A economia é uma das bases de qualquer sociedade. A partir do momento em que o ser humano
começou seu processo de sedentarização no período Neolítico - Entre 10.000 e 4.000 a.C - foi
necessário criar um mecanismo de troca e gerência de recursos, afinal, na nova realidade em que
estavam inseridos podiam armazenar alimentos e planejar colheitas. Graças a uma noção de
economia outros tantos progressos civilizatórios ocorreram como o comércio, a criação de
moedas e bancos.
Quando observamos do ponto de vista linguístico também podemos aprender sobre a origem da
economia. Sua etimologia vem do grego antigo “oikonomia”, que significa literalmente
“administração da casa”. O oikos, que traduzimos como “casa” mas refere-se a todo espaço
privado do lar, era administrado pelas mulheres e estas eram responsáveis por garantir os
alimentos, a gerência dos recursos e os cuidados gerais da família. Assim, nos seus pequenos
estados, a economia nascia como uma prática de bem-estar e uso racional daquilo que se
produzia, comprava e vendia.
Ainda hoje conservamos a essência dessa prática, apesar de nossa maneira de administração de
recursos ser mais complexa, cheia de nuances e ter se transformado em uma verdadeira ciência
social. A economia moderna é praticada tanto dentro como fora das casas, sendo um dos
principais pilares de qualquer país. Vale ressaltar que apesar de estarmos nos referindo a
economia enquanto uma forma de administração de recursos monetários - em sua maioria - é
fundamental entendermos também seu aspecto amplo, no que se refere ao uso racional de todos
os elementos que dispomos enquanto indivíduos. Por isso, podemos falar em “economia do
tempo” e “economia de energia”, elementos que apesar de não estarem diretamente relacionados
com a ciência da administração de recursos, também são assuntos extremamente relevantes e
que todos nós deveríamos nos debruçar acerca deles.
Dado a importância da economia em nossas vidas, não deveríamos conhecer um pouco mais
sobre esse assunto? Acreditamos que sim! Hoje, 13 de Agosto, no nosso país, celebramos o Dia
do Economista. Em 1941, a partir da lei n° 1.411 ficou decretada a criação da profissão de
economista. Do ponto de vista legal, a lei garante uma série de condições, direitos e deveres para
essa classe de profissionais habilitados, além de legitimar seu ofício e torná-lo legal do ponto de vista jurídico.
Como forma de reconhecimento aos profissionais dessa importante ciência vamos nos debruçar
um pouco da sua história. Junto a isso, queremos destacar a relevância da profissão que ajuda a
gerenciar todo e qualquer negócio, desde o microempreendedor até os mais poderosos países da
Terra.
Um pouco de história: Visconde de Cairú, o primeiro economista do Brasil
Não podemos falar sobre a história da economia no Brasil sem nos referenciarmos em José da
Silva Lisboa, também conhecido como o Visconde de Cairú. Além de ter se tornado o primeiro
economista brasileiro, José da Silva Lisboa foi um importante articulador político do Brasil durante
a estadia da família Real no Brasil (1808 - 1822). Mas estamos nos adiantando a história. Antes
de conhecermos seus feitos, é fundamental saber um pouco da trajetória do Visconde De Cairú e
como sua paixão pela economia ajudou nosso país em seu processo de busca pela
independência econômica.
Dito isso, a história de José da Silva Lisboa começa no dia 16 de julho de 1756, em São Salvador de Todos os Santos, a Capital da América Luso-Brasileiro da época.
Advindo de uma família de pequenos comerciantes, desde cedo o jovem baiano aprendeu as
primeiras lições de economia, referentes a venda, compra e o lucro de cada mercadoria. Seus
pais, pensando na educação do filho, apesar das dificuldades conseguiram enviá-lo para estudar
em Coimbra, Portugal. A educação superior no Brasil ainda não existia e o único caminho para se
tornar um doutor nas letras era atravessando o Atlântico.
Assim, por alguns anos José da Silva Lisboa estudou direito, filosofia, história e economia política
na Universidade de Coimbra. Em um contexto histórico mais amplo, a Europa passava por um
momento de grande ebulição intelectual. Era o auge do iluminismo e diferentes pensadores
surgiam para questionar a ordem social do Antigo Regime. A revolução americana de 1776 foi o
primeiro indicativo de que o futuro não seria comandado por reis, mas sim por presidentes. A
Revolução Francesa (1789 - 1799) confirmaria esse presságio na principal potência da Europa
Continental.
Em meio a toda essa onda de novas ideias e possibilidades, José da Silva Lisboa aprendeu sobre
as mais distintas áreas e conseguiu desenvolver um conhecimento universal. Ao retornar para o
Brasil, agora como um bacharel em ciências políticas, foi um veemente difusor das ideias liberais
e revolucionárias do iluminismo no final do século XVIII. Sua produção científica, agora em solo
brasileiro, foi fundamental para implementar as novas teorias econômicas e ajudar o Brasil a
superar o antigo Pacto Colonial vigente desde o início da colonização.
Além dos seus livros e artigos em jornais, José da Silva Lisboa foi um dos principais articuladores
da Abertura dos Portos em 1808, um passo gigantesco na história da economia brasileira. Para
recordarmos, a família real portuguesa chega ao Brasil nesse mesmo ano após a invasão de
Napoleão a Portugal. Com o domínio francês sobre as terras lusitanas, o Brasil se tornava o
centro de todo o Reino português, uma vez que era sua principal colônia, mas vivia o impasse do
Pacto Colonial no qual uma colônia não poderia negociar com outros países a não ser a sua
metrópole.
Frente a esse impasse, a família real é obrigada a abrir os portos brasileiros para os seus
parceiros comerciais como a Inglaterra, por exemplo. Essa ação, apesar de parecer estritamente
de cunho econômico e estratégico, tem um impacto essencial dentro da política brasileira e inicia
o caminho para a independência do Brasil. José da Silva Lisboa, que na época atuava como
presidente da junta comercial de Salvador, graças a sua competência foi alçado ao cargo de
Ministro do Império, cargo de grande relevância dentro da economia e política brasileira.
Sob essa responsabilidade foi quem conseguiu convencer o então príncipe regente D. João VI
sobre a necessidade da abertura dos portos para a sobrevivência da economia do Reino
português. Mais que isso, tornar a relação comercial com a Inglaterra foi uma garantia econômica
ao nosso país, uma vez que os ingleses eram a principal força rival da marinha francesa. Com a
escolta da armada britânica os navios brasileiros e portos estavam protegidos, o que mantinha as
transações seguras durante todo o período em que Napoleão assolou a Europa.
Além desse importante papel político, José da Silva Lisboa foi o primeiro diretor da Aula de
Comércio, uma instituição criada também com a chegada da família real ao Brasil para o ensino e
formação de novos economistas. Assim, a experiência desse grande economista brasileiro foi
difundida por gerações durante a primeira metade do século XIX. Dessa iniciativa, que para
alguns pode ser tímida frente às grandes universidades de economia que nosso país possui
atualmente, porém devemos lembrar que nesse contexto histórico não existia nenhum tipo de
conhecimento técnico sobre o assunto.
Ele foi altamente influenciado pelas idéias de Adam Smith e Edmund Burke, com isso podemos dizer que pelos seus artigos escritos, é notório que foi um homem sensato entre o liberalismo e conservadorismo da época conseguindo conciliar o ideário de Estado Novo e Centralidade Portuguesa, e com isso contribuiu muito ao Brasil.
Logo, podemos afirmar que, de certo modo, a Aula de Comércio foi a primeira instituição voltada à
formação de economistas brasileiros. Seu período como diretor e professor dessa instituição foi de
1808 a 1822, precisamente 14 anos até que, aos 66 anos, retirou-se da vida pública e entrou para
a aposentadoria. Nesse período escreveu obras e seguiu sendo um grande economista, mesmo
sem atuar diretamente nas instituições, até 1835, ano em que deixou essa existência aos 79 anos.
Graças aos seus esforços, o título de Visconde do Cairú foi concedido pelo imperador D. Pedro I
em 1825. O título, muito mais do que uma honraria formal, representa a síntese do grande legado
que esse economista brasileiro deixou para o país. Suas obras foram a base que fundamentou
grande parte do conhecimento econômico do Brasil, servindo de material de estudo, formação e
qualificação de diferentes gerações de economistas. Assim, lembrar da história de José da Silva
Lisboa é lembrar o poder transformador da economia na vida de uma nação.
A economia para além dos números
A história do Visconde de Cairú é um exemplo perfeito de como a economia está para além de
uma questão de números e gerenciamento de recursos. Como ciência, o economista precisa
dominar diferentes saberes, ser capaz de prever cenários e conhecer profundamente a cultura do
seu e de outros países. O economista é, em última instância, um eterno estudante que bebe de
diferentes fontes de conhecimento e assim consegue forjar sua sabedoria.
Não por acaso, a economia é uma das ciências mais complexas do mundo atual, envolvendo o
universo individual, no qual versa a microeconomia, como também o universo global e toda a sua
teia de relações no qual chamamos de macroeconomia. Acima disso há princípios e leis que ditam
a dinâmica dessas relações que não atuam apenas no universo humano, mas em toda a natureza.
Um animal, por exemplo, desenvolve uma série de habilidades para garantir uma mais eficácia em
sua caçada ou na sua proteção contra predadores. Nesse aspecto, a lei da economia versa sobre
a relação de gasto de energia X eficiência e garante aos melhores seres vivos a sua perpetuação.
Nesse ponto de vista, a economia é uma necessidade natural e que no nosso mundo se expressa
a partir dessa administração consciente dos nossos recursos. Saber lidar com aspectos
econômicos, portanto, está muito além de poupar dinheiro ou aprender técnicas de investimento.
Para nossa vida prática a economia avança para um território acima dos números e contas
matemáticas e versa verdadeiramente sobre as ideias que nos conduzem a uma vida mais
próspera e consistente.
Quanto ao nosso treze de agosto - o dia do economista, é notório que o proto e icônico economista brasileiro Visconde de Cairú foi o alicerce para estarmos hoje aqui comemorando essa data tão importante de uma profissão que é "sinônimo de respeito".
Parabéns a todos os Economistas Brasileiros!
Bom trabalho e grande abraço.
Prof. Rafael José Pôncio, orgulho de ser Economista!
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