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terça-feira, 15 de agosto de 2023

Maurício de Nassau, um militar visionário

João Maurício de Nassau-Siegen, nasceu em 17 de junho de 1604, em Dillenburg, Alemanha, numa família tradicionalmente aristocrata. Durante a infância, teve a oportunidade de estudar em diversas cidades da Europa, aprendendo sobre História, Música, Teologia e etc. 

Com 15 anos o jovem dá início à sua carreira militar a qual toma rumo ascendente até a fatídica oferta de governar uma colônia holandesa no Brasil. De 1637 a 1643, Nassau cumpre com sua função no nordeste brasileiro, destacando-se pela melhoria na infra-estrutura, comércio e urbanização da colônia. 

Como acontece muitas vezes na história, grandes líderes por vezes não são reconhecidos por seus parceiros e possuem seus legados interrompidos. Tal fato aconteceu com Nassau que, por uma série de desentendimentos com a Companhia das Índias Ocidentais, é dispensado de seu cargo e retorna à Holanda. 

Apesar de poucos anos de governo, Nassau demonstrou eficácia e conhecimento como um verdadeiro líder, melhorando a vida de todos da região e deixando seu marco na história. O estado de Pernambuco, principalmente a cidade de Recife, reconhece o papel deste governante em sua história, região que, até hoje, se destaca no nordeste. 

Primeiros passos de Maurício de Nassau 

Provavelmente, muito do mérito de Nassau foi graças à educação que recebeu na sua infância e juventude. Venhamos e convenhamos, estamos falando do século XVII, ano 1600, nesta época a educação não era um pilar essencial na formação das crianças, sem contar que poucos tinham acesso à leitura e estudos. A criação do jovem Maurício baseou-se numa boa educação, pois naquele momento as aristocracias passavam por mudanças de cenário, perdendo feudos e outros privilégios econômicos. Desse modo, educar seria uma possibilidade de garantir a riqueza das famílias nas próximas gerações.

Segundo as biografias a seu respeito, Nassau passou os primeiros 10 anos de sua infância sendo educado na Alemanha, na região de Siegen. Em seguida, estudou por mais 4 anos, visitando cidades da Europa, entrando em contato com ideias renascentistas e humanistas. Há versões inclusive que afirmam que seu cunhado, o conde de Hesse-Kassel era dono de uma escola e financiou parte de seus estudos na Suíça. 

Aos 15 anos, o jovem retorna à sua cidade natal na Alemanha para em seguida morar com seu tio nos Países Baixos, onde inicia sua carreira militar. Ele entra no exército holandês, participa de importantes batalhas e destaca-se em posições de comando em algumas delas, um exemplo foi quando liderou a reconquista do castelo de Schenken Schans que, naquele momento, estava na posse dos espanhóis. Seu destaque em campo é reconhecido a tal ponto que, em 1636, a Companhia das Índias Ocidentais o convoca para governar a colônia holandesa no nordeste do Brasil.

Governo de Nassau 

Relembrando as aulas de história, sabemos que os holandeses ocuparam algumas regiões pelo Brasil, principalmente no nordeste. A administração dessas regiões ficava sob o comando da Companhia das Índias Ocidentais que enfrentava uma série de desafios na expansão holandesa, por isso designou o talentoso comandante militar Maurício de Nassau para governar uma colônia holandesa. 

Em janeiro de 1637, Nassau atracou nas terras pernambucanas. Sua função era político-militar, pois além de governar as terras dominadas pelos holandeses, também precisava proteger de possíveis invasões portuguesas. A região necessitava de uma reestruturação econômica que foi feita através da retomada da produção açucareira, com a venda de engenhos abandonados e redirecionamento do tráfico de escravos vindos da África. Houve também o incentivo da produção de mandioca para suprir a necessidade alimentícia com aumento da população. 

O governante que também dava valor às ciências, trouxe vários artistas, estudiosos e cientistas para a região, para que retratassem e pesquisassem sobre a natureza local. Os pintores Frans Post e Albert Eckhout fizeram parte desta comitiva com obras que ilustraram o dia a dia da colônia, assim como detalhes da flora e fauna local. Muitas destas peças estão em exposição no Instituto Brennad em Recife até hoje. Além disso, Nassau providenciou a construção de bibliotecas, observatório astronômico, jardim botânico, museu natural e zoológico. 

No quesito urbanização, investiu na infraestrutura através da construção de pontes, canais e drenagem de pântanos. Melhorou inclusive a questão sanitária, proibindo o acúmulo de lixos nas ruas. Além destas melhorias, conseguiu formar alianças com os senhores de engenhos através da redução de tributos para aumentar a produção de açúcar e ainda estabeleceu liberdade religiosa aos cristãos.

É notável observar que Maurício de Nassau possuía uma visão diferenciada a respeito da governança. Retirou a imagem dos gestores de capitanias que só pensavam em cobrar e ganhar através de impostos e mostrou as consequências de uma abordagem que não focava só na economia, mas na melhoria do todo. Além de ressaltar a importância das artes, estudos e ciências em geral na construção de uma nação e identidade de um povo. 

O fim de uma Era de Nassau no Brasil

Apesar de todas as melhorias promovidas pelo governante, os atritos dele com a Companhia das Índias só aumentavam. A organização administrativa visava apenas o aumento dos lucros sobre a produção de açúcar, de modo que investimentos em infraestrutura se tornavam grandes despesas desnecessárias. Nassau também discordava dos pedidos de aumento dos impostos para os senhores de engenho, fazendo com que a Companhia o demitisse e o enviasse de volta à Holanda. 

Em 1644 Nassau retorna à Europa, dando um fim a sua carreira no Brasil, marcando o começo do declínio do domínio holandês em Pernambuco, que 10 anos depois foi retomado pelos portugueses. Maurício retoma sua carreira militar e luta novamente pela Guerra dos Trinta Anos. Continuou no exército e alcançou a patente de marechal-em-campo, uma das mais altas do exército holandês. 

Seu retorno à Europa não lhe desanimou diante da ação e do serviço, não houve tempo para frustração, pois assumiu depois o cargo de governador de províncias do Sacro Império Romano-Germânico e recebeu o título de príncipe do rei Fernando III. Sua trajetória demonstra uma verdadeira vocação para liderar, sempre priorizou o trabalho e o serviço sob a vida pessoal, a qual demonstrou por nunca ter se casado ou tido filhos. 

Maurício de Nassau foi um homem que viveu para servir à sua pátria, sua nação, e podemos dizer que ele conseguiu cumprir com seu papel. Ele faleceu em 20 de dezembro de 1679, na cidade de Cleves. 

Dizem que um grande homem é medido pela duração de sua obra no decorrer do tempo. Quanto maiores seus feitos, mais eles perduram na história. Sua passagem por Pernambuco até hoje mantém-se viva e dentre suas construções e marcos arquitetônicos, é só passar pela Ponte Maurício de Nassau, a primeira ponte de grande porte do Brasil, e a Ponte da Boa Vista, ambas em Recife, que inclusive comprovam este fato.

Bom trabalho e grande abraço.

Prof. Adm. Rafael José Pôncio