hill e a genialidade coletiva


Linda A. Hill, nascida em 1956 nos Estados Unidos, é uma professora de administração de negócios e escritora, nascida nos Estados Unidos. Conhecida por suas contribuições na área de liderança, inovação e empreendedorismo, obteve seu Ph.D. em Comportamento Organizacional pela Universidade de Yale. Hill é autora de vários livros e artigos acadêmicos influentes sobre liderança e gestão de negócios e presidente da Leadership Initiative.


Segundo a professora, não tem como falar sobre inovação sem falar sobre diversidade e conflitos. Se você busca inovação, deve colocar ideias contrárias na mesa para poder chegar a grandes soluções, a diversidade na forma de pensar e opinar é o que faz a diferença no resultado final.


O bom líder deve querer ampliar as diferenças em sua organização e não minimizá-las. O verdadeiro aprendizado surgirá da harmonia nas diferenças. Veja a natureza como exemplo: um oceano, uma floresta ou até mesmo o corpo humano. Esses ‘ambientes’ funcionam a partir de milhares de componentes diferentes que se inter relacionam em busca do equilíbrio e harmonia. Quantas células diferentes existem num corpo humano? Quantas espécies de plantas e animais numa floresta? A diferença pode sim se harmonizar em equilíbrio. Um ambiente empresarial deve se estruturar do mesmo jeito. Nenhum líder conseguirá resultados se fizer tudo só, a equipe a sua volta será o grande diferencial.


Vamos adentrar um pouco mais nas teorias da professora Linda Hall e entender de forma inovadora suas ideias sobre inovação, liderança e empreendedorismo.


Linda Hill e sua obra


Apesar de ter bastante visibilidade no mundo dos negócios, Linda é privada com relação a sua vida pessoal. Sua biografia de forma geral ainda não é amplamente divulgada. São raras as fontes que mencionam sua família, criação e trajetória de vida.


Uma característica pessoal que a autora destaca é a curiosidade. Afirma ser uma pessoa extremamente curiosa, não só sobre a vida, mas também as pessoas e os processos à sua volta. Graças a sua curiosidade, ela consegue aprender todos os dias. Sempre quando vemos pessoas que deixam suas marcas no mundo, nos perguntamos o que elas fizeram. No caso de Linda, ela diariamente se determina a aprender algo novo, sem esquemas, sem definições prévias do que quer ou não, sem preferências, apenas se compromete a terminar os dias com um aprendizado.


Imaginemos essa postura em nossas vidas, como seriam diferentes nossas ações se nos comprometemos diariamente a adquirir um novo aprendizado? Quantas respostas um empreendedor não teria para o seu negócio se conseguisse essa meta diária? Como diria Leonardo da Vinci: “Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.”


Dentro de suas aulas de MBA na Harvard Business School, a professora destaca-se por estudar líderes e suas equipes. Ela contata alunos ex-alunos e pede para visitá-los e acompanhá-los em seus trabalhos, pois não existe liderança solitária, não existe trabalho bem feito apenas por uma pessoa, sempre há um time por trás. Qualquer pessoa que acredite que pode executar algo sem o apoio significativo de outros executivos, o diretor de tecnologia, diretor de inovação, diretor de recursos humanos e etc, não consegue chegar muito longe, o resultado não é positivo.


Num dos seus vídeos mais famosos do Youtube, a professora falou num TEDx sobre inovação e criatividade através do exemplo coletado pelos estúdios PIXAR. Ela entrevistou os designers, animadores, diretores, toda a equipe, para entender o fluxo de trabalho da empresa. Também destaca muito a necessidade de realidade no aprendizado sobre liderança, pois nem tudo são flores.


Um exemplo citado por Linda é de seu aluno Michael Ku que fez um trabalho sobre a transformação digital. A professora pediu para acompanhá-lo durante sua proposta de transformação e descobriu que ele era o chefe da cadeia de abastecimento global da Pfizer. O resultado foi um acompanhamento de 6 anos que trouxe todos os pontos de melhoria para um trabalho rápido e urgente quando chegou a vacina para a covid-19. Como ela mesma cita: “O que eu realmente gosto quando acompanho alguém ao longo do tempo é que você não sabe realmente quais serão as reviravoltas da história que surgirão.”


Todo este drama reflete as complexidades do ser humano e das escolhas que fazemos e é isso o que ela mais ama trabalhar e desenvolver.


Linda Hill é autora de vários livros e artigos sobre liderança e gerenciamento, porém nenhum ainda foi traduzido para o português. Dois de seus livros são: "Gênio Coletivo: A Arte e a Prática de Liderar a Inovação, que examina como líderes podem cultivar a inovação em suas organizações, e "Tornando-se um Gerente: Como os Novos Gerentes Dominam os Desafios da Liderança”, que aborda as transições que os gerentes enfrentam ao assumirem novas funções de liderança. O seu livro Gênio Coletivo entrou na lista em 2022 dos clássicos livros para ler sobre gerenciamento e liderança.


Dentro da Harvard Business School há também uma revista de mesmo nome que publica artigos e casos sobre os mais diversos assuntos. Diversas vezes a professora Hill teve seus casos publicados nas revistas HBR , incluindo as edições com casos mais lidos.


Atualmente, a professora é co-fundadora da Paradox Strategies, um centro de pesquisa em liderança e consultoria estratégica e co-criadora da Innovation Quotient, uma ferramenta para liderança inovadora num mundo em transformação.


O poder da diferenciação


Linda Hill sempre reforça a ideia de que se você quer ver inovação, deve buscar a diversidade e diferenciação de ideias. Fundamentalmente, como líder, se você deseja inovação, deve amplificar as diferenças em sua organização e não minimizá-las. Quantos casos já vimos de empregadores que mantém apenas os funcionários que pensam da mesma forma que ele? Quantos conselhos e diretorias são formados por cópias do presidente? Em casos assim, devemos avaliar o alcance que essas empresas tiveram, o crescimento, lucro… na natureza nada é idêntico, uma rosa não nasce igual a outra, o mesmo ocorre com o pensamento humano.


Prêmios


O Thinkers50 é uma lista e plataforma que reconhece e classifica os principais pensadores e autores nas áreas de negócios e gestão. Lançado em 2001, realiza uma pesquisa abrangente a cada dois anos para identificar os principais pensadores e contribuidores para a teoria e prática de negócios em todo o mundo. Esta lista classifica os indivíduos com base em sua influência, originalidade, impacto global e contribuições para o campo da administração e gestão de empresas.


A professora Hill foi indicada diversas vezes para esta lista, colocando-se em 10ª posição no ano de 2021. Em 2015 também recebeu o prêmio de Inovação pelo seu trabalho no livro “Collective Genius”.


O legado de Linda Hill


Para além dos livros, MBAs e artigos publicados, podemos afirmar que o legado de Linda Hill se encontra no seu esforço em inovar a ideia de inovação. Por mais paradoxo que seja, há quanto tempo muitos falam sobre inovação? Há quanto tempo temos milhares de profissionais com suas teorias sobre liderança?


Seu grande diferencial foi pensar fora da caixa. Enquanto comumente se trabalha muito a questão das qualidades de um bom líder, pouco se fala na equipe em que o líder está inserido. A genialidade coletiva, como cita a professora Hill, é onde encontramos a chave do problema.


Num mundo em constante transformação, em que os problemas aparecem de formas mais inusitadas e inesperadas possíveis, num mundo com uma população cada vez maior e novas profissões surgindo a cada ano, a resposta dos problemas não estará na individualidade e sim na coletividade. Saber unir, agregar e harmonizar as diferenças.

 

Pensamentos diferentes existem em todos os locais hoje, mas saber uni-los e transformá-los em algo melhor do que antes, aí que está a arte do líder. Aí sim podemos afirmar que houve um gerenciamento de ideias que potencializa o grupo.


A dica que damos para os empreendedores e gestores, é de não focar somente em seus defeitos e qualidades que precisam ser aperfeiçoadas, mas sim em saber harmonizar as diferentes formas de pensar.


Bom Trabalho e Grande Abraço!


Prof. Adm. Rafael José Pôncio





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terça-feira, 5 de março de 2024

Como tomar decisões assertivas com a Matriz BASICO


Conheça as principais vantagens da Matriz BASICO e  aprenda como aplicá-la para tomar as melhores decisões para o seu negócio através de exemplos.

A Matriz BASICO é uma ferramenta da administração que pode auxiliar muitos empreendedores quando estiverem em dificuldade para tomar decisões, pois é fácil de aplicar e muito eficaz.

Neste texto você conhecerá os benefícios desta ferramenta e como ela funciona por meio de um exemplo prático. Boa leitura!

Vantagens de utilizar a ferramenta Matriz BASICO

A Matriz BASICO é uma técnica que auxilia na priorização de soluções para resolver problemas ou avaliar os riscos de um projeto de forma fácil e simples. Para fazer a análise são utilizados diversos fatores tanto internos quanto internos, o que leva a fazer uma qualificação mais assertiva.

Desta maneira, há uma redução de custos, uma vez que eles são aplicados apenas quando são realmente necessários, também não há desperdício de tempo, já que ele será empregado na solução mais eficiente.

Outro uso para a matriz é avaliar o impacto de um novo projeto, verificando a sua viabilidade e quais serão os principais problemas que podem surgir.

Conheça a Matriz BASICO

A ferramenta utiliza 6 critérios para analisar o custo x benefício x exequibilidade das atividades dentro de um projeto, a união da primeira letra de cada critério forma a palavra básico.

Para atribuir o grau de importância dos aspectos analisados na Matriz BASICO é dada uma nota de 1 a 5 para cada um dos itens, sendo 1 pouco relevante e 5 muito relevante.

B - Benefícios para o negócio

O primeiro passo está relacionado aos resultados que a empresa alcançará a partir daquela solução, alguns exemplos são: redução dos custos, aumento da produção ou diminuição dos desperdícios. Para atribuir uma nota deve-se pensar da seguinte forma:


5. O que é essencial para a continuidade da empresa ou para a sua expansão;

4. Que trará muitos benefícios, resultados lucrativos ou avanços tecnológicos;

3. Traz vantagens razoáveis para o negócio, principalmente no âmbito operacional;

2. Com alguns benefícios que ainda tem uma certa relevância e podem ser quantificados;

1. Pequenos benefícios que não terão tanto impacto na empresa.

Para facilitar a compreensão segue um exemplo: João é um contador que está avaliando a viabilidade de montar um escritório no centro da cidade ou reformar o escritório que possui em casa, para isso ele decide utilizar a Matriz BASICO.

Para isso ele estabeleceu 2 possíveis soluções:

  • Reformar o seu escritório em casa

  • Montar um escritório no centro da cidade

Começando com o primeiro ponto de análise, ele atribui as seguintes notas, pensando que um novo escritório é essencial para a expansão do negócio.

  • Reformar o seu escritório em casa (2)

  • Montar um escritório no centro da cidade (5)

A - Abrangência dos resultados o projeto

Esse aspecto está relacionado a quantidade de pessoas da empresa e externas que serão beneficiadas pela solução. A fim de pontuar é feita uma relação de porcentagem.

5. Abrangência total (100% a 70%);

4. Abrangência muito grande (70% a 40%);

3. Abrangência razoável (40% a 20%);

2. Abrangência pequena (20% a 5%);

1. Abrangência muito pequena (5% ou menos).

Para João este tópico também será avaliado como pensando na limitação de trabalhar em casa e na visibilidade que teria no centro da cidade.

  • Reformar o seu escritório em casa (2)

  • Montar um escritório no centro da cidade (4)

S - Satisfação dos colaboradores

Como o nome já indica, responde ao grau de satisfação que os membros da empresa terão em relação com as soluções apresentadas.

5. Um grau de satisfação bastante elevado;

4. Grande ao ponto de ser reconhecida como positiva pelos colaboradores;

3. Um nível médio de satisfação observada pelos colaboradores;

2. Uma satisfação que não é notada pelos membros da empresa;

1. Um grau de satisfação inexpressivo.

No caso de João, ele tem como colaboradores apenas uma secretária e um estagiário, que moram próximos a sua residência e ele também deve levar em consideração o conforto de trabalhar em casa.

  • Reformar o seu escritório em casa (5)

  • Montar um escritório no centro da cidade (1)

I - Investimentos necessários

Este aspecto da Matriz BASICO considera os recursos requeridos para execução das ações em questão a fim de avaliar se o retorno esperado justificará o custo do projeto seguindo esta classificação:

5. Gasto mínimo e se a empresa já possui os recursos ou pode facilmente adquiri-los;

4. Quando é necessário gastar alguns recursos próprios ou eles cabem dentro do orçamento planejado para área;

3. Alguns gastos além do orçamento já disponível para área, mas que ainda se encaixam no valor disponível para empresa;

2. Quando é necessário redistribuir os recursos financeiros da empresa para a execução da solução;

1. Gastos muito significativos que requerem um novo planejamento estratégico para a empresa.

Seguindo o exemplo do João, para este tópico a nota foi maior para se manter trabalhando em home office, que já conta com uma estrutura, do que para implementar um novo escritório no centro da cidade.

  • Reformar o seu escritório em casa (4)

  • Montar um escritório no centro da cidade (1)

C - Cliente Externo

Esse é o critério mais importante para analisar a viabilidade da solução, pois avalia a satisfação dos clientes com a execução deste novo projeto.

5. Impacto muito positivo em relação à imagem da empresa e na interação com os clientes;

4. Há reflexos diretos na marca da empresa e nos processos relacionados aos clientes;

3. Existem bons reflexos diretos nos processos que atingem os clientes;

2. Poucos impactos nas atividades finais relativas aos consumidores;

1. Nenhum reflexo perceptível pelo cliente ou para a imagem da empresa.

Como a criação de um escritório no centro da cidade facilitaria o deslocamento dos clientes, as notas para aspecto da Matriz BASICO concedidas foram:

  • Reformar o seu escritório em casa (2)

  • Montar um escritório no centro da cidade (5)

O - Operacionalização

A Operacionalização avalia com qual o nível de facilidade para a implementação desse novo projeto na empresa. Para fazer esse estudo é importante fazer uma avaliação de aspectos como: a resistência à mudança por parte dos colaboradores, a complexidade do projeto e os impedimentos que possam surgir.

5. Grande facilidade de implementação da solução;

4. Depende de apoio externo da empresa, mas com facilidade é possível encontrar;

3. Uma facilidade média para a implementação, mas que exige mudanças na cultura organizacional;

2. Depende de muitas mudanças na operacionalização e na cultura da empresa;

1. Baixa exequibilidade, necessitando de ações/decisões que não cabem a empresa.

  • Reformar o seu escritório em casa (4)

  • Montar um escritório no centro da cidade (2)

Conclusão da Matriz BASICO

Após a avaliação dos itens na Matriz BASICO é criado uma relação de prioridade a partir das atividades que tiveram a maior nota, para assim saber quais ações devem ser priorizadas. Caso haja algum empate, utiliza-se o critério C (Clientes) para desempatar.

Ao final da avaliação do João as notas ficaram:

  • Reformar o seu escritório em casa (19)

  • Montar um escritório no centro da cidade (18) 

Desta forma é possível avaliar que de acordo com a ferramenta, a mudança para um escritório no centro da cidade não é a melhor opção para o estágio atual que a empresa se encontra.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio



        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.       

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Paul R. Lawrence, o gigante do comportamento organizacional

Paul R. Lawrence foi um professor amado por seus alunos, colegas de trabalho e contribuiu para lançar as bases sobre os estudos acerca do aspecto humano das organizações. Seus estudos mudaram a forma como se encara o comportamento organizacional e jogou luz sobre o tema em uma época em que as relações de trabalho mudavam rapidamente, assim como acontece hoje.

Além de um grande teórico, estudioso e professor, Lawrence foi também amigo, companheiro e mentor dos seus alunos, um caso raro de sucesso na vida privada e profissional. Lawrence se tornou uma inspiração enquanto ser humano para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele.

A sua trajetória profissional foi marcada especialmente por sua presença nas universidades, em especial em Harvard, onde fez um MBA e ganhou o grau de PhD. Contudo, Lawrence não se contentou em ficar apenas na academia - o que já seria muito - e também atuou na direção de grandes empresas, como diretor da Millipore Corporation, de 1975 a 1993 , e de 1991 a 1995 diretor da Hollingsworth & Vose Paper. Dessa maneira mostrou como unir suas pesquisas e estudos sobre comportamento organizacional com a prática.

Sua principal teoria diz respeito à ideia de que não existe receita única ou fórmula mágica quando se trata de cultura organizacional eficiente. Partindo desse pressuposto, cada estrutura vai encontrar sua melhor forma, apesar de que alguns processos possam ser comuns a muitas organizações.

Para entender melhor sobre Lawrence e suas principais ideias, vamos à sua vida e obra que valem a pena ser conhecidas. 

Quem foi Paul R. Lawrence? 

Paul R. Lawrence nasceu em 26 de abril de 1922, em New Rochelle, Illinois, Estados Unidos, porém muito novo migrou para Grand Rapids, onde passou parte da infância juventude. Desde muito cedo Lawrence se destacou nos estudos e passou a desenvolver suas potencialidades dentro do meio acadêmico.

Lawrence contou com o exemplo do seu pai, um empenhado funcionário público que cujo trabalho contribuiu para reequilibrar as contas dos bancos de Michigan durante a Grande Depressão. Dentro de casa, seus pais lhe passaram valores humanos como generosidade, altruísmo e humildade que Lawrence levou por toda sua vida.

Conta-se que durante a juventude presenciou uma série de conflitos entre os trabalhadores e a indústria automobilística, esse contexto o levou a questionar como poderia contribuir para a solução desses conflitos que que não se restringiam às fábricas de automóveis. A busca por uma resposta para os confrontos que presenciou nortearam seus estudos durante toda a vida. Assim, a tentativa de encontrar uma solução para este dilema o levou a ser um dos pioneiros no desenvolvimento das teorias sobre as relações de trabalho e construção de culturas organizacionais fortes e sadias que são estudadas até hoje.

Já na Universidade, sua formação acadêmica começou na Albion College, quando se formou bacharel em 1943. Poucos anos depois Lawrence dava início a sua longeva e bem sucedida carreira de estudos e pesquisas na Universidade de Harvard, inicialmente com o MBA em 1947, o doutorado em ciência comercial foi obtido em 1950, também pela Harvard Business School.

A carreira de Lawrence em Harvard como professor andou rápido e logo após concluir o MBA em 1947 ingressou nos quadros da universidade como professor, ao mesmo tempo em que estudava como doutorando. Em 1950 foi promovido a professor assistente e no ano de 1956 a professor associado. Lawrence foi por fim promovido a professor titular em 1960. Lawrence se destacou por suas teorias e sua extensa produção acadêmica, ao longo dos anos escreveu 26 livros e dezenas de artigos. Alguns de seus livros e artigos ganharam prêmios e seus estudos compõem a grade curricular de cursos de gestão, administração e pós-graduações.

Em que pese seu perfil eminentemente acadêmico, Lawrence não negligenciou a importância da prática para um aprendizado mais completo, assim, ele sabia que tinha diante de si uma excelente oportunidade de campo, quando conseguiu um emprego na Chevrolet Gear and Axle, na linha de montagem.

Na visão de Lawrence essa era a oportunidade perfeita para o desenvolvimento dos seus estudos sobre o comportamento das organizações, pois estava inserido dentro de um contexto “chão de fábrica”. 

Principais teorias de Paul Lawrence 

Em 1967 Lawrence lançou em conjunto o livro Organization and Environment, que até hoje é considerado por muitos uma pérola da gestão administrativa uma vez que fundamentou as bases das teorias sobre o comportamento das organizações.

Nesse estudo, Paul Lawrence e Jay Lorsch desenvolveram a teoria de que não existe receita pronta quando se trata de dar vida ao funcionamento de uma organização. Para Lawrence, as organizações mais bem sucedidas se organizam levando em consideração o mercado, a tecnologia a disposição e a natureza da sua atividade.

Aqui temos um importante ensinamento: cada organização deve buscar conhecer-se para encontrar as formas que funcionam melhor para elas. Apesar de parecer óbvio, muitos líderes buscam fórmulas mágicas para o sucesso de suas organizações, espelhando modelos que em nada tem a ver com as estruturas que administram.

Ao longo dos anos, Lawrence desenvolveu estudos e pesquisas nas mais diversas áreas. Seus estudos abordaram temas complexos como a questão racial e de governança urbana, assistência médica e gestão de pesquisa. Com seu colega Stanley Davis desenvolveu o trabalho sobre organizações matriciais e, juntamente com Arthur Turner, abriu espaço para as pesquisas sobre design de cargos e equipes de trabalho.

Na década de 80, os esforços de Lawrence o direcionaram a entender outras formas de organização comportamental fora dos Estados Unidos, assim, escreveu em 1983 Renewing American Industry, quando fez pesquisas para entender a metodologia de trabalho japonesa que estava deixando a indústria americana para trás.

Em 1987, foi a vez de focar na indústria soviética por ocasião da Glasnost que proporcionou uma visão interna de suas práticas. Lawrence e Charalambos Vlachoutsicos realizaram um estudo comparado das práticas americanas e soviéticas, como o consequência, o estudo possibilitou que gerentes americanos e russos pudessem compreender melhor um ao outro, bem como lançou as bases para que fosse possível desenvolver empreendimentos comerciais entre os dois lados.

Um ponto marcante durante a trajetória de Lawrence dentro da academia diz respeito à forma como realizava suas pesquisas. Para Lawrence toda pesquisa deveria ter como fundamento responder a um problema relevante e importante dentro da área de estudo. Esse aspecto nos revela uma mentalidade bastante prática e conectada às demais cotidianas.

Quando já passava dos 80 anos, Lawrence desenvolveu a sua última teoria, a respeito da unificação do comportamento humano, para o trabalho que resultou no livro Driven: How Human Nature Shapes Our Choices, escrito em parceria com Nitin Nohria, Lawrence resgatou ensinamentos e teses das obras de Charles Darwin.

Paul R. Lawrence foi um intelectual, professor produtivo e bondoso para todos que procuraram seus conselhos e melhor entendimento sobre suas teorias. A seguir veremos um pouco mais do legado deixado por Lawrence. 

O legado de Lawrence 

Para nós, a característica mais marcante de Paul Lawrence foi ter sido uma pessoa que buscava a excelência em todos os aspectos da sua vida. Lawrence não apenas foi um professor e teórico entre os melhores que já passaram pela Harvard Business School, como também foi alguém notavelmente humilde e generoso com amigos e alunos.

Por toda sua trajetória de vida profissional e pessoal é de se esperar que Lawrence tenha ganho prêmios e reconhecimentos ao longo da sua vida, alguns deles merecem destaque: 

  • 18 anos seguidos lecionando no MBA da HBS; 

  • Lawrence foi presidente do programa de MBA do programa de Gestão Avançada e chefe da Unidade de Comportamento Organizacional; 

  • Autor e coautor de mais de 50 estudos de casos;

  • Foi nomeado como Distinguished Contributor pela North American Case Research Association;

  • Foi membro da Academy of Management;  - Foi nomeado professor Wallace Brett Donham Professor of Organizational Behavior. 

Em um mundo cada vez mais mutante e após a pandemia do COVID-19, que chacoalhou a forma como as empresas produzem e as modalidades de trabalho, os estudos de Lawrence sobre as formas como as empresas se organizam para executar suas funções se tornou ainda mais relevante. Visto isso, é inegável que Paul R. Lawrence será para muitas gerações de alunos lembrado como um professor genial e humilde, sempre disposto a contribuir com a formação das pessoas. As futuras gerações poderão voltar ao seu legado para seguir construindo organizações que reflitam o espírito do homem moderno. Bom trabalho e grande abraço. Prof. Adm. Rafael José Pôncio